sábado, outubro 27, 2012

O voto dos Veloso - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 27/10


O voto da família Veloso no segundo turno da eleição municipal em Salvador está muito disputado.
Mabel Veloso, irmã de Caetano (que declarou apoio a ACM Neto), assinou a lista de adesão a Pelegrino.

Aliás...

Gilberto Gil e Capinam também aderiram ao petista.

É grave a crise

A Rádio Corredor diz que a Andrade Gutierrez vai fazer demissões no canteiro de obras de Angra 3. A conferir.

Caso médico I
Galvão Bueno foi internado num hospital de Londrina, PR. O quadro é de infecção intestinal.
Mas deve voltar segunda ao programa “Bem, amigos”, do SporTV , que terá como convidado especial Ronaldo Fenômeno.

Caso médico II
O querido empresário Olavo Monteiro de Carvalho está internado no Hospital Samaritano, no Rio, com pneumonia.

Deus castiga
A 8ª Câmara Cível do Rio condenou a empresa NovoDisc Mídia Digital da Amazônia a indenizar em R$ 2 mil o pastor evangélico Wagner Neiva. É que o religioso comprou um CD gospel de Mara Maravilha para usar num culto em sua igreja, em Campo Grande, Zona Oeste carioca, e, na hora do louvor, em vez de música, os fiéis ouviram... piadas safadinhas de Ary Toledo.

Dormindo com o inimigo
A crise no Vasco é tão grande que se fala até numa parceria entre Roberto Dinamite e Eurico Miranda. Será?

Eike dos anos 60

Hoje haverá mais um encontro anual de ex-funcionários da velha Panair do Brasil, no Rio.

O evento será filmado pelo cineasta Ricardo Pinto e Silva e pelo jornalista Daniel Leb Sasaki, que rodam um documentário sobre Mario Wallace Simonsen (1909-1965), espécie de Eike Batista dos anos 1960.

Nas asas da Panair...
O empresário foi o maior exportador de café do país, dono da Panair, da TV Excelsior, dos Biscoitos Aymoré, do Banco Noroeste e de outras 30 empresas.

A família Panair atribui o fechamento da voadora aos militares que tomaram o poder em 1964.
‘Arroz’ para o mundo

A francesa Autrement comprou os direitos do romance “O arroz de Palma”, de Francisco Azevedo. É a 10ª editora estrangeira a publicar o livro.

A obra será lançada no “Salon du Livre” de 2014, que vai homenagear o Brasil.

Segue...

Os direitos do romance de Azevedo estão sendo negociados agora com uma editora da Sérvia.

Voto de silêncio - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 27/10


Em harmonia com o clima desta véspera de eleição municipal em São Paulo , começo a coluna falando de um velório.

Mais precisamente, um velório-show, o de Michael Jackson, Los Angeles, 2009. Na cerimônia, em um ginásio de basquete para 20 mil pessoas, Berry Gordy, fundador da Motown, relembrou o primeiro teste de Michael na gravadora. O artista escolheu uma canção de dor: "Who's Loving You", de Smokey Robinson.

Gordy, malandro velho de Detroit, descreveu em seu discurso: "Ele cantou com a tristeza e a paixão de um homem que tinha vivido uma vida inteira de 'blues' e desilusões amorosas". Na época, Michael era uma criança de dez anos.

Impossível não lembrar disso ao ouvir "Coexist", o novo álbum (nem tão novo assim, dirão os indies mais aguerridos) da banda londrina xx. É tudo adulto e profundo demais para ser criado por gente tão jovem.

Apesar de fazer rock, gênero de origem estridente, o xx habita uma dimensão de silêncios. Aqui e ali, materializam-se pontilhismos de guitarra, uma linha simples de baixo, teclados minimalistas, vocais que são quase sussurros. Mas é nos interstícios, nos momentos em que nada parece acontecer, que a música do xx ganha plenitude.

As faces visíveis do grupo são os vocalistas Romy Madley Croft (menina, provavelmente de 23 anos) e Oliver Sim (menino, acredita-se que de 23 também). Acompanha-os um "whiz kid'' das programações e batidas, Jamie Smith, ou Jamie xx, mesma faixa etária.

Romy e Oliver, tão moços, são responsáveis por versos de uma delicadeza rara. Como na faixa "Unchained", minha favorita: "Nós éramos muito mais próximos / Nós chegávamos muito mais perto / Você não sente saudades?".

"Angels", primeira canção do álbum, traz um achado digno de Orestes Barbosa, o poeta de "Chão de Estrelas": "Você anda pela sala / Como se respirar fosse fácil" (em inglês soa tão mais bonito: "You walk through the room / Like breathing was easy").

Em "Missing", outra faixa linda, os vocais são inicialmente conduzidos por Oliver. A voz de Romy aparece distante, sons que não chegam a formar palavras. Jamie xx dispara uma batida irregular, como um coração em fluxo caótico. A letra diz: "Meu coração está batendo de um modo diferente / Fiquei tanto tempo longe / Não me sinto mais o mesmo".

No meio de "Missing", uma parada brusca. Nada menos que quatro segundos de um silêncioaflitivo: 1, 2, 3, 4... A canção finalmente recomeça, e os papéis se invertem. Agora é Romy quem canta: "Você ainda acredita / Em mim e você?". A voz "de profundis" passa a ser a de Oliver Sim, um grito terminal, um estertor.

"Coexist" é o segundo álbum do xx. O primeiro saiu em 2009. Ao contrário do que sempre acontece no rock e no pop, "Coexist" é mais simples e seco que seu antecessor. Não tem orquestras (reais ou de sintetizador), nem produtor famoso. Dispensa os arranjos suntuosos. Rejeita o exibicionismo.

O grupo manteve um alto nível de controle sobre sua arte. Mesmo depois do sucesso do primeiro disco, dos festivais um em seguida do outro, das turnês intermináveis, e de uma crise interna que levou à expulsão da segunda guitarrista, Baria Qureshi, em 2010. Em meio ao tumulto, shows foram cancelados por "exaustão".

Em uma conta no Twitter, ainda ativa, Baria se diz apunhalada pelas costas, e relata ter sido demitida por mensagem de texto (twitter.com/bariaq). Um processo relativo a direitos autorais, Baria contra o xx, corre na Justiça inglesa.

Em um quadro assim, imagina-se que não foram poucas as pressões em torno deste segundo disco do xx. A banda conseguiu superá-las. Seu universo é o do menos que significa mais, dos corações em chamas, da desesperança urbana, de sentimentos expostos com um mínimo de sons e palavras.

Penso em outros álbuns igualmente adultos, que se comparem em densidade a "Coexist". "Mezzanine", do Massive Attack (1998), e "Knowle West Boy", de Tricky (2008), são candidatos. Mas estes vieram de artistas maduros no auge da forma.

"Coexist", não: foi feito por meninos. Em "Our Song", eles dizem: "Tudo o que eu fiz / Você fez também". É verdade. Parceria perfeita.

NOVE JUÍZES E DOIS ADVOGADOS DE DEFESA


Por que as estradas pioram - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 27/10


Temida pelos usuários por causa de suas graves deficiências de conservação, traçado e sinalização, que a tornam cada vez menos segura e elevam os custos dos transportes, a malha rodoviária brasileira está ficando cada vez pior. Depois de apresentar pequenas melhorias na década passada, o estado geral das estradas de todo o País vem se deteriorando desde 2010. Quase dois terços (ou 62,7%) da extensão de 95,7 mil quilômetros de rodovias percorridos recentemente pelas equipes da Confederação Nacional do Transporte (CNT) foram considerados em estado regular, ruim ou péssimo. Na pesquisa de 2011, 57,3% da malha foi considerada em mau estado.

A CNT estima que a modernização da infraestrutura rodoviária do País, com obras de construção, duplicação, pavimentação e outras, exige investimentos de R$ 177,5 bilhões. O governo tem anunciado investimentos anuais no setor que, somados aos previstos pelas empresas que operam e mantêm as estradas concedidas ao setor privado, permitiriam atingir esse volume em prazo relativamente curto. Mas, em razão de seu péssimo desempenho gerencial, o governo do PT não tem conseguido utilizar os recursos previstos no Orçamento da União.

O resultado da pesquisa rodoviária da CNT mostra claramente que, no que se refere à infraestrutura de transportes, as seguidas promessas do governo Dilma de dar prioridade à execução do PAC para estimular a atividade econômica não estão sendo cumpridas inteiramente, ou talvez nem estejam saindo do papel.

As denúncias de sérias irregularidades nos seus contratos, que levaram à substituição de sua direção, paralisaram o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no ano passado, o que reduziu o volume de obras sob sua responsabilidade. É possível que parte da deterioração da malha federal (que representa 68% do total pesquisado pela CNT) se deva à crise política e administrativa do Dnit. O que mais preocupa é que dados recentes da execução financeira mostram que o governo não conseguiu superar suas dificuldades para aplicar o dinheiro previsto.

