quarta-feira, março 07, 2012

A brasileira é feliz - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 07/03/12


A brasileira, entre mulheres de 158 países, é a mais feliz.
Pesquisa coordenada pelo professor Marcelo Neri, da FGV, mostra que as conterrâneas de Dilma dão a maior nota, de 0 a 10, para a expectativa de felicidade nos próximos cinco anos — 8,98, contra 8,51 das dinamarquesas, em segundo lugar.

Segue...
É a quarta edição da pesquisa da FGV, feita a partir de dados colhidos pelo Gallup nesses países. Em todas, o povo brasileiro apareceu como o mais feliz.
A novidade, agora, é a divisão por gêneros (o homem brasileiro dá nota 8,56 para a expectativa de felicidade, pouco menos 
que as mulheres).

As tristes...
No pé deste ranking, estão as mulheres do Zimbábue (nota 4,04, contra 4,03 dos homens).
No mundo, o nível médio de felicidade é de 6,74 (elas) e 6,69 (eles). Dado curioso: as solteiras são mais felizes (7,28) que as casadas (6,68). Mas as separadas e divorciadas declaram felicidade ainda menor (6,57 e 6,46, respectivamente). A pesquisa é parte de livro que Neri lança hoje.

Bloqueio a Cuba
A CVC, maior empresa de turismo do país, aderiu ao bloqueio a Cuba, acredite, depois que foi comprada pelo grupo americano Carlyle.
Não vende mais pacotes de viagem para a ilha de Fidel.

Créééééu nos EUA
Sábado, na loja Perfume Plus Outlet, no Shopping Dolphin Mall, em Miami, o funk “Créu”, de MC Créu, tocava nas alturas. 

‘Xanadu’ sem Magal
Sidney Magal, o cantor, está se despedindo do personagem Deny, do musical “Xanadu”, sucesso no Rio, adaptado pelo nosso Artur Xexéo.
Em seu lugar, até o fim da temporada, entrará o diretor da peça, Miguel Falabella.

O ESTADO DO RIO deve ganhar 1.790 novos leitos de hospital, com a ampliação ou construção de nove unidades em sistema de parceria público-privada. É o que promete edital lançado hoje pelas secretarias de Obras e Saúde. O investimento será de R$ 900 milhões para, entre outros, o Hospital de Trauma da Zona Oeste, extensão do Rocha Faria, em Campo Grande (foto maior), e o Centro de Diagnóstico por Imagem de Niterói (foto menor). Vamos torcer, vamos cobrar

Varig, Varig, Varig
Há uma luz no fim do finger para os ex-empregados credores da velha Varig.
O juiz Luiz Ayoub, da 1a- Vara Empresarial do Rio, reuniu-se com o ministro Luís Adans, da AGU, para tentar costurar um acordo na ação de defasagem tarifária da voadora, que teria a receber do governo uns R$ 4 bi.

Educadores
O MinC autorizou a produtora carioca Turbilhão de Ideias a captar R$ 1.197.850 pela Lei Rouanet para adaptar para o teatro o filme alemão “Edukators”, sobre jovens que invadem mansões e deixam mensagens contra a concentração de riqueza.

Bolo e guaraná
O cordão dos, digamos, amigos de Aécio Neves — alguns petistas, inclusive — combinou de cantar parabéns em seu gabinete, no fim da tarde, hoje, pelos 52 anos do senador, sábado.
Asfalto vermelho
A Secretaria municipal de Obras do Rio começou a aplicar ontem um asfalto vermelho, veja na foto, num trecho da Av. das Américas, na Barra.
A tecnologia é novidade no país. Vai servir para diferenciar a pista exclusiva para ônibus das demais nos BRTs da cidade.

Alô, Beltrame!
A Escola Municipal Professora Alice da Silva S. Paiva, mais seis colégios e uma creche de Magé, RJ, foram fechados às pressas, ontem, supostamente por ordem de traficantes da área.

Bolsa cadeira
Os alunos do curso de relações internacionais da UFRJ, no Rio, ainda não conseguiram voltar às aulas.
Segunda, ao chegarem para o início do ano letivo, não havia... carteiras nas salas. Não há previsão para o retorno das aulas.

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


11h15 - Mundial de biathlon, Sportv 2

16h - Copa Rio sub-17, quartas de final, Sportv

16h45 - Apoel x Lyon, Copa dos Campeões, ESPN Brasil

16h45 - Barcelona x Bayer Leverkusen, Copa dos Campeões, Band, ESPN e ESPN HD

19h30 - Gama x Ceará, Copa do Brasil, Sportv

19h45 - Santos x Internacional, Taça Libertadores, Fox Sports

22h - Independente-PA x São Paulo, Copa do Brasil, Band, ESPN Brasil e Sportv

22h - River Plate-SE x Grêmio, Copa do Brasil, ESPN e Sportv 2

22h - Corinthians x Nacional (PAR), Taça Libertadores, Globo (para SP) e Fox Sports

22h - Boca Jrs. x Fluminense, Taça Libertadores, Globo (menos SP) e FX

22h30 - New York Knicks x San Antonio Spurs, NBA, ESPN HD

Fora com a dignidade - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 07/03/12
SÃO PAULO - Acho ótimo que a Igreja Católica tenha escolhido a saúde pública como tema de sua campanha da fraternidade deste ano. Todas as burocracias -e o SUS não é uma exceção- têm a tendência de acomodar-se e, se não as sacudirmos de vez em quando, caem na abulia.

É bom que a igreja use seu poder de mobilização para cobrar melhorias.

Tenho dúvidas, porém, de que o foco das ações deva ser o combate ao que dom Odilo Pedro cardeal Scherer, em entrevista a Cláudia Colucci, chamou de terceirização e comercialização da saúde. É verdade que colocar um preço em procedimentos médicos nem sempre leva ao melhor dos desfechos, mas é igualmente claro que consultas, cirurgias e drogas têm custos que precisam ser gerenciados. Ignorar as leis de mercado, como parece sugerir dom Odilo, provavelmente levaria o sistema ao colapso, prejudicando ainda mais os pobres.

Minha discordância maior, porém, é no terreno da bioética. Para o religioso, é a "dignidade do ser humano" que deve servir como critério moral na tomada de decisões relativas a vida e morte. Fazendo eco às ideias da filósofa norte-americana Ruth Macklin, penso que o conceito de dignidade é totalmente inútil em bioética.

O problema com a dignidade é que ela é subjetiva demais. A pluralidade de crenças e preferências do ser humano é tamanha que o termo pode significar qualquer coisa, desde noções banais, como não humilhar desnecessariamente o paciente (forçando-o, por exemplo, a usar aqueles horríveis aventais vazados atrás), até a adesão profunda a um dogma religioso (testemunhas de Jeová não admitem transfusões de sangue).
Numa sociedade democrática, não podemos simplesmente apanhar uma dessas concepções e elevá-la a valor universal. E, se é para operar com todas as noções possíveis, então já não estamos falando de dignidade, mas, sim, de respeito à autonomia do paciente, conceito que a substitui sem perdas.

Os vagabundos e os bandidos de toga - GABRIEL WEDY


ZERO HORA - 07/03/12

É um fato histórico e uma constante a ação institucional da Associação dos Juízes Federais do Brasil no Congresso Nacional defendendo a elaboração de leis mais rígidas no combate a corrupção, nepotismo, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e improbidade na administração pública.Foi com esses princípios éticos e morais de atuação que no ano de 2004 a Ajufe defendeu a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com a aprovação da EC 45, para que se realizasse o controle externo do Poder Judiciário com a finalidade de democratizá-lo e torná-lo mais transparente à sociedade, como devem ser, aliás, todos os poderes da República.
Por coerência, a Ajufe é integralmente favorável às atribuições da Corregedoria Nacional de Justiça, previstas na Constituição Federal. E espera que, para além de manifestações nas páginas dos jornais e nas telas da televisão, nunca antes vistas na história do necessariamente recatado Judiciário brasileiro, sejam adotadas medidas concretas nos autos dos processos administrativo-disciplinares, para punir aquela ínfima minoria de juízes que comprovadamente cometeram infrações administrativas. Foi assim que fizeram de modo efetivo, à altura da liturgia do cargo, todos os ministros do STJ que ocuparam, sempre com efetividade, a Corregedoria Nacional de Justiça ao longo de sua história.
Discursos marcados pela retórica populista e a verborragia carregada e pueril, de todo incompatíveis com os preceitos definidos pela Lei Orgânica da Magistratura (Loman), não podem impressionar a sociedade e evidentemente não contribuem em nada para o combate à impunidade.
Os juízes federais brasileiros "não são vagabundos" e estão longe de serem "bandidos de toga". Dos 62 juízes investigados pelo CNJ por movimentações financeiras atípicas, em um universo de mais de 24 mil, nenhum é magistrado federal. Ao contrário, os magistrados federais são operosos, cumprem as metas de produtividade do CNJ, e exercem com honradez o sacerdócio da toga.
É importante lembrar que a insensatez e generalizações, ao longo da história, levaram a barbáries coletivas, com respaldo da opinião pública, como na Revolução Francesa, na "Era do Terror", com a implacável guilhotina, e na Santa Inquisição, quando o nome de Deus foi usado para a queima de "bruxas" nas fogueiras. A mais emblemática de todas foi, no entanto, o julgamento popular de Jesus Cristo, que, condenado, foi crucificado no meio de dois ladrões.

