sábado, agosto 01, 2009

CLÓVIS ROSSI

De fatos e ufanismo tolo

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/08/09

SÃO PAULO - Espero não estar cometendo uma inconfidência ao reproduzir comentário da crítica interna de Carlos Eduardo Lins da Silva, o ombudsman desta Folha. Diz ele que a capacidade de o presidente Barack Obama "reconhecer o próprio erro é uma de suas características de personalidade e de comportamento político mais original e interessante". Acrescenta: "Merece reflexão".
Como Carlos Eduardo é, entre outras qualidades, ótimo "pauteiro", me atrevo a lançar algumas reflexões não sobre o conjunto da obra mas ao menos sobre o discurso em que Obama anunciou ontem que o PIB dos Estados Unidos caiu menos, no segundo trimestre, do que no trimestre anterior.
O discurso começa com um estilo talvez excessivamente Lula de ser, em que Obama se atribui todos os méritos pelo fato de a economia do país ter parado de piorar.
Depois, no entanto, entra no território dos fatos desagradáveis, mas não tem medo de contá-los ao público, como no trecho em que diz que "ainda estamos perdendo empregos demais".
Promete não descansar até que "todo americano que quer um emprego possa encontrar um". Só então, termina o capítulo, se sentirá a recuperação da economia.
Compare agora com o discurso das autoridades brasileiras, sempre festejando os números do emprego, embora nunca, nem antes da crise nem durante nem agora, no que parece ser o princípio do pós-crise, se tenha chegado à criação dos 200 mil empregos/mês que o próprio candidato Lula dizia serem necessários.
É incrível como autoridades brasileiras, neste como em anteriores governos, têm imensa dificuldade em reconhecer fatos desagradáveis, sejam eles ou não produzidos por suas ações ou inações.
Parecem sempre querer curar os males da pátria com ufanismo. Não é nem rima nem solução.

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