terça-feira, novembro 08, 2011

ANCELMO GOIS - BC é para apertar


BC é para apertar
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 08/11/11

O “Financial Times”, baluarte do conservadorismo, criticou duramente a proposta aprovada na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, de autoria de Lindberg Farias, que incluiu nas atribuições do Banco Central o “estímulo ao crescimento e à geração de empregos”.

Contra a injustiça
Fernanda Montenegro e Xuxa já confirmaram presença na manifestação de quinta em defesa dos royalties do Rio.

Arco-íris também...
O programa Rio Sem Homofobia mobiliza gays, transexuais e travestis para a passeata contra a tunga dos royalties.

Meu nome não é...
A 16ª Câmara Cível do Rio negou indenização de R$ 2,8 milhões cobrada por Walter Luiz de Carvalho do jornalista Guilherme Fiúza, autor do livro “Meu nome não é Johnny”. Carvalho alega que o personagem Alex, paraplégico vivido por André di Biase no filme baseado no livro, foi inspirado nele.

A força do ex
Em pouco mais de dois meses, Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, ajudou a emplacar dois nomes nos céus de Brasília. Primeiro foi Mendes Ribeiro, no Ministério da Agricultura. Agora, a ministra Rosa Maria Weber Candiota, no STF.

Caviar de Danuza
De Danuza Leão, em seu novo livro (o seu sexto), “É tudo tão simples”, que a Ediouro manda para as livrarias quinta-feira agora:
— Caviar é tão bom que a gente devia comer... nua.
Há controvérsias. 

Gadú.com
Maria Gadú, a cantora, lança este mês seu novo CD, “Mais uma página do mesmo livro”, e a música “Axé acappella” já pode ser baixada em mariagadu.com.br.
Só na Itália, como se sabe, seu sucesso “Shimbalaiê” foi baixado por 30 mil pessoas.

Furacão Elis
A LeYa lança em janeiro uma edição ampliada de “Furacão Elis”, de Regina Echeverria.
É para marcar os 30 anos da morte da cantora (1945-1982).

A vida resiste
Nasceu Ketamyna Atroari, a 1.500ª índia da comunidade Waimiri Atroari, na divisa de Amazonas e Roraima, perto do lago da Hidrelétrica de Balbina. A tribo quase acabou. Em 1988, eram só 374 índios e morriam, em média, 20% ao ano. Hoje, a taxa de natalidade é de 6%, graças a um programa da Eletrobras Eletronorte e da Funai.

Natal em casa
O Conselho Nacional de Justiça faz um mutirão para analisar 26 mil processos de presos no Rio. A Defensoria Pública já descobriu que cerca de 3 mil detentos têm direito à progressão de regime.

Dança das cadeiras
O arquiteto Carlos Fernando Andrade vai deixar a Superintendência do Iphan do Rio dia 31 de dezembro.

Transplante no Rio
O Pró-Cardíaco, no Rio, começará a fazer transplante de fígado pelo SUS em 30 dias.

Afugenta empresa
Quinta agora, alunos da PUC-Rio farão um ato, às 10h, contra a decisão da universidade de cobrar uma taxa das empresas que contratam seus alunos como estagiários. A taxa é de R$ 60 por jovem.

Canecão vive
O Canecão carioca fechou, mas um primo gringo da finada casa de espetáculos do Rio resiste em... Londres.
Anima as noites de Islington um pub chamado “Canecão, the brazilian pub in London”.

Marcha do Tiririca
Tiririca, o deputado, virou tema de marchinha de carnaval no concurso da Fundição Progresso, no Rio, com inscrições até quinta. Diz a letra de Bira do R: “Papai quer que eu estude/Papai, vou estudar pra quê?/Na eleição, venho como deputado/Vou ganhar mais que você.” É. Pode ser.

LUIZ GARCIA - A força do eleitor


A força do eleitor
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 08/11/11

Para os mais ingênuos da arquibancada, a exigência de honestidade nos candidatos a mandatos públicos é óbvia e inevitável. Na prática, até agora, não foi possível garantir a validade da Lei da Ficha Limpa, instrumento legal nascido de um inédito movimento da opinião pública brasileira. Mas isso não está longe.

A esta altura, tudo depende de uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o instrumento legam que proíbe as candidaturas de cidadãos que tenham renunciado a cargos públicos para escapar de processos de cassação, ou que perderam mandatos em decisões de segunda instância. Pelo que se sabe, seis dos dez ministros do STF consideram a lei constitucional - concordando, portanto, com o que pensa a maioria pensante dos cidadãos.

Mas o que se sabe não é sempre o que acaba prevalecendo, ou o que basta. A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, declara inelegíveis os cidadãos condenados pela Justiça por desonestidade no exercício de função pública, mesmo - e é um "mesmo" de peso considerável - que tenham o direito de recorrer da sentença. É uma novidade bastante importante: a legislação atual só determina a inelegibilidade quando não há mais possibilidade de recurso a instâncias superiores da Justiça.

Amanhã, a opinião pública ficará sabendo se esse vago "que se sabe" corresponde mesmo à realidade. Alguns ministros do STF, por exemplo, sustentam que não seria justo considerar inelegíveis cidadãos que renunciaram a seus cargos ou mandatos antes da vigência da nova lei. O ministro Marco Aurélio Mello, por exemplo, disse que a lei existe para o futuro e não "para apanhar o passado". Pode ter razão, mas com certeza não é o que pensa a opinião pública. O movimento popular que tomou conta do país e praticamente obrigou o Congresso, em legítima defesa, pode-se dizer, sem muito exagero, a aprovar as novas regras do jogo, e o então presidente Lula a sancionar a lei, queria, com certeza, apanhar passado, presente e futuro.

Seja qual for a decisão do STF, a legislação eleitoral brasileira estará melhor, aos olhos do eleitorado, com a entrada em vigor da nova lei - apanhando ou não o passado. Ninguém discute que se trata de um aperfeiçoamento na estrutura da representação popular e, portanto, na qualidade da democracia brasileira.

O eleitorado descobriu que sua força vai além do periódico exercício do direito de votar. E os políticos, espera-se, aprenderam que devem dar a essa força o respeito que ela merece.

ANTONIO DELFIM NETO - Novo Banco Central Europeu


Novo Banco Central Europeu
ANTONIO DELFIM NETO
Valor Econômico - 08/11/2011

A situação da economia mundial tem todos os ingredientes para continuar se agravando. As lideranças políticas não parecem ter a inteligência e a coragem para cortar, de uma vez por todas, o devastador processo de autoestímulos que realimenta a crescente instabilidade do setor financeiro internacional. Esses mecanismos de retroalimentação podem ser vistos, muito simplificados, no quadro abaixo.

A instabilidade do setor financeiro pode ser medida pela sua consequência mais visível, a flutuação da volatilidade do mercado acionário, que tem variado dramaticamente desde a crise de 2008. Depois da liquidação desordenada do Lehman Brothers - que manchará a história econômica como a maior manifestação de miopia e mediocridade das autoridades políticas e monetárias americanas e inglesas -, houve paralisia do crédito interbancário, que voltou a alimentar a instabilidade. A principal repercussão foi o escrutínio e a revelação que a Eurolândia escondia graves comportamentos fraudulentos. O contágio europeu voltou a alimentar a instabilidade, revelada fisicamente na imensa queda das cotações das ações em todo o mundo.

