terça-feira, setembro 15, 2009

BENJAMIN STEINBRUCH

Forte


Folha de S. Paulo - 15/09/2009



A atualização das Forças Armadas já vem tarde; o país precisa dela para assumir seu lugar de potência emergente



AS TENTATIVAS de equipar as Forças Armadas brasileiras já foram, no passado, motivo de pilhéria. A compra do porta-aviões Minas Gerais, por exemplo, no governo Juscelino Kubitscheck, inspirou até uma famosa música de Juca Chaves, nos anos 50. Esse assunto, porém, exige seriedade absoluta.
Um país continental como o Brasil, com enorme fronteira, grande parte na Amazônia, e com uma costa de 7.367 km de extensão, tem a obrigação de se armar, independentemente de projetos como o pré-sal. Na semana passada, em pleno Dia da Independência, o país ficou sabendo de um amplo acordo militar feito com a França. Os franceses fornecerão 50 helicópteros, 5 submarinos, inclusive um nuclear, e, possivelmente, 36 caças supersônicos.
Pelo que foi publicado, as compras brasileiras poderão atingir R$ 32 bilhões. Embora o negócio ainda não esteja fechado no caso dos caças, a informação da venda provocou um verdadeiro frenesi na imprensa francesa, porque a Dassault, fabricante dos aviões, depende muito desse negócio para manter sua operação.
Não tenho a pretensão de discutir escolhas de caças ou de qualquer outro equipamento militar. Essa decisão é técnica e cabe às Forças Armadas, que têm militares de alta patente muito bem qualificados. Por qualquer ângulo que se olhe, porém, fica claro que as aquisições anunciadas representam uma necessidade premente para o país.
É impossível manter a vigilância da enorme fronteira amazônica sem aviões que possam percorrer grandes distâncias rapidamente. Daí, a necessidade dos caças, cuja aquisição é uma novela que se arrasta há dez anos. Enquanto o assunto permanece sem solução, a FAB (Força Aérea Brasileira) tenta cumprir suas obrigações com uma frota obsoleta, com idade média de quase 40 anos -metade dos 700 aviões não pode levantar voo por falta de peças.
Também não há como proteger o mar territorial brasileiro, numa extensão de 4,5 milhões de km2, sem a incorporação de submarinos e a modernização geral da Marinha. As descobertas do pré-sal aumentaram as responsabilidades da Marinha na proteção de plataformas que custam bilhões de dólares.
Um país como o Brasil, historicamente pacífico, não se arma por razões bélicas. Deve fazê-lo, antes de tudo, para exercer sua natural posição hegemônica no continente latino-americano. O país está sendo diariamente chamado a assumir esse papel em casos que vão do manejo do complicado relacionamento entre Hugo Chávez e a Colômbia até o auxílio a outros países. O presidente Mauricio Funes, de El Salvador, por exemplo, esteve em Brasília para pedir um pacote de cooperação bilateral de US$ 800 milhões para a formulação do sistema de transporte urbano de seu país. Seria sinistro se um país em processo de ascensão a potência econômica não tomasse iniciativas para se tornar apto a defender seu próprio território. O Brasil deve apressar a modernização de seus equipamentos militares.
As Forças Armadas não são importantes apenas para a defesa. Elas auxiliam o país na formação de tecnologia e de pessoal especializado em áreas muito sensíveis. E exercem também um papel social, porque são grandes formadoras de jovens e bons cidadãos. A atualização das Forças Armadas, portanto, já vem tarde. O país precisa dessa modernização para assumir de fato a sua condição de potência emergente em todos os aspectos. Para ser grande é preciso pensar grande. E para ser forte lá fora é preciso ser forte aqui dentro.

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