sexta-feira, outubro 16, 2009

BARBARA GANCIA

Monty Python 4 Ever!

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09


O primeiro esquete do Monty Python que consegui entender foi o do casal que vai comprar um colchão



LEIO QUE O MONTY PYTHON voltou a se reunir em Nova York para celebrar os 40 anos de sua criação. E que ontem o grupo recebeu um prêmio por sua contribuição ao cinema e à televisão.
Posso estar enganada, mas acho que logo na minha segunda semana de Folha de S. Paulo, nos idos de 1984, eu já estava citando o Monty Python nos meus textos. Sabe como é, nos primeiros dias de um novo emprego a gente fica meio acanhada. E eu achei melhor esperar ao menos um cinco ou seis dias antes de falar desses malucos dos quais ninguém sabia nada.
Lembro que comecei a usar o termo "hilário" quando falava deles. "Hilário" isso, "hilário" aquilo... O correto seria usar "hilariante", mas não achei que soava bem. Pegou, e o povo fala errado até hoje.
Meu caso de amor eterno com os Monty Ps começou com uma fita cassete enviada pelo correio da Inglaterra por meu irmão, em 1972. Ouvi aquilo e não entendi patavina. Eram os esquetes feitos para o programa de TV "Monty Python's Flying Circus".
Mas daí meu irmão voltou da Inglaterra e eu, típica caçula enxerida, percebia que ele se reunia com os amigos no quarto e ficava horas ali ouvindo aquilo. E rolando de rir.
E como capotar de rir é meu segundo programa predileto (fica naquela posição intermediária, entre comer e sexo), resolvi ouvir a fita tantas vezes quantas fossem necessárias até entender do que se tratava.
O primeiro esquete que consegui captar foi o do casal que vai comprar um colchão. Depois, saquei o do sujeito que quer pagar para ter uma discussão, o da loja de queijos, o do papagaio Polly... Viva! Tinha deixado de ser débil mental!
Minha adolescência foi pautada por piadas do Monty Python. Todo o humor que faço até hoje tem raiz no Monty Python. Diria mais: fui influenciada por muita coisa da cultura pop. Pra citar alguns: os Beatles, Walt Disney, Tintim, Asterix, as fotos da revista "Life", o "Muppet Show", os filmes de arte de Ingmar Bergman, os italianos "Morte em Veneza", "1900" e "Passageiro - Profissão Repórter", com aquela longa tomada em que a câmera sai do quarto pela janela; "Butch Cassidy" ou qualquer um dos Stanley Kubricks, o musical "My Fair Lady", que eu sei cantar de trás pra frente até hoje, todos os livros sobre animais de Gerald Durrell ou o "Quarteto de Alexandria", escrito por seu irmão Lawrence, os livros de Graham Greene, Joseph Campbell e sua influência sobre George Lucas em "Star Wars" e até, chame-me de bocó, "João Capelo Gaivota".
Mas nada, nada na cultura pop me influenciou mais do que o humor do Monty Python. Fui olhar no arquivo da Folha na internet e há zilhões de citações ao grupo em textos meus. Só que nunca falei explicitamente sobre essa influência. Bem, então já que eles estão completando 40 anos, melhor dizer agora, antes que um de nós acabe como Polly Parrot.
O que seria de mim se não fossem Eric Idle, Michael Palin, John Cleese, Terry Jones, Terry Gilliam e o finado Graham Chapman?

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