sábado, junho 02, 2012

O preço da CPI - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 02/06


Depois de um início bastante emperrado, a CPI do caso Cachoeira dá mostras de ativar-se. Contra as expectativas dos observadores mais céticos, a comissão investigativa votou a quebra do sigilo da construtora Delta no plano nacional, e não apenas no ramo Centro-Oeste de suas operações.

Com isso, abre-se caminho para que as relações entre o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e o dono da empreiteira, Fernando Cavendish, sejam examinadas mais de perto no futuro próximo.

Se Cabral foi poupado de prestar depoimento, deu-se, todavia, outro passo inesperado com a convocação, a princípio evitada, dos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF). É a situação do governador tucano que se apresenta mais complicada no noticiário dos últimos dias, com novas revelações a respeito de seu envolvimento com os negócios do esquema Cachoeira.

Neste aspecto, a criação da CPI estaria de fato rendendo frutos positivos para o ex-presidente Lula, a quem se atribui o desejo de ajustar antigas contas com Perillo e, ao mesmo tempo, de desviar as atenções do público às vésperas do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).

O comportamento de Lula, entretanto, acumula mais equívocos do que sinais de astúcia política. Da sua iniciativa de encontrar-se com o ministro Gilmar Mendes, do STF, só resultou o exacerbamento das pressões em favor do pronto julgamento do caso e o repúdio a tentativas de intimidar o Judiciário.

Enquanto isso, os trabalhos da CPI vão aprofundando as dissensões na base do governo -e dentro do próprio petismo. Partidos aliados, como sempre em busca de cargos e verbas na administração federal, descobrem na pauta das convocações uma arma de pressão. Vem daí a ameaça de convocar, além de Agnelo Queiroz, duas figuras do grupo dilmista -a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra- para explicar os muitos contratos da construtora Delta no PAC.

O jogo da CPI vai sendo regido, desse modo, mais por um equilíbrio entre forças políticas comprometidas com as próprias irregularidades do que por uma direção unívoca nas investigações. As turbulências nesse equilíbrio elevam, por assim dizer, o preço das apostas -e o custo, para o governo federal, das barganhas a serem feitas com a própria base. Nesse ambiente, o bate-boca entre parlamentares não é o que se vê de mais desmoralizador para o Congresso.

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