terça-feira, novembro 13, 2012

GRU Airport - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 13/11

A Concessionária do Aeroporto Internacional de Guarulhos S.A. assume a administração do terminal, quinta, em pleno feriadão prolongado, adotando um novo nome fantasia para o lugar: GRU Airport. GRU já é o nome técnico de Guarulhos na Iata.
O inglês é o idioma da aviação. O aeroporto de Frankfurt se chama Frankfurt Airport, e o de Pequim é Beijing Capital International Airport.

Mas...
Na verdade, uma lei federal de 2001 alterou o nome do aeroporto de Guarulhos para André Franco Montoro. Mas não pegou.

Já...
No Rio, o nome Tom Jobim, dado ao Galeão, teve melhor sorte, embora o antigo ainda seja mais usado.
Os fãs do grande maestro (eu apoio) não deixam de lembrar a homenagem.

O que é isso, Sobral?
A juíza Cíntia Cardinali, do Rio, condenou o designer Carlos Alberto Resende Sobral a seis meses de prisão, convertidos em trabalho voluntário.
Ele é acusado de ter xingado a gerente do Teatro Leblon, Mariana Araújo, de “sua vaca” e de ter dado um tapa em seu rosto. Cabe recurso.

Xuxa.tv
Xuxa conseguiu reaver mais um domínio com seu nome na internet.
A Organização Mundial da Propriedade Intelectual deu ganho de causa à apresentadora em relação ao endereço Xuxa.tv, registrado por outro.

Léo Moura é fashion
Léo Moura, 34 anos, o jogador do Flamengo, já desenha seu futuro para quando parar com o futebol.
Inaugura hoje no Recreio, no Rio, a grife LM, suas iniciais, com as estilistas Marcella Vinhaes e Laura Sena.

A escola do Castor
A Mocidade Independente de Padre Miguel, cujo enredo para 2013 é Rock in Rio, foi autorizada a arrecadar R$ 6.946.788 pela Lei Rouanet.
A captação ficará a cargo da Oroborus Consultoria.

Mas...
Espera-se, pelo menos, que esta derrama de dinheiro público no samba sirva para afastar de vez a influência dos bicheiros na festa.
A começar pela Mocidade, escola que, por muito tempo, teve como patrono o lendário Castor de Andrade

‘Correio da Manhã’
O jornalista Fuad Atala acertou com a Editora Record a publicação de um livro sobre a história do “Correio da Manhã” (1901-1974), onde trabalhou.
Pela redação do jornal passaram Lima Barreto, Otto Maria Carpeaux, Antonio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Heitor Cony e Márcio Moreira Alves.

AS BELAS SÃO FERAS
Mulher policial parece estar na moda com a delegada Heloísa (Giovanna Antonelli), da novela“Salve Jorge”, da TV Globo. Veja as tiras da vida real: as delegadas da Polícia Civil do Rio Valéria Aragão, Renata Araújo, Gisele do Espírito Santo e Marcela Ortiz, estrelas do programa “Mulheres de aço”, do GNT, que acompanha o dia a dia delas 

Péssimo exemplo
Este Palio Weekend branco, veja, parou na pista da esquerda (onde é proibido estacionar) da Av. Ataulfo de Paiva, no Leblon, por volta das 15h50m de sexta.
Os ocupantes, dois PMs fardados, acenderam o pisca-alerta e foram... lanchar na Pizzaria Guanabara.

Calma, gente
Andréa Silva Souto, negra, 35 anos, criada no Complexo da Maré, no Rio, estudante do curso de doutorado da escola de Química da UFRJ, entrou com ação contra a universidade.
É que, segundo ela, sua orientadora a xingou: “Você é pobre, pobre fede. O que está pensando? Pobre não estuda na UFRJ.”

Segue...
A estudante, segundo seu advogado, Alexandre Barenco, entrou em depressão e até tentou cancelar sua matrícula para continuar os estudos em outra universidade.
Mas para que a UFRJ liberasse seu histórico escolar foi preciso uma decisão da 16ª Vara Federal.

Fazia tempo... - FABRÍCIO CARPINEJAR

ZERO HORA - 13/11


Fazia tempo que não deixava a comida esfriar no prato pelo interesse na conversa.

Fazia tempo que não abria o zíper de um vestido com todo o cuidado para não machucar a pele.

Fazia tempo que não tinha tanta ansiedade de meu passado.

Fazia tempo que não via alguém amarrar meu cadarço.

Fazia tempo que não andava de ônibus dividindo o headphone.

Fazia tempo que não esperava passar a chuva.

Fazia tempo que não procurava fotografias de minha infância.

Fazia tempo que não reparava em casais mais velhos comendo em silêncio.

Fazia tempo que não sofria de compaixão dos bancos de praça.

Fazia tempo que não observava o musgo nos fios telefônicos, ouvia o barulho de lâmpadas falhando das cigarras.

Fazia tempo que não agradecia com desculpa e me desculpava com obrigado.

Fazia tempo que não me acordava louco para dormir um pouco mais.

Fazia tempo que o cheiro da pele não se parecia tanto com o cheiro dos travesseiros.

Fazia tempo que não me exibia aos meus amigos.

Fazia tempo que não me curvava aos cachorros de minha rua.

Fazia tempo que o cansaço não me atrapalhava.

Fazia tempo que não decorava os hábitos de outra pessoa a ponto de antecipá-la em pensamento.

Fazia tempo que não me importava em conferir a previsão do tempo e o horóscopo.

Fazia tempo que não me preocupava com o que havia na geladeira.

Fazia tempo que não ria sozinho, sem controlar a altura da voz.

Fazia tempo que não enganchava minhas roupas num brinco.

Fazia tempo que não tinha saudade do que nem iria acontecer.

Fazia tempo que não respondia com perguntas, como se estivesse estudando para o vestibular.

Fazia tempo que não temia o intervalo dos telefonemas.

Fazia tempo que não massageava os pés no colo – os pés femininos são mãos distraídas.

Fazia tempo que não escrevia bilhetes para despertar surpresas pela casa.

Fazia tempo que não curava a ressaca com sexo.

Fazia tempo que não estendia no varal a calcinha molhada no box do banheiro.

Fazia tempo que não dobrava a camiseta com suspiro, ou dobrava o suspiro com a camiseta.

Fazia tempo que não me demorava no espelho, encolhendo a barriga, ensaiando cumprimentos.

Fazia tempo que não mergulhava em silêncio para não desperdiçar nenhuma frase dita.

Fazia tempo que não beijava esquecendo aonde ia e quem poderia estar olhando.

Fazia tempo que não me apaixonava assim.

O Evangelho Segundo Maria - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 13/11


Não existe nada de mais trágico do que experimentar uma vez a morte e ser depois restituído à vida


Todos conhecemos a história bíblica de Lázaro, o homem que Jesus ressuscitou dos mortos. O que não conhecemos é a vida que Lázaro teve depois.

Como será regressar dos mortos? Como será ter o conhecimento do outro lado e voltar a cruzar o rio para o nosso lado? Será uma experiência que permite uma vida normal -e, sobretudo, uma nova morte normal?

C.S. Lewis, o conhecido escritor e pregador cristão, escreveu em "A Grief Observed", diário de seu luto depois da morte da mulher, que Lázaro é uma figura imensamente trágica, cujo destino não devemos desejar a ninguém. Nem sequer aos que mais amamos.

Porque não existe nada de mais trágico do que experimentar uma vez o ordálio aterrador da morte e ser depois restituído à vida para voltar a passar pela mesma experiência terminal. Morrer uma vez basta. Morrer duas vezes devasta.

Lembrei Lázaro, e as palavras de C.S. Lewis sobre ele, ao ler o novo livro do romancista irlandês Colm Tóibín, "The Testament of Mary" (o testamento de Maria; Viking, 112 págs.), que tem sido tema de polêmica e debate no Reino Unido.

A novela, como o título sugere, pretende ser o relato final de Maria, mãe de Jesus, sobre os acontecimentos que ficaram para trás. E, entre eles, está Lázaro: não apenas o milagre da sua ressurreição, mas o que sucedeu depois.

São as melhores páginas do livro, porque Tóibín, retomando a ideia de C.S. Lewis, não nos apresenta uma criatura redimida e feliz. Pelo contrário: Lázaro é pintado com cores negras, fantasmagóricas -um espectro silencioso e sofredor, de quem todos se afastam como se fosse a peste.

Isso, claro, se acreditarmos mesmo que aquele homem foi ressuscitado por Jesus. Eis a polêmica em torno do livro: Maria, na sua velhice, não acredita. Sim, existem relatos de relatos de relatos. Alguém testemunhou a cura de um cego, a caminhada de Jesus sobre as águas, a ressurreição de Lázaro e, evidentemente, a ressurreição do próprio Messias redentor.

Só que, para Maria, Jesus não é o Messias. É apenas o seu filho muito amado -a criança que ela educou e viu crescer na banalidade dos dias; que acompanhava o pai ao Templo em pleno Sabbath; e que, mais tarde, se rodeara fatalmente por uma turba fanática ("marginais", como ela designa os apóstolos), congregando sobre si a histeria das massas e a pena pesada das autoridades romanas (e judaicas).

Foi essa arrogante imprevidência -a imprevidência de quem se apresentara como o rei dos reis e filho de Deus- que condenara seu filho à morte, apesar das inúmeras tentativas da mãe para o resgatar de um caminho lúgubre.

Mesmo a versão oficial da crucificação é desautorizada por Maria: ela esteve lá, no Gólgota desolado. Mas jamais recebera o corpo do filho depois de morto.

Na verdade, Maria fugira antes, temendo pela sua própria vida, deixando para trás um filho agonizante. Essa fuga persegue a consciência da mãe até ao fim.

Na literatura contemporânea, existem vários exemplos de literatura "blasfema" sobre os Evangelhos -do "Cristo Recrucificado", de Nikos Kazantzakis, ao célebre "Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago.

Mas a força do livro de Colm Tóibín não está na atitude propositadamente "blasfema" e confrontacional. Está antes na profunda ambiguidade que o autor confere ao relato de Maria.

Charlotte Moore, na revista "Spectator", resumiu o problema: o testamento de Maria, tal como escrito por Tóibín, desautoriza a construção de Jesus feita pelos seus apóstolos. Mas o escritor é audaz na forma como também desautoriza as palavras de Maria: ela é apresentada, repetidamente, como uma mulher envelhecida, amedrontada, confusa, sem o discernimento necessário para separar fatos de efabulações, fatos de fabricações.