O efeito mais importante dessa queda foi a "destruição" do valor das empresas -que perderam a capacidade de tomar crédito e, no caso dos bancos, de fornecê-lo diante da necessidade de rápida desalavancagem, o que realimentou a instabilidade. Estima-se que, só nos EUA, a queda das Bolsas e a liquidação das hipotecas reduziram em US$ 7 trilhões a riqueza que as famílias supunham ter.

Todas essas retroalimentações sugerem que o sistema hoje roda sobre si mesmo, devido à quebra de confiança de cada agente com relação a todos os outros. Ele só voltará a funcionar quando ela for restabelecida por uma ação decisiva, inteligente, ampla e coordenada das políticas fiscais, monetárias e cambiais de todos os países (talvez no G-20), o que parece pouco provável, ainda.

Os efeitos desse processo sobre a economia brasileira podem ser significativos, mas são de sinal incerto e de mensuração difícil. Há um efeito direto da flutuação das bolsas internacionais sobre a Bovespa, que seguramente "destruiu" valores que a sociedade supunha ter, o que tem algum efeito sobre o consumo e sobre o investimento. Por outro lado, a instabilidade do setor financeiro tende a reduzir o crescimento real da economia mundial, e a paralisia política americana (com uma ajudazinha do Fed) tende a desvalorizar o dólar medido com relação à cesta de moeda dos países que transacionam com os EUA.

A cada desvalorização de 1% do dólar (que valoriza o real), o preço médio das commodities (CRB) tende a cair 3%, o que ameniza a pressão inflacionária. O efeito sobre as commodities pode ainda ser ampliado pela redução do crescimento da China, em consequência do desaquecimento mundial.

As incertezas são tantas que em apenas uma semana "tudo ficou melhor": as Bolsas "explodiram" diante da aparente ação "decisiva" de Merkel e Sarkozy (criação de fundo "virtual" de € 1 trilhão, de origem ainda desconhecida, e a imposição de corte de 50% da dívida grega junto aos bancos); na mesma semana; "tudo ficou pior": as Bolsas "desabaram", quando o primeiro-ministro grego Papandreou, assustado com a reação interna, sugeriu uma "consulta popular", que foi rejeitada. Tem razão Shakespeare, quando nos adverte que a vida é uma viagem perigosa!

Viagem perigosa é a que iniciou, em 1º de novembro, o excelente economista e administrador experimentado, Mario Draghi. Navegador de mar grosso, aos 63 anos é o novo presidente do Banco Central Europeu. Foi diretor do Banco Mundial durante seis anos. Tornou-se famoso nos anos 90, quando salvou a Itália do "default" como ministro do Tesouro, com duro programa de corte das despesas públicas. Fez ampla privatização e desvalorizou a lira para prepará-la para a entrada no euro. Conquistou, com isso, o título de "Super-Mario". Em 2002, foi contratado pela Goldman Sachs como vice-presidente e diretor-executivo, onde ficou até 2005. Assumiu, então, a presidência da Banca d´Italia. É, provavelmente, o economista italiano de maior reputação do mundo.

Draghi não é classificável facilmente. Foi formado por Federico Caffé, renomado e sofisticado keynesiano que desapareceu misteriosamente em 1987. Sob a orientação do célebre Franco Modigliani (Nobel, 1985), foi o primeiro economista italiano a obter um Ph.D. no MIT, onde completou a formação iniciada na Escola Jesuíta de Roma, o que diz alguma coisa.

A definição de quem o conhece bem é a de que "se trata de um economista eclético, com forte formação analítica, pragmática e experimentado no trato político". Com Draghi, o BCE será, certamente, mais arejado do que foi com o sisudo Jean-Claude Trichet. Nele vai ter que internalizar a ideia que o euro não é a moeda alemã. É da Eurolândia e tem de servir aos interesses de todos os seus membros. Já começou bem, baixando os juros...

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

ILIMAR FRANCO - Ganhar tempo



Ganhar tempo 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 08/11/11

O governo Dilma vai ter que fazer um acordo com a oposição para conseguir aprovar a prorrogação da DRU no Senado. O Planalto fez as contas e concluiu que, pelos prazos normais, o segundo turno de votação no Senado deve ocorrer em 29 de dezembro. Impossível alcançar o quorum de 49 senadores nessa data. Por isso, a saída é reduzir os prazos regimentais, o que somente poderá ser feito com a concordância da oposição no Senado.

São Paulo: PSDB dividido
Os tucanos dificilmente marcharão unidos nas eleições municipais de São Paulo, no ano que vem. O ex-governador José Serra está trabalhando intensamente para que o partido apoie o candidato de Gilberto Kassab (PSD), o vice-governador Afif Domingos. O governador Geraldo Alckmin está em dúvida sobre qual a
melhor alternativa política e, por isso, quer evitar que o partido faça uma opção pela candidatura própria no curto prazo. Ele está defendendo que as prévias, marcadas para janeiro, sejam postergadas. Os pré-candidatos José Anibal, Andréa Matarazzo, Bruno Covas e Ricardo Tripoli não aceitam o adiamento.

"O Brasil não é mais um emergente, é um emergido” — Juan Carlos, rei da Espanha, durante conversa com o vice-presidente Michel Temer

TROCANDO INFORMAÇÕES. A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) convidou os ministros de sua área dos países do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai) para virem ao Brasil na instalação da Comissão da Verdade. Nesses contatos, a ministra também está pedindo que eles enviem dados e informações de suas investigações no que se refere às conexões das ditaduras militares de seus países com a do Brasil.

Mais uma
O PMDB está irritado com o ministro Gastão Vieira (Turismo) por causa da exoneração de José Raimundo dos Santos, ligado ao ex-ministro Pedro Novais. Para seu lugar vai Leopoldo Júnior, indicado pelo deputado Biffi (PT-MS).

Opinião pública
Cinemas estão veiculando mensagem do ator Rodrigo Santoro, antes da exibição do filme, contra concessão de anistia, no Código Florestal, para quem desmatou ilegalmente. A proposta será votada hoje em comissão do Senado.

Pano rápido
Na reunião de líderes com a presidente Dilma, ontem, parlamentares do Rio e Espírito Santo levantaram o assunto da redistribuição dos royalties do petróleo e pediram que ela entre na negociação. Foram interrompidos pelo deputado Marcelo Castro (PMDB-PI). Ele disse que o Rio fica com 65% dos royalties e 95% da participação especial. Segundo um dos presentes, Dilma mudou de assunto na velocidade de um relâmpago.

Na sequência
Um: o ex-ministro Wagner Rossi (Agricultura) disse: “Estou firme como uma rocha”. Dois: o ex-ministro Orlando Silva (Esporte), afirmou que era “indestrutível”. Três: Carlos Lu-pi (Trabalho) anuncia: “Morro, mas não jogo a toalha”.

Sustentação
O ministro Carlos Lupi (Trabalho) e o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) se entenderam. A irmã do deputado, Juliana Brizola, assumiu a secretaria-geral do diretório de Porto Alegre. Agora, Brizola Neto está defendendo Lupi.