Inveja dos finlandeses - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 07/03/12

Estamos sempre tropeçando nos cadarços desamarrados de nossa cordialidade; só um tchauzinho é quase um insulto



Entro no bar, a vejo, vejo que ela me vê -e, durante o longo segundo que dura o resvalar de nossas pupilas, vivo aquele microdilema da vida social: vou até lá e dou oi ou abaixo a vista e finjo que não a reconheci?
Não lembro seu nome. Marcela? Margarida? Maristela, talvez. Faz uns dez anos, namorou um conhecido meu. Naquela época, dividimos a mesa duas ou três vezes, trocamos algumas frases -nunca os telefones-, mas ela sabe quem eu sou, eu sei quem ela é, e isso é razão suficiente para que eu tenha que dar oi. Ou não?

Ah, ser brasileiro dá um trabalho! Aposto que um finlandês de seis anos já sabe exatamente quem precisa cumprimentar, diante de quem pode passar reto, qual o grau de proximidade que permite apenas um tchauzinho, de longe.

Aqui, contudo, estamos sempre tropeçando nos cadarços desamarrados de nossa cordialidade. Um tchauzinho de longe é quase um insulto. Um oi deve necessariamente ser seguido por uma conversinha sobre o tempo, lamentos sobre o longo intervalo desde o último encontro, uma breve entrevista acerca dos parentes, cônjuges, amantes, amigos, inimigos, o cachorro e o papagaio, promessas de nos vermos mais, um convite para o almoço semana que vem, quem sabe restabelecer aquele futebol das terças, fundar uma revista literária ou voltar pra Caraiva; ah, 1997, aquilo sim é que foi Réveillon!

A brasilidade não admite meios tons: ou se é ou não se é, e com todo o peso de nossa desfraldada sociabilidade sobre minhas cansadas retinas, decido não ser; as volto para o chão, dou uma coçada na barriga, simulo grande interesse no piso, passo reto e sento no fundo do bar.

A culpa, contudo, é como uma espinha na bunda: espeta assim que botamos as nádegas na cadeira, e como o neurótico é um péssimo economista, que prefere pagar dez de juros aos cinco da dívida, tenho a ideia de jerico de ir até a garota -não apenas para dar oi, mas pedir desculpas e explicar que passei reto pois não a reconheci.

Mal termino de cumprimentá-la, vejo em seus olhos o brilho opaco do horror. Claro, ela tampouco pretendia me dar oi -e se um olá de passagem já seria trabalhoso, o que dizer dessa missão diplomática de Brancaleone?

O que se segue é uma cena de cartoon, os dois fugindo do silêncio como personagens subindo uma escada a desmilinguir-se: falamos sobre o tempo -"O dia mais quente em março, desde 1943!"-, sobre "o pessoal" -"A Ju? Agora, assim, não tô lembrando..."-, ela me diz que vai para o interior, na Páscoa- "Nossa, Páscoa, já? O ano voa!"- e que sua filha, Gabriela, vai ficar com a mãe. Empenhados em alimentar o papo, apressado e chocho como uma fogueira de jornais, não deixamos pausa para uma retirada. Estamos num labirinto, afundando na areia movediça da afabilidade e é ao me ouvir elogiando a qualidade das estradas paulistas que me dou conta: é tarde demais, jamais conseguirei romper aquele laço, estou condenado a continuar a conversa para sempre, adotar a tal Gabriela, aceitar a nova sogra, ir pro interior na Páscoa, conhecer a Ju -e torcer para que, até lá, eu lembre o nome daquela mulher. Marcela? Margarida? Maristela, talvez.

Às vezes, tenho inveja dos finlandeses.

Economias doentes e recaídas - VINICIUS TORRES FREIRE

Folha de S. Paulo - 07/03/12

Ansiedade desenvolvimentista pode colocar país numa marchinha forçada


A massa da economia já tem fermento bastante para crescer mais que os minguados 2,7% de 2011. Se a receita vai desandar ou se o bolo não vai crescer no ritmo dilmiano de mais de 4%, difícil saber. O ano mal começou.

De evidente, apenas, há o rebuliço no governo, que promete mover fundos para cumprir a meta. Na ânsia de cumpri-la, Dilma talvez enterre a política econômica dos últimos 13 anos, que predominara no governo Lula 1 e sobrevivera, adaptada, sob Lula 2.

Há dúvida sobre quão bem pensada será a inovação.

A economia tende a crescer algo mais neste 2012 porque: 1) Os juros caem; 2) O governo e megaestatais vão investir mais, o que arrasta algum investimento privado adicional; 3) A confiança do empresário parece menos abalada pela hipótese de desastre econômico lá fora.

A economia cresceu pouco em 2011 porque: 1) Houve uma desaceleração violenta do investimento privado; 2) A indústria padece devido a real forte, falta de mercado devido a uma economia mundial fraca e aperto de crédito no Brasil; 3) O investimento público retrocedeu, ainda mais que o ritmo do gasto do governo em geral; 4) O BNDES emprestou menos.

Preocupado demais com o curto prazo e curto de ideias de longo alcance, o governo pode exagerar na dose adicional de fermento. O consumo voltou a crescer no fim de 2011. O juro real está na mínima pós-Real, entre 3,5% e 4%.

Para começar, o governo quer dar corda na indústria, estagnada em 2011. Para tanto, quer desvalorizar o câmbio, pode conceder reduções de impostos e elevar a proteção a setores industriais contra a competição externa. Supondo que isso aconteça, teremos um tico mais de inflação, que já não está baixa.

O investimento do governo deve crescer neste ano. Nenhum problema aí, se o gasto do governo em outras áreas não estivesse crescendo.

A poupança do governo pode cair. Num ano só, essa queda não é lá grave. Mas estamos numa economia algo inflacionada (em 2011, o governo fechou o cofre para auxiliar no controle da inflação).

O Banco Central vem dando indícios, até agora, de que se preocupa com o fato de a economia vir andando devagar além da conta e dá sinal de juros ainda menores.

Mas a inflação está além da conta, até agora. Ou o BC vai deixar claro, lá pelo meio do ano, que não é prioritário colocar a inflação na meta, ou vai apertar o crédito lá pelo fim do ano, quando a economia operar a plena carga.

Em suma, a ansiedade desenvolvimentista pode colocar a economia numa marchinha forçada. Se o governo quiser pisar no acelerador, tende a descaracterizar o regime de metas de inflação, de interferência menor nos mercados de câmbio, capitais e no comércio e terá uma meta de crescimento de curto prazo, não importa o efeito colateral. Há o risco de o BC não gostar disso. Se o BC concordar com a ideia, definitivamente estaremos em outros mares de política econômica.

Bola no pé - SONIA RACY

O ESTADÃO - 07/03/12


A Copa de 2014 não pode sair do Brasil. Segundo alta fonte do governo Dilma, tanto Fifa como União consultaram advogados nacionais e internacionais. Chegaram à conclusão de que o imbróglio legal seria tão grande, que a disputa simplesmente não teria como ser realizada no ano marcado.

Ja imaginaram o mundo sem a Copa do… Mundo?

Bola no pé 2
Avalia-se que os custos de uma quebra de contrato, para ambos os lados, seriam de tal ordem que equivaleriam ao dobro do que custará o Mundial.

Portanto, ninguém está blefando. Dilma trabalha, hoje, com essa carta na manga. Provavelmente, teria postura diferente ante a Fifa se a brigalhada tivesse se dado no ano passado.

Aurélio
No vocabulário de Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, e Jean-Charles Naouri, do Casino, foi introduzida uma nova palavra: reconciliação.

Correndo atrás
Batido o martelo. O PSDB fará seu primeiro congresso sindical na história, com pompa e circunstância. Aécio Nevesjá confirmou presença. Sérgio Guerra, Alckmine toda a cúpula do partido são esperados.

Onde? Na Casa de Portugal, dia 27 de abril.

Online
Enquanto os tucanos se perguntam quem será o coordenador geral da campanha de Serra, Andrea Matarazzo não entra na onda. Afirma que não precisa de cargo oficial para contribuir.

Plugados
O mundo, ao que parece, será dos smartphones. Pesquisa do Ibope, a ser divulgada esta semana, garante que, em 2012, 32% dos consumidores mundiais comprarão iPhones e congêneres.

O celular comum? Queda livre.

Êta nóis!
No Salão do Automóvel de Genebra, que abriu ontem, a palavra é… flex. Mas não a fórmula brasileira, mix de gasolina e álcool. Os investimentos são em motores movidos a gasolina e eletricidade. Até a Porsche anunciou esportivo com essas características. E a Renault garante: a meta é o motor full electric.

Sobre etanol, nem um pio.

Mal me quer
Até no prédio onde mora, a rica Val Marchiori angariou inimizades. Não paga, há seis meses, taxa extra de R$ 13 mil – referente à compra do terreno ao lado de seu condomínio.

Diga-se de passagem, um dos apartamentos mais caros da cidade, localizado em frente ao restaurante Rubaiyat.

Não e não
A fraqueza de Lula, que permitiu a invasão do vírus da pneumonia, tem origem.