O relato de Maria é tão dúbio como os relatos que ela considera dúbios. Isso, que para alguns críticos constitui uma fraqueza narrativa, é na verdade a maior força -literária, teológica e obviamente sacrílega- do livro de Colm Tóibín: é preciso ser um escritor de excelência para infectar de dúvida todas as dúvidas de Maria.

E, no final de seu relato, deixar o leitor, seja crente ou não crente, profundamente abalado. Um pequeno grande livro.

A máscara da face - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 13/11


Podemos disfarçar que amamos. Podemos disfarçar que estamos odiando.

A criação pôs à nossa disposição inúmeros disfarces. Não só podemos ser outra pessoa como até somos capazes de ser diversas pessoas.

Para tanto, fomos equipados com o fingimento. Conheço pessoas que fingem estar tendo orgasmo e já soube de casos de pessoas que têm orgasmo e fingem que não estão tendo. Todo disfarce tem por trás um interesse.

Há uns que fingem que amam. Juram de pés juntos, ajoelhados, que estão amando. E não estão. O ser humano pode ser muito falso.

O Zé Dirceu jura que não tem nada a ver com o mensalão, que nunca tomou conhecimento de uma só ação do mensalão, e a prova dos autos levou o procurador-geral da República a escrever no seu libelo que o Zé Dirceu era o chefe da quadrilha.

Eu já vi gente fingir que era gremista. E, no entanto, pulsava dentro do seu peito um coração colorado.

Há pessoas que passam 40 anos jurando que amam alguém e no fundo o que acontece é que odeiam esse alguém.

Tudo porque o sentimento não é um riacho de águas límpidas. O sentimento se oculta, ele pode se manifestar de uma forma completamente diferente do seu verdadeiro conteúdo.

Se trouxéssemos estampado na face o que realmente sentimos, a vida seria muito mais difícil para nós.

Seria muito mais fácil para os juízes julgar os réus se estes não tivessem a possibilidade de mentir.

Se até a história mente, como não haveria o homem de mentir? Se se perguntar a todos qual foi o maior político brasileiro, qual foi o maior estadista, a resposta será só uma: Getúlio Vargas.

No entanto, a polícia política do ditador Getúlio Vargas foi comandada por Felinto Muller, um carniceiro. Nas masmorras da ditadura de Vargas, as unhas e os dentes dos presos eram arrancados em torturas medievais.

Além disso, quando da II Guerra Mundial, o ditador Getúlio Vargas decretou simplesmente o confisco de todas as propriedades e outros bens de origem honesta de pessoas estrangeiras que viviam estavelmente no Brasil, um crime horrendo. Só por serem estrangeiras.

E, no entanto, Getúlio Vargas é endeusado pela memória nacional e considerado o melhor e maior homem público da história política brasileira.

Se a História não arranca a máscara da face de tantas pessoas, imagina o nosso relacionamento comum: bilhões de pessoas se fazem passar por outras. É mau posando de bom, é falso posando de legítimo, é cruel posando de terno.

A natureza humana se permite esses disfarces, por isso há tantas dúvidas sobre o que é falso e o que é verdadeiro.

É por isso que todos nós nos decepcionamos com tanta gente e até mesmo tanta gente acaba se decepcionando conosco.

Um dedo-duro no peito - ROSELY SAYÃO

FOLHA DE SP - 13/11


Que medo: vamos mesmo implantar chips nos uniformes dos mais novos para controlar suas vidas


Memória é uma coisa muito encantadora mesmo. Sua existência é inquestionável e não sei dizer se ela é controlável, administrável.

Diariamente eu constato isso e hoje vou contar uma dessas lembranças que a minha memória guardou sem que eu soubesse.

Ela -que parece ter vida própria- decidiu que determinado episódio vivido por mim merecia ser arquivado para que, no momento certo, pudesse reaparecer.

Há uns seis anos eu estava na casa de um criador de cães porque decidira comprar um filhote.

Lá estava eu tentando decidir qual filhote levar -escolha das mais difíceis porque pareciam todos iguais.

Mas, ao mesmo tempo, eu estava bem interessada nas conversas das outras pessoas que estavam ali pelo mesmo motivo que eu.

Devo reconhecer que eu estava assombrada com o conhecimento que aquelas pessoas demonstravam ter a respeito do comportamento dos filhotes: "Se ele se comporta assim agora, quando crescer será de tal maneira" etc.

Bem, depois de pouco tempo, uma compradora decidida escolheu o filhote que levaria e pediu que fosse colocado um chip nele.

Eu, que nunca ouvira nada semelhante, me interessei em saber o que era aquilo, como era colocado no animal e qual a razão para colocar algo chamado chip em um cão.

Creio que eu buscava informações para saber se eu também deveria querer aquela mesma coisa para o meu filhote.

Aí a mulher me contou que o microchip ajudaria no caso de ela perder o seu cão e me deu explicações detalhadas sobre o funcionamento daquele dispositivo -explicações essas que minha memória deve ter achado bobagem guardar, porque não me lembro de nada.

Depois de ouvir atentamente a compradora, decidi que eu não queria aquilo e tive um pensamento.

Foi a esse pensamento que minha memória deu toda a atenção e só descobri isso dias atrás.

Pensei, naquela ocasião, se nós chegaríamos ao ponto de instalar essa tecnologia em seres humanos. E esse pensamento me deu medo, devo confessar.

Mais de seis anos depois desse acontecimento, eu estava lendo o jornal quando uma notícia me chamou a atenção. Uma reportagem anunciava que uma escola em Brasília instalara chips nos uniformes dos alunos do ensino médio para controlar sua presença nas aulas.

Foi ao ler essa reportagem que minha memória decidiu trazer à tona aquele meu pensamento medroso. E, pelo jeito, meu medo também tinha razão de existir.

Vamos mesmo implantar chips -hoje nos uniformes, amanhã, sabe-se lá onde- nos mais novos para controlar suas vidas. Nós queremos que eles fiquem na escola: que entrem e saiam no horário certo.

Se a escola se comunica com os estudantes, se consegue dar sentido ao que ensina, se os ouve, se não decifra o conhecimento por eles, nada disso parece importar tanto. O que importa mesmo é que lá os alunos permaneçam até o sinal ser dado.

Os pais dos alunos que carregam o chip no uniforme são favoráveis à medida. A diretora, em entrevista, afirmou que serão os pais que decidirão se o chip ficará ou não.

E os alunos? Ah, esses não estão gostando nem um pouco dessa história de carregar um dedo-duro no peito. Mas será que importa o que os alunos acham?

De novo, parece que não. Não importa, por exemplo, oferecer a eles a oportunidade de aprender que fazer escolhas significa arcar com as consequências delas; não importa que eles conquistem autonomia, tampouco que aprendam o que é liberdade.

Em nome da segurança, passamos a acreditar que "povo marcado é povo feliz".

1. Um mundo sem ridículos - DAVID COIMBRA

ZERO HORA - 13/11


As nossas vergonhas a gente não conta. Sobretudo nesses tempos de Twitter, Instagram e Facebook, em que as pessoas passam o dia registrando para a posteridade suas vitórias e alegrias, falar sobre derrotas e tristezas é inconcebível. Todos são campeões, nas redes sociais.

Se bem que derrotas e tristezas até são admissíveis, volta e meia alguém assume que perdeu ou que está triste. Que foi ridículo, nunca. Ninguém é ridículo. Ninguém é humilhado. Ninguém é covarde. Como já disse, ninguém reconhece suas vergonhas.

Também não serei eu a reconhecer as minhas agora, ainda mais de público, vergonhas eternizadas em papel. Mas confesso que as tenho bem escondidas, e as odeio. No entanto, sei que servem para algo – para me deixar alerta. Entendo à perfeição que corro o risco de me tornar ridículo a qualquer momento e que a queda está sempre à espreita, embora sempre possa me levantar.

De certa forma, trata-se de um alívio. Posso ser um pouco condescendente comigo mesmo. Sei que vivo errando e que vou errar de novo. Sei da minha imensa capacidade de errar. Assim, se alguém vier me criticar:

– Ei, você errou! Eu suspiro:

– Pois é , vivo fazendo isso...

2. Os invencíveis do Facebook

O fato é que você precisa ter uma margem de tolerância para errar, senão você estoura.

Veja o caso do Grêmio: se Koff não renovar com Luxemburgo, perderá a margem de tolerância. Começará sua gestão obrigado a vencer TODAS. Mesmo que o novo técnico do Grêmio seja Felipão, a desconfiança da torcida estará a cada partida pairando acima do time. Ao primeiro revés, a cobrança se tornará insuportável.

Então, não há saída para Koff: ele tem de renovar com Luxemburgo. Porque ele sabe, todos nós sabemos: só no Facebook existem invencíveis.

3. Medo de errar

Há outra possibilidade ainda mais aterradora para Koff, caso ele não renove com Luxemburgo: o Inter contratá-lo. Se isso acontecer, não adianta o Grêmio de Koff vencer TODAS; o Inter de Luxemburgo também terá de perder.

Em resumo, Koff virou refém das vitórias de Luxemburgo. Quando mais Luxemburgo vencer, mais embretado estará Koff. Luxemburgo poderia fazer exigências descabidas, e Koff teria de ponderar. Ou, num último lance de desespero, torná-las públicas.

Mas acredito que isso não ocorrerá. Acredito que haverá bom senso das duas partes. E assim todos poderão errar sem medo. Eu, que tanto erro, sei o quanto é bom não ter medo de errar.

Fórmula fajuta

Só na fórmula de pontos corridos um time é campeão em Presidente Prudente.

Só na fórmula de pontos corridos um time é campeão numa partida com oito mil espectadores.

Só na fórmula de pontos corridos um time é campeão num jogo contra um virtual rebaixado.

Só na fórmula de pontos corridos um time pode ser campeão graças ao favorecimento de arbitragens em jogos intermediários.

Só na fórmula de pontos corridos um campeonato termina três semanas antes da última rodada.

Só na fórmula de pontos corridos um time pode ser campeão sem ter derrotado o vice.

A fórmula de pontos corridos é ruim por várias razões, mas a principal é que, ao contrário do que apregoam seus defensores, ela não apura quem é o melhor. Porque o campeão não passa pela prova definitiva de uma final, de um jogo nervoso, único, que todos estão assistindo e que pode decidir tudo.