DESABAFO de um assessor direto do ministro Carlos Lupi (Trabalho): “Agora, é um dia de cada vez”.

A OPOSIÇÃO constata que o PDT adota a mesma estratégia do PCdoB, ou seja, o partido tem o ministério, as secretarias do Trabalho em vários estados e em diversas capitais, a exemplo do Rio.

TENSO com as denúncias de corrupção no Ministério do Trabalho, dirigido pelo trabalhista Carlos Lupi, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), relatam testemunhas, só bebeu água na Feijoada da Mangueira, no último domingo.

HÉLIO SCHWARTSMAN - Libertação animal


 Libertação animal
HÉLIO SCHWARTSMAN 
FOLHA DE SP - 08/11/11

SÃO PAULO - Animais vão conquistando mais e mais "direitos", como mostra oEquilíbrio de hoje e já fizera a Ilustríssima no domingo. Um dos responsáveis por isso é o filósofo Peter Singer, autor de "Animal Liberation", de 1975, que exerceu influência decisiva sobre os movimentos de libertação de "não humanos".
O problema das ideias de Singer é que, por serem sutis e controversas, acabam sendo consumidas na versão pasteurizada. Sua obra, porém, tem alcance muito maior.
Singer é um utilitarista radical. Isso significa que ele não acredita em direitos, apenas em interesses, como o de evitar a dor e buscar o prazer. O esquema vale para todo ser senciente. Discriminar um animal só porque ele não é humano configura um caso de "especismo", que o filósofo compara ao escravagismo.
Nem para Singer, porém, todos os seres vivos têm os mesmos "direitos". O nível de consideração que cabe a cada qual é função de sua capacidade de perceber dor e prazer, ou seja, de seu grau de consciência.
As implicações são radicais. Para o filósofo, a melhor forma de não provocar dor evitável é converter a humanidade ao vegetarianismo.
Ele também aceita aborto, eutanásia e infanticídio. Se o grau de "direitos" se liga ao nível de consciência, seres menos conscientes podem, em certas situações, ser sacrificados, seja para reduzir a dor, seja para produzir benefícios maiores. Outra tese polêmica é a de que todos os que já vivem com conforto devem doar parte de sua renda para eliminar a pobreza. O pressuposto das éticas utilitaristas é um igualitarismo forte.
É um pensamento estimulante. Meu receio é que exija demais das pessoas. Se os interesses de todos se equivalem, o filho de um desconhecido tem o mesmo valor que o meu e o mendigo com que cruzo na rua exige a mesma consideração que dispenso a meu melhor amigo. É uma lógica que deve ser exigida do Estado, mas que se torna pouco exequível quando aplicada a indivíduos.

GIL CASTELO BRANCO - Feudos mantidos com o dinheiro público


Feudos mantidos com o dinheiro público 
GIL CASTELO BRANCO
O GLOBO - 08/11/11

Dizem que a jabuticaba, da família das mirtáceas (Myrciaria jaboticaba), só existe no Brasil. Tão peculiar quanto a fruta, entretanto, são as organizações não governamentais (ONGs) brasileiras. A maioria vive às custas de recursos públicos, quando não são criadas especialmente para obtê-los. Dessa forma, são figurinhas carimbadas em casos de corrupção. Em 1991, ficaram famosas ONGs de Canapi (AL) dirigidas por familiares da então primeira-dama, Rosane Collor, beneficiadas com verbas da extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA), presidida, na ocasião, pela esposa do presidente da república.
Nas duas últimas décadas, foram levantadas suspeitas em relação às ONGs dos anões do orçamento, do filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, da mulher do deputado Paulinho e do churrasqueiro do ex-presidente Lula, entre outras. Recentemente, foram para a vitrine ONGs do Turismo - por capacitar fantasmas - e do Esporte, várias comandadas por militantes do PCdoB. Agora, a bola da vez é o Trabalho, onde ONGs pagam pedágios.
Com os "malfeitos" escancarados, o governo federal editou dois decretos em menos de um mês, tentando, a conta-gotas, sanear o esgoto. O problema, porém, não está só nas ONGs, mas na politização das transferências voluntárias.
No Ministério da Integração Nacional, por exemplo, auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União constatou que, em 2008 e 2009, os municípios baianos ficaram com 65% dos R$175,3 milhões desembolsados pelo programa de prevenção e preparação para emergências e desastres. O ministro na ocasião era o candidato derrotado ao governo em 2010, Geddel Vieira Lima.
No Ministério da Justiça não foi diferente. Em 2009, as prefeituras do Rio Grande do Sul receberam metade dos R$11,9 milhões transferidos aos municípios no Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). As cidades de Canoas, Cachoeirinha, Sapucaia do Sul e Novo Hamburgo obtiveram, juntas, R$5,9 milhões. À época, a Pasta era comandada pelo gaúcho Tarso Genro, eleito depois governador. No Ministério do Esporte, outra curiosidade. Em 2009, nos valores repassados aos municípios, Campinas, em São Paulo, foi a campeã. O secretário de Esportes e Lazer da cidade paulista era Gustavo Petta - cunhado do ministro do Esporte -, candidato a deputado federal pelo mesmo partido do ex-ministro Orlando Silva.
A distribuição de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), em 2009, também já era curiosa. Na ação de "orientação profissional e intermediação de mão de obra", a Secretaria de Trabalho, Emprego e Promoção Social do Paraná liderou os valores enviados pelo Ministério do Trabalho e Emprego aos estados. A ONG favorita nessa mesma ação foi a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, presidida por vereador de Curitiba, integrado à campanha do então candidato do PDT, Osmar Dias, ao governo estadual. Por acaso, à frente do Ministério do Trabalho, ao qual estão vinculados os recursos do FAT, estava e está Carlos Lupi, ex-presidente do PDT. Por enquanto?
Assim, moralizar os repasses às ONGs - sobretudo dos apadrinhados - é somente parte do problema. Pouco adianta trocar o titular da Pasta por outro do mesmo partido, caso permaneçam os interesses políticos e pessoais. Mantidos os "feudos", o rodízio de ministros irá continuar, pois atualmente é fácil localizar o destino de cada centavo dos programas governamentais, tornando evidente os absurdos.
Até o momento, porém, os órgãos de controle, o Ministério Público e o Judiciário, passaram ao largo dessa questão. E urge que o tema seja debatido, visto que os recursos - como é óbvio - têm que estar associados ao interesse público, o que não vem acontecendo.
É oportuna, portanto, a ação que o procuradorgeral da república move em relação às ONGs do Esporte. Não basta saber se o ex-ministro recebeu ou não dinheiro na garagem. É preciso avaliar se não há algum tipo de crime embutido na farta distribuição de recursos às ONGs de militantes. É necessário, inclusive, que se cobre do Congresso Nacional a aprovação de Orçamento tecnicamente mais detalhado, reduzindo o poder discricionário dos ministros na distribuição das transferências voluntárias.
Caso contrário, a "farra política" irá continuar, por meio dos convênios com as ONGs, estados e municípios. Trata-se de uma verdadeira geleia de jabuticaba, tão genuinamente brasileira quanto o recorde mundial de demissão de ministros.
GIL CASTELLO BRANCO é economista e fundador da organização não governamental Associação Contas Abertas.

