quarta-feira, outubro 02, 2013

Primeiros capítulos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 02/10

Aos poucos, vai se montando o cenário e seus principais atores. Na novela eleitoral, José Serra recebeu o gesto de carinho que esperava, um apelo do presidente do partido, Aécio Neves. Assim, não vai sair do PSDB. Com Cid Gomes fora do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em carreira solo, rumo a uma candidatura própria para colocar a legenda no elenco de protagonistas. Falta apenas definir que papel caberá à ex-ministra Marina Silva e qual arranjo Dilma fará nos ministérios no fim deste ano para se ter uma ideia clara de que rumo seguirá essa trama.

Vamos começar por Dilma. Ontem, ela deu um jeito de adiar a disputa entre PT e PMDB por cargos no governo. Os dois partidos brigavam pela Integração Nacional. Diante das incertezas para 2014, ela não teria alternativa senão entregar a pasta ao PMDB, preterindo seu próprio partido, que deseja a vaga. Diante dessa queda de braço, Dilma não deu a vitória nem a um nem a outro. Simplesmente nomeou um técnico, Francisco Teixeira, ligado ao governador do Ceará, Cid Gomes.

A atitude da presidente, de escolher um técnico, foi tomada para tentar diluir as pressões do PMDB e do próprio PT. De quebra, “gruda” ainda mais Cid Gomes ao projeto da reeleição. Embora Francisco Teixeira assuma interinamente, todo mundo sabe que em janeiro haverá outros ministérios vagos e ela não precisará necessariamente entregar a Integração Nacional ao PMDB. A expectativa é a de que pelo menos 10 ministros deixem o cargo para concorrer às eleições do ano que vem. Assim, Dilma incluirá a Integração Nacional nesse bolo a ser distribuído entre os diversos apoiadores e não apenas aos peemedebistas. Obviamente, isso não será mencionado, mas, nas entrelinhas, a leitura foi a de que Dilma não deseja dar a pasta da Integração Nacional de mão beijada aos peemedebistas. Quer primeiro, saber dali quem está com ela e quem tem ouros projetos.

Em certo ponto, a presidente tem lá suas razões. Afinal, se entregasse a um determinado grupo, deixaria vários insatisfeitos. Assim, diante da expectativa de poder futuro, todos permanecem na base governista, sonhando com a Integração e suas obras, que saltam aos olhos do eleitor, em especial, do Nordeste.

Enquanto isso, no mercado futuro...
O problema é que, ao adiar a disputa para janeiro, Dilma não tem a certeza de que a briga será transformada num “amistoso” entre os principais aliados. Se a avidez por cargos não for menor, a tendência é uma geração de insatisfeitos, pronta para seguir outros caminhos na temporada eleitoral de fato. A aposta da presidente, entretanto, é a de que sua popularidade, em alta novamente, será suficiente para conter arroubos de rebeldia de quem se sentir preterido na distribuição dos ministérios em dezembro ou janeiro. Afinal, ninguém quer brigar com presidente da República, ainda mais com a possibilidade concreta de reeleição.

Se a perspectiva de aumento de popularidade avistada pelo Planalto não se confirmar, Dilma verá os insatisfeitos seguirem outros rumos, seja Eduardo Campos, seja Aécio Neves. O PSDB do senador Aécio deu ontem uma demonstração de habilidade ao garantir a permanência de José Serra no partido. Mostrou que tem interesse em agregar os seus. Da parte de Eduardo Campos, a sensação é a de que, depois da saída do governo Dilma, o governador voltou a agir de forma mais silenciosa, deixando para chamar a atenção depois de 5 de outubro. Afinal, algumas de suas apostas deram água. A ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins ficou no PT graças à promessa de Lula de que será candidata ao que desejar em 2014. Além disso, ela deve integrar o conselho de uma estatal. O PSB, por sua vez, fica exclusivo de Sérgio Novaes, ex-marido de Luizianne.

A negociação em torno de Luizianne e o reforço que Dilma deu ao governador Cid Gomes dentro da estrutura de governo mostram que ela não vai brincar na hora de aproveitar tudo o que tem ao seu dispor para angariar apoios. Nesse jogo, não conseguiu, entretanto, tirar José Serra do campo da oposição. Afinal, ainda que ficasse fora do PSDB, Serra não trabalharia para o PT nem trabalhará. O problema agora dele é resolver como fica a distribuição de poder em São Paulo entre Serra e o governador Geraldo Alckmin. Essa, entretanto, é outro capítulo a ser apresentado mais adiante. Os de hoje e o de amanhã estão a cargo de Marina Silva e a sua Rede.

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