O Fluminense mereceu ser campeão na fórmula de pontos corridos, mas a fórmula de pontos corridos não demonstra quem de fato merece ser campeão.

Não tem santo em SP - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 13/11


Não à toa, o carioca acende todas as noites uma vela para São José Mariano Beltrame. Perto do que a gente vê por aí, francamente, o secretário de Segurança Pública do Rio é um santo homem.

Ainda que não seja esse milagreiro todo que dizem, imagina viver num lugar sabendo que quem zela por sua tranquilidade é um sujeito, para início de conversa, equilibrado e técnico em sua especialidade! "Isso é melhor que praia", dizem em Ipanema.

Exageros à parte, se tivesse que escolher hoje entre o secretário de Segurança, o governador do Estado e o prefeito da cidade, o carioca - ô raça! - não teria dúvidas em votar em quem, dos três, jamais disputou eleições na vida.

Tem gente no Rio que, para não perder seu xerife, abriria mão dos royalties do petróleo, do réveillon de Copacabana em 2013, da final da Copa do Mundo em 2014 e até dos Jogos Olímpicos de 2016.

Beltrame é um fenômeno de popularidade em um País em que chefes de polícia, em geral, só protagonizam más notícias!

Sua última medida para acabar com a guerra nas ruas foi chamar de volta aos quartéis mais de 200 fuzis da PM considerados desnecessários em áreas já pacificadas da cidade. Não parece milagre?!

Boletim médico

Oscar Niemeyer não deixou ninguém dormir na madrugada de domingo no Hospital Samaritano! Gritou a noite inteira: "Neeense, neeense!" Nunca foi tão Fluminense na vida!

Tiro de misericórdia

Amigos de Bob Dylan estão tentando esconder do cantor e compositor de Blowing in the Wind a versão que circula no YouTube de Eduardo Suplicy e Tiririca cantando o sucesso em dueto em uma festa no Congresso. O artista está meio gagá, mas não a ponto de

não se deprimir com esse tipo de coisa!

Dos males, o menor!

Torcedores do Palmeiras foram os que menos reclamaram da lentidão insuportável do trânsito provocada pelas chuvas ontem em SP. Quem dera todo sofrimento fosse assim!

Queda livre

Em matéria de segurança pública, o governador Geraldo Alckmin tem razão: "As mortes já estão em processo de queda!" Só no último fim de semana, mais de 25 tombaram na Região Metropolitana de SP!

Oportunidade de negócio

Já tem camelô brasileiro desembarcando em Buenos Aires para atender à demanda por panelas nas imediações da Casa Rosada!

Nota máxima

José Dirceu é 10 em tudo: 10 anos e 10 meses de cadeia, cá pra nós, não é pra qualquer um! O Genoino tirou menos de 7!

Amargura

De José Serra, sobre o objeto não identificado atirado em Lady Gaga durante o show no Morumbi: "Se fosse comigo, diriam que foi uma bolinha de papel!"

Modéstia à parte

Milton Nascimento disse no quadro 'O Que Vi da Vida', do Fantástico, que não sabe se é um xamã. Leva o maior jeitão, né não?

O descarte de Kassab - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 13/11

Primeiro, foi o PMDB. Depois, o PSB. Agora, chegou a vez do PSD. A presidente Dilma Rousseff, aos poucos, vai tentando alinhavar acordos para permitir que os projetos do governo caminhem no Congresso sem sustos. No caso do PSD, trata-se do ingresso de novos atores no governo e na base aliada. Embora o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, declare seu partido independente, está cada vez mais claro que ele prefere jogar ao lado da presidente do que da oposição. E, assim, a dois meses de deixar o mandato, Gilberto Kassab consegue a façanha de “migrar” do governo do PSDB para o do PT. Sem escalas.

Embora exista em alguns setores uma certa má vontade para com o PSD, é bom que se deixe claro que o partido não é nada desprezível. Foi criado a menos de dois anos e hoje é a quarta maior bancada da Câmara. Obviamente, contou com a sorte de ter sido o primeiro a surgir no cenário em um momento em que o DEM abrigava um grupo interessado em sair da postura de oposição ferrenha ao governo. Ainda que tenha sido “sorte”, soube ousar na hora certa. E agora o partido está aí e será um dos jogadores a se prestar atenção nas composições a curto e médio prazos. E nem o fato de deixar a prefeitura paulistana daqui a dois meses pode ser visto como um fator que tire esse caráter de um partido a ser observado.

Nesse sentido, embora a sucessão presidencial ainda esteja distante — ainda temos um ano e oito meses até o início oficial da próxima campanha para presidente da República —, já é possível saber para onde tende o olhar do quase ex-prefeito de São Paulo. Kassab e sua bancada estão hoje bem mais próximos de Dilma, com quem o prefeito jantou ontem, do que do PSDB. Portanto, a dúvida dos pessedistas não é nem se vale a pena apoiar o governo ou a oposição daqui a menos de dois anos. O que passa pela cabeça dos aliados de Kassab é escolher entre seguir com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, caso ele seja mesmo candidato, ou ocupar o lugar do PSB na base de Dilma, o que não pode ser descartado. Isso porque o partido de Kassab ficou maior do que o próprio PSB.

Como ainda é impossível fechar desde já um caminho seguro rumo a 2014, porque ainda faltam alguns fatores, o prefeito vai tratando de juntar algumas cartas, mas solta outras. Até agora, a única carta que ele descartou foi a que tem a figura do ex-governador de São Paulo José Serra. Embora, há alguns meses, tenha se mencionado a hipótese de Serra sair do PSDB para concorrer à Presidência da República pelo PSD, esse momento passou. Entre os aliados de Kassab, ninguém cogita hoje essa hipótese.

Por causa da baixa avaliação com que deixará o governo de São Paulo, há, dentro do partido, quem considere essa aproximação com o governo Dilma — com a perspectiva de ocupar um ministério — uma boa vitrine para se somar ao governo de Santa Catarina capitaneado por Raimundo Colombo, o posto de maior visibilidade do partido hoje.

Ao mesmo tempo em que participa de jantar com Dilma, Kassab não perde o contato com o governador de Pernambuco, a quem considera um dos políticos mais talentosos da sua geração. Mas o prefeito paulistano não é tão fiel a Campos neste momento ao ponto de deixar trincar sua recém-construída relação com o Palácio do Planalto. Por isso, ele mantém a tendência do PSD de apoiar a candidatura de Henrique Eduardo Alves a presidente da Câmara. Nesse sentido, está cada vez mais claro que, enquanto 2014 for uma réstia de luz que muitos partidos começam a ver no horizonte, sem contornos definidos, Kassab continuará com essas duas cartas em mãos. E, se a mesa rodar e Serra continuar solto, ele pode inclusive resgatá-lo ali na frente. Afinal, como ouvi de um experiente político recentemente, quem conhece dessa arte não despreza aliados, não transforma adversários em inimigos e nem age com o fígado. Kassab, pelo visto, reza por essa cartilha. Afinal, depois de todos os ataques que sofreu do PT na campanha eleitoral, lá está ele ao lado de Dilma.

Enquanto isso, no Planalto…

Três eventos com destaque aos nordestinos em menos de duas semanas. Primeiro, foi a presença maciça de cantores da região na Ordem do Mérito Cultural. Depois, foi a vez de enaltecer o governador do Ceará, Cid Gomes, no lançamento do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa. E hoje, para completar, o programa Mais Irrigação, no valor de R$ 3 bilhões. Sinal de que o governo começa a cercar a região para evitar que o PSB de Eduardo Campos, criado no frevo, ganhe ainda mais fôlego.

O que sobrou deste julgamento, jurídica e politicamente? - JOAQUIM FALCÃO

FOLHA DE SP - 13/11


O STF ESCAPOU DE SUA INÉRCIA. A DEMOCRACIA COMEÇOU A SE DEFENDER 


O que sobrou desta inédita, e ao vivo, batalha ética, jurídica e política? De pressões e contrapressões no Supremo? De teses jurídicas que se anulavam? De ministros que discutiam, debatiam-se e concordavam? Que falavam para a opinião pública e pretendiam não ouvi-la? De um processo penal de caminhos certos e alguns incertos?

O que sobrou de um PT reclamante e reclamado? De um PSDB ausente e com medo? De um ex-presidente Lula falando nas sombras e de uma presidente Dilma assistindo de longe? De leitores, internautas, telespectadores jamais tão mobilizados?

Envoltos na pergunta sideral: condenar ou absolver? Quem? Quando? A quantos anos? Afinal, o que sobrou?

Quando a Folha identificou conflitos na base aliada, e Roberto Jefferson correu seu risco maior e tudo denunciou, praticou-se a liberdade de expressão e de imprensa.

Quando o Congresso instalou CPIs do Bingo e dos Correios, testemunhas falaram e parlamentares exerceram a independência do Congresso.

Quando no Ministério da Justiça sob Márcio Thomaz Bastos a Polícia Federal livremente investigou e o Ministério Público Federal sob Antônio Fernando e Gurgel agiu, praticou-se a autonomia das instituições encarregadas de vigiar e punir.

Quando o processo foi distribuído por sorteio ao ministro Joaquim Barbosa, o STF reafirmou o princípio do juiz natural e assegurou a neutralidade do julgar, indispensável ao estado democrático de direito.

Quando Barbosa propôs a abertura do processo penal, buscou a coragem da verdade. Na decisiva sessão, a imprensa flagrou o infeliz diálogo de laptops entre ministros e impediu que as investigações fossem arquivadas. E que a impunidade prevalecesse.

Quando afinal o ministro Ayres Britto decidiu decidir, e colocou em pauta o julgamento, o Supremo escapou de sua tradicional inércia diante da improbidade administrativa e da corrupção. Assumiu seu poder de decidir por último.

Quando os advogados tudo fizeram para proteger seus clientes, exerceu-se o direito de defesa e dignificou-se a advocacia. Quando o ministro Lewandowski optou por acatar argumentos da defesa e se posicionar contra o relator, exerceu seu direito de livre convencimento, sem o que julgamento imparcial não há.

Quando me perguntaram, não mais sobre absolvidos ou condenados, dosimetrias ou empates, mas se nossas instituições do estado de direito democrático estavam estáveis e funcionando, respondi que sim. Foi o que sobrou.