Do total de R$ 13,627 bilhões que deveriam ser aplicados ao longo de 2012, até o início de outubro o governo tinha aplicado apenas R$ 6,581 bilhões, ou 48,3%, de acordo com cálculos da coordenação da área de infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados pelo jornal Valor (25/10). Se nos últimos meses do ano se repetir a média histórica de desembolsos para obras rodoviárias, o valor investido em 2012 corresponderá a apenas 57,9% do total.

Mas o que torna ainda pior a execução financeira é o fato de que, do total que deverá ser aplicado neste ano, nada menos do que 70% deverão corresponder a restos a pagar, isto é, a compromissos assumidos em exercícios anteriores e ainda não quitados. Apenas 30% de uma fatia de 57,9% dos recursos orçados corresponderão a obras novas. Isso dá menos de um quinto do orçamento para o setor.

Não é à toa, pois, que a malha rodoviária brasileira está piorando. Os problemas não se referem apenas à pavimentação e sinalização. Na análise da situação das estradas, a CNT leva em conta o traçado, o número de pistas, a disponibilidade de faixa adicional em subidas e as condições do acostamento. Também por esses critérios de avaliação as estradas são ruins.

Há uma notória diferença de qualidade média das rodovias que tiveram sua operação e manutenção concedidas a empresas privadas. Enquanto na malha de responsabilidade do setor público (estradas federais ou estaduais) o índice ótimo e bom é de 27,8% (em 2011, era de 33,8%), nas estradas concedidas ele sobe para 86,7% (praticamente o mesmo índice de 2011, de 86,9%).

Por ser ideologicamente resistente à privatização, o governo do PT impede o aumento dos investimentos no setor e sua melhoria. Além disso, estende os maus métodos administrativos para outras modalidades de transportes. Em ferrovias, até agora investiu apenas 26,9% do previsto para todo o ano; em hidrovias, 37,8%. É uma incompetência que pesa no custo Brasil.

Na grama... - SONIA RACY

O ESTADÃO - 27/10

A recente condenação de quatro diretores do BMG pela Justiça de Minas está deixando gente coma pulga atrás da orelha... em São Paulo e no Rio. Mais precisamente, os dirigentes de clubes de futebol patrocinados pelo banco.
Afinal, a acusação do Ministério Público é de “operações irregulares de empréstimo”.

...e na quadra
Executivos de times da Super-liga de Vôlei também acompanham, atentos, o desenrolar do processo. O BMG patrocina e dá nome a cinco equipes masculinas e femininas.

Retaliação
Pelo jeito, a atuação de Marco Aurélio Mello, do STF, está desagradando a OAB federal. Letícia Mello ficou de fora da lista sêxtupla de sugestões que o conselho nacional da Ordem está montando para ocupar vaga de desembargador federal do TRF carioca.

Com 40 anos de idade, ela é filha do ministro do Supremo.

Usina de dinheiro
Conhecido empresário brasileiro acaba de se dar um presente em Londres: comprou apartamento no cobiçadíssimo bairro de Belgravia.

Depois de visitar o hit da saison, estimado em 65 milhões de libras (R$ 213 milhões), optou por um apê mais modesto, de quatro quartos, avaliado em 30 milhões de libras – quase R$100 milhões.

In memoriam
Campos Machado quer ver a viúva de Orestes Quércia, Alaíde, nos quadros do PTB.

Preocupação
Maria do Rosário convocou reunião para segunda, com diversos integrantes de ministérios. Pretende desenhar plano de ação conjunta para a questão dos guarani-kaiowá, no MS.

Bemol
E Marcelo Bratke está registrando a obra completa para piano de Villa-Lobos. Próxima parada? A Sala SP, amanhã, onde gravará a Fantasia Momo precoce. O último CD da coleção será lançado em 2014.

Acredite se quiser
Pergunta enviada à Ouvidoria Geral da União: “O que o governo vem fazendo para lidar com o fim do mundo?” Se depender do projeto em curso de ampliação das ouvidorias, a dúvida não ficará sem resposta.

A intenção do governo é não deixar nenhum cidadão... falando sozinho.

Transparência
E o consórcio que administra hoje o aeroporto de Guarulhos prepara surpresa para novembro: a abertura do Guarulhos 360º Espaço Interativo.

Antonio Miguel Marques, dirigente da concessão, explica que a área foi construída nos moldes do Museu da Língua Portuguesa. “Os usuários vão poder acompanhar online as obras e opinar”.

Juntos
E Rosana Chiavassa desistiu de sua candidatura e será vice de Alberto Toron na chapa para disputar a OAB-SP.

Telephone
Lady Gaga, que se apresenta dia 11 no Morumbi,pediu que seu camarim tivesse 22 salas para abrigar quase 200 pessoas. Equipadas com internet, TV a cabo e ar-condicionado. A cantora também exigiu um telefone fixo com... 10 metros de cabo. 
Não gosta de aparelhos sem fio.

Casório
Quem foi ao casamento de Ticiana Villas Boas com Joesley Batista, anteontem, reparou na falta de empresários e inundação de políticos. Entre os petistas, José Eduardo Cardozo, Marta Suplicy, Arlindo Chinaglia e Alexandre Padilha. Tucanos? Geraldo Alckmin e Andrea Calabi.

Lula e Dilma não foram.

Casório 2
Muitos dançaram ao som de Ivete Sangalo e Bruno e Marrone, inclusive garçons e copeiras.
Chamou a atenção o vestido da cunhada Alessandra, mulher de Wesley Batista. Era... branco.

GOSTOSA



Receitas democráticas - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 27/10


Exemplo de democracia é o Brasil de hoje. Tem defeitos, mas exibe instituições escolhidas em eleições livres



HOJE, REIVINDICAÇÕES do povo grego ameaçam a quebra do sistema democrático de seu país, na dureza da crise econômica. A perspectiva é ruim, ante a ameaça ditatorial na terra na qual a palavra democracia nasceu. A Síria vive o oposto, com violências para sustentar, pelas armas, o poder central dominante. São fatos desagradáveis, mas de todos os tempos.
A Atenas de Péricles e Aspásia, 400 anos antes de Cristo, brilhou entre as cidades-estado. Tinha elite minoritária (políticos, religiosos e militares) que decidia, democraticamente, mas no debate entre os iguais. A maioria numérica não governava. Escravos compunham boa parte dos habitantes. Ainda assim foi o exemplo do exame dos interesses gerais, pelos criadores do termo em que "demo" é povo e "cracia" é poder ou governo. Na realidade de seu tempo, afirmaram a liberdade para reivindicar o exercício do direito de todos, atentos à convicção coletiva na defesa de seus interesses.
A rememoração da história leva a pensar que, por ser difícil de atingir e manter, a democracia e sua continuidade tendem a encontrar resistências, mas cabe enfrentá-las com a consciência da liberdade preservada pelo direito. Aqui não temos os bilhões de habitantes da China, com ditadura e progresso material, ou da Índia, com indústria moderna ao lado de costumes tradicionais, castas e animais sagrados.
Períodos ocasionais de maior liberdade de escolha acontecem na dinâmica das existências nacionais. Permanência ampla e duradoura da liberdade na tomada das decisões impõe atenção aos democratas, para assegurar o funcionamento das instituições e a plena liberdade de escolha de governantes, substituídos em espaços temporais certos. Lembremos que a democracia estadunidense, mesmo depois da independência, teve quantidade crescente de escravos, comprados ou presos na África, em empreendimentos marítimos e financeiros de grande vulto. Idem para nosso país: muitas de nossas figuras históricas tinham escravos. Recentemente, o leste da Alemanha levava o nome de República Democrática, sendo infiel a esta denominação.
Exemplo de vida democrática é o Brasil de hoje. Tem defeitos, mas exibe instituições escolhidas pelo povo em eleições livres. O exemplo da campanha do segundo turno está aí, para marcar o caminho do futuro. Em mais da metade dos lares, o homem não é mais o controlador exclusivo da sociedade conjugal. Aqui, um torneiro mecânico de restrita cultura formal foi bem-sucedido presidente da República, eleito pelo povo. Um negro presidirá o Supremo Tribunal Federal, nicho sacrossanto da elite jurídica deste país, sem perder para ninguém em matéria de qualidade, com bela participação das mulheres, uma delas presidindo as eleições.
Grande parte da população mundial vive sob ditadores. Outras se ligam a organismos religiosos, nos quais a mulher é um ser de segunda classe. Milhões e milhões de pessoas não têm o suficiente para comer nem o grau de conforto necessário. Nesse quadro o Brasil vive a experiência do voto, depois de consolidar a ocupação integral do território no século passado. É o espaço do povo a repercutir, com força, no planeta. Na imprensa mundial, já repercutiu. A receita de democracia está fazendo bem à nação.

Depois do segundo turno - MARCO AURÉLIO NOGUEIRA


O Estado de S.Paulo - 27/10


Independentemente dos candidatos que sairão vitoriosos das urnas do segundo turno das eleições municipais, a democracia brasileira dele emergirá em boa forma física. Eleições são sempre um teste para a qualidade da democracia. Ajudam a que se visualizem as falhas e virtudes do sistema político. Fornecem um observatório para que se estudem os humores e expectativas sociais, o sucesso ou insucesso das políticas públicas, os traços da cultura política que orienta a luta interpartidária, os projetos de sociedade que estão sendo oferecidos pelos políticos e por seus partidos.

