domingo, agosto 16, 2009

CLÓVIS ROSSI

Qual é a lógica do medo?

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/09


SÃO PAULO - Não entendo bem o quase pânico que tomou conta de setores do PT ante a possibilidade de a senadora Marina Silva deixar o partido e candidatar-se à Presidência pelo PV.
Vejamos as razões do espanto: 1 - O único ativo eleitoral de Dilma Rousseff, a candidata declarada de Lula, é a eventual transferência (maciça) de votos do presidente para a ministra.
Digo o único ativo porque Dilma é virgem em disputas eleitorais, o que impede saber de outros.
2 - A transferência do prestígio de um para a outra independe do quadro de candidaturas, certo?
Sejam dois ou 30 os candidatos, Lula transferirá (ou não) sua cota de prestígio para a sua candidata e só para ela.
A menos que algum petista debiloide -e os há em boa quantidade- seja capaz de imaginar que o presidente é tão sacana que transferirá votos também para Marina.
Posto de outra forma: a candidatura Marina não altera o jogo Lula/ Dilma, a menos que ele não esteja assentado unicamente na transferência de prestígio.
Ou então os petistas assustados não confiam muito na capacidade de Lula de transformar prestígio pessoal em votos para uma indicada sua. Esta segunda hipótese tem mais lógica: Lula mergulhou na campanha municipal de Marta Suplicy e, não obstante, ela sofreu sua terceira derrota em quatro campanhas majoritárias. A única lógica para o pânico é o medo de que uma candidatura Marina quebre o caráter plebiscitário (Lula/Dilma x Serra) que muitos dizem que o lulo-petismo deseja para 2010. Aí faz sentido, algum sentido pelo menos.
Em votações plebiscitárias, vota-se não apenas na simpatia de um mas também (às vezes principalmente) na antipatia do outro. Uma mesa com três (ou mais) jogadores tende sempre a diluir simpatias e antipatias.


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