Mas será que o que sobrou é bastante? Não sabemos. Este julgamento foi sobre pessoas que agiram individualmente e foram julgadas individualmente. Mas estavam juntos a serviço de algo maior: de uma política de governo que usa agentes políticos, banqueiros, empresários, publicitários.

De uma política de governo que usa o público e o privado, a lei, o contrato e os partidos políticos para ameaçar a democracia. A democracia começou a se defender. Será o bastante?

A crítica impertinente - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 13/11


Todos os leitores do Valor são "ipso facto", bem informados. Sabem que o mandato de Mervyn King, o atual Governador do "The Bank of England" está terminando e que o banco e o Tesouro de Sua Majestade estão à procura, com anúncios públicos no mundo, de um substituto.

No dia 9 de outubro na London School of Economics, para comemorar o 20º aniversário da introdução do sistema de "metas inflacionárias" na Inglaterra, King deu uma aula interessante sobre a história do sistema, seus fundamentos intelectuais, suas vantagens e seus problemas. Refletiu sobre o período da "grande moderação" (1997-2007) e a valorização da libra de 25% contra outras moedas, "não inteiramente explicável", para revelar numa espécie de lamento: a tardia descoberta que a estabilidade dos preços não é condição suficiente para a estabilidade do sistema financeiro. Na última frase da humilde e extraordinária confissão, King engole em seco a prepotência que costuma dominar alguns pseudos cientistas monetários e entrega a sua mensagem: "Entendemos menos do que gostaríamos sobre como funciona a economia." E completou: "O desafio para melhorar nosso entendimento e desenvolver novas ideias é para vocês - a próxima geração de estudantes e acadêmicos na London School of Economics e noutros lugares. Vão em frente."

A leitura das reflexões de um competente economista, suportado pelo "crème de la crème" dos profissionais do departamento de pesquisa econômica do Banco da Inglaterra, é um antídoto às proposições apodíticas de analistas mais afoitos, que costumam afirmar o que deveriam demonstrar. Outro dia um deles discorreu com toda a segurança a respeito "dos efeitos sobre o consumo privado das despesas do governo" usando implicitamente um modelo muito conhecido. Ignorou, sob os olhos embevecidos do entrevistador que outro modelo, também respeitável sugere conclusão oposta. Trata-se, obviamente, de um problema empírico, mas o pior é que não há método econométrico que decida definitivamente a questão. Ao contrário do que se poderia pensar, a afirmação não é falta de conhecimento, mas produto do domínio da "antipatia" à política governamental.

É o caso, por exemplo, da pergunta intrigante se o Brasil está abandonando o famoso "tripé" da política econômica adotada em 1999, depois de termos nos socorrido às pressas do Fundo Monetário Internacional, e que não nos poupou de voltar a ele em 2002: 1º) política fiscal responsável que mantenha relativo equilíbrio e produza um superávit primário que reduza a relação dívida líquida/PIB a alguma coisa parecida com 30% do PIB; 2º) meta inflacionária de 4,5% (+ ou - 2%) e ainda; 3º) um sistema de câmbio flutuante. No período de 1999-2011 isso produziu: taxa de crescimento médio do PIB 3,4%; taxa de inflação média anual de 6,8%; déficit em conta corrente acumulado US$ 188 bilhões. Esses números estão longe de razoáveis quando comparados com outros países emergentes. Onde nossa diferença é significativa, é no esforço de "inclusão" social visto no gráfico 1 e na convergência da relação dívida líquida/PIB vista no gráfico 2, que têm tudo a ver com a política social feita sob o controle da política fiscal. O último mostra, aliás, a importância exagerada que se dá aos pequenos "desvios" entre o superávit primário programado e o efetivamente realizado, diante da tendência clara de queda da relação dívida líquida/PIB. O pecado do governo é tentar mistificá-los com a contabilidade "criativa" que lança dúvida sobre sua credibilidade. Mesmo usando o conceito de dívida bruta/PIB (59%), a situação é confortável. A aritmética preocupante é que o custo da dívida líquida é pouco sensível às variações da taxa Selic, uma vez que as reservas e os imensos créditos ao BNDES já somam um quarto da dívida bruta/PIB e rendem muito menos.

A crítica à política econômica do governo é bem-vinda

Os fatos não parecem indicar nenhum desvio mais importante na política econômica canônica que vimos usando com o necessário pragmatismo imposto pelas mudanças da realidade nacional e mundial. Um magnífico artigo de dois sofisticados economistas do nosso Banco Central (Sales, A.S. - Barroso, J.B.R. - "Coping with a Complex Global Enviroment", W.P. 292, Oct. 2012) é leitura obrigatória sobre esse assunto.

A crítica à política econômica do governo é bem-vinda. É mesmo uma necessidade. Não é razoável supor que o simples fato de alguém estar eventualmente numa situação de "poder" lhe transfere o benefício da infalibilidade. Nem que, para o poder incumbente, a eleição por uma maioria eventual lhe confira a "onisciência" que exija a sua "onipresença". Mas a crítica há de ser objetiva e honesta sobre a qualidade e eficiência dos instrumentos utilizados para atingir os fins que levaram os eleitores a escolhê-lo. A crítica "aos fins" termina na campanha eleitoral. A minoria há de conformar-se, por exemplo, quando a sociedade exagera na escolha de mais "inclusão" do que "crescimento" ou "estabilidade monetária", o que - os economistas sabem - pode levar, no prazo médio, à perdição dos três! Nesse caso resta ao poder incumbente trocar o pneumático com o carro andando, ou ser dispensado na próxima eleição...

O rei e o povo - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 13/11


RIO DE JANEIRO - Alienação é isso aí. Coerente com a minha incoerência, não tomei conhecimento da recente eleição presidencial nos Estados Unidos. Não torci por ninguém nem me alegrei com a vitória de um dos candidatos, que me parece ter sido do agrado da mídia nacional.

Alguns leitores reclamaram por eu não ter escrito uma única linha sobre o assunto e tenho motivos para isso. Meu desprezo pela democracia representativa é cada vez maior. Devido à faixa etária, não voto nem votava antes, quando era obrigado a isso.

Cumpria o chamado dever cívico indo até a cabine, mas votava em branco. Sempre que há oportunidade, clamo por uma reunião dos maiores gênios da humanidade em todos os setores da humana lida. Tentariam descobrir uma fórmula para exercer a democracia sem necessidade de campanhas e financiamentos. Qualquer solução seria lucro, desde que mantida a liberdade política, ideológica e física dos cidadãos.

A representatividade é comprada ou imposta pelas camadas mais fortes da sociedade. Seja pela vil moeda, seja pela força. Há ditadores que se reelegem com 99% dos votos.

No último filme da dupla o Gordo e o Magro, depois de muita trapalhada, os dois se apoderam de uma ilha deserta e inútil no meio do oceano. Majestoso como sempre, o Gordo se proclama rei, primeiro e único daquele território esquecido pela história e pela geografia.

Com aquela cara de choro que era sua marca, o Magro cutuca o rei e pergunta o que ele, Magro, vai ser naquele reino abandonado. Com um gesto soberano, apontando o dedo para o peito do companheiro, o Gordo decreta: "Você será o povo!".

Não havia nenhum eleitor para referendar a distribuição dos cargos. Mas se houvesse, o mais forte seria o rei e o mais fraco seria o povo.

Comunicação por símbolos - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 13/11


É um programa mental que junta acontecimentos a sons ou imagens a partir de nossas memórias


MEIO DA madrugada. Minha filha, bebê, choraminga pela babá-eletrônica. Acordou com fome. Meu ritual de todas as noites, pego a mamadeira e vou com ela até a porta de seu quarto. No que giro a maçaneta, ela para de choramingar.

Fiquei pasmo, pois ali havia se dado nossa primeira comunicação por símbolos.

Seu choro era um chamado, o ruído da maçaneta, uma resposta. Ela não precisava continuar chamando, por isto parou. Símbolo é algo que serve de referência para outras coisas ou ideias.

"Ora, isto é apenas reflexo condicionado, coisa de que qualquer cão é capaz, vide Pavlov". Sim, mas o condicionamento de reflexos é apenas outra maneira de se descrever nossa capacidade de formar símbolos.

Ainda que rudimentar, seja nos cães, seja na minha filha de meses, o programa mental que junta acontecimentos a sons ou imagens a partir de memórias, fazendo que um signifique muitos, está em nossos cérebros.

Está cada vez mais difícil completar a frase "o ser humano é o único animal que...". Pensamos hoje que é a quantidade, e não a qualidade, o fator determinante de nossa complexidade.

Mas a quantidade é assombrosa quando nos diz respeito. Volto à minha pequena, lembrando a primeira palavra que disse. Era um verbo no passado. Vendo que a água do copo parara de verter, anunciou: "Cabô".

Ali estavam representados conceitos amplos, como o de finitude, limites, volumes, desapontamento etc. De forma rudimentar, claro, mas as portas estavam abertas para que a complexidade de sua expressão, de seu pensamento, nunca mais parasse de aumentar, vida afora.

Disse que os ingleses tiveram uma sorte enorme com a invasão normanda, que lhes trouxe o latim para enriquecer o tosco anglo-saxão que falavam.

Vendo a extraordinária série "Downton Abbey" percebi que o roteirista quase só colocou derivados do latim na fala dos personagens, quer os do andar de cima, quer da criadagem.

Para ilustrar o ganho de complexidade, pego o uso de "enter" no lugar de "come in". Este tem uso restrito, prático. Aquele contém desde a permissão para abrir a porta e avançar, até nossas "entradas e bandeiras", o partilhar da intimidade, o acolhimento, as conquistas territoriais.

Lembrei de um cartaz: "Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê". E me lembrei da diferença entre o olho que sabe e o olho que vê. Um burro olhando para um palácio usa o olho que vê.

Um arquiteto culto usa o olho que sabe, e assim percebe as cornijas, as ameias, os capitéis, as gárgulas, os frontões, a história, a época, a mitologia, as batalhas, as armas de defesa (a começar pelo próprio castelo, que não é uma moradia qualquer), a economia, as castas, a política, todo um mundo de informações contido naquelas pedras empilhadas.

O que só pôde ser percebido porque aquele "Cabô" da primeira infância veio conversando com o mundo, enriquecendo-se com os livros, os dicionários, as línguas estrangeiras, os meios de comunicação.