Pelo que se apurou, o ex-presidente não quis ser alimentado por sonda pouco antes do término da radioterapia – quando já não conseguia comer.

Low-profile
Príncipe Harry chega a São Paulo no sábado e vai direto para Sumaré. Pernoitará no Haras Larissa, na casa que Álvaro Coelho da Fonseca tem no condomínio.

Surpresa: não fez nenhuma exigência. “Mesmo porque o lugar é impecável”, brinca o anfitrião.

Barco do Amor
Na quarta edição do cruzeiro “É o Amor”, Zezé di Camargoe Luciano estavam por todos os cantos do navio: nas camisetas dos fãs, nas caixas de som das piscinas, do cassino e dos corredores e também nos telões espalhados pelos 15 conveses do MSC Orchestra.

Mas juntos, mesmo, só puderam ser vistos no palco, nas três noites de show. Luciano passou a maior parte do tempo em sua espaçosa cabine, com a mulher e os filhos. Saiu apenas uma tarde, dedicada a sessão de fotos na proa – para delírio dos fãs e desespero dos seguranças, treinados com técnicas israelenses.

Já Zezé estava livre, leve e solto. Animado, participou de rodas de viola durante as tardes e jantou, todas as noites, no restaurante, causando tumulto. Era fã demais. Depois dos shows, bateu cartão na boate até o raiar do dia, com direito a “cabaninha” no camarote VIP. Sua mulher, Zilu, ficou nos EUA, onde está morando.

No teatro lotado, a dupla agitou a plateia de todas as idades. E no camarim, recebia convidados e fãs. Monica Cartaxo, 76 anos, entregou a Zezé uma garrafa de Pêra-Manca, vinho preferido do cantor. E outra de licor Disaronno. Já uma gaúcha, que diz rezar todas as noites pela dupla, presenteou Zezé com uma cuia de chimarrão. E uma fã grávida levou seu carinho, descontrolou-se, chorou. Foi acalmada por Luciano com água e atenção.

Medo de navio? Luciano garante que não. E lembra que a primeira edição do “É o Amor” teve como cenário o Costa Concordia – que naufragou, em janeiro, na Itália. “Antes de subir ao palco, em 2009, alguém me deu o quepe do comandante Francesco Schettino, para usar durante o show. Pensei que era presente e joguei para a plateia. Depois (risos), você acredita que ele me cobrou 300 dólares? Tive de pegar emprestado da Zilu para pagar”.

O fato é que, depois de 20 anos de carreira, 21 discos lançados e 36 milhões de cópias vendidas, a dupla anunciou, aos navegantes satisfeitos, no fim do cruzeiro: ano que vem tem mais…/DÉBORA BERGAMASCO A repórter viajou a convite da produçãoda dupla.

Na frente

José Miguel Wisnik está de malas prontas. Parte,para os EUA – onde dará aulas na Universidade de Chicago até junho. Tema? Canção brasileira.

O musical A Família Addams tem pré-estreia hoje. No Teatro Abril.

Adriana Mattos abre exposição na Galeria Pintura Brasileira. Amanhã.

Estreia hoje mostra de Marco Maggi. No Tomie Ohtake.

E Morena Leite dá aula de culinária, hoje, para alemães em Berlim. Iniciativa da Embratur para atrair turistas.

Deborah Paiva e Marcelo Comparini inauguram individuais. Hoje, na Galeria Virgílio.

Junior Lima toca em festa da Police Sunglasses. Hoje, no Dorothy Parker.

O site Jezebel ganha versão brasileira. Amanhã, Dia Internacional da Mulher.

Constatado: Serra está magro. Consequência de seu novo hábito, o “transport” todos os dias. E de comer pouco. 

PIB & política - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 07/03/2012


Se Dilma segurar as pontas do crescimento, podem ter certeza de que o governo pode até balançar na política, mas não passará de uma marolinha. No entanto, se não garantir a parte econômica, aí sim virá um tsunami na base aliada


Era o que faltava para ampliar o estresse do PT: um Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 3%. Com esse novo dado a povoar os pesadelos dos aliados já descontentes com o partido de Lula e Dilma Rousseff, cresce entre alguns o receio que passe a valer o velho ditado popular, "em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão". O sujeito que não consegue emprego em função das mazelas econômicas não quer saber se isso ocorreu porque a Europa enfrenta problemas ou a economia americana não decolou a contento. Culpa logo a presidente da República, seus ministros, o governador, o prefeito e por aí vai.

Para sorte de Dilma, os solavancos na política no plano nacional parecem ser menores do que reverberam alguns aliados. No PMDB, por exemplo, o tal manifesto entregue ontem ao vice-presidente da República, Michel Temer, soou para muitos como uma grande massa de manobra dos caciques. O líder no Senado, Renan Calheiros, conseguiu, em princípio, a garantia de que Sérgio Machado continuará no comando da Transpetro. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, conseguiu aquela audiência com Dilma.

Resta saber qual será a reação dos demais integrantes do partido que ainda estão a ver navios. Grande parte desses signatários se sente usada pela cúpula para reforçar suas posições, como já dissemos aqui. Não por acaso, parte dos peemedebistas se arrepende de ter conquistado a vice-presidência da República. Agora, a sigla está obrigada a seguir tudo o que deseja o governo e a se contentar com o que tem, uma vez que os destinos estão atrelados e não dá para votar contra sem passar a velha imagem de fisiológico, que só pensa em cargos.

Por falar em imagem...
Os aliados do PT estão convencidos de que a única maneira de evitar a hegemonia do partido de Lula é derrotar os petistas onde for possível na eleição municipal. Não por acaso, o PMDB não abre mão da candidatura do deputado Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo. Se Chalita conseguir sufocar Fernando Haddad — uma tarefa hercúlea —, terá garantido um lugar ao sol para os peemedebistas. Caso contrário, será ainda importante no segundo turno, uma vez que tem laços com o PT e também com o PSDB.

Para completar, o crescimento das riquezas do país em módicos 2,7% em 2011 é outro fator que conta para embaçar a imagem do governo Dilma e, por tabela do PT. Afinal, se a economia não demonstrar um novo fôlego — diante das incertezas mundiais não dá para dizer com segurança que vamos crescer além desse patamar —, a tendência é grande parte dos aliados começarem a tomar novo rumo. E esse rumo começa a ser ensaiado na sucessão paulistana.

Por falar em rumo...
Não dá para esquecer que o maior lastro eleitoral de Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e em 1998, foi o Plano Real. Em 2002, quando ele começou a dar sinais de cansaço por conta de erros governamentais e a série de crises internacionais, o país optou por Lula. O céu de brigadeiro econômico ao longo do primeiro governo Lula garantiu a reeleição, com mensalão e tudo. E a performance social, a escolha da candidata certa e a capacidade sem concorrência de Lula falar diretamente ao coração das pessoas fizeram de Dilma Rousseff presidente da República. Mas nada seria igual se a economia estivesse naufragando.

Portanto, se o PT quiser cumprir seu projeto de 20 anos de poder, terá que, primeiro, segurar a economia. Se não o fizer, aí a tendência é de revoada geral na base, já insatisfeita. Se Dilma segurar as pontas do crescimento, o governo pode até balançar na política. Mas, se não garantir a parte econômica, aí sim virá um tsunami na base aliada.

Mãe de gato, pai de cachorro - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 07/03/12

Há dois anos, adotei um gato de rua. Batizamos de Nero e hoje ele faz parte da família. De três em três meses, levamos o Nero pra revisão, o que significa, basicamente, tomar banho e cortar as unhas. Todos os funcionários da clínica já o conhecem. Da última vez, liguei para marcar hora pra ele e me anunciei.

– Aqui é a Martha, mãe do Nero.

Mãe do Nero? Sou mãe da Julia e da Laura, não sou mãe do Nero. Antes, me anunciava como dona do Nero. Mas não soava bem. Há uma certa arrogância em se proclamar dona de um ser vivo. Muitos compram um mascote como compram um relógio ou um liquidificador, e somos proprietários daquilo que adquirimos, mas eu não adquiri o Nero. Então troquei o “dona” por “mãe” e me senti patética, porém mais à vontade. Se mãe é quem cria, sou mãe.

Meu Deus, o que estou dizendo.

Sempre considerei exageradas as relações que algumas pessoas têm com seus bichos. Sei do amor que se sente por eles e a triste dor da perda quando eles morrem, mas nunca compactuei com uma certa histeria politicamente correta que faz com que se considere bicho mais importante que gente, a ponto de pessoas se mobilizarem contra a matança de tubarões e não mexerem um dedo por uma criança de rua. O.k., as pessoas podem escolher as causas pelas quais querem lutar, e é importante que todas as boas causas arrebanhem defensores, mas preferir bicho me parece um subterfúgio emocional.

Há quem alegue que as pessoas têm consciência de si mesmas, raciocinam, por isso podem se defender, enquanto que os animais não podem se defender contra os ataques humanos. Ora, muitos humanos também não conseguem se defender de ataques humanos.

E há os que dizem que um animal é mais comovedor porque sempre tem caráter, enquanto que encontramos pelas ruas seres execráveis. Não discordo totalmente, mas é uma comparação meio maluca. Claro que os bichos de estimação são bons. Só o que eles precisam fazer é comer e dormir, e a gente ainda oferece casa, conforto e carinho. Eles não conhecem política, sistema financeiro, pensão alimentícia, guerra, narcotráfico. Estão imunes às lutas de poder e seus efeitos colaterais antiéticos.