GOSTOSA


WAGNER VILARON - Lei Geral vai liberar bebida alcoólica


Lei Geral vai liberar bebida alcoólica
 WAGNER VILARON
O ESTADÃO - 08/11/11

Em contrapartida, Fifa se compromete a estudar ações sociais durante o Mundial; votação no Congresso só em 2012 
Quando disse ao Estado na semana passada que o Brasil não venceria a Fifa, o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, não estava com brincadeira. A intensa articulação política comandada pelo dirigente nos últimos dias a respeito da Lei Geral da Copa dá sinais de ter sido bem sucedida. Ontem, o relator da lei na Câmara, deputado Vicente Cândido (PT-SP), admitiu, por exemplo, que vai incluir no texto uma das principais exigências da Fifa: a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios da Copa.
"Falei para o secretário (Valcke) que vamos trabalhar para incluir a permissão de venda de bebidas alcoólicas no texto da Lei Geral da Copa. Assim, não seria necessário revogar com cada um dos Estados que têm essa proibição", explicou o parlamentar, que participou ontem de visita às obras do Itaquerão, estádio do Corinthians que receberá a partida de abertura do Mundial.
Para facilitar a aceitação do texto tanto no Congresso como entre a opinião pública, Cândido sugeriu que a Fifa se envolva em algumas causas sociais. Uma das propostas apresentadas a Valcke é trocar ingressos - daqueles jogos com apelo menor - por armas de fogo, o que incentivaria a campanha nacional do desarmamento. "Levei a ideia ao senhor Valcke e ele se mostrou bastante aberto e até mesmo favorável à iniciativa", observou o deputado.

Cuidado. Uma da missões atribuídas a Valcke na atual visita ao País é estancar o uso político que o Mundial passou a ter por aqui. A assessores próximos, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, cansou de argumentar que o conteúdo da Lei Geral da Copa está definido desde 2007, quando o Brasil foi confirmado como sede do evento. Para o cartola, toda polêmica na qual se tornou o documento é fruto de agitação sem qualquer embasamento técnico.
Por isso a passagem de Valcke pelo Brasil tem sido marcada pela discrição e pelos contatos com políticos. Ontem, em São Paulo, o dirigente deixou de lado as pautas técnicas, nas quais tratava de estádios e infraestrutura, para dedicar-se às discussões sobre a Lei. Valcke quer garantir o apoio político necessário em cada uma das 12 sedes do Mundial para que o texto final do documento preserve a autonomia da Fifa na organização do evento.
Jérôme Valcke participará de reuniões com políticos hoje em Brasília. Uma delas deve ser com o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz.

Passeio. Ontem, uma comissão de deputados, entre eles o ex-atacante Romário, esteve em Itaquera para visitar as obras do futuro estádio corintiano. O grupo saiu da estação da Luz, no centro da capital, no trem expresso que faz o trajeto em 17 minutos. Romário não chegou a participar da visita, pois sentiu-se mal na viagem. "Deve ter sido alguma coisa que comi", comentou o deputado carioca.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Teste de sobrevivência
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 08/11/11

Ciente das cobranças que sofrerá hoje da rachada bancada do PDT, Carlos Lupi passou a procurar os "dissidentes" do partido para demovê-los da ideia de que o melhor caminho para a solução da crise no Ministério do Trabalho seria seu afastamento temporário até a conclusão das investigações na pasta. O ministro sabe também que, apesar da nota protocolar divulgada ontem, as centrais sindicais já tratam da sua possível sucessão nos bastidores. Entre os nomes colocados à mesa, um dos mais lembrados é o do deputado federal João Dado (PDT-SP), que mantém base eleitoral no funcionalismo público.

Estica... Circulou ontem entre os líderes governistas relatório mostrando que chegou a 82% o empenho das emendas depois do "mutirão" dos últimos dias. De plantão, assessores dos ministérios chegaram a telefonar para deputados com pendências no final de semana.

...e puxa E os congressistas novatos, que reclamavam do tratamento do Planalto, devem ser agraciados com emendas da cota de bancadas já no Orçamento de 2012.

Ampulheta Em cálculo otimista, o governo acredita que a DRU possa ser aprovada hoje com até 340 votos. O problema agora é o tempo: o líder Romero Jucá (PMDB-RR) demonstrou ontem preocupação com o prazo para tramitação do texto no Senado.

Monotemática Desabafo de um aliado diante da reação de Dilma Rousseff, que ao retornar de viagens internacionais, em particular por países afetados pela crise, recrudesce o discurso da austeridade fiscal: "Ainda bem que fizemos plantão para empenhar as emendas na última semana. Se fosse agora, estávamos perdidos".

Esticada Pouco antes de voltar ao Brasil, a presidente assistiu ao concerto "Melancolia", da cantora lírica francesa Patricia Petibon na badalada sala Pleyel, em Paris.

Preliminar Em evento convocado por Sérgio Cabral (PMDB-RJ) para preparar a manifestação de quinta contra a mudança nas regras dos royalties, Lindberg Farias (PT-RJ) fez discurso cobrando o veto de Dilma. Rivais do governador, Anthony e Rosinha Garotinho (PR) entraram mudos e saíram calados.

Curta Roberto D'Ávila prepara versão compacta de "Tancredo, A Travessia". A ideia partiu de Cabral, que quer levar o documentário às escolas do Rio. Aécio Neves gostou e convenceu Geraldo Alckmin e Antonio Anastasia a encamparem o projeto.

Tricô José Serra, que antecipara seu retorno de Londres para participar do evento do ITV no Rio, embarcou no mesmo voo do ex-presidente do BC Pérsio Arida. No trajeto, os dois discutiram a proposta de mudança na remuneração da poupança, apresentada aos tucanos.

Antiácido Na véspera do encontro com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, seu desafeto Romário (PSB-RJ) sofreu indisposição gástrica ontem quando participava de seminário sobre a Copa. Foi parar no posto médico da Assembleia paulista.

Trégua Renan Filho (PMDB-AL), presidente da comissão que analisa a Lei Geral da Copa, procura aliviar a pressão sobre Valcke, que será sabatinado hoje na Câmara. "Temos que reconhecer a boa vontade da Fifa e acabar com o clima de confronto".

Abrigo Com a participação de emissários da ONU, a Secretaria de Justiça de SP faz hoje reunião inaugural de seu comitê de refugiados.
com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"Ao que tudo indica, Carlos Lupi segue rapidamente pelo mesmo caminho de Wagner Rossi, 'sólido como uma rocha', e Orlando Silva, o 'indestrutível'."
DO LÍDER DA MINORIA NO SENADO, MÁRIO COUTO (PSDB-PA), comentando declaração do encrencado ministro do Trabalho, que no domingo disse que "morreria, mas não jogaria a toalha".

Contraponto
10 mil anos atrás

Na abertura do seminário organizado pelo PSDB no Rio de Janeiro, o presidente do Instituto Teotônio Vilela, Tasso Jereissati (CE), cumprimentou Geraldo Alckmin, que ontem completava 59 anos:
-Gostaria de dar os parabéns ao governador de São Paulo pelos seus 45 anos...
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso prontamente corrigiu o ex-senador tucano:
-Na verdade, ele faz 45 anos só de filiação partidária!

