domingo, agosto 02, 2009

CLÓVIS ROSSI

As bases e as drogas

FOLHA DE SÃO PAULO - 02/08/09

SÃO PAULO - É bom que o governo brasileiro cobre transparência da Colômbia a respeito da instalação de três bases norte-americanas no vizinho. Transparência é sempre útil, e muito pouco praticada na América Latina (Brasil inclusive).
Mas seria melhor ainda se o governo brasileiro tivesse, por fim, a coragem de cobrar transparência também de Hugo Chávez a respeito dos lança-foguetes vendidos pela Suécia à Venezuela e que foram parar nas mãos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, nascidas como guerrilha política e transformadas, faz anos, em puro narcoterrorismo).
Chávez, em vez de transparência, adotou a tática clássica e barata de gritar "pega ladrão" e fugir, aproveitando-se da confusão. Ou seja, em vez de dar explicações, preferiu acusar a Colômbia, congelar as relações (pela quinta vez, aliás, no que já virou folclore) e deixar que o bafafá ficasse centrado nas bases norte-americanas.
Qual é a maior ameaça à segurança dos cidadãos da América Latina em geral, inclusive da Venezuela e do Brasil: as bases dos Estados Unidos na Colômbia ou as bases dos PCCs, Comandos Vermelhos e outros grupos delinquentes, como as Farc, nos diferentes países da região? Bases que fazem a delinquência desafiar o monopólio das armas que deveria ser do Estado.
O argumento de que as bases na Colômbia gerarão corrida armamentista no subcontinente é ridículo, como já demonstrou ontem Igor Gielow. Se os Estados Unidos quisessem invadir qualquer país da região não precisariam de bases neles, como o demonstrou o Reino Unido na Guerra das Malvinas (1982), ao fazer pó das Forças Armadas argentinas, sem precisar suporte territorial, mesmo partindo de muito mais longe.
O resto soa a esquerdismo caquético de quem não conseguiu ainda tirar o cérebro dos escombros do Muro de Berlim.

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