Bicho dá menos trabalho e costuma cumprir o que muita gente não cumpre: ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. E salva inúmeros solitários da depressão absoluta. Daí a nos intitularmos mãe e pai deles, é um exagero.

Não sou mãe do Nero. Nem sua dona, que gato não tem dono, nasce e morre independente, dono de si mesmo. Eu apenas o alimento, o protejo, o acaricio, brinco com ele, às vezes me subordino a ele, fico meio boba com sua beleza, me preocupo com seu bem-estar e o chamo de bebê muito antes da Christiane Torloni massificar o termo.

– Sim, mãe do Nero, a própria.

É um condor? Uma águia? Não: é a galinha do PT - EDUARDO GRAEFF


eAgora.org.br  


O mundo começa a se desiludir com as perspectivas de crescimento do Brasil de Lula e Dilma Rousseff. Traduzo o Financial Times de hoje:


Enquanto o crescimento econômico da China segue o padrão de um condor, alçando-se a grandes altitudes nas correntes ascendentes mesmo ao passar pelo que se considera uma desaceleração, o do Brasil nos últimos anos parece o vôo interrompido de uma galinha.

Justamente quando a economia do Brasil parece prestes a decolar, ela despenca novamente na medida em que o superaquecimento obriga o banco central a acionar os freios.

Isso é o que mostram os números do PIB de 2011. No fim de 2010, a economia brasileira estava crescente a uma taxa anualisada de 7,5%. O crescimento era alimentado por medidas de estímulo tomadas pelo governo em 2009 para se contrapor à recessão da crise financeira global. A isso se seguiu a prodigalidade política em 2010, ano de eleições presidenciais.

Mas com o crescimento veio a inflação. O banco central foi obrigado a jogar os juros para cima rapidamente, somente para descobrir, no meio do ano, que a economia, que parecia tão forte há apenas seis meses, de repente estava perdendo sustentação. A interrupção abrupta do crescimento decorreu de uma mistura de altas taxas de juros, taxa de câmbio apreciada em relação ao dólar que derrubava a indústria local ao estimular importações baratas, e o sentimento negativo da crise do euro.

A galinha, que começara a parecer quase confiante em vôo em 2010, mergulho no terceiro trimestre de 2011, quando a economia se contraiu ligeiramente.

A Goldman Sachs, citada pelo FT, não aposta na recuperação esperada por Dilma Rousseff e o PT em 2012. Acaba de reduzir sua previsão de crescimento do PIB brasileiro de 3,5% para 3,1%.


A galinha pode um dia virar condor, ou pelo menos uma águia? A resposta é não - pelo menos por enquanto. As ineficiências do Brasil, como seu orçamento público inchado que não consegue investir apesar de todo o gasto, impedirão o país de crescer a taxas mais altas até que alguém comece a pensar em reformas.

Em resumo, burocracia e impostos vão manter as asas da galinha cortadas.

Desgraça das desgraças: ultimamente, o PT e seu governo nem ao menos conseguem cacarejar tão bem…

Irã: a guerrilha antes da guerra - ROBERTO ABDENUR


FOLHA DE SP - 07/03/12

Obama e Netanyahu discordam de como lidar com o programa nuclear do governo iraniano



Agrava-se cada vez mais a tensão em torno do programa nuclear iraniano. Enquanto Netanyahu fala em atacar, Obama pede tempo para que as sanções produzam efeito e a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) reitera suas preocupações com possíveis intenções militares por parte do Irã, as eleições da semana passada naquele país resultaram na vitória do aiatolá Khamenei, um linha-dura.

Dado o curso de confrontação há décadas entre as duas capitais, esse ambiente não prenuncia uma evolução favorável da questão, mediante negociações diplomáticas.

Obama proclama que os EUA jamais aceitarão um Irã nuclearmente armado, mas acredita no efeito das sanções. Netanyahu, de seu lado, não se contenta com nada menos do que a desistência do Irã de seu programa nuclear, o que, insinua Obama, não é realista.

Para Israel, não cabe condenar o programa iraniano apenas quando estiver a produzir uma bomba. É inaceitável que aquele país chegue a dispor da capacidade para tanto, o que se daria em pouco tempo mais.

Nisso tudo, é interessante notar a verdadeira guerrilha verbal em que se empenham Netanyahu e Obama. Em pronunciamento perante a Aipac, o poderoso lobby pró-Israel, Obama reforçou suas juras de solidariedade e apoio, chegando a afirmar estar disposto, em último caso, a recorrer a uma ação militar. Ponderou, contudo, ainda não ser chegado esse momento.

Indicou os sérios riscos que uma conflagração teria na região e no contexto político e econômico internacionais, inclusive por força de uma explosão nos preços do petróleo. E criticou o excessivo falatório sobre o problema.

No posterior encontro de três horas com Netanyahu na Casa Branca, o clima foi tenso. Obama reiterou sua posição, mas Netanyahu expressou sua descrença nos meios diplomáticos e reafirmou o direito soberano de Israel de defender-se. Netanyahu gostaria de ver os EUA concordarem com critérios estritos e um cronograma para um ataque, ao que aparentemente resistiu Obama.

O americano, por sua vez, não terá propriamente vetado a priori um ataque israelense. Apenas o haveria desaconselhado por enquanto.

Na noite de segunda-feira, Netanyahu fez dramático pronunciamento perante a Aipac, relembrando o Holocausto e afirmando que as sanções não funcionam e o tempo se esgota. Numa crítica indireta a Obama, colocou no mesmo saco os que consideram demasiado arriscado um conflito e aqueles que foram inertes diante do Holocausto.

A guerrilha verbal entre Netanyahu e Obama não é nova. Vem de há muito.

Suas discordâncias começaram a propósito da questão palestina. Netanyahu venceu aquela queda de braço. Agora, ao que tudo indica, houve algo como um empate.

Afigura-se improvável que Israel, sem o apoio de Washington, ataque o Irã nos próximos meses, o que criaria imenso desafio para Obama no contexto de sua luta pela reeleição. Mas Netanyahu marcou bem suas posições perante um establishment político que nos EUA é bipartidário no apoio a Israel.

A hipótese de uma guerra parece afastada de momento, mas tudo pode acontecer após as eleições presidenciais norte-americanas.

GOSTOSA


Fim do voto de opinião ou da opinião em si? - RICARDO SALLES


O Estado de S.Paulo - 07/03/12


Você já deve ter ouvido algum cientista político dizer que não há mais espaço para o chamado voto de opinião, que teria perdido espaço para o voto corporativo e para o voto de liderança, sem falar nas celebridades e nos cacarecos que a cada eleição são usados pelos partidos para desempenhar vergonhoso papel de meros puxadores de votos.

O voto em celebridades e cacarecos já é nosso conhecido. Sabemos que prejudica não só seus próprios eleitores, como a sociedade, pois quase sempre os eleitos nessa modalidade cumprem seu único mandato sendo massa de manobra dos donos dos partidos, velhas raposas de guerra. Nesse caso, ao contrário do que foi alardeado na última campanha, pior do que está pode sempre ficar. E tem ficado.

Já o voto corporativo é o obtido via apoio de determinadas entidades, notadamente sindicatos e igrejas, que se valem de isenções fiscais e benefícios legais de toda sorte para despejar recursos quase inesgotáveis em beneficio dos que, sendo eleitos pelo esquema, por ele trabalharão por todo o seu mandato.

E voto de liderança, o que será? Nada mais é que mero eufemismo para designar a moderna versão da velha compra de votos. Explicando melhor: na sua modalidade mais ortodoxa, o suado dinheirinho dos nossos impostos é usado em convênios, emendas e repasses para comprar votos de entidades cujos líderes foram escolhidos a dedo para serem cabos eleitorais dos seus padrinhos políticos. Gostou? Tem mais.

Na modalidade mais heterodoxa do voto de liderança, ou seja, dinheiro vivo em troca de voto, enormes quantias são cuidadosamente canalizadas para lideranças que exercem influência sobre um grupo determinado de pessoas, como donos de escolas de samba, presidentes de associações de bairro, líderes de pequenas igrejas, etc. É bem verdade que, ao menos em São Paulo, quase não há dinheiro dado ao eleitor diretamente, mas à liderança que sugere ao liderado em quem votar a cada eleição. O volume de recursos exigido para essa modalidade de voto é assustador, e sempre obtido e distribuído "por fora".

Pois bem, e o voto de opinião, onde fica diante disso tudo? Será que já não há espaço para o candidato que faz campanha exclusivamente com base na defesa de princípios e valores, sem comprar votos ou se prestar a ser lobista de grupos específicos? Para que haja voto de opinião é preciso, antes de tudo, que haja alguma opinião. Que existam políticos que se arrisquem a ter efetivamente uma opinião, defendendo-a de maneira coerente e continuada, sem se deixarem levar pelas pesquisas ou tendências do momento apenas para amealharem votos de forma oportunista.