Com a santa internet, aquela que nos dá o Google e as enciclopédias. Assim, a capacidade de simbolizar do "Cabô" não se acaba jamais.

O fim de uma profissão - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 13/11


Passou na Comissão Especial da Câmara, no último dia 7, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que amplia os benefícios aos trabalhadores domésticos. Elaborada com o intuito de equiparar os direitos desses empregados aos dos demais trabalhadores, conforme compromisso firmado em 2011 pelo Brasil com a Organização Internacional do Trabalho, a chamada "PEC das Domésticas" pode representar seu exato oposto, isto é, a extinção da profissão.

Cerca de 7 milhões de mulheres e 500 mil homens estão no mercado de trabalho doméstico. Somente 25% têm carteira assinada. As empregadas fazem jus atualmente a recolhimento de INSS, férias de 20 dias úteis, 13.º salário e abono de férias. No caso do INSS, a parte do trabalhador é de 8%, mas a maioria dos patrões banca essa parcela. Tudo isso obviamente encarece os contratos e inibe a formalização, situação que tende a piorar com a "PEC das Domésticas". Progressivamente, as famílias de classe média têm optado por diaristas, cujas relações de trabalho não são alcançadas por essa legislação.

A proposta, que ainda tem de ser apreciada pelos plenários da Câmara e do Senado, estabelece jornada de 8 horas de trabalho e 44 horas semanais, além de pagamento de horas extras. Esses direitos entrarão em vigor assim que a modificação constitucional for aprovada. Outros itens no projeto dependem de regulamentação, entre os quais se destacam o recolhimento obrigatório do FGTS, seguro contra acidentes de trabalho, creche e pré-escola para filhos e dependentes de até seis anos de idade, adicional noturno e salário-família. Segundo especialistas, somente a obrigatoriedade do pagamento de horas extras (50% acima da regular) e do adicional noturno (20% do salário mínimo), além do recolhimento de FGTS (com multa de 40% em caso de dispensa sem justa causa), pode representar um aumento de até 45% dos custos para quem contrata uma empregada. As funcionárias teriam direito ainda de pedir adicional de insalubridade, que pode chegar a 40% do salário mínimo, e de periculosidade, que seria de 20%. Desse modo, as associações que reúnem os empregadores dizem que a elevação geral dos custos seria da ordem de 100% - um disparate.

A "PEC das Domésticas", justamente por equiparar totalmente o trabalho doméstico aos demais, pode criar ainda situações inusitadas. Um exemplo é o da jornada de trabalho. Em geral, essa jornada e a folga semanal são acertadas entre patrão e empregado de maneira informal. Com a nova legislação, talvez haja a necessidade de instalar um relógio de ponto nas residências, de modo a evitar mal entendidos.

Há tempos o mercado de trabalho das empregadas domésticas vem mudando - houve uma redução de 10% da mão de obra entre 2009 e 2011, e a renda dessas funcionárias cresceu mais de 40% entre 2002 e 2011, contra a média de 25% para os demais trabalhadores, segundo o IBGE. Esse fenômeno se explica pela abertura de vagas formais em outros setores da economia nesse período, atraindo as domésticas que desejavam ter emprego com carteira assinada. Para a relatora da PEC, deputada Benedita da Silva (PT-RJ), a mudança na lei vai estimular muitas mulheres a voltar a trabalhar como domésticas. O problema, porém, será encontrar quem tenha recursos para pagar tão caro por seus serviços.

Sem chegar ao exagero do presidente da comissão que aprovou a PEC, deputado Marçal Filho (PMDB-MS) - para quem as empregadas formam uma categoria com origem na escravidão -, não se pode questionar a necessidade de ampliar os direitos dos trabalhadores domésticos. No entanto, tendo em vista que os empregadores não são empresas, e, sim, famílias, é justo esperar que haja um equilíbrio entre reivindicações trabalhistas e capacidade de remuneração. Do contrário, arrisca-se a impor enormes custos à classe média e, portanto, a inviabilizar a contratação desses funcionários. E o Brasil ainda não é um país que pode se dar ao luxo de fechar um mercado de trabalho tão importante quanto o doméstico, o único acessível a uma parcela significativa dos brasileiros.

Só falta um lobby - LUIZ GARCIA


O Globo - 13/11



Os patriotas do idioma combatem a importação de palavras estrangeiras. Têm razão no caso de expressões que têm correspondente perfeito no português. Mas, em muitos casos, a batalha é perdida, pelo simples fato que a palavra importada define algum objeto ou ação que também estamos trazendo de além-mar.

Está nesse caso o lobby. Em tempos antigos, essa expressão inglesa definia a antessala de um salão ou gabinete. Como lá se reuniam os cidadãos que pretendiam defender alguma causa junto aos poderosos, em pouco tempo lobby passou a ser também o apelido desses pleitos. E por aqui isso também acontece, importamos o apelido. Realmente, "antessalistas" não ia pegar. Como nunca fazemos as coisas pela metade, passamos a usar lobby em vez de antessala, que, coitada, foi praticamente aposentada.

O lobby, cá como lá, é uma expressão ambígua: tanto pode ser honesto como safado. Demoramos algum tempo para descobrir esse problema - não sei se por falta de interesse ou por excesso de interesses. É boa notícia, portanto, o anúncio de que a Casa Civil da presidente Dilma está interessada em regulamentar a atividade dos lobistas. O Planalto chegou a preparar um projeto de lei a respeito, mas descobriu o que não deveria ignorar: que existe um projeto a respeito navegando na Câmara dos Deputados desde 2007.

Talvez porque os defensores do projeto não tenham feito lobby a respeito. O fato é que a regulamentação do lobby demorou um ano para chegar à Comissão de Constituição e Justiça - e desde então lá repousa, intocada. Parece que os deputados ainda não conseguiram determinar a diferença entre a defesa legítima de interesses de grupos específicos e o tráfico de influência. É curioso: aqui de fora, a gente tem a impressão de que a maioria dos políticos entende muito bem - por testemunhar, claro, jamais por praticar - as duas coisas.

A Casa Civil de Dilma está voltando ao assunto. Anunciou, na semana passada, que agora a regulamentação do lobby vai sair, e terá dois resultados indispensáveis: maior transparência da ação dos lobistas e redução dos casos de corrupção. Não deve ser difícil: há um projeto de lei tramitando na Câmara que proíbe o exercício do lobby a servidores públicos - inclusive a quem deixou cargo público há menos de seis meses - e a condenados pela Justiça por corrupção.

Parece que só falta mesmo um bom lobby trabalhando por aprovação e sanção desse projeto.

ROUPAS PARA GISELES GG - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 13/11


A modelo Fluvia Lacerda, 32, lança linha de roupas para mulheres de tamanho grande, como ela. "Não crio peças com intuito de emagrecer ou alongar a silhueta", diz.
Apelidada de Gisele GG, Fluvia esteve em Roraima, onde morou antes de ir morar nos EUA. "Andei muito descalça."
O novo emprego não significa que ela vá se aposentar. "Mas tenho considerado novos caminhos."

BOLA NA REDE
Dirigentes de clubes procuraram Lula para amolecer o coração de Dilma Rousseff. Pediram que ele a convencesse a receber o presidente da CBF, José Maria Marin. A presidente, que sempre deu "gelo" em Ricardo Teixeira, ex-presidente da entidade, manteve a mesma linha com o sucessor.

AGENDA
Lula orientou Marin a enviar a Brasília pedido oficial de audiência com Dilma, diz cartola que é próximo dele. E afirmou que já estava tentando persuadir a presidente para que ela converse com os cartolas.

SORRISO
De acordo com interlocutor de Dilma, ela não quer "receber Marin por receber, só para tirar foto". Mas sim com pauta objetiva. E acha que, ao participar de eventos oficiais como o sorteio de grupos da Copa das Confederações e a inauguração do estádio do Castelão, no Ceará, já deixa explícito o apoio oficial à Copa de 2014.

DO OUTRO LADO
Cezar Peluso, ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), pediu a reabilitação de sua inscrição na OAB-SP. Aposentado em setembro, ele voltará a advogar.

No tribunal, no entanto, Peluso só poderá atuar diretamente em 2015, depois de cumprir quarentena de três anos. Antes disso, pode trabalhar como consultor.

EMILIANO CARIOCA
Previsto para ser inaugurado no final de 2015, o hotel Emiliano do Rio de Janeiro terá entre 80 e 95 quartos, 50% a mais que o de São Paulo. O empreendimento será erguido no terreno que pertencia ao Consulado da Áustria, na avenida Atlântica, em Copacabana.

O investimento é de R$ 100 milhões.

A TURMA DO FIDEL
Mais de cem fotografias feitas desde a Revolução Cubana até os dias atuais estarão expostas no Museu Nacional da República, em Brasília, na mostra "Cuba, Mucho Gusto". Muitas delas são de Alberto Korda, autor do famoso retrato de Che Guevara. A exposição, que mistura artes plásticas, cinema e fotografia, será inaugurada no dia 21 com a presença de 20 artistas cubanos.

PARECE MAS NÃO É
As pessoas que viram Jonas Bloch entrar em um hotel de SP na semana passada, em uma cadeira de rodas, ficaram assustadas. O ator estava fazendo laboratório, uma espécie de treinamento, para seu próximo personagem. Ele viverá Timóteo, um juiz cadeirante, no especial de fim de ano da Record "A Tragédia da Rua das Flores", de Eça de Queirós.

ÍNDIO QUER PIPOCA
Índios da tribo Guarani Tenondé Porã, em Parelheiros, zona sul de SP, fizeram um curta-metragem mostrando como é sua vida.

"Ojepota Regua" estreia no festival Entretodos, em 1º de dezembro, na Matilha Cultural.

FORA DE TELETON
O coral da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Casa Verde, que cantou com Silvio Santos no "Teleton" do SBT deste ano, quase ficou de fora do evento. O grupo diz ter recebido mensagem avisando que não tinha sido aprovado pelo comitê artístico, do qual faz parte Daniela Beiruty, filha de Silvio. Um dia depois, outra mensagem desmentia a primeira. "Foi determinação de Silvio", diz Itamar Oliveira, produtor do coral. O SBT não comenta.

TUDO JOIA
O cineasta Charly Braun colocou seu smoking para a festa de um ano do Cine Joia. Também vestiram "black tie" para ir à casa, na Liberdade, o compositor Antonio Pinto e as apresentadoras Renata Simões e Gaía.