As disputas deste ano ocorreram em clima de "normalidade" e é de se esperar que os vitoriosos sejam diplomados, tomem posse e recebam, ao menos nos primeiros meses, a confiança e o apoio do conjunto da população. Em 2012 a sociedade deu mais um passo em direção à consolidação de sua democracia, processo que passou pelo declínio da ditadura militar, pela Nova República de 1985 e pela elaboração da nova Carta Constitucional em 1988 e se foi afirmando eleição após eleição, governo a governo. Três décadas depois, o País transformou-se e está muito melhor em termos políticos.

Pode-se associar a esse processo a valorização dos órgãos superiores do Estado. O prestígio adquirido pelo Supremo Tribunal Federal surge aqui como o maior exemplo, graças, em parte, ao julgamento do mensalão. Nesse episódio, trabalhando em meio a um tiroteio de aplausos e apupos, o tribunal escudou-se na interpretação da Constituição para avançar no combate à corrupção e a alguns dos maus hábitos que fragilizam a República e o Estado democrático. Sua mensagem ainda não chegou à corrente sanguínea da sociedade, pois depende de novos passos, de reformas institucionais estratégicas e do julgamento de outros casos semelhantes. Mas foi dada.

Muitos criticaram a coincidência do julgamento com as eleições, o rigor das sentenças e a doutrina escolhida pelos juízes para fundamentá-las. Viram no julgamento um fator de arbítrio e "exceção" utilizado para prejudicar o Partido dos Trabalhadores. No entanto, como escreveu o governador Tarso Genro (PT), do Rio Grande do Sul, "seu resultado não está manchado de ilegitimidade: os procedimentos garantiram a ampla defesa dos réus e, embora se possa discordar da apreciação das provas e da doutrina penal abraçada pelo relator, a publicidade do julgamento e a ausência de coerção insuportável sobre os juízes dão suficiente suporte de legitimidade à decisão da Suprema Corte". Reclama-se que o julgamento foi mais político que jurídico, mas não se leva em conta que "todo Estado de Direito tem espaços normativos amplos para permitir-se, com legitimidade, tanto condenar sem provas como absolver com provas, nos seus Tribunais Superiores. Nas decisões das suas Cortes, às vezes predomina o Direito, às vezes predomina a Política. O patamar da sua decisão legítima é alcançado, então, não somente através das suas instâncias jurídicas de decisão, mas - nos seus casos mais relevantes - na esfera da política, por dentro e por fora dos Tribunais" (Carta Maior, 22/10).

Exprimindo a desigual maturação da democratização, os embates do segundo turno foram particularmente pobres em conteúdo. As campanhas concentraram-se em estratégias "mercadológicas" de ataque e defesa. Particularmente na cidade de São Paulo, esse rebaixamento atingiu proporções dramáticas. Na cidade em que se pode encontrar tudo, não se conseguiu achar a política com P maiúsculo.

A disputa entre PT e PSDB teria inevitavelmente de ocorrer em doses elevadas, ainda que pouco houvesse de substantivo a diferenciar os combatentes. Mas foi vivida como se se estivesse a decidir a derradeira batalha de uma guerra que se deseja sem fim porque se imagina que é ela que organiza a política nacional.

Donde a manifestação de um efeito colateral: o segundo turno paulistano pode ter sido o último suspiro de uma oposição que pretendeu ser (e em alguns momentos da História chegou a sê-lo) a opção mais qualificada seja para a superação do velho Brasil de caciques oligárquicos e barões patrimoniais, seja para o oferecimento de uma alternativa à ascensão do PT.

Sem discurso, sem equilíbrio, rumo e discernimento, com excesso de fel e ressentimento, a campanha de José Serra desmereceu a sua biografia política e deve ser diretamente responsabilizada pela dificuldade que teve de agregar votos. Muitos de seus eleitores no primeiro turno devem ter condicionado a confirmação do voto a uma mudança positiva na qualidade de seu desempenho, o que não ocorreu.

O ocaso do PSDB como partido de proposta e projeto pode conviver com sua sobrevivência como legenda eleitoral e mesmo com a afirmação de candidatos competitivos a ele vinculados, como é o caso de Aécio Neves. Mas significa o aniquilamento de um patrimônio e impõe um repto ao PSDB: renovar-se radicalmente ou perecer. Terá efeitos no universo político, incentivando deslocamentos de expectativas e lealdades. Em termos imediatos, expressará o encolhimento da oposição ao predomínio do PT, embora não represente a abertura de um céu de brigadeiro no País, dada a preservação das coalizões sem eixo programático e vínculos de identidade. Mesmo na base governista, os partidos continuarão a brigar entre si, ora por motivos nobres, mas quase sempre pelo controle de mais recursos de poder.

Para nossas cidades o período que se abrirá com o fechamento das urnas não deverá introduzir mudanças categóricas. Poderá haver melhor desempenho governamental em alguns municípios, mas nada sugere que se revolucionará a gestão urbana, processo que, de resto, se espalha por períodos longos e requer a combinação de muitos fatores, que estão ausentes no contexto atual. Em termos da dinâmica política do País, porém, há indícios suficientes de que um novo ciclo se iniciará.

Pescaria em águas turvas - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO 27/10


O que mais encantava Dilma nas suas visitas a Lula no Alvorada era o presidente lhe servir de refeição peixes fresquinhos, que ele próprio pescara no Lago Paranoá.
Depois de dois anos de inquilinato, Dilma, finalmente, tomou coragem e foi à luta. Convidou um reduzidíssimo grupo para saborear o resultado da sua pesca. Na 14ª tentativa de fisgar um pacu, a presidente desistiu e quase manda demitir o ministro da Pesca por causa da má qualidade das iscas. Constrangida, foi obrigada a servir um tambaqui congelado que, pela cara, deveria estar hibernando no frigorífico do Alvorada desde FH: já não tinha escamas, mas penas de tucano. Descongelado, só faltou voar.
Intrigada, Dilma recorreu ao antecessor e ouviu um conselho para pescadores de cativeiros: “Nunca pesque depois da hora da ração; de barriga cheia, peixe não fisga isca”. Dilma quer votar logo a redução dos preços da energia e a regra dos royalties do petróleo. Isso, com um Congresso de barriga cheia de eleições.

Dilema
Durante missa dominical do padre Jorjão, na Igreja Nossa Sra. da Paz, em Ipanema, o senador Aécio Neves confidenciou à coluna:
— Eu serei, sim, candidato à Presidência da República em 2014 só para desmascarar o que essa gente vem fazendo com o país.
Uma semana depois, numa sessão noturna de cura do padre Moacyr, em Brasília, chego numa roda e ouço, de novo, o senador falando em “off” para um grupo de dez jornalistas e me apontando como testemunha:
— Esse aí sabe. Já confidenciei a ele: serei candidato à Presidência da República em 2014 só para desmascarar o que essa gente vem fazendo com o país.
Assim, o senador, com essa franqueza toda na frente dos meus colegas, deixou-me sem alternativa.
Se eu me calasse, o crime, perante o código de ética, seria duplamente qualificado: confidente e cúmplice.

Suspeita

Internamente, o governo trabalha com a hipótese de sabotagem no sistema elétrico como uma das prováveis causas do apagão.

De fábrica

O almoço de Michel Temer com os governantes do Rio, no Palácio da Cidade, para resolver os desentendimentos entre o comando nacional e a direção local do PMDB, teve lances rocambolescos.
Primeiro, ao ver o vice chegando na companhia de Eduardo Cunha, Pezão pergunta a Cabral:
— Recall?
Antes que o governador
respondesse, alguém adverte:
— Se for, recuse. O Eduardo Cunha não tem defeito novo.

Encrenca

Realmente, Temer, ao botar Cunha no almoço, provocou certa decepção.Esperavam que ele trouxesse a solução.Não o problema. 

Competência

Tucanos, por favor, não vamos demonizar o marketing da campanha de Serra. Os rapazes simplesmente fizeram o que lhes foi pedido.
Era preciso convencer o eleitorado de que Serra, eleito, não iria cumprir apenas dois anos de mandato, como alardeavam os adversários.

Os marqueteiros foram tão convincentes na pregação de que, agora, em vez dos dois anos da gestão anterior, Serra dobraria seu tempo na prefeitura, que os eleitores, em reação, dobraram também a rejeição.

Rumos


O fato de estarem juntos agora nas eleições municipais não quer dizer que Aécio e Eduardo Campos serão aliados em 2014.
Eleição presidencial, gente, é coisa séria. Não é uma ação entre amigos para driblar blitz.

Na base de um bebe e o outro dirige.

Tiro no pé
Kassab, agredido injustamente por Haddad e pela Marta, muda-se em janeiro para Brasília com um cacife que nenhum dos seus detratores teve até hoje junto ao Planalto e ao Congresso.
E ainda terá um ministério.