A política está repleta de políticos guarda-chuva, que buscam votos em todas as correntes de pensamento, sem se preocuparem em manter alguma consistência de ideias e propostas. O importante é se elegerem. O que eles vão fazer no dia seguinte não importa. Não assumem posição sobre nada. Não têm opinião definida sobre nenhum assunto que a mídia já não os tenha pautado e não se importam em mudar totalmente de direção se as conveniências do momento assim o exigirem.

O patrulhamento ideológico e a ditadura do politicamente correto também não contribuem para que mais políticos se arrisquem a ter alguma opinião, sobretudo polêmica. Sabem que, ao tomarem posição, serão alvo de ataques raivosos, e sobre estes terão de se manifestar. Você mesmo, caro leitor, que já ousou defender alguma opinião diferente da média, deve ter sentido na pele como é difícil fazê-lo.

É preciso ter coragem para assumir uma posição hoje em dia. Ter coragem de não ser como a folha morta ao vento, que se deixa levar cada hora para um rumo diferente. Coragem para defender posições firmes e claras, de forma impessoal e fundamentada, sob pena de estar sempre sujeito aos oportunismos de alianças e acordos políticos, cada vez mais espúrios, dissimulados e venais.

A falta de opinião, a incoerência e a covardia dos políticos "gelatinosos" acabam por amortecer o espírito e a capacidade de indignação do eleitor, que, sucumbindo ao pensamento de que são todos iguais, já não se importa em votar com qualidade. Vota-se no "menos pior", pois, em tese, são todos a mesma coisa.

Ter opinião e defendê-la, com coerência e transparência, também significa, em alguma medida, aceitar a perda de votos. Se um político não aceita perder votos, ou não concebe como parte do jogo democrático a hipótese de perder uma eleição, para preservar a dignidade e a coerência, já está a meio caminho andado para reinar no campo da indefinição e da demagogia.

Por outro lado, a consistência e a coerência da opinião do político serão sempre balizadas por seu comportamento. Pela compatibilização da retórica com a prática. Pela capacidade de se posicionar e por vezes contrariar corporativismos, até mesmo de seu próprio partido. De contrariar o senso comum quando este for contrario às suas convicções pessoais. De prezar a boa conduta, sem se descuidar da qualidade e da credibilidade da sua opinião.

O compromisso do candidato de opinião deve ser sempre o de agir em conformidade com os valores que alega defender, sob pena de, a cada novo desafio, achar desculpa ou pretexto para transigir ou mudar. Como mostra o recente filme sobre Margaret Thatcher, há momentos em que a intransigência é uma virtude, a melhor virtude, e o triste quadro político atual demanda uma atitude intransigente na defesa de princípios e valores.

A sociedade ressente-se da escassez de verdadeiros líderes, que se comportem como homens de Estado, sejam capazes de inspirar, empolgar e conduzir os seus eleitores para determinada direção propositalmente escolhida. Sem isso não há realmente espaço para o voto de opinião.

Copa exige mais ações e menos bravatas - EDITORIAL O GLOBO

O Globo - 07/03/12


O pedido de desculpas do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ao governo brasileiro, atribuindo a uma tradução incorreta a expressão com que cobrou mais dedicação na preparação da Copa do Mundo, repõe no caminho da civilidade o debate sobre a organização do evento que, em 2014, atrairá os olhos do mundo para o país. Mas não esconde a evidência de que há profundas, e espera-se que contornáveis, dissonâncias nos discursos das duas partes diretamente envolvidas na realização da mais importante competição do futebol mundial.

Traduções à parte, Valcke expressou uma compreensível preocupação com o empenho do Brasil em relação aos compromissos assumidos ao se candidatar à sede do Mundial. O ritmo das inversões - urbanísticas e de infraestrutura - necessárias para deixar o país pronto para a Copa, daqui a dois anos, não tem dado margem a otimismo. Embora o cronograma de construções e/ou reformas de estádios esteja aparentemente em dia, com atrasos apenas no Beira-Rio (RS) e na Arena da Baixada (PR), há indisfarçáveis deficiências nas áreas de mobilidade urbana, hotelaria, infraestrutura, transportes e aeroportos, fundamentais para o sucesso do evento. E mesmo na questão legal.

No Rio e em outras cidades, por exemplo, a capacidade hoteleira é inferior à demanda esperada de delegações e turistas, e a perspectiva, ao menos dentro do quadro atual de intervenções, é pessimista em relação às necessidades para 2014. Pressões da base governista em Brasília, de tom estatista, impediram a adoção de cruciais medidas de modernização dos aeroportos, um dos maiores gargalos da preparação para a Copa. Mesmo a recente licitação que abriu a entrada da iniciativa privada na administração de três terminais é providência tímida em face das enormes necessidades de ajustes nessa área. No plano legal, é lenta no Congresso a tramitação da Lei Geral da Copa, essencial para a adaptação da legislação brasileira a exigências do caderno de encargos da Fifa.

Às críticas a essas demonstrações de leniência e de pouca dedicação aos compromissos assumidos o governo brasileiro tem respondido com mais bravatas nacionalistas do que com ações concretas. A Fifa está no seu papel de exigir dos parceiros eficiência na organização de um evento que movimenta interesses transnacionais para além da competição esportiva em si. Se seu secretário-geral recorreu ou não à linguagem mais apropriada às arquibancadas para cobrar trabalho do poder público do país, esta é uma questão que se resolve no plano da diplomacia entre as partes. Mas o Brasil, além de não ter de responder no mesmo tom, não pode ficar fazendo o papel de quem entrou desavisadamente na história.

Quando a candidatura do país à sede da Copa foi apresentada, as autoridades brasileiras tinham plena consciência das exigências da Fifa. O poder público comprometeu-se com um caderno de encargos no qual explicitamente se inscrevem os compromissos a serem assumidos, e em que áreas. O Mundial não foi imposto ao país; ao contrário, a chance de promovê-lo mobilizou toda a sociedade, que, com justo orgulho, comemorou a indicação - e espera, em 2014, vibrar não só com a vitória final da seleção em campo, mas, fora dele, com um evento capaz de encher os olhos do planeta.

Fantasmas ao meio-dia - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 07/03/12

A propósito do crescimento da insatisfação entre os militares da reserva que consideram a criação da Comissão da Verdade "um ato de revanchismo", o historiador Carlos Fico resumiu a ópera em entrevista ao jornal O Globo.

Para ele, os militares erraram ao contestar a legitimidade da Comissão da Verdade, mas também faltou ao governo serenidade quando ameaçou puni-los.

Por lei, os inativos têm o direito a manifestações, vedado aos da ativa. Portanto, punições ensejariam ações na Justiça o que, segundo o historiador, seria "receita certa para a crise".

Sugeriu uma solução que com uma semana de atraso o ministro da Defesa, Celso Amorim, resolveu adotar: deixar nas mãos dos comandantes das três Forças possíveis providências à luz do estatuto militar e ponto final.

O senador Aloísio Nunes Ferreira (PSDB), relator do projeto quando da aprovação da Comissão da Verdade no Congresso, considera a melhor saída e, embora como oposicionista pudesse cobrar de Amorim a manutenção da ameaça como sinal de afirmação de autoridade, não vê utilidade em alimentar um problema criado inutilmente.

Pelo seguinte: não foi a primeira e certamente não será a última vez que os militares da "antiga", integrantes do regime de exceção, reagem a atos de busca de reparação, ainda que nos limites da Lei da Anistia de 1979.

Foi assim no governo Fernando Henrique, quando da criação da comissão que instituiu o pagamento de indenizações aos prejudicados pela ditadura e do grupo criado para identificar mortos e desaparecidos no período.

E assim foi de novo quando o então presidente Lula decidiu criar a Comissão da Verdade para levantar informações sobre agressões aos direitos humanos pós-1964, por motivação política.

Para deixar bem claro o caráter informativo da comissão, a lei explicita que não terá poder jurisdicional nem persecutório. Zelo simbólico, pois o primeiro cabe ao Judiciário e o segundo ao Ministério Público.

Houve, na visão de Aloísio, falta de habilidade do governo na reação - "acabou levando o manifesto às primeiras páginas ao falar em punições" - e ausência de percepção de que o tom do documento é representativo de uma cultura superada pela prática da democracia.

Os militares "de ontem" vivem sob o fantasma do revanchismo. Mas, os de hoje não sonham mais com soluções autoritárias. Querem orçamento decente, reaparelhamento das Forças Armadas, salários condizentes, atualização tecnológica e valorização profissional.

Mais que uma crise, o que se tem, portanto, é um choque de gerações.

Mas, se de um lado há temores e de outro, tremores - ambos referidos no passado ainda não passado a limpo -, isso não pode atrapalhar o trabalho da Comissão da Verdade?

"Pode", reconhece o senador, que só vê uma solução para encerrar o assunto: a prática. "É criar a comissão o quanto antes e cuidar de que ela trabalhe dentro das balizas da lei."

Prospecção. O PSB avisou que só decidirá sobre a aliança em São Paulo em junho porque quer ganhar tempo para ver se Lula poderá ou não atuar como ator principal na campanha.

Quer também aguardar a armação final dos jogos do PT e do PSDB País afora e, em decorrência desses dois fatores, vistoriar as estradas que levam a 2014.

Qualquer que seja a decisão, a possibilidade de intervenção da cúpula na seção paulista do partido é quase nula. Não combina com a reza cotidiana do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, no altar na conciliação.