CURTO-CIRCUITO

A grife Max Mara desfila coleção de alto verão no dia 23, no hotel Unique.

Jessie Evans participa hoje de festa no Caos. 18.

Isabel Humberg, Juliana Franco, Mariana Medeiros e Rosana Sperandéo comemoram indicação do OQVestir a um prêmio internacional, hoje, no Gero.

Mario Beni, do Conselho das Entidades Nacionais do Turismo, dá palestra de abertura do Congresso de Turismo Cultural Lusófono, em Tomar (Portugal).

Instabilidade em rede - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 13/11


Era de esperar, sendo a Presidência ocupada por alguém que, como Dilma Rousseff, fez carreira no setor elétrico, que o fornecimento de energia estivesse assegurado -e a preços módicos. No entanto, poucas vezes esses dois objetivos pareceram tão ameaçados.

No espaço de pouco mais de um mês, em setembro e outubro, o Brasil enfrentou quatro apagões regionais. No último, que abarcou Norte e Nordeste, apontou-se mais uma vez falha humana para explicar a interrupção de energia.

O ocorrido serviu para disseminar a desconfiança de que a origem dos problemas estaria na precariedade da manutenção das redes de transmissão e na falta de investimentos. Esse temor ganhou força, agora, com o formidável imbróglio criado pelo governo ao propor antecipar a prorrogação das concessões de geração, transmissão e distribuição que venceriam em 2015.

A intenção é louvável: fazer com que as tarifas de energia elétrica caiam 20% em 2013.

Um terço disso seria obtido com redução de encargos federais sobre as contas de energia. Todo o restante caberia às empresas que aceitarem reduzir preços, em troca de antecipar a renovação. Elas deixariam de receber compensação na tarifa por investimentos passados -que o governo considera já ressarcidos, tendo em vista que a média de idade das concessões por caducar é de mais de meio século. Fariam jus só a uma indenização.

A reação à proposta -das empresas, em sua maioria estatais como a Eletrobras, Cesp e Cemig, e do mercado financeiro- potencializou a incerteza que paira sobre o setor. As afetadas alegam que é insuficiente o total das indenizações fixado pelo Planalto, de R$ 21 bilhões. Só a Eletrobras acredita ter direito a cerca de R$ 30 bilhões.

O mercado avalia que tais companhias enfrentarão sérias restrições de caixa e perda de rentabilidade, o que levou à pulverização de mais de R$ 20 bilhões de seu valor em Bolsa. O investimento em expansão de serviços também ficaria comprometido.

O governo afirma que isso não acontecerá, porque as empresas serão capitalizadas pelas indenizações. Daí em diante, teriam de alcançar ganhos de eficiência (o que não viria em má hora, diga-se).

O governo dispõe de pouco tempo para convencer a sociedade e o mercado de que esse é o melhor e mais prudente caminho a seguir para haver energia segura e barata para o desenvolvimento do país. A data final para firmar os contratos de renovação antecipada das concessões é 4 de dezembro -isso se não for parar nos tribunais.

Surpresa e intransigência - DIEGO WERNECK ARGUELHES

O GLOBO - 13/11


O regimento do Supremo diz que o relator deve “ordenar e dirigir” o processo. É o relator, e não a página de jornal, que deve dar a pauta



Na sessão de ontem do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Joaquim Barbosa seguiu uma ordem diferente do esperado. Começou a votar os réus do núcleo político, em vez do núcleo financeiro. O ministro Ricardo Lewandowski protestou: ao divergir do caminho que havia sido divulgado pela mídia, Barbosa estaria “surpreendendo a todos”. Essa acusação procede? A surpresa do revisor foi justificada?

O ministro Barbosa não fez nada de errado. O regimento do Supremo diz que o relator deve “ordenar e dirigir” o processo. Foi nesse sentido que se manifestaram, aliás, vários outros ministros. Defenderam a prerrogativa do Barbosa de organizar a votação das penas na ordem que quiser — e do correspondente dever, dos ministros, de estar com os votos preparados, qualquer que seja essa ordem. É o relator, e não a página de jornal, que deve dar a pauta.

Não há que se falar em surpresa quando um ministro exerce uma prerrogativa prevista no regimento — e, mais ainda, já reconhecida e afirmada por seus pares neste mesmo processo. O ministro Lewandowski sabe disso. Na primeira sessão do julgamento do mensalão, sem aviso prévio aos colegas ou ao relator, leu um longo voto sobre a questão do desmembramento. O ministro Barbosa protestou, mas foi derrotado: o tribunal defendeu a prerrogativa do revisor.

As duas surpresas, a de agosto e a de ontem, foram minimizadas pelo plenário do Supremo. Em agosto, porém, o papel do relator e o do revisor ainda estava em discussão. Não mais. Desde o início da votação, o presidente do STF, Ayres Britto afirmou — e o tribunal aceitou — que, nos termos do regimento, cabe ao relator escolher seu caminho. Na época, Lewandowski foi derrotado. Foi derrotado de novo ontem.

O relator interpretou a postura de Lewandowski como “obstrucionismo” — uma pesada acusação que fez Lewandowski se irritar e sair da sessão. A crítica de Barbosa foi imediatamente neutralizada pelo presidente Ayres Britto. Mas seria equivocado ver aqui um mero exemplo das tensões que o temperamento do futuro presidente do STF, Joaquim Barbosa, pode gerar. Na discussão de ontem, o intransigente foi o futuro vice-presidente Lewandowski.

Marco para a internet - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 13/11


Legislação precisa assegurar neutralidade da rede e fixar o Poder Judiciário como única autoridade para decisões sobre retirada de conteúdo


A Câmara dos Deputados se prepara para finalmente votar o Marco Civil da Internet, arcabouço jurídico que estabelece direitos e deveres no meio virtual.

Sem essa legislação, a rede de computadores permanece num ambiente de insegurança nada desprezível. Usuários e provedores estão desprotegidos, sem saber de antemão que regras se aplicam ao conteúdo veiculado.

O projeto de lei poderia ter sido aprovado na última quarta-feira, mas o impasse a respeito de alguns pontos levou os deputados a postergar a votação para esta semana. Seria bom que agora tomassem uma decisão, pois a proposta ainda será discutida no Senado.

A principal dificuldade da Câmara diz respeito à neutralidade da rede -princípio segundo o qual todos os dados transmitidos pela internet devem ser tratados da mesma maneira, sem privilégios relativos a origem, destino ou conteúdo.

As estradas funcionam como metáfora para entender a polêmica. Sem a neutralidade, as empresas responsáveis pelos serviços rodoviários poderiam, por exemplo, fixar diferentes limites de velocidade de acordo com o fabricante do carro ou a bagagem transportada. É fácil perceber as distorções que seriam criadas com a ausência de neutralidade.

Não é exagero dizer que, sem ela, a internet seria outra coisa, muito mais parecida com as TVs a cabo. Quem só quisesse usar correio eletrônico e redes sociais poderia ficar com o serviço básico. Acesso a portais e sites de notícias? Pacote "premium". Baixar vídeos? "Premium extra."

Além disso, serviços que competem com os interesses das empresas de telecomunicação poderiam ser bloqueados arbitrariamente: por exemplo, programas que fazem chamadas telefônicas pela internet, ou portais concorrentes.

Outro ponto delicado é o que trata da responsabilidade sobre conteúdo de terceiros. Alguns setores defendem que os provedores, mediante mera notificação, devam retirar do ar material veiculado de maneira supostamente ilegal.

Esse caminho levaria a restrições à liberdade de expressão e de informação. Provedores, a fim de evitar danos, teriam de optar sempre pela censura de conteúdo.

A análise de eventuais ilegalidades, inclusive a urgente proteção contra violações de direitos autorais, deve passar pelo Judiciário.

Seria lamentável se os deputados cedessem aos interesses de algumas empresas e sacrificassem a internet. A neutralidade da rede deve ser assegurada de forma inequívoca na legislação, e apenas uma ordem judicial deve ter o poder de retirar do meio virtual conteúdos julgados impróprios.

Povos indígenas e o setor elétrico - CLÁUDIO J. D. SALES

O ESTADÃO - 13/11


O Brasil tem nos rios sua principal fonte de geração de energia elétrica. De todo o potencial hidrelétrico brasileiro, de 250 mil MW de potência, 30% foram aproveitados. O maior potencial disponível está na bacia do Rio Amazonas (100 mil MW), do qual 17% já foram explorados. No entanto, explorar o potencial hidrelétrico da bacia do Amazonas representará um grande desafio, porque metade dos aproveitamentos potenciais interfere em unidades de conservação ou terras indígenas. No Brasil existem 505 terras indígenas, que cobrem uma extensão de 106,7 milhões de hectares e representam 12,5% do território nacional. Nessas terras, cuja maior parte se encontra na Amazônia Legal, vivem 58% da população indígena. Estamos falando de uma população de 897 mil pessoas, divididas entre 305 povos que falam 274 línguas diferentes. Dos 19.673 MW de potência adicional de energia elétrica previstos no Plano Decenal de Energia para serem viabilizados no período 2017-2021, 16.089 MW(82%) interferem em terras indígenas. Isso mostra a complexidade de explorar o potencial hidráulico na Amazônia, tendo em vista a falta de definições e a pouca experiência sobre este tema no Brasil.

Portanto, o planejamento e a construção de hidrelétricas precisarão incorporar a avaliação das interferências de tais usinas em terras indígenas e propor alternativas para reduzir esse impacto. A Constituição brasileira de 1988 prevê que o aproveitamento dos potenciais hidráulicos em terras indígenas só pode ser efetivado com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas. Passados 24 anos, o Congresso não regulamentou o artigo 231 da Constituição, que define essa necessidade. Esta regulamentação deverá estabelecer quando, como e quem deverá ser ouvido no processo de consulta. A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário, define alguns critérios para a consulta aos povos indígenas, mas ainda está longe de estabelecer como ela deverá ser feita. Assim, a atual falta de regulamentação do artigo 231 da Constituição provoca insegurança jurídica tanto para os povos indígenas quanto para os empreendedores que desenvolverão o projeto.