Pânico
Não sou desses que se valem da adversidade alheia para fazer proselitismo político.
Mas tenho certeza de que, se o secretário Sérgio Côrtes não estivesse desacordado no momento em que foi socorrido pelos bombeiros, durante um incêndio em seu apartamento, ele teria optado por ser atendido primeiramente numa UPA e não no Samaritano.
As más línguas dizem o contrário: Côrtes só desfaleceu quando ameaçaram levá-lo a uma Unidade de Pronto Atendimento.

Tripé avariado? - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR


O Globo - 27/10


Diversos críticos da política econômica brasileira encontraram um mote na defesa acalorada do célebre "tripé" da economia saudável: responsabilidade fiscal, controle da inflação e flexibilidade cambial. E denunciam repetidamente as supostas agressões a esse tripé desde o segundo governo Lula e, particularmente, no governo Dilma.

No Brasil, quem primeiro celebrizou o tripé foi, salvo melhor lembrança, Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique. Nessa época, os lemas econômicos no Brasil eram importados, prontos e acabados, dos países desenvolvidos, em especial do FMI. O petista Antonio Palocci, sucessor de Malan na primeira fase do governo Lula, fazia questão de render constantes homenagens ao lema popularizado por seu predecessor tucano.

Desde a saída de Palocci da Fazenda, em 2006, e de Henrique Meirelles do BC, em 2010, o governo imprimiu aos poucos nova orientação, considerada mais "desenvolvimentista", à política econômica. Por exemplo, a taxa básica de juro, antes aberrante, vem sendo gradualmente reduzida para níveis mais civilizados. Outro exemplo: controles de capital e medidas macroprudenciais começaram a ser utilizados para preservar a estabilidade financeira e conter a valorização externa do real. A política fiscal passou a ser ajustada à evolução do ciclo econômico.

É o que basta para que irrompam denúncias de que o tripé da economia vem sendo avariado ou até abandonado. Economistas, jornalistas e editorialistas pedem, em coro, a continuação do tripé e denunciam a irresponsabilidade crescente da política econômica.

As críticas têm base? Não muita. Em primeiro lugar, convenhamos, o famoso tripé não é nenhuma Brastemp. Pode ser considerado, mais propriamente, uma lista tríplice de obviedades. Quem, em sã consciência, se opõe à disciplina fiscal e ao controle da inflação? E, diante da desastrosa experiência com regimes de câmbio fixo ou semifixo, quem se opõe à flexibilidade cambial?

O debate perde de vista, ademais, que o tripé proclamado por Malan e repetido por Palocci e muitos outros é uma construção pré-crise internacional de 2008. Essa crise, centrada nos EUA e na Europa, forçou uma revisão das noções macroeconômicas. Aqui no FMI, por exemplo, poucos se animam a negar a flagrante insuficiência do tripé ainda reverenciado no Brasil. Um país pode respeitar religiosamente as três pernas do tripé e ainda assim dar com os burros n"água. Basta descuidar da regulamentação e supervisão do sistema financeiro, como foi o caso dos EUA e de diversos países europeus no período pré-crise. Ou da vulnerabilidade externa da economia, como foi o caso do Brasil no segundo governo FHC.

A economia brasileira pode ter, e tem, diversos defeitos e limitações. O menor deles é o suposto desrespeito pelo tripé responsabilidade fiscal/controle da inflação/flexibilidade cambial.

Promiscuidade financeira - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 27/10


A dívida pública federal continua aumentando, apesar da redução da taxa básica de juros desde o fim de agosto de 2011, e atingiu em setembro R$ 1,9 trilhão, com acréscimo de 20,7% em nove meses. Só de agosto para setembro a variação foi de R$ 37,6 bilhões, 2,1% em um mês. O resultado teria sido mais favorável, neste ano, se o governo houvesse abandonado a política de alimentar com dinheiro do Tesouro os cofres de suas instituições financeiras. Só em setembro foram transferidos R$ 21,1 bilhões ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal, sob a forma de empréstimos. A maior parte da emissão líquida de títulos da dívida - R$ 23,6 bilhões - foi destinada a levantar recursos para essas transferências. O resto do aumento da dívida ocorreu pela incorporação de juros.

O repasse de dinheiro a bancos federais intensificou-se a partir da primeira fase da crise internacional, em 2008-2009. Esses aportes, segundo o governo, deveriam servir para a reativação da economia por meio da expansão do crédito. O Programa de Sustentação de Investimentos, destinado a apoiar as operações do BNDES, teria curta duração, segundo se anunciou. Seria mantido apenas como instrumento de suporte à economia afetada pela recessão nos grandes mercados desenvolvidos. A promessa foi esquecida, no entanto, e o programa se manteve.

O Tesouro Nacional vem-se endividando tanto para capitalizar diretamente as instituições federais quanto para ajudá-las por meio de empréstimos - de fato, transferências sem volta. Em 2012 já foram entregues R$ 61,1 bilhões ao BNDES, ao Banco do Brasil e à Caixa. Mais R$ 20 bilhões para o BNDES foram programados para este mês.

Na prática, o Tesouro vem operando como se fosse um grande fundo bancário. Isso ultrapassa amplamente as funções adequadas ao principal órgão gestor dos recursos fiscais. Como a União é acionista daqueles bancos, cabe ao Tesouro participar das operações de capitalização, nos momentos adequados. Não lhe cabe, no entanto, alimentar o caixa dessas instituições por meio de empréstimos, e muito menos de empréstimos de retorno altamente duvidoso.

Com essa orientação, o governo restabelece perigosa promiscuidade entre o Tesouro e os bancos oficiais. Essa relação perigosa foi aceita como normal durante longo período. As consequências foram desastrosas para as contas públicas, para a política monetária e, naturalmente, para os preços.

A alimentação do crédito oficial com recursos do Tesouro contribuiu para o descontrole inflacionário e para a desordem monetária e fiscal dos anos 80. Um primeiro passo para a reorganização da economia nacional foi dado no final daquela década, com a extinção da chamada conta movimento, o canal de transmissão dos recursos. Pelo menos esse problema estava resolvido, quando se lançou, em 1994, o Plano Real.

A crescente promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais é um perigoso retrocesso. É uma das manifestações do voluntarismo característico da atual política econômica. Esse estilo de administração se tornou mais evidente a partir do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi mantido na atual gestão.

A política voluntarista prejudicou a gestão e os planos da Petrobrás, desorganizou os preços e afetou o mercado de combustíveis. O mesmo padrão é seguido pelo governo, hoje, em vários setores da gestão econômica - na impropriamente chamada política industrial, na política monetária, cada vez mais dependente da orientação do Palácio do Planalto, e, de novo, na administração das estatais.

Não se desorganiza uma economia de um dia para o outro. Mas o resultado é certo, quando a visão de curto prazo começa a comandar os domínios da ação de governo, a começar pela política fiscal. Já não há dúvida quanto ao abandono dos vetores mais importantes da gestão macroeconômica - as metas de inflação, o compromisso com o resultado primário das contas públicas e o câmbio flutuante. A insistência no uso do Tesouro como instrumento da política de crédito reforça essa tendência.

Os mensaleiros venceram - GUILHERME FIUZA


O GLOBO - 27/10


O Brasil continua assistindo ao julgamento do mensalão como um filme de época. O STF está prestes a dar as sentenças, e o público aplaude a virada dessa página infeliz da nossa história, quando a pátria dormia tão distraída etc. O problema é que a pátria continua dormindo profundamente.

José Dirceu, o grande vilão, o homem que vai em cana condenado pelo juiz negro, nesse duelo que faz os brasileiros babarem de orgulho, não é um personagem do passado. Está, hoje mesmo, regendo o PT no segundo turno das eleições municipais. Ainda é a principal cabeça do partido que governa o país.

E o eleitorado não está nem aí. A campanha de Fernando Haddad em São Paulo é quase uma brincadeira com o Brasil. Um candidato inventado por essa cúpula petista que só pensa naquilo (se pendurar no poder estatal) consegue uma liderança esmagadora no segundo turno. O projeto parasitário de Dirceu, que tem Lula como padrinho e Dilma como afilhada, pelo visto não vai sofrer um arranhão com a condenação no Supremo. O eleitor não liga o nome à pessoa.

Fernando Haddad foi um sujeito inexpressivo de boa aparência colocado no Ministério da Educação para fazer política. Sua candidatura é a menina dos olhos de Lula, mais um plano esperto dessa turma que descobriu que pode viver de palanque sem trabalhar.

O fenômeno Haddad conseguiu bagunçar a vida dos vestibulandos por três anos seguidos, com erros primários no Enem, típicos de inépcia e vagabundagem. Se fosse no Japão, o então ministro teria se declarado humilhado e se retirado da vida pública. No Brasil, vira um "quadro" forte da política.

Haddad fez com a pobre educação brasileira o que o PT sempre faz no poder: marketing do oprimido. Defendeu livros didáticos com erros de português, tentou bajular os gays com cartilhas estúpidas, fez demagogia progressista com o sistema de cotas. Enquanto os estudantes se esfolavam no Enem, ele estava nos comícios de Dilma para presidente.