Remendo. Se, como disse o ministro/bispo, Marcelo Crivella, Fernando Haddad não teve nada a ver com a decisão do Ministério da Educação de patrocinar campanha anti-homofobia nas escolas, a emenda saiu pior que o soneto.

Á época ministro, Haddad seria, na versão de Crivella, o último a saber das decisões tomadas em sua pasta.

Ladrões de bicicletas - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 07/03/12


Lamento do fundo do meu coração a morte da ciclista Juliana Dias, vítima da mal politizada e ainda não discutida barbárie do trânsito brasileiro; ao mesmo tempo em que faço uma homenagem ao grande cineasta e ator Vittorio De Sica usando o título do seu célebre filme, realizado em 1948, que retrata uma Itália pós-guerra, vivendo um duro cotidiano de reconstrução de sua sociedade, de sua vida política e do seu sistema econômico, para escrever estas notas.

Para quem não sabe, lembra ou viu, o filme gira em torno de um desempregado que consegue trabalho como colador de cartazes, com a condição - por causa da mobilidade necessária ao serviço - de possuir uma bicicleta! Parece familiar, não é verdade? Para tanto, sua mulher empenha a roupa de cama da casa para obter a bicicleta, cujas frágeis rodas e a força do seu dono e piloto são as asas da esperança do herói do filme para a competição por um emprego na rua.

A história é contada no que se convencionou chamar de neorrealismo, porque não era realizado num estúdio, não tinha o lirismo falso e fácil de Hollywood nem lançava mão de atores famosos. Usando uma cinematografia modesta, quase humilde, que inspirou o cinema novo de Glauber Rocha, Carlos Diegues, Nelson Pereira do Santos e Joaquim Pedro de Andrade, entre outros, De Sica conta como uma simples bicicleta - esse objeto de esporte e lazer - muda de significado e passa a ser um instrumento crítico de sobrevivência, de esperança e de recuperação da honra pessoal. Essa honra cuja marca, para quem é obrigado a trabalhar duro - como, aliás, é o meu caso -, tem como pano de fundo a fragilidade e como centro o temor do desequilíbrio.

Exatamente como ocorre quando andamos de bicicleta sem usar as duas mãos e podemos cair ou ser atropelados, pois toda bicicleta é um fator de risco. Seja pelo requerido equilíbrio, seja pela presença dos veículos motorizados, seja pela desesperada busca do ladrão, como ocorre no filme. Eis uma belíssima metáfora da vida na qual todos somos meros ladrões ou perdedores de bicicletas e nelas passamos desiquilibradamente a nossa existência.

* * * *

Neste Brasil contemporâneo somos todos - como motoristas - especialistas em roubar a vida de pedestres e ciclistas.

De fato, no dia 2 de março, perdeu a vida em São Paulo a bióloga, pesquisadora e cicloativista Juliana Dias, de 33 anos. Ao saber de sua morte em plena rua - abraçada pela crua e nua impessoalidade que marca as ruas de todas as grandes cidades, mas transforma em barbárie as deste nosso gentil Brasil -, voltei a me perguntar se não era um conto do vigário a publicidade realizada em torno do transporte de bicicleta num contexto urbano, onde o trânsito é dominado por uma forma de comportamento brutal e selvagemente agressivo.

Como andar de bicicleta em cidades nas quais motoristas têm como esporte atropelar - pela ordem, pedestres, ciclistas e motociclistas, esses últimos com plena legitimidade, os dois primeiros porque a rua não lhes pertence? Todos, porém, porque são figuras menores numa visão desigual do espaço público. Um espaço que é pessoalmente demarcado de acordo com o tipo de veículo, a agenda do dono do carro, bem como as suas circunstâncias de vida, de tal modo que ninguém deixa de ser - exatamente como no filme de De Sica - um vil ladrão de bicicletas e das vidas que as fazem funcionar. Pois, se os automóveis são movidos a cavalo e dirigidos por déspotas, as bicicletas - até prova em contrário - são tocadas por idealistas e ingênuos, esses inocentes que acreditam no respeito às normas e aos outros.

Pergunto se não seria uma urgência urgentíssima fazer uma campanha maciça, dura e realista, mostrando claramente a nossa resistência à cordialidade que sem dúvida é nossa, mas que deve ultrapassar as fronteiras da casa e do coração, para ser aplicada ao mundo da rua e a todos os que conosco compartilham o espaço urbano. Tal extensão do respeito pelo outro no mundo público chama-se igualdade! Esse valor a ser implementado pela polícia e pela lei, mas ao lado de uma conscientização de nossas alergias às situações igualitárias e o nosso pendor às diferenciações que excluem os "homens bons" ou a "gente boa" das regras, sendo a marca de quem detém alguma forma de fama, celebridade, "você sabe com quem está falando?" e, bem acima de tudo, poder político!

Sem uma renúncia ao despotismo hierárquico que permeia de cabo a rabo o cotidiano brasileiro, e do qual o governo continua a ser o melhor exemplo - andar de bicicleta num trânsito desregulado pela confusão cultural (veja, caro leitor, o meu livro Fé em Deus e Pé na Tábua) entre igualdade e desigualdade (o sinal e o bom senso valem para todos, menos para nós, motoristas de ônibus, altos funcionários do Estado ou donos de "carrões") -, estaremos promovendo mortes brutais, jamais o velho, limpo e mais do que desejável andar de bicicleta!

Reitero à família da Juliana, ciclista símbolo da fé na igualdade, o meu pesar e a minha solidariedade.

Desvio no FGTS - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 07/03/12


As centrais sindicais dos trabalhadores e de empresários protestaram ontem, na reunião do Conselho Curador do FGTS, contra a decisão do governo Dilma de se apropriar de R$ 3 bilhões do fundo para que o Tesouro cumpra a meta de corte de R$ 55 bilhões no Orçamento da União de 2012. Eles protestaram porque esse uso dos recursos não é previsto em lei, porque o Conselho Curador não foi consultado e porque o governo não prevê qualquer remuneração pelo uso desse dinheiro.

Aberta a porteira para outros desvios
Os representantes da sociedade no Conselho Curador do FGTS decidiram colocar a boca no mundo porque temem que esta passe a ser uma prática recorrente do Poder Executivo: utilizar os recursos destinados a projetos de infraestrutura básica, voltada para o crescimento da economia do país, para ajustar os gastos com a máquina pública. O representante do Ministério da Fazenda, Marcus Pereira Aucélio, confirmou a decisão mas não soube informar qual será a remuneração que o Fundo terá pelo uso desta verba. O ministro Paulo Roberto dos Santos Pinto (Trabalho) subiu no muro e sugeriu que o tema voltasse a ser debatido.

"Vocês estão preocupados com o PMDB? O partido votou a favor do Funpresp. Quem votou contra o governo foram o PDT e o PSB” — Michel Temer, vicepresidente da República e presidente licenciado do PMDB, para a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais)

EDUCAÇÃO NO CAMPO. O ministro Aloizio Mercadante (Educação) vai anunciar mudanças no sistema de educação rural. Está prevista a adoção da chamada “pedagogia da alternância”, que mescla períodos de internato na escola com outros em casa, principalmente nas épocas de plantio e colheita. O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, oferecido pelo Incra nos assentamentos, vai ser reconhecido pelo MEC. 

Ineditismo
Em ano de Rio+20, os ambientalistas vão presidir pela primeira vez a Comissão de Meio Ambiente da Câmara. O presidente será o deputado Sarney Filho (PV-MA), ex-ministro do Meio Ambiente no governo Fernando Henrique Cardoso.

Aí tem
Ao responder à consulta do TSE sobre a pretensão do PSD de ter direito a tempo de propaganda no rádio e na TV, o PSB manifestou-se a favor. Foi o único a não ficar contra o PSD. O namoro do governador Eduardo Campos e do prefeito Kassab já rendeu.

Código Florestal: governo dividido
Enquanto a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) trabalha para aprovar o texto do Código Florestal votado pelo Senado, o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) atua para derrubar o texto dos artigos 1º, 3º, do parágrafo 2º do artigo 16, e 1º do artigo 64. Os dois ministros só trabalham juntos para acelerar a votação. Ontem, o Planalto passou a fazer uma ameaça com este objetivo: a de que a presidente Dilma não prorrogará mais uma vez o decreto que anistia os desmatadores.

Resistências
As bancadas do Espírito Santo, Goiás e Santa Catarina também são contra o projeto que uniformiza em 4% a alíquota de ICMS nas operações interestaduais com produtos importados. O governo quer votar no Senado até o final do mês.

Opção
Apesar da pressão de seu partido, o ex-senador Heráclito Fortes (DEM-PI) resiste a disputar a Prefeitura de Teresina. Prefere concorrer para deputado federal e ajudar a puxar votos para aumentar a bancada do partido na Câmara.

O VICE-PRESIDENTE Michel Temer chamou ontem, ao Jaburu, para um almoço tête-à-tête, o vice-presidente de Pessoas Físicas da CEF, Geddel Vieira Lima.

A CUT perdeu as eleições para o Conselho de Administração da Petrobras. Foi eleito, para representar os funcionários da estatal, o presidente da Associação dos Engenheiros, Silvio Sinedino.