Não fica claro como deve ser feita a consulta, em que momento e para quais povos indígenas, abrindo, desta forma, uma possibilidade para o Ministério Pú-blico contestar de forma subjetiva a regularidade do processo de licenciamento ambiental. Como não há regulamentação objetiva sobre as regras, as audiências públicas dos empreendimentos realizadas por ocasião do licenciamento ambiental são questionadas. Só para ficar no exemplo mais recente, o Ministério Público Federal pediu à Justiça Federal de Santarém que suspenda o licenciamento ambiental das usinas do Rio Tapajós, alegando a falta de consulta aos povos indígenas. Para reduzir a insegurança jurídica e o risco na implantação de boa parte dos projetos hidrelétricos que sustentarão o crescimento do Brasil, é necessária a regulamentação imediata do artigo 231 da Constituição.

Ela deve definir como serão ouvidas as comunidades afetadas, em que fase do projeto a consulta será realizada e quais serão os critérios objetivos para estabelecer quais povos indígenas devem participar dessa consulta. Além disso, é fundamental discutir a redistribuição dos recursos da Compensação Financeira por Uso do Recurso Hídrico (CFURH), passando parte da receita de Estados e municípios para os povos indígenas na região dos empreendimentos hidrelétricos e definindo programas de saúde, educação e geração de renda onde esses recursos devem ser aplicados para melhorar a condição de vida desses povos e evitar o desvio de recursos para outras finalidades. Manter uma relação aberta e transparente entre o setor elétrico e os povos indígenas é essencial para que se garanta a expansão do setor sem incertezas no processo e com a melhoria da qualidade social e ambiental.

Ueba! O Palmeiras se FLUd@#! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 13/11


O que os corintianos não podem fazer no Japão: brigar, sentar fora da cadeira, invadir o campo


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E adorei esta manchete de Natal: "John Lennon é preso e Elvis Presley consegue escapar". Não só não morreram como assaltaram a Secretaria de Saúde de Natal!

E antes de zoar o Palmeiras, olha esta: "Consulado do Japão no Brasil lança guia para corintianos". O que os corintianos não podem fazer no Japão: não brigar, não sentar fora da cadeira, não pular em cima da cadeira, não jogar objetos no campo, não invadir o campo! Tudo o que os corintianos fazem de melhor! Modalidade olímpicas corintianas! Rarará! E a mais terrível, a mais absurda e bombástica: não batucar no metrô! Então não vou! Rarará!

E o Palmeiras X Fluminense?! Tetra X Tétrico! O Fluminense é tetra e o Palmeiras tá tétrico! E o bom do Fluminense campeão é que São Paulo teve uma noite tranquila! Tirando os 120 mortos, os 300 baleados e um porco morto! Rarará!

O Palmeiras se FLUdeu! E o site Futirinhas lança o best-seller do Palmeiras: 50 Tons de Verde! Uma história de dor e desespero! E eu vi palmeirenses chorando agarrados no alambrado. Por quê? Já não sabiam? Palmeirense vive em universo paralelo?

E o Galvão gritando "tetra, teeeeetra, teeeetra". Ele não tem mais idade! Gritava mais que galinha com o ovo atravessado no fiofó!

E o Muricy? O Esmoreci! Mas eles vão chamar um chinês pra reforço: MYAKUDA NAKEDA!

E o PCC? O PCC usou Bilhete Único: incendiou dois ônibus em duas horas. E o PCC incendiou um Chevette 94 e o dono agradeceu! Rarará! E o Alckmin disse que a violência diminuiu de tamanho! Sim, agora só atacam baixinhos e anões! Rarará!

E ontem em São Paulo: segunda-feira com chuva, a sogra com TPM, a namorada menstruada e Congonhas operandos sob instrumentos. Cavaquinho, pandeiro e reco-reco!

E a Nair Bello do Twitter: "Tá tanto trânsito que do meu quarto até a cozinha levei 45 minutos". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasileiro é Lúdico! Faixa num prédio em BH: "Alugo sala de + ou - 280 m". Medir nem pensar!

Uma vez eu estava procurando apartamento em Salvador quando liguei pro corretor: "E esse apartamento tem quantos dormitórios?". "Rapaz, uns três ou quatro." Tinha acordado aquela hora e nem tinha contado os dormitórios! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Casa Rosada se distancia da realidade argentina - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/11


Negar a realidade, perseguir a imprensa, maquiar índices oficiais e não dar a devida importância ao maior protesto popular no país são atitudes típicas do kirchnerismo


O kirchnerismo transformou a verdade oficial na única possível na Argentina. Se os fatos a contrariam, pior para os fatos. E pior para a imprensa profissional que quiser noticiá-los de forma independente. É o que explica a pressão crescente da Casa Rosada contra veículos como “El Clarín”, “La Nación” e “Perfil”. Enquanto isso, os meios que trabalham para a máquina de propaganda kirchnerista recebem milhões de dólares para sustentar a verdade oficial.

Mas, até a verdade oficial, se for inconveniente, é revogada. É o caso do índice de inflação. Como ele subisse mais do que gostaria o governo, este quebrou o termômetro: interveio no Indec, que passou a publicar um índice falso, na faixa dos 10% ao ano, que gera distorções na economia, pois a real ultrapassou os 20%. O FMI revisará em dezembro o caso argentino e pode adotar medidas contra a maquiagem do índice de inflação.

Outra atitude típica da presidente Cristina Kirchner é uma postura autista, tipo “aquí no ha pasado nada”, mesmo diante dos maiores protestos contra o governo desde 2003, os da última quinta em Buenos Aires e em várias das grandes cidades do país. Os participantes do cacerolazo denunciaram a insegurança e a violência, a inflação maquiada, a soberba ante as críticas e o projeto de aliados de reformar a Constituição para abrir caminho à segunda reeleição consecutiva de Cristina.

Ela não se referiu diretamente ao protesto. Falou de um “formidável aparato cultural” que “se estendeu e atuou sobre todos os argentinos para que tivessem ideias distorcidas sobre o país”. Ou seja, disse que todos os que participaram do cacerolazo estavam errados. A exemplo da manifestação anterior, de 13 de setembro, a maioria dos que saíram às ruas na semana passada era de classe média. Mas ela perde apoio em amplas fatias da população. Reeleita em 2011 com 54% dos votos, a viúva de Néstor Kirchner tem aprovação hoje de 30,6%, sendo desaprovada por 60,6%, segundo pesquisa da consultoria Management and Fit.

Enquanto o povo sai às ruas para criticar a incompetência do governo, intelectuais se mobilizam para defender a liberdade de expressão. Na semana passada, cerca de 500 intelectuais argentinos repudiaram “às pressões do governo Kirchner sobre a Justiça” para que aplique contra o Grupo Clarín dispositivos da Lei de Meios que limitam o alcance de grandes grupos de comunicação. Registre-se que o Judiciário argentino é paulatinamente enfraquecido pelo Executivo, numa reprodução do que ocorre em países bolivarianos, como a Venezuela.

Já o Foro Iberoamérica, fundado pelo escritor mexicano Carlos Fuentes e formado por intelectuais, jornalistas e empresários, manifestou sua preocupação diante do “sistemático plano de perseguição” do governo argentino contra donos de meios de comunicação e jornalistas independentes, em geral, e contra os grupos Clarín e La Nación, em particular. Mas a Casa Rosada está em outro mundo.

O sermão de Dilma aos neopobres - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 13/11


Presidente cobrará de países ibéricos que não se limitem à austeridade, para que saiam da crise


A presidente Dilma Rousseff prepara-se para fazer um sermão sobre as inconveniências da austeridade excessiva aos governantes de Espanha e Portugal, com os quais se reunirá no fim de semana, durante a 22ª Cúpula Iberoamericana.

O sermão será, em tese, durante o que a linguagem diplomática chama de "retiro", uma sessão em que os chefes de governo/Estado se trancam entre eles, para falar livremente sobre o que lhes preocupa.

Que a crise econômica global é a preocupação central está evidente pelas declarações de Enrique Iglesias, o secretário-geral iberoamericano e uma das pessoas mais informadas sobre essa comunidade: "A cúpula vai estar muito dominada pelo tema da crise mundial e de como, de alguma forma, a relação iberoamericana pode apoiar os países que têm problemas e que são basicamente os da península Ibérica" (Portugal e Espanha).

A julgar pelo que a Folha ouviu na diplomacia brasileira, a intenção de Dilma é a de dizer que os países em crise devem se ajudar eles próprios, com medidas de estímulo à economia, em vez da obsessão com cortes de gastos e aumentos de impostos, como vem sendo a regra.

A presidente não se cansa de dizer coisas do gênero a seus pares do mundo desenvolvido, desde que assumiu. Mas o sermão de agora ocorrerá em um momento em que até o Fundo Monetário Internacional, campeão mundial das fórmulas ortodoxas, vem sugerindo um relaxamento sob pena de o remédio adotado matar o paciente.

O caso da Grécia é, talvez, o mais escandaloso exemplo de fracasso da ortodoxia. O país irá, em 2013, para o sexto ano consecutivo de contração econômica, já encolheu 24% em cinco anos (índice de país em guerra), o desemprego está em inacreditáveis 25,5% e, entre os jovens, na estratosférica altura de 55%, para não falar do aumento do número de sem-teto, das doenças mentais e da taxa de suicídios.

Mesmo que fosse possível ignorar as insuportáveis consequências sociais da ortodoxia, ainda assim o fracasso ficaria evidente nos números que se pretende corrigir com a austeridade: a dívida grega, apesar do calote parcial, irá a 189% do PIB em 2013, contra 175,6% este ano.

É tão dramático o quadro que a revista "The Economist" sugere adotar para a Grécia o modelo de perdão da dívida usado, nos anos 90, para os HIPCs (Países Pobres Altamente Endividados, na sigla em inglês). Eram Estados praticamente falidos, uma comparação humilhante para um membro da União Europeia e que não deixa de ser rico, comparativamente aos HIPCs.

Portugal e Espanha também enfrentam uma situação angustiante, que, na Espanha, deu margem até a um impulso independentista por parte do governo (moderado) da Catalunha, uma das suas regiões mais ricas, impulso a ser testado, de resto, uma semana depois da cúpula de Cádiz.

Na quarta-feira, dois dias antes de o encontro começar, haverá greve geral tanto em Portugal como na Espanha, em novo protesto contra os cortes. A voz de Dilma não será, pois, isolada. Se será ou não ouvida, é outra história.