Tudo conforme a lógica mensaleira da agremiação que governa o Brasil há dez anos: usar os mandatos para garimpar votos e arrecadar fundos (para pagar os Dudas lá fora, o que o Supremo já disse que está OK).

O ex-ministro Haddad é filho dos mentores do mensalão, assim como os ministros do STF Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Nunca se viu espetáculo tão patético na esfera superior do Estado: dois supostos juízes usando crachá partidário e obedecendo às ordens do principal réu. Contando, ninguém acredita.

Esse sistema desinibido de prostituição da democracia vai de vento em popa, porque a pátria-mãe tão distraída resolveu acreditar que a vida melhorou porque Lula é (era) pobre e porque Dilma é mulher. O Brasil não faz mais questão de nada: nem a entrega do "planejamento" da infraestrutura à quadrilha Delta-Cachoeira comoveu os brasileiros.

O prefeito Eduardo Paes disse que o Brasil está jogando fora a chance de se organizar, e o ministro dos Esportes ficou zangado. A turma do maquinário detesta quando alguém lembra que eles não trabalham. O ministro Aldo Rebelo é companheiro de partido do seu antecessor, o inesquecível Orlando Silva, rei das ONGs. Nas mãos do PCdoB, o Ministério dos Esportes estava aproveitando a Copa do Mundo no Brasil para montar seu pé-de-meia companheiro - o que é absolutamente normal, dentro da ética mensaleira.

Aí surgem as manchetes intrometidas e Dilma tem que encenar a faxina, a contragosto, cobrindo de elogios o companheiro decapitado e entregando a boca para um colega de partido. Assim é em todo o primeiro escalão do governo, mas eles ficam muito chateados se alguém lembra que esse esquema malandro não serve para organizar o país para uma Copa, para uma Olimpíada ou para um futuro decente.

Enquanto a pátria continuar dormindo e sonhando com o heroísmo de Joaquim Barbosa, a república mensaleira seguirá em frente. Ninguém deu a menor bola para o escândalo denunciado pelo ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence.

Dilma Rousseff aproveitou o espetáculo no Supremo e cortou a cabeça dos dois conselheiros "desobedientes" da Comissão de Ética da Presidência. Marília Muricy e Fábio Coutinho ousaram reprovar a conduta dos ministros companheiros Carlos Lupi e Fernando Pimentel. A presidente teve que demitir Lupi, que transformara o Ministério do Trabalho numa ação entre amigos do PDT - partido que o demitido continua comandando, em apoio ao governo popular.

Mas Pimentel, com suas milionárias consultorias fantasmas, vendidas graças aos seus belos olhos de amigo da presidente, continua vivendo de favor no Ministério do Desenvolvimento.

Um dia já houve a expectativa de que Marcos Valério, uma vez apanhado, abriria o bico. Hoje o bico de Valério não vale mais um centavo. O golpe já foi revelado, e a real academia mensaleira continua comandando a política brasileira. Testada e aprovada pelo povo.

Inventa-línguas - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 29/10


RIO DE JANEIRO -
Amanhã, fechada a última urna, a Justiça Eleitoral não somará os votos -"procederá à totalização". Quem quer que tenha imposto essa forma pedante e engomada de dizer algo tão simples conta agora com a adesão da televisão, que se encarrega de fixar na língua os modismos mais bobos.
É assim também que, no futebol, ninguém mais entra em campo, mas "vem pro jogo", e ninguém mais joga bem, mas "faz um bom jogo" -expressões que ficamos a dever ao jargão pretensioso e oco de alguns treinadores. E onde foram parar os antigos estádios e ginásios, substituídos pelas "arenas", embora seus pisos de grama ou cimento ainda não tenham sido substituídos pelos de terra, próprios das touradas?
A explicação para tudo isso deve ficar "por conta" -não mais por causa- de alguém que, um dia, resolveu falar difícil e havia um pascácio escutando. Ou que julgou estar dando sua contribuição à língua, como na recente campanha de uma cerveja, louvada nos anúncios por ter "praiabilidade" e "churrascabilidade" -por que não "futebolidade"?
Guimarães Rosa vivia inventando palavras, necessárias ao que ele queria dizer. Muitas poderiam ter tido uma sobrevida na língua, como "ensimesmudo", "infinilhões" ou "sussurruído". Mas nem ele conseguiu que elas respirassem fora dos seus livros. Hoje, qualquer um pode ser um inventa-línguas -basta afixar à fachada de seu negócio uma placa anunciando sua "brinquedaria", "chicletaria" ou, credo, "olfataria".
Está bem, a língua não é imexível, como disse o outro. Mas, antes de submetê-la a um vale-tudo de gratuidade e exibicionismo, por que não recuperar palavras já existentes e com pouco uso? Nesta semana, por exemplo, uma delas, que vivia quieta no seu canto e só era usada em textos jurídicos, saiu às ruas com grande pompa e circunstância: "dosimetria".

Política em transição - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 27/10


BRASÍLIA -
É inexorável em democracias estáveis -e em países idem- que parte da população se desinteresse pelos previsíveis processos eleitorais. Nos EUA, mesmo na atual crise, mais da metade dos cidadãos aptos a votar não dá bola para a escolha do presidente do país.
Uma eleição é parecida com uma reunião de condomínio. Vários moradores de um edifício simplesmente se recusam a participar desses encontros. Preferem imaginar que os outros farão a coisa certa. A tendência do ser humano à abulia é algo terrível, porém indisputável.
No Brasil, o voto é obrigatório. Essa anomalia sempre maquiou o tamanho da democracia do país. Só que parte dos eleitores já aprendeu a usar uma flexibilidade do sistema. O valor da multa para quem não vota é irrisório. Em geral, a cifra fica próxima de R$ 3,50. Para muitos, é um preço justo em troca de um domingo livre de filas em seções eleitorais.
Essa relativização da obrigatoriedade do voto no Brasil deve ser colocada na equação que explica as taxas recordes de abstenção registradas neste ano.
Há também uma assimetria entre o comportamento do eleitor e o destaque conferido às eleições municipais nas TVs e nas primeiras páginas dos jornais. Não é assim em outros países. Mesmo quando há disputa pelo comando de Nova York, o jornal "The New York Times" é parcimonioso ao abordar o assunto.
É um erro, entretanto, achar que o eleitor brasileiro está mais despolitizado. Na realidade, está mais exigente. A prova são as 50 cidades que amanhã realizam segundos turnos. É um recorde. As pessoas estão preferindo dar um calor nos políticos em vez de eleger alguém logo na primeira rodada.
Em suma, a política brasileira está em transição. Menos eleitores parecem se engajar no processo eleitoral. Mas quem fica dentro do debate demonstra estar mais atento.
E isso é muito bom.

Vira o disco! - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 27/10


O julgamento no STF entrou em recesso anteontem, o segundo turno vai até amanhã, ou seja, na semana que vem o País terá, enfim, a chance de mudar de assunto!

Tenho certeza de que os colunistas políticos, em especial, não vão nos decepcionar. Que se virem, também, os fechadores de primeira página em busca de manchetes originais para os jornais dos próximos dias.

Imagino que o apagão da madrugada de ontem no Nordeste tenha salvado a edição de hoje onde não há segundo turno nas eleições para prefeito, mas a partir de segunda ou terça é que são elas!

Vai ter jornalista sentindo saudades até do Ricardo Lewandowski na hora do fechamento! Sorte da imprensa que nessas entressafras de notícias sempre rola um escândalo novo, uma lambança no Enem, um erro clamoroso de arbitragem, uma chuvarada... Parece que o Carlinhos Cachoeira está para ser solto a qualquer momento!

O leitor não tarda por esperar, vem chumbo grosso por aí - a boa notícia, como se sabe, vive dias difíceis em busca de sustentabilidade -, mas só a expectativa de uma possível mudança iminente de assunto, convenhamos, a gente está precisando disso, né não?

Mera coincidência

Dias depois de Pippa Middleton, a primeira-cunhada da família real britânica, reclamar da fama assombrosa de seu bumbum na mídia, a Grã-Bretanha saiu da recessão. Cresceu pouquinho, papo de 1%, mas cresceu!

O bom e velho

Felipe Massa somou 56 pontos nas últimas cinco provas do Mundial de Fórmula 1 e, renovado dia desses seu contrato com a Ferrari, larga domingo em 15.º lugar no GP da Índia. Só se fala disso entre os mecânicos italianos!

Dúvida cruel

O pessoal do Comando Vermelho está na maior dúvida: a lei eleitoral proíbe a prisão sem flagrante em todo o país ou só onde está havendo segundo turno? Tem bandido no Rio pensando em tirar o fim de semana de folga!

Physique du rôle

O técnico Ney Franco, do São Paulo, precisa entender que, quando mete o nariz onde não é chamado, Rogério Ceni não faz por mal.