O PRESIDENTE do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), vai a Porto Alegre amanhã apoiar a candidatura do ex-deputado Ibsen Pinheiro à prefeitura. O diretório local quer apoiar a reeleição de José Fortunati (PDT).

O PIB da ineficiência - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 07/03/12


Baixo crescimento, alta inflação e piora das contas externas marcaram a economia brasileira em 2011. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7%, segundo o cálculo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação chegou a 6,5% e bateu no teto da meta. Foi impulsionada não só pela alta dos preços internacionais de petróleo, metais e produtos agrícolas, mas também por uma forte demanda de consumo. Além disso, pioraram as transações com o exterior. A receita de exportações de bens e serviços elevou-se 4,5%, enquanto a despesa com importações subiu 9,7%. Mais uma vez o setor externo deu uma contribuição negativa para o PIB, subtraindo 0,7% do crescimento. Essa tendência, observada há alguns anos, deve acentuar-se neste ano, a julgar pela evolução do comércio exterior brasileiro no primeiro bimestre e pelas projeções tanto oficiais quanto do setor privado.

Se dependesse apenas da demanda interna, a economia brasileira teria crescido 3,4%, de acordo com os dados do IBGE. Mas a indústria foi incapaz de atender ao apetite dos consumidores, por causa dos custos elevados e da valorização do real. Com o real valorizado, os produtos nacionais ficam mais caros, quando seu preço é convertido em dólares ou euros. Além disso, o dólar barato estimulou as viagens ao exterior, bem como as remessas de lucros e dividendos, e também esses fatores pesaram nas contas.

Houve um claro descompasso na economia brasileira. O consumo das famílias cresceu 4,1%, impulsionado pela expansão do emprego, pelo aumento de 4,8% da massa de salários reais e por empréstimos pessoais 18,3% maiores que os do ano anterior. Enquanto isso, a produção industrial avançou apenas 1,6% - deslocada pela competição estrangeira - e a de serviços, 2,7%. A inflação teria certamente superado a marca de 6,5%, se a importação não tivesse coberto uma parcela considerável da demanda dos consumidores.

O governo aponta como dado positivo a expansão de 4,7% no investimento em máquinas, equipamentos, construções e obras públicas. O crescimento do PIB, segundo o discurso otimista, foi puxado pela aplicação de recursos no fortalecimento da capacidade produtiva e, portanto, o Brasil está no caminho certo. No entanto, o investimento, equivalente a 19,3% do PIB segundo as contas do IBGE, continua longe do necessário para um crescimento econômico igual ou superior a 5% ao ano sem pressões inflacionárias e sem grave desequilíbrio externo.

Esse nível mínimo de investimento, segundo cálculos correntes entre profissionais independentes e economistas do governo, deve corresponder a uns 24% do PIB. Mas a diferença entre o valor investido nos últimos anos e o mínimo desejável não é o único problema, quando se trata do objetivo de ampliar e modernizar a capacidade produtiva. A poupança interna ficou em 17,2% do PIB, no ano passado. A diferença entre o valor poupado e o investido foi coberta com recursos externos.

Em princípio, não há problema na captação de poupança estrangeira para investir. Mas a distância entre a poupança atual e a necessária para um crescimento sem risco de grandes desajustes também é muito ampla. Isso se deve principalmente à propensão do governo para a gastança. Essa propensão limita a capacidade de poupança do setor público e, ao mesmo tempo, dificulta qualquer revisão séria do sistema tributário. Impostos excessivos e mal concebidos encarecem a compra de máquinas e equipamentos e acabam limitando também o investimento privado.

A baixa taxa de poupança, especialmente do setor público, dificulta a redução do juro real no Brasil e também isso impõe restrições importantes às políticas de reforço produtivo das empresas. Essa constatação foi confirmada há poucos dias por um estudo de economistas do Fundo Monetário Internacional. Em suma: os dados da economia brasileira em 2011 apontam para algo mais grave que problemas conjunturais. Refletem deficiências associadas a um padrão de governo ineficiente e perdulário. O País pode voltar a crescer mais que em 2011, mas dentro de limites estreitos, enquanto aquele padrão persistir.

GOSTOSA


O ''descuido'' dos magistrados do TJ-SP - ELIO GASPARI


O GLOBO - 07/03/12

O repórter Flavio Ferreira mostrou que, nos últimos dez anos, desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo receberam seus atrasados acrescidos de juros de 1% ao mês. A taxa deveria ter sido de 0,5%. Dias depois, o presidente da Corte, Ivan Sartori, disse que isso aconteceu porque "o tribunal, simplesmente, por descuido, deixou de rever essa forma de correção (os juros de 1%) quando vieram leis específicas da Fazenda".

Descuido? Com juros compostos não se brinca. Conta lenda que, em 1676, os holandeses compraram a ilha de Manhattan aos índios pelo equivalente a 24 dólares. A juros compostos de 7,4% anuais, hoje esse dinheiro seria suficiente para comprar todo o patrimônio imobiliário da ilha.

As cifras recebidas por 29 desembargadores paulistas investigados porque teriam furado a fila de acesso às indenizações sempre soaram esquisitas. Um milhão para cá, R$ 500 mil para lá. Os magistrados tinham direito ao dinheiro. Afinal, em 2000, o auxílio-moradia dado aos parlamentares foi estendido aos juízes e, oito anos depois, foi reconhecido um crédito retroativo para período de setembro de 1994 a dezembro de 1997. O auxílio-moradia para desembargadores que viviam e trabalhavam em São Paulo ficou entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil mensais.

Num exemplo hipotético, com juros de 0,5% ao mês, uma pessoa que fosse indenizada por quantias idênticas, pelo mesmo período de 40 meses, num cálculo feito ao final de dezembro 2010, receberia entre R$ 244.644,31 e R$ 293.573,17. Se os juros fossem de 1%, a fatura ficaria entre R$ 597.860,10 e R$ 717.432,12.

A teoria do "descuido" é pobre. Não foi um erro de conta. Se fosse, teria ocorrido "simplesmente" um constrangedor e bondoso equívoco. Foi uma transgressão. As "leis específicas da Fazenda" mandavam uma coisa - juros de 0,5% - e o tribunal distribuiu o dobro. Se a lei fixa uma taxa e os desembargadores usufruem de outra, abala-se a confiança que a patuleia deposita em suas sentenças.

Vá lá que todos os desembargadores vissem no estacionamento da Corte o Porsche Cayenne do presidente do Tribunal que autorizou esses pagamentos. Vá lá que se desse aos desembargadores que vieram da advocacia privada o direito de receber licenças-prêmio da Viúva pelo tempo em que trabalhavam em bancas particulares. Vá lá que, por necessidades especiais, 29 afortunados passassem à frente dos outros 324 magistrados. Vá lá que entre essas necessidades estivesse a reforma de um apartamento inundado pela chuva. Esquisito, porém legal; juros dobrados, não.

Não custa repetir o ensinamento do juiz Louis Brandeis: "A luz do sol é o melhor desinfetante". O Tribunal de Justiça de São Paulo precisa divulgar todos os nomes, cifras e cálculos que guarda consigo. Fazendo isso, o Judiciário será o maior beneficiado. Do jeito que estão as coisas, arrisca-se um pesadelo: um dia, desembargador deixar de ser título, tornando-se adjetivo.

- Erros:

1) Ophir Cavalcante, presidente da OAB, é procurador licenciado do Estado do Pará. Ele não integra o quadro do Ministério Público paraense.

2) Raymundo Faoro não era presidente da OAB ao tempo da campanha das Diretas Já. A essa época a instituição estava a cargo de Mário Sérgio Duarte Garcia. Faoro presidiu a Ordem de 1977 a 1979.

Desembargador é um substantivo, designa uma relevante função, seria terrível se virasse adjetivo.

Contradições presidenciais - ROSÂNGELA BITTAR


Valor Econômico - 07/03/12


A presidente Dilma decidiu, pelo menos em teoria, não interferir nas eleições municipais. Na prática, até este momento do calendário, já interferiu, e muito. O que seria a nomeação de Marcelo Crivella para dirigir o espetaculoso e inócuo ministério da Pesca senão o objetivo de arrefecer o discurso negativo dos evangélicos sobre o desempenho do ex-ministro da Educação, agora candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad? O que seria essa nomeação de um bispo-senador do partido da Igreja Universal, que fez contrariada, justificando-se pela dispensa do antecessor, e aos prantos, senão o instrumento para afastar da disputa com Fernando Haddad o candidato do PRB, Celso Russomano?

Não tem a presidente para onde fugir da evidência: querendo ou não dar seu peso à disputa, acabará dando, pois já deu. Líquida e certa será a consequência, pois, mesmo que de forma tardia, a presidente sofrerá alguma multa por sua interferência no pleito.

É justamente isso - a humilhação da multa pela transgressão - que gostaria de evitar não participando de forma tão clara. A mais de um interlocutor a presidente já disse que não gostaria de maneira alguma de passar pelo que passou o ex-presidente Lula. Considera humilhação desnecessária e insuportável receber multa do tribunal por praticar irregularidade, assim, à luz do dia e em praça pública.

Dilma oscila na teoria sobre apoio à campanha de aliados

Dilma contou a amigos que a multa do TSE a Lula por participação irregular em campanhas eleitorais, em 2004, foi uma das piores coisas que já viu no mundo da política. Ela, disse, não seria multada pelo TSE, não considera adequado. Mas resistir à campanha, quem há-de?

