sexta-feira, abril 24, 2009

ARI CUNHA

De costas para o mundo


Correio Braziliense - 24/04/2009
 


Nós não estamos nos dando conta de que o que se passa aqui corre mundo pela televisão ou internet. Dinheiro do exterior busca nosso país para melhores aplicações. Ocorre que dentro dos nossos limites damos os piores exemplos. Congresso sofre pressão dos congressistas. Exercer mandato eletivo não é profissão. Quase todos querem vantagens ou anexar ganhos ilegais aos vencimentos. 

Antes de Brasília, parlamentares iam para o Rio. Tratavam de alugar seus escritórios, exerciam a profissão do seu estado, levavam a família. Filhos estudavam em escolas escolhidas pelos pais. 

Em Brasília o Congresso se instalou. Foram criadas vantagens para que os parlamentares morassem no Distrito Federal. Anexos foram construídos para abrigar os funcionários e técnicos. Pequena multidão se tornou funcionária para atender aos desejos dos membros do Legislativo. 

Certo dia, parlamentar inglês chegou ao Brasil. Visitou Brasília, os gabinetes parlamentares e os anexos. E sentenciou: “O Congresso tem ótimas instalações. Falta democracia para ser completo”.

O Executivo, vendo o que se passava, lançou o mensalão. O governo doou dinheiro a deputados. Ousava conseguir votação a seu favor. Ficou tranquilo. A maioria acedeu. 

Deputados foram punidos. O chefe da Casa Civil foi expulso do cargo. Era a vendeta do Executivo em defesa do que seria moralidade. 

O Poder Judiciário se digladia entre integrantes. A sessão pega fogo. De portas trancadas, vem a moção de solidariedade. A ministra Hellen Gracie, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, e o ministro Joaquim Barbosa não assinam. 

O ministro Mário Veloso, ex-presidente da Corte, foi mais claro. “Quem toma assento nas cadeiras são homens e mulheres. Como tal, não existem anjos. Todos têm personalidades de saber jurídico. Pensam como seres humanos.” Nesse caso, pelo visto, não cabe moção de solidariedade. Da discussão nasce a luz. 

Castello Branco era presidente da República. Ameaçou cassar ministro do Supremo. O presidente da Corte, Gonçalves de Oliveira, atravessou a pé a Praça dos Três Poderes. Foi ao Palácio do Planalto. Conversou com o presidente Castello Branco e quis lhe entregar a chave para fechar o Supremo. Castello era democrata. Cumprimentou o ministro e a coisa serenou. 

Agora, briga e palavreados feios. Em virtude dos acontecimentos no Supremo, ministros se recolhem. Não há sessão para acalmar os ânimos. Fogem do convívio público para manter austeridade ferida. 

Ruy Barbosa falou em sua época sobre como fica o país que não confia na sua Justiça. Em 1960, quando o Supremo estava no Rio, Barros Barreto era seu presidente. Perdeu a votação para a maioria dos membros. Derrotado, transferiu o Supremo para Brasília. Daqui não arredou pé. Fez com que todos cumprissem a missão. Quem viajasse seria por conta própria. O lugar era em Brasília. 

O ministro Luiz Galotti também era contra. Mudou, e ficou hospedado no Brasília Palace Hotel. Sua mulher, solidária ao marido. Não foi morar em casa de ministro. Não havia passarinhos no cerrado. Ela criava um galinho garnizé. Acordava ao som do seu cantar. 

O Brasil está a pé. Cresce, mas sem respeito dos seus cidadãos. Outros países querem aplicar dinheiro em virtude da crise na economia mundial. Retraem-se os investimentos. O país não merece o respeito do exterior, embora seja pujante no seu desenvolvimento. Está cocho. É mais fácil se pegar um mentiroso do que um cocho. 

Rezemos pelo nosso futuro, que só a Deus pertence. Que Ele nos dê paz e consciência para viver vicissitudes. O papa Bento XVI disse o que sabe: “O mal de tudo é o egoísmo”. O filósofo de Mondubim esclarece: “É brasa pouca para muita sardinha”.


História de Brasília

Do deputado Ocelio Medeiros, na comissão que investiga o contrabando com café do IBC: “Eu estou sentindo que esta Comissão Parlamentar de Inquérito não vai alcançar seus resultados, pois o que até hoje se verifica é que há muito contrabando no país, mas não há contrabandistas”. (Publicado em 28/1/1961)

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