Trocadalho

De Alexandre Garcia, no encerramento do Bom Dia Brasil de ontem, após reportagem sobre os 100 anos do bondinho do Pão-de-Açúcar: "Tenha um bondinha (sic)!"

Como no futebol...

Comentário de ponto de ônibus sobre o julgamento do mensalão no STF: "Não tem mais bobo na Corte!"

Ó paí, ó!

Entreouvido ao apagar das luzes do comitê da campanha de ACM Neto, em Salvador: "Onde já se viu baiano com medo de escuro, meu rei!"

Professor prefeito

Gilberto Kassab vai repassar sua experiência de administrador público dando aulas em 2013 em curso de Urbanismo da Escola Politécnica da USP. É isso aí: quem 
sabe faz, quem não sabe ensina!

É infundado enxergar inovações penais - JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL

FOLHA DE SP - 27/10


Propala-se que o caso do mensalão constitui julgamento de exceção, quando, na verdade, revela-se um dos mais circundados por garantias, pela transparência e pelo fato de os magistrados mais preparados da nação terem efetivamente se debruçado sobre os autos.

Todas as questões foram objeto de intenso debate. Em nenhuma oportunidade se verificou o comodismo de seguir o relator ou o revisor. Cada julgador se dedicou à causa com esmero digno de quem julga isoladamente.

A alegação de que o ministro que presidiu o inquérito não poderia relatar o feito não procede, pois, em todas as megaoperações, o juiz que autoriza quebra de sigilos é o mesmo que recebe a denúncia e profere a sentença final.

A pretensão de recorrer a cortes internacionais chega a ser hilária, pois a comunidade internacional tem justamente cobrado do Brasil rigor com a corrupção. Intrigará ver o mundo noticiando que membros do poder Executivo compraram membros do poder Legislativo, com dinheiro público, e ainda se entendem vítimas de violação de direitos fundamentais.

Ademais, a garantia do duplo grau se deve ao temor de uma única mente humana decidir a vida de alguém, sem possibilidade de recurso. No julgamento do mensalão, os magistrados de mais elevado saber decidiram, em colegiado, mediante profunda reflexão. Se o foro privilegiado fere direitos, altere-se a legislação que vigora para todos.

Falar em inovações penais resta ainda mais infundado.

Os mais básicos manuais de direito penal, quando tratam do concurso de agentes (situação em que mais de uma pessoa comete um crime), adotam como teoria central a do domínio do fato - tem o domínio do fato quem tem o poder de interromper a execução de um crime.

Estabeleceu-se infundada confusão com a chamada teoria do domínio da organização, pela qual os líderes do grupo haveriam de responder, automaticamente, por todos os crimes perpetrados: peculato, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e corrupção. Justamente por adotar a teoria do domínio do fato, o STF não condenou os líderes da quadrilha por todos esses crimes.

Vale, no entanto, esclarecer que, mesmo na sistemática do Código Penal vigente, a punição seria possível, tendo em vista que o artigo 62, inciso I, prevê até que a pena de quem dirige a atividade criminosa dos demais será agravada.

Ora, dado que foi criada verdadeira estrutura criminosa, com engrenagens bem definidas, especialmente destinadas à prática de crimes, com o fim último de corromper parlamentares, evidente que a punição por quadrilha fica até aquém do que a lei permite.

A corrupção já é deletéria quando praticada com recursos privados. No caso, os parlamentares foram corrompidos com recursos, em grande parte, públicos. Essa particularidade não pode passar despercebida.

Os poderosos condenados, apesar de insistirem em ver como elite apenas quem não está ao seu lado, também devem sofrer as consequências da lei. O cárcere não serve apenas para o infeliz que atenta contra o patrimônio, muitas vezes, sem violência. Ninguém pode ser considerado criminoso por ser político. No entanto, a política não pode servir de escudo para livremente delinquir.

A quadrilha foi instituída, no centro do poder, para a prática de crimes que, separadamente, já seriam muito reprováveis; em conjunto, vulneraram a própria democracia.

Um golpe não necessariamente se dá por meio de armas, pode ocorrer mediante pagamentos institucionalizados. O STF não só está aplicando a lei prevista para todos os mortais. Está fazendo valer a divisão de poderes, cumprindo seu papel de guardião da Constituição Federal.

10 lições eleitorais - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 27/10


Os resultados das urnas de 2012 mostram mais do que qualquer exercício de futurologia. Se bola de cristal ganhasse eleição, vidente faria dinheiro como marqueteiro


A um dia do resultado do segundo turno nos municípios e a 24 meses das eleições presidenciais, mais importante do que os manjados exercícios de futurologia, o melhor é ficar com as lições do eleitor, aquele sujeito sempre pronto a desmoralizar analistas e políticos. Abaixo, 10 máximas apontadas pelas urnas este ano. E que talvez até sirvam para as eleições presidenciais — mas sem bola de cristal.

Lição um — Mais vale uma aliança partidária com tempo de tevê do que um eventual desgaste por causa do abraço no político sujo. É só ver o exemplo de Fernando Haddad com Paulo Maluf. Ao contrário do que os tucanos imaginaram, o afago do petista no ex-prefeito não trouxe prejuízos nas urnas, apenas balançou o coração de taxistas paulistanos: “Se ele abraçou Maluf, eu sou capaz de abraçá-lo”.

Lição dois — Um poste sempre pode iluminar uma cidade ou apenas servir de pipi-dog. A diferença está no padrinho do candidato. No caso de Luiz Inácio Lula da Silva, as apostas têm funcionado desde a eleição de Dilma Rousseff. Não quer dizer que prevaleçam em 2014. Até porque Haddad definitivamente ajudou, ao não cometer grandes deslizes durante a campanha em São Paulo e, assim, chegou bem ao segundo turno.

Lição três — É impossível apostar todas as fichas em apenas uma estratégia de desgaste do adversário. Se o camarada não cai fácil, é mais complicado remontar o aparato de ataque de uma hora para outra. Os partidos de oposição ao Palácio do Planalto acreditaram que o julgamento do mensalão em plena campanha eleitoral seria suficiente para minar partidos governistas. Não deu certo, é claro.

Lição quatro — Os governistas erram ao acreditar — ou pelo menos ao dizer que acreditam — que um julgamento sobre um ato de corrupção não influencia o debate político. O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) que o diga. De mais a mais, o mensalão vai sangrar e deve atrapalhar petistas ao longo dos próximos anos, com as prisões, e os saidões, de caciques do partido. O caso não acaba no Supremo.

Lição cinco — Está mais do que provado, trazer a guerra santa e debates conservadores para o centro da campanha é um tiro no pé. O tucano José Serra tentou a estratégia por duas vezes. A primeira vez, há dois anos, na corrida pelo Planalto. Agora, o camarada agarrou-se a preconceituosos. A estratégia serviu apenas para diminuir o candidato, independentemente do resultado de amanhã.

Lição seis — Se é inevitável desagradar aliados, tente mimá-los depois de a raiva ter diminuído. Irritada ao ser escanteada por Lula, Marta Suplicy só se acalmou e entrou na campanha de Haddad depois de ganhar um ministério. Até que ponto ajudou ainda é uma incógnita, mas pelo menos deu um certo ar de união entre os petistas, algo cada vez mais difícil de ocorrer nos dias de hoje.

Lição sete — As guerras internas minam completamente um candidato. Por mais que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tenha demonstrado força ao eleger um poste, com todo respeito ao candidato Geraldo Júlio, a briga dos petistas levou o partido a uma derrota humilhante no Recife. O desastre faz com que o PT tenha dificuldades para se reestruturar na capital pernambucana.

Lição oito — Comandar o governo federal é sempre mais fácil, principalmente se o chefe do Executivo tiver uma aprovação recorde. A participação de Dilma, neste caso, foi definitiva, ao quebrar resistência dos paulistanos contrários a Lula. A presidente conseguiu levar o candidato petista em núcleos que o ex talvez não fosse capaz. Claro que tudo é mais fácil com a máquina pública na mão.

Lição nove — Os aventureiros nem sempre têm fôlego para brigar com candidatos de partidos mais consolidados. Nestas eleições, Celso Russomanno foi o maior exemplo de como o tempo de televisão e as máquinas partidárias são capazes de definir eleições na última semana. Candidatos folclóricos também foram exceção. Tal fato não é melhor ou pior para a democracia, apenas uma constatação.

Lição dez — Por último, é importante não perder espaço. Os principais partidos conseguiram manter o número de prefeituras e, assim, deixaram candidatos bem posicionados: Dilma (PT), Aécio (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Na média — entre erros e acertos —, os três ampliaram a força para 2014. O resto é futurologia. Se bola de cristal ganhasse eleição, vidente faria dinheiro como marqueteiro.

Política e mentiras - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 27/10



Acontecimento da maior importância para o avanço de nossas instituições republicanas e democráticas, o julgamento do mensalão pelo STF se encaminha para a finalização dos procedimentos.

Acostumado a governar sem entraves, o PT não contava com este inesperado revés. Atônito, esboçou um ataque direto ao STF e recuou, concentrando esforços nas eleições. A vitória - especialmente em São Paulo - supostamente atenuaria os estragos causados pela condenação.

Parece difícil que a eventual vitória nas urnas tenha esse efeito. Ganhando ou perdendo as almejadas prefeituras, o partido necessitará de uma estratégia para lidar com o devastador efeito do julgamento, sendo que não são muitas as alternativas à sua disposição.

Uma delas seria o acatamento às decisões do STF, a aceitação das condenações e as devidas penas, motivo para uma ampla reflexão sobre a forma como tem conduzido o poder. Ao que tudo indica, tal encaminhamento é pouco provável. Persistirá a negação pura e simples do mensalão? Continuará a tentativa de substituir os fatos sobejamente apurados por artefatos fictícios, o imaginado complô engendrado pela "direita", pela "elite", pela "imprensa comprada"? Será possível manter essa postura? Por quanto tempo e a que custo?

Há pouco, Fernando Gabeira comparou neste jornal a tática usada por Lula e outros próceres do PT, que insistiam em afirmar que o mensalão nunca existiu, à de Maluf, que, contra todas as evidências, continua negando ter dinheiro em contas no exterior. Em ambos os casos, há um deliberado ataque à verdade e sua substituição por uma mentira mais adequada a seus propósitos.

Tal prática é de rigor nos regimes totalitários, mas não apenas neles. A mentira parece ser intrínseca à prática política e fica muito explícita por ocasião das eleições, quando os candidatos fazem promessas mirabolantes, das quais têm plena consciência que jamais teriam condições de cumprir. Atualmente a situação fica ainda mais complicada quando lembramos que as campanhas seguem modelos advindos da publicidade comercial e os políticos são vendidos como produtos para o consumo.

Essa importante questão é examinada em toda sua complexidade por Derrida em História da Mentira - Prolegômenos (texto disponível na internet). Antes de abordar sua incidência no campo da política, Derrida deixa de lado o enfoque moralista e se estende sobre a mentira como uma contingência humana, indissociável das práticas sociais, discriminando-a do erro e da ignorância, caracterizando-a como o deliberado empenho de enganar o outro e levantando a questão de cunho psicanalítico sobre a possibilidade de mentir a si mesmo, o autoengano. Não é possível resumir a amplitude de seu raciocínio, me atenho a apontar alguns itens do roteiro por ele empreendido na abordagem do tema. Partindo de um texto de Nietzsche que especula se existe um mundo "verdadeiro" em oposição a um mundo "de mentira", Derrida comenta as ideias de Platão, Santo Agostinho, Kant, Benjamin Constant, Koyré e Hanna Arendt sobre a mentira, ilustrando os argumentos com vários exemplos da história política recente.

De Hanna Arendt examina com detalhe o Truth and Politics (capítulo de Entre o Passado e o Futuro - Editora Perspectiva - e também disponível em inglês na rede), um artigo que ela escreveu para a The New Yorker em 1967, cujo disparador foi a controvérsia gerada por sua reportagem publicada como Eichmann em Jerusalém (Companhia das Letras). Ali mostra a insuperável tensão entre o poder e a verdade, da qual decorre a importância da mentira no discurso político: "As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista. Por que será assim? O que isso significa quanto à natureza e dignidade do campo político por um lado, quanto à natureza e dignidade da verdade e da boa fé por outro lado?"

Arendt acredita que na modernidade teria havido uma mutação na história da mentira, pois ela se tornou "completa e definitiva" no campo político, tendo chegado a um extremo que transforma a própria história em mentira absoluta: "A possibilidade da mentira completa e definitiva, que era desconhecida em épocas anteriores, é o perigo que nasce da manipulação moderna dos fatos. (...) A tradicional mentira política, tão proeminente na história da diplomacia e dos negócios de Estado, costumava dizer respeito ou a verdadeiros segredos - dados que nunca haviam sido expostos ao público - ou intenções (...) Ao contrário, as mentiras políticas modernas lidam eficientemente com coisas que definitivamente não são segredos e sim conhecidas praticamente por todos. Isso é óbvio no caso em que se reescreve a história contemporânea na frente daqueles que a testemunharam".

A relação da mentira com a política apontada por Arendt não deve ser entendia como uma depreciação definitiva da prática política. Para ela, como sublinha Derrida, "entre mentir e agir, agir em política, manifestar a própria liberdade pela ação, transformar os fatos, antecipar o futuro há como que uma afinidade essencial. (...) A imaginação é a raiz comum à 'capacidade de mentir' e à 'capacidade de agir'. (...) A mentira é o futuro, podemos nos arriscar a dizer para além da letra, sem trair a intenção de Arendt nesse contexto. Ao contrário, dizer a verdade é dizer aquilo que é ou terá sido, seria antes dizer o passado.(...) Há uma afinidade inegável da mentira com a ação, com a mudança do mundo, ou seja, com a política".

Essa visão da onipresença multifacetada da mentira nas relações humanas, e especialmente na política, não retira dela a conotação perversa, e menos ainda anula a necessidade radical de contrapô-la à verdade, mostra que essa não é uma tarefa de pouca monta.

Fora de seu rico contexto e denso embasamento, as ideias de Arendt e Derrida talvez pareçam esquemáticas e simplistas, o que seria um equívoco. Elas mostram formas pelas quais o poder é exercido, o que nos ajuda a vê-lo de forma mais adulta e realista. Quem sabe as citações sirvam como um estímulo à leitura desses dois textos fundamentais.

Ueba! Queremos Bilhete Eterno! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 27/10


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! 

DENÚNCIA! Um leitor disse que a empadinha no Salão do Automóvel custa R$ 6! MAAAAANTEGA! Reduz o IPI da empadinha!

E a piada pronta: "Kassab vai dar aulas de urbanismo na USP". E o Zé Dirceu de ética, o Cachoeira de direito penal, e o Tiririca de gramática!

E os candidatos do Brasil inteiro só falaram de duas coisas: ônibus e saúde! Mais uma semana de campanha e o ônibus vira grátis! Ou como dizia o Levy Fidelix: "oinbus".

É o BILHETE ETERNO! Vão pagar pra gente andar de ônibus. Pagar pra pobre andar de ônibus. E o passageiro ainda ganha um troco de lambuja! Bilhete Eterno com serviço de bordo. E banheiro limpo!

E a saúde? Mais uma semana de campanha e vai ter médico na porta do posto de saúde perguntando quem quer fazer check-up!

Saúde! Saúde! Saúde! Espirro! Os candidatos Atchim! O Haddad promete Hora Certa. Pra não ser atendido! E o Serra promete todo mundo no Albert Einstein de graça na suíte VIP Platinum Plus.

E o meu São Paulo Futebol Clube? E o Rogério Senil? Diz que o Ceni agora vai dar pitaco na escalação, figurino e maquiagem. Rarará!

E o Rogério Ceni é dono do São Paulo ? É! Por usucapião. Ops, "usocapitão". O Ceni defendeu o primeiro arremesso de tijolo na fundação do São Paulo . O segundo tijolo, ele engoliu! Rarará!

E o Apagão no Nordeste? E a Dilma: "MAAAANTEGA! Liga essa porra dessa luz! Você não trocou a porra da lâmpada?". Deu apagão na Bahia porque a Claudia Leitte tava tentando decorar a letra da música. B, A, BA, BAH! "Não consigo!" PUF! Apagão!

Em Pernambuco , foi a Gretchen que esqueceu os 18 vibradores ligados! Conga Conga! PUF! Apagão!

E sabe como se chama o trapagão diretor da Organização Nacional do Sistema Elétrico? Hermes CHIPP! Rarará! Ou como disse um amigo no Twitter: "O Nordeste botou todos os iPhones pra carregar ao mesmo tempo"! Rarará!

E adorei a charge do Nani com os tiozinhos do Supremo calculando as penas: "Marcos Valério, 12! E o Barbosa: 'Bingo!'".

Eles tão calculando na base do bingo! Rarará!

E as últimas notícias: "Debate rejeita Serra!". Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

BOLSA CHANEL NO LUGAR DO BUQUÊ - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 27/10


O empresário Joesley Batista, da holding J&F, que controla o frigorífico JBS-Friboi, se casou anteontem, em SP, com a apresentadora da TV Bandeirantes Ticiana Villas Boas. A cerimônia na igreja Nossa Senhora do Brasil contou com a presença do vice-presidente, Michel Temer, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. A noiva usava um modelo Chanel.

Da igreja os convidados seguiram para a festa em uma das fábricas de Batista, próxima à marginal Tietê. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, participou da celebração.

A noite foi animada por shows de Ivete Sangalo e Bruno & Marrone. A cantora se confundiu e chamou o noivo de João.

Logo depois de a noiva ter jogado o buquê para as convidadas, Batista convocou os homens para a frente do palco. Avisou que daria uma coisa "que as mulheres adoram" e arremessou a eles uma bolsa Chanel com paetês.

A decoração, segundo os convidados, era muito elegante e luxuosa. Uma parede de orquídeas foi montada em uma das salas. Nos banheiros femininos havia cabeleireiro, maquiagens e massagista. No dos homens, engraxates. As lembrancinhas eram velas aromatizadas embrulhadas em linho.

BOCA DE URNA
O ex-ministro José Dirceu estuda fazer um "pronunciamento" amanhã, depois de votar para prefeito.

ZÍPERDirceu preferiu ficar em silêncio nas últimas semanas, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu por sua condenação e agora discute o tamanho das penas. De acordo com interlocutores, não quis fazer "marola" na reta final do julgamento -e também da eleição.

TURMA
Ele deve falar na saída da escola em que vota. Estudantes e militantes do PT estão sendo mobilizados para acompanhá-lo, como fizeram no primeiro turno.

SALVE-SE QUEM PUDER
A bruxa está solta entre tucanos: o vereador eleito Andrea Matarazzo está há mais de um mês com febre (amigos citam dengue, mas o resultado dos exames ainda não haviam chegado até ontem). Já o coordenador de campanha Edson Aparecido vem sofrendo de um distúrbio provocado por estresse, que o faz "apagar" (machucou o rosto após um desmaio). E Walter Feldman, no mês passado, ganhou queimadura após uma lâmpada desabar em seu ombro.

NO LUCRO
O pastor carioca Silas Malafaia fez as contas: "Eu e meu mano [o deputado estadual Samuel Malafaia, do PSD-RJ) apoiamos 25 candidatos a prefeito. Cinco perderam e 18 ganharam. Dois estão no segundo turno". Além de Serra em SP, ele apoia Ratinho Jr. (PSC) em Curitiba. Sobre seguir uma carreira política, diz: "Deus não me chamou para isso. Eu influenciaria parte da sociedade. E não quero ser só de parte".

JÁ GANHOU
O artista Roberto Camasmie, que adora retratar personalidades e exibir as telas na vitrine de sua galeria, na rua Oscar Freire, recuperou um desenho de 2010 com a imagem de Serra. Para divulgar seu trabalho, Camasmie enviou e-mail com o título "homenagem ao futuro prefeito de São Paulo". Sobre sua afirmação antes da hora, ele diz: "É em quem eu vou votar e espero que ganhe".

COLA
Flora Gil fechou com a Tetra Pak, que fornecerá as folhas para paredes do camarote Expresso 2222. É lá que ela e o cantor Gilberto Gil recebem convidados para o Carnaval de Salvador.

FESTA NA IGREJA
Amaury Jr. irá à igreja neste fim de semana. O apresentador fará curso de padrinho para o batizado de Alice, filha de Amilcare Dallevo Jr., dono da Rede TV!, com Daniela Albuquerque.

"Só estão esperando me formar para marcar a cerimônia, mas deve ser na semana que vem", diz Amaury.

SIM CAMPESTRE
A cerimônia de casamento de Ricardo Fernandes e Bruna Diniz Caloi, neta mais velha de Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, hoje, no Helvetia, em Indaiatuba (SP), acontecerá no campo de polo do clube. Uma passarela de 60 metros foi montada pelos decoradores, da MAK Interiores, para ligar a casa da mãe da noiva, Ana Maria Diniz, ao local do "sim".

ESCLARECIMENTO
QUARTOS DE EMPREGADA PARA BRASILEIROS EM MIAMI
Dona da Halmoral Group, que vende imóveis de Miami (EUA) para brasileiros, a empresária Gabriela Haddad diz que foi ela, e não Yael Steiner, diretora do Centro da Cultura Judaica, quem traduziu a expressão "habitação de serviço" para "quartinho de empregada" em leilão beneficente realizado pelo CCJ nesta semana. Quem comprasse um apartamento por R$ 6,4 milhões ganhava um crédito da incorporadora que poderia reverter para o centro.

Steiner disse que a informação, publicada pela coluna, era "boba e mentirosa". "Inventar e ironizar negativamente como se fossemos fúteis e ridículos e na minha boca ainda?" Disse também que "jamais faria comentário vulgar e discriminatório".

A frase foi dita. Ao assumi-la como sua, Gabriela Haddad disse que era necessário explicar "o contexto".

O quarto de empregada é um diferencial importante do prédio apresentado, o Boutique Chateau Beach, que fica em Sunny Isles, Miami. É que, lá, esse tipo de habitação não existe. As funcionárias domésticas não dormem na casa dos patrões nem ficam à disposição 24 horas por dia, como muitas vezes ainda ocorre no Brasil.

"Eu trabalho em Miami há 20 anos. Houve um boom de brasileiros comprando imóveis lá [na década de 90], quando o dólar custava um real", afirma. "E os incorporadores pediam dicas sobre o que o brasileiro gostaria de ter no apartamento. Eu disse: 'Quarto de empregada!'"

Os brasileiros que compram apartamentos em Miami "levam cozinheira, babá, motorista". Para abrigá-los, têm que reformar os imóveis. "Tem gente que compra dois apartamentos e junta só para fazer a habitação de serviço", explica Gabriela.
"Não são só os brasileiros que gostam. Todo sul-americano está habituado com isso", diz a empresária. "Só que, nos EUA, eles não estão acostumados. É o país deles. Então, poucos prédios têm o quarto de empregada." No máximo, "uns cinco, o que para Miami não é nada". Os que têm o diferencial "são muito concorridos".

Gabriela Haddad acredita que foi possivelmente a primeira a dar a preciosa dica para as incorporadoras de Miami que querem conquistar os brasileiros -que nesta década voltaram a comprar na cidade. "Eles adoram, acham bárbaro", afirma a empresária.

"Nos EUA, poucos prédios têm quarto de empregada"

"Brasileiros adoram, acham bárbaro"
GABRIELA HADDAD
Empresária

Curto-circuito
O baixista Peter Hook, ex-New Order, toca no Na Mata Café às 23h. 18 anos.

Gero Camilo estreia a peça "A Casa Amarela" às 21h, no Parlapatões. 12.

Fábio Galeazzo dá palestra sobre "design branding", hoje, às 16h30, no Expo Center Norte.

A galeria Raquel Arnaud inaugura às 11h a exposição "A Revolução".

A Blitz se apresenta hoje na Boogie Disco. 18 anos.

O JK Iguatemi organiza a corrida Glamurun, hoje.

O mensalão e a cultura da impunidade - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 27/10


Nos dias que correm, a coincidência da condenação de mensaleiros com a prisão preventiva de um banqueiro, Luiz Octávio Índio da Costa, do Cruzeiro do Sul, atende aos anseios de Justiça da opinião pública. Mas não significa que a impunidade no Brasil esteja banida, é claro.

A audiência obtida pela transmissão ao vivo das históricas sessões do STF de julgamento do mensalão indica o alto interesse no assunto. As seções de cartas dos jornais, por sua vez, estão repletas de votos esperançosos de que o fato de mensaleiros de trânsito fácil no PT e em Brasília terem sido condenados sirva de "marco zero" de uma forma ética de se fazer política no país. Quanto mais não seja, pelo temor diante dos limites estabelecidos pela maioria dos ministros do STF para o exercício da representação pública.

Mensaleiros punidos e um banqueiro atrás das grades devido a fraudes cometidas - e que podem, cedo ou tarde, espetar uma conta no bolso dos contribuintes - aplacam a indignação pessoal diante da questão grave da impunidade na sociedade brasileira. Mas não encobrem a extensão do problema.

A questão é fazer com que o exuberante exemplo de eficácia da Justiça e de cumprimento do seu papel na democracia que vem sendo dado pelo Supremo no processo do mensalão não seja um caso único, mas se torne um padrão para os tribunais. Bem como o Ministério Público, responsável pela formulação da denúncia contra os mensaleiros. O mesmo vale para a ação dos organismos de Estado no caso do Banco Cruzeiro do Sul. Precisa ser a norma no tratamento de fraudes financeiras.

Criou-se no Brasil uma cultura da impunidade. Nas altas esferas políticas e empresariais os efeitos desta cultura são conhecidos. É evidente que o esquema do mensalão foi montado porque todos os seus participantes, dos mais graduados aos menos, dos corruptos ativos aos passivos, todos confiavam em que nada lhes aconteceria. Tudo acabaria numa estrondosa "piada de salão". Afinal, costumava ser sempre assim. Até este julgamento.

A mesma cultura também se desenvolveu no universo da criminalidade comum. Devido a falhas de legislação e de execução de penas, a relação custo-benefício do crime passou a compensadora. E sob a sombra desta leniência a criminalidade se organizou.

A abordagem da mazela da impunidade precisa ser ampla. Passa por reformas de legislações - como ocorre no momento com o Código Penal -, pelo aperfeiçoamento de jurisprudências - caso do STF no julgamento de crimes de "colarinhos brancos" - e também por ações dos conselhos de "controle externo" da Justiça e Ministério Público, em seu trabalho de corregedoria e no incentivo à adoção das melhores práticas administrativas por juízes, procuradores e promotores.

É um longo, difícil, mas estratégico trabalho a ser feito. O mensalão deve mesmo servir de símbolo desta enorme empreitada.