Lula, que nunca deixou de fazer campanha, a palanqueira genuína, do primeiro ao último dia de governo, sem demonstrar constrangimento ou um fio depreocupação, não registrou o revés sofrido, se é que considera a multa um revés. Dilma, não. Sabe que se for punida ficará mal. O valor simbólico da multa, de R$ 5 mil, é mais humilhante ainda.

Nunca é tarde, mas a preocupação da presidente, se servir ao controle do seu comportamento, deve funcionar, se funcionar, só para o futuro, pois multada ela já foi. O Tribunal Superior Eleitoral suspendeu o programa eleitoral gratuito do PT, previsto para este semestre, no rastro de uma multa ao ex-presidente Lula e também à presidente Dilma Rousseff. No valor de R$ 5 mil cada. Simbólico, sim, mas a presidente perdeu a condição de neófita na transgressão.

A avaliação da presidente é que seria uma besteira entrar de cabeça na disputa municipal. Primeiro, porque não é obrigada a isso. Segundo, porque vai amealhar muitas vitórias, mas sofrerá derrotas desnecessárias.

É impossível ficar completamente distante, mas vai tentar. Já avisou que não interferirá em Porto Alegre, seu berço político, onde tem três aliados disputando as eleições. Lugares onde há oposicionistas aguerridos na disputa, como Rio e São Paulo, por exemplo, ela pode dar mais peso à campanha dos aliados, mesmo que sejam muitos. Anote-se aqui mais uma contradição, pois Dilma assegurara, antes das disputas chegarem precocemente ao calor de hoje, que não participaria da campanha em locais onde aliados no plano federal disputam entre si.

O que se diz, afinal, ao seu redor, é que não vai queimar noites de sono, não selará compromissos. Mas vai fazer "o que estiver a seu alcance", e isso é muito. O candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, por exemplo, ela já ajudou e ajudará de várias formas, como aquela nomeação de Crivella para o time ministerial. Mas não considera o candidato responsabilidade sua. Eleger Haddad é compromisso e responsabilidade de Lula, afirma-se em gabinetes ministeriais próximos à presidente.

As análises supostamente técnicas que se apresentam à presidente lhe dão também esse conforto. Especialmente com relação a São Paulo. Diz-se a ela, de Gabriel Chalita, por exemplo, que é tucano, e por isso tirará votos de José Serra. "Se Chalita sair para apoiar Lula, não é Serra que cresce?" - perguntam-se os aprendizes de feiticeiro. Da mesma forma que se pergunta, também, quem ganharia com a saída de Netinho (PCdoB) e Celso Russomano (PRB), desta disputa.

"Isso tem que ser medido, pois no segundo turno são todos contra Serra", conclui o analista, dando a eleição paulistana como fava contada.

É fato que Dilma já entrou na disputa municipal. Com o discurso de que não quer entrar.

Multiplicam-se as brigas entre ministros e seus secretários executivos no governo Dilma. À já conhecida disputa de poder entre Guido Mantega e Nelson Barbosa, no Ministério da Fazenda, alinha-se uma outra que, segundo testemunhas, é pior porque deixa mais amigos tombados: a briga entre Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, e Alessandro Teixeira, Secretário Executivo do Mdic, já está no octógno.

O julgamento do mensalão atinge o humor do Palácio do Planalto por um de seus efeitos diretos sobre o governo Dilma. Se o ministro Ricardo Lewandowsky conseguir empurrar a votação para as calendas, como está sendo percebido seu movimento pelo público interessado, e os ministros Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto saírem do STF por expulsória dos 70 anos, o primeiro em setembro e o segundo em novembro, sem deixar os seus votos sobre o caso, é a presidente quem vai ficar com o ônus de definir o julgamento. Dilma terá que substituir Peluso e Ayres. Sofrerá pressões brutais para substituí-los por opiniões mais amenas aos mensaleiros, a quem interessa, claro, protelar o veredito.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 07/03/12
Odontologia é o único setor com superavit na indústria médica

O segmento de odontologia foi o único superavitário na indústria médico-hospitalar no ano passado, de acordo com dados da Abimo (associação do setor).

As vendas brasileiras foram superiores às compras em US$ 6,3 milhões. O valor do superavit do segmento, porém, representou apenas 25% do obtido em 2010.

"A queda ocorreu devido à valorização do real. A tendência é que esse segmento continue a ser superavitário", diz Paulo Henrique Fraccaro, diretor da entidade.

Alemanha, Estados Unidos, Venezuela e Argentina foram os três principais mercados compradores, com 18,3%, 7,7%, 5,9% e 5,2% do total, respectivamente.

A balança comercial do setor médico-hospitalar brasileiro, porém, foi negativa em US$ 3,4 bilhões, sendo que as exportações foram de cerca de US$ 707,1 milhões.

O segmento voltado para laboratórios foi o que apresentou maior deficit, de US$ 972,6 milhões.

Dos produtos brasileiros vendidos para o exterior em 2011, 94,9% foram fabricados no Sul e no Sudeste.

Essa concentração deverá se manter nos próximos três anos, segundo a associação.

"Os incentivos oferecidos em outras regiões não são suficientes para atrair as empresas que já produzem aqui, pois a mudança é muito complexa", afirma Fraccaro.

"Essa medida atrai apenas as estrangeiras que ainda pretendem vir ao Brasil."

Empresa estrangeira é o pior competidor de private equity

"Estamos vendo cada vez mais competidores estratégicos em busca de aquisições. Para os financeiros nunca perdemos nenhum negócio", diz Juan Carlos Felix, diretor do Carlyle no Brasil, ao comentar que as negociações ficaram mais acirradas com a entrada de novos fundos de private equity (participação em empresas) no país.

"Temos mais medo dos estratégicos que querem entrar no Brasil do que dos outros de private equity", afirma.

Empresas estrangeiras que já atuam nos setores cobiçados pelos fundos vêm agora ampliar seus mercados. Passaram, então, a competir por oportunidades de aquisição.

"Eles geralmente têm mais apetite para comprar", diz.

O fundo tem US$ 1 bilhão para investir em dez companhias no Brasil. Após anunciar a quarta aquisição, da Ri Happy, na semana passada, o Carlyle tem outras empresas em negociação, com plano de fechar mais um negócio até o final de 2012.

"Os anos 1980 foram a década de ouro para o private equity nos Estados Unidos. Isso é o que ocorre agora no Brasil, onde as empresas crescem cerca de 30%, como não acontece lá há muito tempo."

Devem entrar em operação neste ano outros fundos do Carlyle, no Peru e na África do Sul para, assim como no Brasil, procurar chegar antes dos concorrentes.

"Para cada empresa que compramos, olhamos 150 e em cada três 'due dilligences' [auditoria em dados da empresa à venda], ficamos com 50%"

"Queremos que as pessoas que trabalham conosco, muitas delas entre 25 e 30 anos, saiam da bolha da Faria Lima e aprendam com esse trabalho social"

FORA DA BOLHA

O Carlyle vai lançar uma instituição para realizar investimento social. A ideia é aplicar em ONGs dedicadas a educação no Brasil.

Os recursos virão voluntariamente das próprias empresas do fundo, além de participações de funcionários do Carlyle. Também participam colaboradores como Ernst & Young Terco, McKinsey, Mattos Filho e Pinheiro Neto.

Serão investidos de US$ 3 milhões a US$ 6 milhões ao ano em cerca de cinco instituições. "Como fazemos com nossas empresas, vamos acompanhá-las e renová-las a cada cinco anos", diz. "A educação deve ser considerada investimento, e não gasto."

Taxa para investimento

A taxa baixa de impostos é o principal atrativo para companhias fazerem investimentos diretos em outros países.

De 315 empresas ouvidas pela EIU (Economist Intelligence Unit), 46% citaram os tributos em primeiro lugar.

Em seguida, apareceram os acordos entre os países contra bitributação (34%) e as regras de taxação do preço de transferência (23%).

O levantamento também mostra que as condições oferecidas pelo Brasil são consideradas atraentes por 13% dos entrevistados.

A pesquisa analisou ainda as fontes de informação utilizadas pelas empresas para decidirem seus investimentos. Profissionais como advogados e contadores (52%) e jornais especializados (33%) são os mais procurados.

QUEDA NA CONFIANÇA

A confiança econômica dos brasileiros caiu dois pontos em fevereiro de 2012, ante janeiro, segundo a Associação Comercial de São Paulo.

O resultado foi o segundo melhor desde 2010. "Até junho, o índice ficará perto de 175 pontos e, no fim do ano, aumentará", diz Rogério Amato, presidente da entidade.

A pesquisa, feita entre 20 e 29 de fevereiro, foi produzida por meio de mil entrevistas.

Arte estilo exportação

Apesar da valorização do real, as exportações brasileiras de arte contemporânea bateram recorde em 2011. Foram US$ 60 milhões. Até então, 2008 havia sido o melhor ano do setor, com US$ 35 milhões.

"As regras do mercado de arte são diferentes. Não estão relacionadas ao preço, mas ao interesse [pelo artista]. As vendas de 2011 têm a ver com a atual visibilidade do país", diz Mônica Esmanhotto, gerente do projeto da Apex para a Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea).