segunda-feira, setembro 17, 2012

Emitir até inflacionar - PAULO GUEDES


O Globo - 17/09


Em meio à guerra mundial por empregos, os bancos centrais anunciaram na última semana políticas monetárias ainda mais expansionistas. O Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, vai injetar mensalmente US$ 40 bilhões de liquidez nos mercados, por meio da compra de títulos lastreados em créditos imobiliários. Já o Banco Central Europeu (BCE) finalmente aprovou a compra de títulos de dívidas soberanas dos países fiscalmente frágeis da Zona do Euro. E o Banco Central brasileiro, após derrubar os juros reais para o mais baixo patamar em duas décadas, acaba de reduzir também os recolhimentos compulsórios para aumentar a oferta de crédito e diminuir o spread bancário cobrado aos tomadores de empréstimo.

Uma indicação do esforço das autoridades monetárias para reativar a economia mundial. As bolsas reagiram com entusiasmo ante o compromisso dos bancos centrais de manter a enxurrada de liquidez que levanta a maré nos mercados financeiros, a pretexto de estimular o aumento da produção e a criação de empregos no setor real.

O afrouxamento de liquidez do Fed trouxe embutidos dois preocupantes sinais. O primeiro é que não tem prazo para acabar. E o segundo é que o Fed designou a taxa de desemprego, e não mais a de inflação, como meta operacional.

Já sabíamos informalmente que Ben Bernanke ia despejar dinheiro de um helicóptero até eventualmente inflacionar a economia americana. Sua política monetária tem sido " reflate until it inflates ", ou seja, vai emitir até inflacionar. Isso é algo que ele tecnicamente pode fazer. Mas o que está anunciando agora, que vai manter as taxas de juros em níveis extraordinariamente baixos por tempo extraordinariamente longo, para reduzir permanentemente a taxa de desemprego, é algo que ele tecnicamente não pode prometer.

"O que a política monetária não pode fazer? Das infinitas limitações da política monetária, destaco duas: 1) não pode manter juros excessivamente baixos a não ser por períodos muito curtos; 2) não pode reduzir a taxa de desemprego, a não ser por períodos muito curtos", alertava no clássico "O papel da política monetária" (1967) o Prêmio Nobel de Economia Milton Friedman, tantas vezes equivocadamente evocado pelo "homem do helicóptero" Ben Bernanke.

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