Livro Branco da Defesa - RUBENS BARBOSA


O ESTADÃO - 13/11


O Poder Executivo, por meio do Ministério da Defesa, apresentou ao Congresso Nacional a primeira versão do Livro Branco de Defesa Nacional, que, somado à Estratégia Nacional de Defesa e à Política Nacional de Defesa, integra o conjunto de documentos sobre as atividades de defesa do Brasil.

Entre outros aspectos, o documento apresenta os princípios básicos da defesa nacional e analisa os sistemas internacionais, regional e o do Atlântico Sul; examina os tratados e regimes internacionais com reflexos para a defesa (desarmamento, não proliferação de armas nucleares, mar, Antártida e espaço exterior e meio ambiente); indica a aproximação da política externa e de defesa; explica o funcionamento do Ministério da Defesa e seus órgãos; elabora sobre os setores estratégicos para a Defesa (nuclear, cibernética e espacial); apresenta os sistemas de monitoramento e controle, de gerenciamento da Amazônia Azul, de fronteiras, de controle do espaço aéreo, de mobilização nacional, do serviço militar, de inteligência de defesa, a participação do Brasil em missões de paz, a atuação das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, os programas sociais da Defesa, ações subsidiárias e complementares.

O Livro Branco ressalta que os temas relacionados com a defesa nacional devem envolver o conjunto da sociedade brasileira. Desde o advento da Estratégia Nacional de Defesa, as políticas públicas que lhe dizem respeito devem ser definidas de forma concertada, ao incorporar, em sua essência, a ideia de que as decisões de paz e guerra não estão destacadas da soberania popular. A Política de Defesa responde aos interesses da sociedade e do Estado e os documentos legais no campo da defesa nacional, inclusive do Livro Branco de Defesa, devem contribuir para estreitar ainda mais esse vínculo.

O documento aponta corretamente que as políticas externa e de defesa são complementares e indissociáveis. "A manutenção da estabilidade regional e a construção de um ambiente internacional mais cooperativo, de grande interesse para o Brasil, serão favorecidas pela ação conjunta dos dois ministérios. A promoção do interesse nacional, em particular nos temas afetos a desenvolvimento e segurança do País, evidencia a necessidade de fortalecimento dos mecanismos de diálogo entre a Defesa e o Itamaraty no sentido de aproximação de suas inteligências e de um planejamento conjunto".

No plano global, o livro reconhece que o trabalho e a participação articulada de militares e diplomatas em fóruns multilaterais (Conselho de Defesa Sul-Americano e diálogos político-militares) favorecem a capacidade de as políticas externa e de defesa do País se anteciparem, de maneira coerente e estratégica, às transformações do sistema internacional e de suas estruturas de governança, além de facilitarem a tarefa de defender, no exterior, os interesses brasileiros. No plano regional, especialmente no sul-americano, sublinha o trabalho, a relação entre as políticas externa e de defesa deve ocorrer no sentido de fomentar e expandir a integração, de maneira a fortalecer a ação sul-americana no cenário internacional. Deve ser, ainda, fator agregador na capacidade de articulação com os governos vizinhos para afastar ameaças à paz e à segurança na região.

O Atlântico Sul - acentua o Livro Branco - aproxima o Brasil da África. A especial atenção dedicada à África é refletida no crescente comércio e na elevação de financiamentos e investimentos, bem como na cooperação para produção de alimentos e outros bens agrícolas. A proteção das linhas de comunicação e rotas de comércio com a África tem significado estratégico para o País e é mais um fator no sentido de consolidar laços de cooperação no Atlântico Sul.

Esse entrosamento ainda não é bem entendido nem pelo Ministério da Defesa nem pelo Itamaraty, como demonstrado pelas poucas referências à questões de defesa na retórica da política externa.

Segundo o documento, com uma capacidade adequada de defesa o Brasil terá condições de dissuadir agressões ao seu território, à sua população e a seus interesses, contribuindo para a manutenção de um ambiente pacífico em seu entorno. Ao mesmo tempo, e de modo coerente com a política cooperativa do País, a crescente coordenação dos Estados sul-americanos em temas de defesa concorrerá para evitar possíveis ações hostis contra o patrimônio de cada uma das nações da região. Assinala ainda o Livro Branco que pela dissuasão e pela cooperação o Brasil fortalecerá a estreita vinculação entre a sua política de defesa e a sua política externa, esta historicamente voltada para a causa da paz, da integração e do desenvolvimento.

Levando em conta esses conceitos, parecem excessivamente defensivas as afirmações do documento segundo as quais, "por as Forças Armadas possuírem capacidade de projetar poder militar além das fronteiras, essa possibilidade, por si só, é passível de gerar insegurança em nações vizinhas; ao expor as percepções e os interesses nacionais no campo da defesa, o Brasil busca assegurar a compreensão das motivações e finalidades do instrumento militar; para além desse esforço, buscamos demonstrar aos países de fora da região que a nossa defesa possui caráter essencialmente dissuasório e está organizada para evitar que o Brasil sofra ameaças".

Somos informados de que defesa não é delegável e que devemos estar preparados para combater qualquer agressão. Se é assim, parece-me que para defender o interesse nacional não temos de pedir desculpas ou dar explicações a ninguém, mesmo por motivações ideológicas, nem aos vizinhos da região nem aos países de fora do Continente Sul-Americano. O que cabe fazer é buscar parcerias e fortalecer a indústria nacional de defesa.

Nova parceria - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 13/11

Depois da cooperação na segurança pública, o governador Geraldo Alckmin e a presidente Dilma vão assinar parceria para a construção de Centro de Treinamento Paraolímpico no Parque Estadual do Ipiranga, na capital paulista. O projeto, desenvolvido pelo governo estadual, custará R$ 20 milhões. O anúncio será feito mês que vem, por Alckmin e Dilma, e as obras começarão em abril.

Robin Hood às avessas
O relator da nova lei para a internet, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), está em rota de colisão com o Ministério das Comunicações. O governo é contra sua proposta de preço único para trafegar na internet. Considera que o usuário comum vai subsidiar grandes empresas, como a Google e o YouTube, que levarão vantagem também na concorrência com empresas nacionais. Um ministro traduziu o que está sendo chamado de "neutralidade" na internet da seguinte forma: "O cidadão que trafega de moto pela Ponte Rio-Niterói vai pagar o mesmo pedágio de quem trafega com um Mercedes-Benz puxando uma moto-home e um reboque para motos".

“Os municípios estão sobrecarregados com a queda do FPM. A arrecadação do IR e a do IPI caíram com as desonerações do governo”
Romero Jucá
Senador (PMDB-RR) e ex-líder do governo Lula

Procura-se um candidato
A bancada da oposição no Senado está à procura de um candidato para enfrentar o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), nas eleições para a presidência da Casa. O candidato considerado ideal, Luiz Henrique (PMDB-SC), está reticente.

Novos tempos
A antiga cúpula do PFL estava em peso, ontem, na Associação Comercial de São Paulo, para ouvir palestra do governador Jaques Wagner. Presentes os ex-senadores Jorge Bornhausen, Guilherme Palmeira, Marco Maciel e até o tucano Pimenta da Veiga. O petista fez veemente defesa da, outrora criticada, Lei de Responsabilidade Fiscal.

Contra o inchaço
O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RR), anda dizendo que vai votar contra a criação do Ministério da Micro e Pequena Empresa. Acha um exagero a criação do 39º ministério. A pasta está sendo criada para acomodar o PSD.

Uma greve emblemática
Há oito mil mandados de prisão não cumpridos em Brasília. Os procurados estão nas ruas porque a Polícia Civil está em greve há 82 dias. Os salários dos agentes grevistas variam de R$ 7.600 a R$ 11.000. São os mais elevados do Brasil. O governo do Distrito Federal não pretende descontar os dias parados. Mas diz que os agentes vão "repor as horas". Acredite se quiser!

Guerrilha trabalhista
A Juventude Socialista do PDT do Rio decidiu lançar twittaço com a hastag "CarlosAraujoNAO!". Ela reage ao retorno ao PDT do ex-marido da presidente Dilma. Esse regresso é visto como uma ação contra o presidente do partido, Carlos Lupi.

Abrindo espaço
No jantar das cúpulas de PT e PMDB com a presidente Dilma, na semana passada, o ministro Aloizio Mercadante (Educação) abordou alguns senadores do PMDB sobre apoio à sua candidatura ao governo. Eles desconversaram.

O vice-presidente Michel Temer embarca hoje para a Alemanha. Ele será recebido pela primeira-ministra Angela Merkel na quinta-feira. 

Índios e a globalização - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP 13/11


SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha mostra que os índios brasileiros, ao adquirir bens como televisores (63% os possuem), geladeiras (51%) e celulares (36%), estão de alguma forma integrados à vida urbana nacional. Para certa corrente de pensamento, isso os tornaria menos índios, de modo que já não haveria razão para conceder-lhes tanta terra nem proteções jurídicas especiais.

Não compro o raciocínio. Minha visão sobre os índios é, na verdade, mais trágica. Seu modo de vida está fadado a desaparecer. Desde que o mundo é mundo, quando duas culturas com graus muito díspares de desenvolvimento tecnológico se encontram, a menos avançada leva a pior.

No caso dos índios, a disputa não se deu só por meio de armas e outros engenhos, mas também no nível imunológico. Vírus e bactérias trazidos pelos "conquistadores" fizeram mais vítimas entre os nativos do que a pólvora. Mesmo hoje, quando restam poucos John Waynes a advogar que índio bom é índio morto, a cultura dessas populações sofre uma ameaça ainda mais séria, que é o desejo de seus representantes de gozar as facilidades da vida moderna. Não dá para censurá-los por essa escolha.

O problema é que também não podemos impor essa via a todos sem consultá-los. Ainda que o desaparecimento do modo de vida tradicional dos índios seja uma questão de tempo, isso não é motivo para atropelar os direitos e proteções que a Constituição concedeu a eles enquanto indivíduos, e não só como categoria.

A verdade é que a globalização é um processo mais antigo do que se imagina. Estima-se que em 1500 a.C. havia 600 mil unidades políticas autônomas no planeta, hoje dividido em cerca de 200 países. E, se é certo que essa tendência de centralização provocou inúmeras baixas, também é fato que produziu benefícios, como a redução do número de guerras e a progressiva, ainda que desigual, melhora de indicadores de expectativa de vida, alfabetização e até riqueza.