PATRICIA PECK PINHEIRO - Redes sociais: liberdade de expressão ou abuso?


Redes sociais: liberdade de expressão ou abuso?
PATRICIA PECK PINHEIRO
Valor Econômico - 08/11/2011

Os brasileiros são campeões em solicitação de retirada de conteúdo do ar na internet e redes sociais. Por que será?

A liberdade de expressão precisa ser não apenas exercida, mas ensinada nas escolas. Como se expressar de forma ética e juridicamente correta? Como manifestar sua opinião, seu direito de protesto, sua reclamação de consumidor sem que isso se transforme em um abuso de direito. O limite entre liberdade e prática de crime é bem sutil. E faz toda a diferença a escolha do texto, qual palavra será publicada para expor no mundo, em tempo real, um pensamento.

Precisamos, então, de inclusão digital com educação. Em um contexto de maior acesso a tecnologia com serviços que viabilizam compartilhar informações, produzir conhecimento colaborativo, deve-se saber também quais são as regras do jogo, que vão desde a proteção da reputação e imagem das pessoas até dar o crédito ao autor.

Acredito que a grande maioria das pessoas não reflete muito sobre o que está comentando, publicando, ou melhor, documentando, nas redes sociais. E, infelizmente, é difícil exercer arrependimento, pois o conteúdo se espalha rapidamente, e se perpetua!

A maioria dos casos de solicitação de retirada de conteúdo do ar envolve, principalmente: a) uso não autorizado de imagem; b) ofensa digital; c) exposição de intimidade excessiva (em especial no tocante a menores de idade); d) uso não autorizado de marca; e) uso não autorizado de conteúdo (em geral infringindo direitos autorais).

E então, eis uma questão relevante, como orientar os jovens, que estão na rede social, na grande maioria mentindo a idade? O problema da ética já começa aí. Os serviços destacam a responsabilidade dos pais darem assistência aos seus filhos nos ambientes digitais. Um pai leva um filho ao cinema, mas não sabe o que ele está fazendo na "rua digital".

A tecnologia não tem um mau intrínseco. Talvez, esse nosso Brasil que está digital seja, de fato, mais transparente. Isso significa que somos assim mesmo, gostamos de nos exibir, de falar mal dos outros, fazer piadas de mau gosto, publicar fotos das pessoas sem autorização. Será? Ou a geração Y nacional é que não foi bem orientada, que não conhece as leis, que acha que não vai haver consequências de seus atos?

Temos que preparar melhor nosso novo cidadão da era digital, para gerar a própria sustentabilidade do crescimento econômico do país em um cenário de mundo plano, sem fronteiras. Para tanto, é essencial garantir a segurança das relações, a proteção dos indivíduos. Toda desavença social digital que possa virar uma ação de indenização, que acione a máquina da Justiça, gera prejuízos para toda a sociedade e não só para as partes envolvidas.

Devemos investir em duas políticas públicas digitais: a de educação e a de segurança. No tocante à primeira, deve-se inserir no conteúdo base da grade curricular do ensino fundamental e médio, das escolas públicas e particulares brasileiras, os temas de ética e cidadania digital, que devem tratar sobre: a) proteção da identidade (contra falsa identidade e anonimato); b) exercício da liberdade de expressão com responsabilidade (contra os abusos); c) uso correto de imagens; d) produção e uso de conteúdos digitais dentro das melhores práticas de direitos autorais (coibir plágio e pirataria).

Os jovens precisam aprender como fazer o dever de casa sem copiar o conteúdo alheio!

Quanto à questão da segurança, deve-se por certo criar um time responsável pela vigilância das "vias públicas digitais", para identificação rápida de incidentes e para aumentar a prevenção. Se o cidadão está na internet, então o poder público e o poder de polícia têm que estar também. Com ambientes preparados, com alta disponibilidade e com medidas que garantam a proteção dos dados dos brasileiros.

O país ficou mais justo por meio da infovia, onde seus artistas passam a ter alcance mundial. Inclusive, uma pessoa qualquer pode ficar famosa em questão de segundos e, com isso, realizar um futuro sonhado antes restrito a poucos. A mobilidade trouxe mais empregos, mais negócios, e já alcança também as classes C e D. Permitiu, também, a redução de tarifas e custos, seja pelo uso do banco pelo celular ou mesmo do acesso aos serviços públicos na internet, mais rápidos, eficientes e com menos burocracia.

A conta ecológica também agradece, pois o uso da Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC) permite reduzir o uso do papel. Bem como o ativismo ambiental também cresceu nas redes sociais chegando até a se financiar por meio de doações que ocorrem no modelo comunitário-coletivo do "crowd funding" (financiamento colaborativo). Mesmo a relação do eleitor-candidato ficou direta de fato! E essa memória coletiva, que fica residindo nas redes sociais mesmo após o pleito, é importantíssima para o amadurecimento das escolhas e do próprio exercício do voto. Isso é um ganho!

Claro que o grande investimento em infraestrutura dos últimos anos foi o que viabilizou um Brasil mais democrático, que permite acesso à informação por meio de uma internet banda larga. Sem isso, por certo não teríamos incidentes, nem pedidos de retirada de conteúdos do ar. Mas não podemos gerar analfabetos digitais. Não é só saber dar "click", tem que ser educado e praticar o uso ético e seguro.

De todo modo, o mais importante não é ficar pedindo para tirar conteúdo do ar depois que o estrago já está feito, mas saber publicá-lo dentro de um modelo mais avançado de cidadania e respeito. Precisamos deixar de herança a vontade de criar e inovar. O uso do ferramental tecnológico tem que ser utilizado a serviço do bem social.

Patricia Peck Pinheiro, advogada, é especialista em direito digital, sócia fundadora da Patricia Peck Pinheiro Advogados e autora do livro "Direito Digital"

JOSÉ PASTORE - Terceirização - quem é o responsável?


Terceirização - quem é o responsável?
 JOSÉ PASTORE
O ESTADÃO - 08/11/11

Tenho insistido em que a prioridade número um na terceirização é a proteção de todos os trabalhadores que participam do processo. Mas quem é responsável por essa proteção?
É claro que contratante e contratada têm obrigação de zelar pelas proteções trabalhistas e previdenciárias de seus respectivos empregados, e muitas assim procedem. Mas a terceirização é um processo de parceria em que empregados da contratada trabalham para a contratante. Se há parceria no trabalho, deve haver parceria na responsabilidade. Foi isso que levou o Tribunal Superior do Trabalho (TST) a considerar, acertadamente, que a contratante não está isenta de obrigações, estabelecendo na Súmula 331 a responsabilidade subsidiária.
Esse princípio foi respeitado pelo Senado Federal quando aprovou o Projeto de Lei (PL) n.º 4.302/1998. Todavia, a Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados, em 2008, fez a responsabilidade da contratante passar de subsidiária para solidária. Um novo projeto de lei, o PL n.º 4.330/2004, restabeleceu a subsidiária. Mas há riscos de ser invertida novamente. Quais seriam as consequências disso?
Quando a responsabilidade da contratante é subsidiária, ao buscar os seus direitos, o empregado, na prática, aciona a contratada (de quem é empregado) e a contratante (para quem prestou serviços). Obtendo êxito na ação, a execução se inicia contra a contratada, que, como sua empregadora, tem por obrigação respeitar as leis, os acordos e as convenções coletivas. Na impossibilidade de a contratada honrar tais obrigações, o juiz executa, de ofício, a contratante.
Quando a responsabilidade da contratante é solidária, o empregado aciona diretamente a contratante, tentando buscar seus direitos na empresa que, em geral, tem os bolsos mais fundos, podendo processar também a contratada. Obtendo êxito, a execução recai exclusivamente sobre a contratante. Em muitos casos, esta abre uma nova ação (regressiva) contra a contratada na tentativa de se ressarcir dos prejuízos causados por uma condenação julgada improcedente. É um processo complexo e demorado.
Se a nova lei vier a estabelecer a responsabilidade solidária para a contratante, será o primeiro caso em que o Poder Legislativo autoriza - por lei! - um "liberô geral", dando às contratadas inescrupulosas uma cômoda anistia para poderem passar para outra empresa a responsabilidade por tudo o que fazem ou deixam de fazer - o que não tem cabimento. Afinal, como empregadoras de seus empregados, elas devem ser as primeiras a responder pelas devidas proteções legais.
Qual seria a vantagem da inversão para os trabalhadores? Nunca ouvi uma explicação convincente que mostre algum ganho adicional para eles, uma vez que, no regime de dupla responsabilidade, como é hoje, a contratante responde pelas proteções não honradas pela contratada. Haveria perdas, isso sim, porque, ao explodir um grande número ações contra as contratantes, muitas correriam o risco de insolvência, podendo destruir empregos. Em vista de tamanha insegurança jurídica, não seria surpresa ver projetos cancelados e atividades descontinuadas, em especial as que sabidamente só se viabilizam com terceirização. Tudo isso conspira contra o emprego.
Todavia, um envolvimento maior da empresa contratante é aconselhável. Na última redação do PL n.º 4.330, o artigo 10.º atende a essa necessidade ao estabelecer que a responsabilidade da contratante passa a ser solidária se ela deixar de acompanhar a contratada no que tange ao cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias para com os seus empregados. Estaria aí a pretendida parceria de responsabilidades. É uma solução engenhosa que eleva a responsabilidade da contratante, dá segurança jurídica aos dois lados, protege os trabalhadores e, sobretudo, respeita a lógica e o bom senso.

GOSTOSA


JOÃO PEREIRA COUTINHO - Uma "presidenta" na Europa


Uma "presidenta" na Europa
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 08/11/11 

Na reunião do G20, em Cannes, Dilma teve o pior momento e o melhor momento de todo o circo

Foi uma semana de comédia. Falo da última, na Europa, com a "presidenta" Dilma Rousseff entre os nativos. Na reunião do G20, em Cannes, Dilma teve o pior momento e o melhor momento de todo o circo.

O pior momento foi a solução que a "presidenta" encontrou para a crise do euro. Pergunta prévia: a Europa do sul endividou-se loucamente nos últimos dez anos por que a moeda comum permitiu juros baixos e acesso fácil ao crédito para países sem disciplina fiscal ou crescimento econômico?

Nova pergunta: os gastos públicos desses países, sem falar dos gastos privados, atingiram níveis incomportáveis?

Mais uma: o envelhecimento da população, juntamente com uma baixíssima taxa de natalidade, esgotou os sistemas de previdência tradicionais?

Dilma tem a solução: uma bolsa família global. A experiência correu bem no Brasil, disse Dilma, e a Europa do sul, que está falida precisamente por causa do seu generoso modelo de bem-estar social, precisa de mais uma bolsa para juntar às incontáveis bolsas que enterraram a Grécia, Portugal, Itália, talvez a Espanha.

Na Redação do jornal onde trabalho, aqui em Lisboa, as gargalhadas foram tantas que por momentos pensei que a "presidenta" tinha contado uma piada.

Não tinha. A piada veio a seguir, no melhor momento de Dilma. Mas, primeiro, alguns fatos. Duas semanas atrás, Merkel e Sarkozy pensaram que a crise do euro estaria resolvida com o pacote.

Sim, um calote grego "controlado" aliviaria Atenas de metade da sua dívida nas mãos dos credores privados. Sim, os bancos seriam recapitalizados para aguentar o calote. E, sim, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira seria reforçado: dos modestos 440 bilhões de euros passaria para 1 trilhão.

Os mercados festejaram nas 24 horas seguintes. Mas, depois da farra, os especialistas começaram a fazer contas. A revista "The Economist" foi um deles. Um perdão parcial da dívida grega é importante, com certeza, mas será que a Grécia poderá crescer com uma dívida que continua sendo 120% do PIB mesmo depois do calote?

Sem falar dos bancos: eles precisam de 106 bilhões de euros nos próximos meses. Mas que tipo de implicações isso terá na concessão de crédito para a economia real, sobretudo no momento em que ela mais necessita de financiamento?

E, finalmente, o fundo de estabilização. Um trilhão é número assustador, sem dúvida. Mas o que acontece se a Itália precisa de um resgate -uma evidência que cresce a cada dia que passa? Onde estão os 2 trilhões de euros? Aliás, onde está o trilhão prometido por Merkel e Sarkozy?

O entusiasmo começou a esfriar. As Bolsas começaram a despencar. Os líderes europeus começaram a gaguejar: a China, a Índia, talvez o Brasil estejam disponíveis para colaborar.

Não estão, não, disse Dilma. E acrescentou: se os europeus não põem dinheiro no fundo, como podem esperar que outros o façam?

Na Redação do meu jornal, ninguém riu dessa vez. Só eu, bem alto: Dilma captou o problema central da crise europeia.

E o problema central é o estado de alienação em que vivem os líderes. Esse estado de alienação ficou exposto com a decisão do premiê grego de convocar um plebiscito no país para referendar as novas medidas de austeridade. Insensato?

Não direi. Insensato seria Papandreou ignorar o mundo em volta: as ruas de Atenas em chamas; um governo em processo de desagregação; a ocupação efetiva de seu país por burocratas europeus que passarão a governar de fato; e rumores constantes de golpe militar (não foi por acaso que o governo grego decidiu mudar, de forma intempestiva, as chefias militares do país).

Infelizmente, Papandreou não entende a natureza política da União Europeia, que sempre atuou ignorando, ou violentando, a vontade democrática dos europeus.

Como violou agora, ameaçando a Grécia de expulsão do euro e forçando Papandreou a recuar no seu referendo. Papandreou, como um cachorrinho obediente, recuou.

Só espero que, da próxima vez que a "presidenta" cruzar o Atlântico, a Europa conserve, pelo menos, a fachada "democrática" que vai caindo semana após semana. Não se assustam as visitas com os nossos horrores domésticos.

ARNALDO JABOR - A sombra das meninas em flor


A sombra das meninas em flor
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 08/11/11

Eu andava em direção à praia quando veio a bofetada. Sem motivo nenhum, um menino me meteu a mão na cara. Caí atordoado no chão, sem saber quem era o garoto e por que me agredira. Ele saiu andando e nem tive tempo de reagir. Até hoje sinto a dor de minha covardia. Meu pai melhorara de vida e saímos do subúrbio para a zona sul, na Urca. A zona sul era mágica, longe das casinhas tortas de porta e janela, de vilas e valas, de terrenos baldios onde pastavam cabras. Nos fins de semana, os pobres do subúrbio lotavam ônibus e enchiam a praia com uma massa de corpos pardos e desgraciosos, trazendo farnéis de piquenique, bolas de futebol para linhas de passe, tamborins para batucadas. Eram chamados de "saquaremas" pelos moradores desgostosos com os 'invasores' farofeiros. Entendi a bofetada: eu era um "saquarema" naquela luta de classes entre subúrbio e zona sul. Eu tinha o quê? Oito anos, talvez. Os meninos eram educados com castigos humilhantes, cascudos, surras de chinelo e bambu. "Assim se forjam homens", pensavam os pais, cultivando a 'psicologia da brutalidade'.

A severidade violenta era replicada na rua pelos meninos, em guerras de fortes contra fracos e, para isso, os saquaremas eram as vítimas perfeitas.

Cicero (filho de um cruel professor de latim) já fazia halteres aos 14 anos, Ceará era um sertanejo atarracado, corpo de chimpanzé. Acreano, se vingava de seu destino de filho de empregada. Espancavam os saquaremas com chutes na cara, caldos violentos no mar.

Naquela violência havia uma pulsão de sexualidade, que decifrávamos com retalhos de estórias de sacanagem que vagabundos de rua nos ensinavam: anedotas sujas, doenças venéreas com nomes terríveis, cancro duro e cancro mole, gonorreia que gotejava sem cura entre os mais velhos. Lembro-me do pânico de minha mãe na praia quando pegamos "camisas de vênus" (o poético nome das 'camisinhas') jogadas na areia, soprando-as como bolas de encher.

Já sabíamos tortamente da relação sexual:

"Sabia que sua mãe dá para o seu pai?!" - berrava um garoto.

"Minha mãe, não!" - protestava o outro - "Não mete minha mãe no meio que eu meto no meio da sua mãe!" - a briga ficava mortal nas beiras de sarjeta. "Dá sim, dá sim" - insistia o outro apanhando - "se for pela frente nasce mulher, se for por trás nasce homem!"

De noite, eu imaginava ruídos de amor no quarto de meus pais e, de manhã, minha mãe parecia-me uma pecadora, com o corpo nu sob a camisola.

As meninas viviam sempre longe. Andavam em grupos, cochichando, rindo muito, pois sabiam-se inquietantes para nós. Tudo que vestiam era ocultação. Maiôs inteiros, vestidos de plissados e longos, sempre sob a vigilância dos pais, condenando-as a uma vida de 'pureza', pois o supremo medo era serem consideradas 'galinhas'.

Elas se moviam em ondas, como um bailado; quando pulavam corda, os vestidos se abriam e suas pernas saltavam em câmera lenta, e seus rostos afogueados nos observavam em rapidíssimos olhares - flashes para captar o que sentíamos. Elas vigiavam nossa fascinação e seduziam-nos, afetando desinteresse por nós, atraentes, mas intocáveis, sempre além de nossa fome, sempre além, mesmo meneando os quadris num bambolê, ou ajeitando a meia soquete ajoelhadas, quando víamos de relance coxas que levavam ao grande mistério do corpo nu.

Os maiores, como Cicero, olhavam-nas sem ar, com uma fome diferente da nossa.

Isolados das meninas, imperava a caçada dos mais fortes aos 'babacas', tribo da qual eu fazia parte, com o perigo de cair no gueto dos 'viados', agarrados em banheiros, submetidos em cantos escuros de vilas e capinzais.

Cicero era o mais temido comedor de pequenos, ou agarrados à força ou submissos a seu poder de rapaz forte.

Cicero tinha um irmão de nossa idade, apelidado de Grapete ('quem come Grapete, repete') e uma irmãzinha de 5 anos. Grapette era fraco e branco e um dia apareceu de olho roxo e com a boca e o nariz cobertos de esparadrapos. Fora pego no fundo da garagem com outro menino dentro do carro do pai. "Se der de novo, eu te mato..." - foi a sentença de morte de Cicero ao irmão, depois de espancá-lo como a um saquarema.

A partir daí, Grapete passou a ser visto com cruel deboche por todos nós. Ficou diferente, voz sumida, pelos cantos, um rosto menos infantil, torcido de angústia.

Um dia, Grapete anunciou: "Hoje tem teatro lá em casa. Para assistir tem de pagar - dinheiro ou presente!" Era tão estranha a tristeza de Grapete, que despertou nossa curiosidade. No sótão da casa havia malas velhas, um sinistro manequim de gesso, pilhas de jornais e uma cortina dourada tapando uma porta.

Grapete recolhia os 'ingressos' com ar sério e nervoso, avaliando o valor: Balas Ruth, figurinhas do álbum de cantores de rádio, bolas de gude 'olhinho' (as coloridas bolas americanas) e ioiôs importados da era Dutra. Olhávamos sem entender o que ia acontecer. O rosto de Grapete estava duro, assustador. Ele apagou a luz e foi até a cortina. "Agora, o grande show do circo Dudu!", anunciou com voz agressiva. Quando abriu a cortina, surgiu a luz avermelhada da tarde que vinha de uma janela ao fundo. Em pé, imóvel, muito branca, inteiramente nua, a irmãzinha de Grapete e Cicero. Loura, pálida, parecia transparente na contraluz que invadia a poeira do sótão. Em seu corpo nu, olhávamos o triângulo perfeito do sexo, com um fino traço vertical no meio. A menina olhava para cima, fitando o céu, com uma aura dourada nos cabelos.

"Quem quiser encostar a mão tem de pagar mais!" - sua voz era vingativa - um bruto mercador, o outrora frágil Grapete. "Eu tenho a figurinha difícil do Albertinho Fortuna, da Rádio Nacional!" - gritou um dos garotos. Grapete aceitou a rara figurinha e o garoto foi até a branca estátua viva.

Devagar, chegou bem perto e encostou a mão na menina, cheirando depois o próprio dedo. A noite caiu e fui para casa com o coração disparado e uma nuvem escura de emoções inexplicáveis. Lembrando-me disso hoje, creio que foi a cena mais bela e triste de minha infância.

BENJAMIN STEINBRUCH - Novos pobres

Novos pobres
BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SP - 08/11/11

Estímulo ao crescimento, sem conservadorismo, é a receita para os países ricos e o desafio para o Brasil
Não há, no horizonte, sinais de que a economia mundial possa iniciar um período de recuperação. Todas as previsões indicam o contrário. A Europa, que já apresenta crescimento muito baixo neste ano (a estimativa é de 1,6%) corre risco de entrar em recessão em 2012. Na melhor das hipóteses, haverá estagnação econômica.

Do velho continente só chegam indicadores ruins. A desaceleração continuada da economia provoca desemprego em níveis assustadores, como 14% da força de trabalho na Irlanda, 18% na Grécia e 22,6% na Espanha. Mesmo com a queda de demanda, a inflação continua alta para os padrões regionais.

A única boa notícia para a Europa foi o pacote anunciado pela União Europeia há duas semanas, que envolve o calote de 50% da dívida da Grécia, a recapitalização dos bancos e a formação de um fundo de € 1 trilhão para apoio aos países em dificuldade. Mesmo assim, o pacote esbarrou em problemas políticos internos na Grécia e até agora não está 100% confirmado.

Para a formação do fundo europeu e também para elevar os recursos do FMI estão sendo convocados até mesmo os países emergentes, entre os quais Brasil, Índia e China. Triste ironia: os pobres de ontem são chamados a contribuir para salvar os novos pobres de hoje.

As previsões para os Estados Unidos e o Japão também são desalentadoras. Segundo a OCDE, os EUA deverão crescer apenas 1,7% em 2012 e o Japão entrará em recessão suave (-0,5%). Até a China abandonará o ritmo de crescimento de dois dígitos e crescerá 8,6%. Essas informações podem parecer aborrecedoras e depressivas para o leitor. Trago-as, porém, porque elas são muito importantes para orientar reflexões sobre o que o Brasil deve fazer neste momento conturbado da economia mundial.

Em duas reuniões do G20 de que participou (a última na semana passada), a presidente Dilma insistiu em uma mensagem básica: o Brasil não acredita que a crise possa ser superada com a velha receita do corte de gastos, da recessão e do desemprego. O caminho é o estímulo ao crescimento, com geração de empregos e redução de desigualdades, bem como políticas fiscais e monetárias responsáveis, ou seja, não comandadas pelo conservadorismo.

Sem dúvida, essa é a receita para o grupo dos ricos e esse é também o desafio para o Brasil.

Dar ouvidos a políticas conservadoras seria um desastre. Foi-se o tempo em que se acreditava que o remédio amargo da austeridade fiscal servia para todas as doenças da economia. Políticas de estímulo à demanda interna, corte de juros para um nível civilizado, oferta de recursos para financiamento de investimento e consumo, além de amplo programa de estímulo ao desenvolvimento do mercado interno são medidas que podem compensar o desaquecimento externo. Foi assim que o país superou o difícil 2009, quando se instalou a maior crise global dos últimos 80 anos, e deve ser assim neste momento de recaída.

Felizmente, a sociedade brasileira conta com um Banco Central responsável nessa matéria. Em confronto com formadores de opinião do mercado financeiro, a autoridade monetária entendeu que era hora de reduzir os juros e o fez nas duas últimas reuniões do Copom. E o fará novamente no dia 30.

Sem descuidar de sua função de vigiar a inflação, a autoridade monetária, também preocupada com o esfriamento da economia, conseguiu alterar expectativas dos agentes econômicos, ainda que estes tenham usado gramofones para se manifestar. Juros irresponsavelmente altos promovem a entrada de capitais especulativos, distorcem a taxa cambial, aumentam os custos de capital, desequilibram o Orçamento público pelo aumento dos gastos com encargos da dívida e encarecem financiamentos em geral.

Com responsabilidade e controle, cabe ao poder público manter, sem medo, os estímulos importantes ao financiamento de consumo e de investimentos em infraestrutura, na construção civil e em áreas estratégicas como petróleo e energia. Sem isso, não haverá continuidade de crescimento e o país caminhará na mesma trilha em que se meteram os novos pobres da Europa.



BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor- presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.

MÔNICA BERGAMO - GOSTO AMARGO


GOSTO AMARGO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 08/11/11

Nem doce escapa: a fábrica da Dulca, uma das maiores redes de salgados, bolos e outras guloseimas da cidade, foi assaltada no sábado de manhã, na Barra Funda. Três ladrões renderam os funcionários que chegavam para trabalhar. Levaram um cofre da empresa. Assustados, os empregados foram dispensados do trabalho, o que comprometeu o abastecimento de doces nas lojas no fim de semana.

É FESTA
Os ladrões teriam levado também mais de 400 doces da fábrica -o que a Dulca não confirma.

MACIEL VETADO
Cotado para integrar a Comissão da Verdade, que vai investigar crimes da ditadura militar, o ex-senador Marco Maciel não poderia assumir o cargo. Filiado ao DEM, ele é membro nato da executiva da legenda. E a lei que cria a comissão não permite que integrantes de partidos políticos façam parte dela. "Só presidentes honorários de partidos", diz Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), relator do projeto no Senado.

NÚMERO UM
Pelo mesmo critério, o ex-governador de SP Claudio Lembo, também cotado, está igualmente impedido. Ele assinou recentemente a ficha número um de filiação ao PSD, novo partido do prefeito Gilberto Kassab.

BEM LONGE
E o DEM já decidiu que não fará aliança com o PSDB em São Paulo caso os tucanos se aliem ao PSD do prefeito paulistano. Nesse caso, devem fechar acordo para apoiar Gabriel Chalita, do PMDB. "Nós não rodamos tanto para cair nos braços do Kassab", diz dirigente nacional da sigla.

ESTABILIDADE
O fato de 11 milhões de brasileiros prestarem concursos públicos anualmente serviu de inspiração para o longa "Concurso Público", a ser rodado em 2012. O filme mostrará as aventuras de quatro jovens que tentam uma vaga de juiz federal. Um dos roteiristas será o ator Gregorio Duvivier. A direção é de Tomás Portella.

OPERAÇÃO MALKOVICH
John Malkovich estreou, na sexta, a opereta "The Infernal Comedy", no Theatro Municipal. Na plateia, artistas como Bárbara Paz. Depois, ele ganhou festa no Bar Secreto, com a presença da atriz Paula Guimarães. Anteontem, o ator ficou em uma van atrás do teatro mandando torpedos logo após a última apresentação em SP.

RODA-GIGANTE
As atrizes Nivea Stelmann e Luana Piovanni, acompanhada do marido, Pedro Scooby, curtiram o Planeta Terra, no sábado. Também passaram pela área VIP do festival de música, no Playcenter, a modelo Lea T. e o estilista Riccardo Tisci.

COM QUE ROUPA?
O "Conexão Repórter", do SBT, que amanhã terá como tema o jogador Neymar, fez uma brincadeira com o craque: entregou uma camisa do Barcelona e outra do Real Madrid para que ele escolhesse uma. A produção disse que não tinha dinheiro para dar a ele os uniformes dos dois clubes, que já fizeram propostas pelo atacante. Ele pediu para escolher em casa, mas o apresentador Roberto Cabrini não deixou.

O REI DA FIRMA
Roberto Carlos foi aplaudidíssimo pelo elenco da TV Globo ao fazer uma "reclamação" durante a gravação da vinheta de fim de ano da emissora, no sábado, no Rio. Ao entrar no cenário do Projac e se dar conta de que os artistas ficariam atrás dele, em degraus, o Rei disse para o diretor Jayme Monjardim: "Isso não tá certo, bicho! Eu vou cantar de costas para todos esses meus ídolos?!". A gritaria foi geral.

SUBSTITUIÇÃO
Débora Bloch vai apresentar hoje o Prêmio Portugal Telecom de Literatura, ao lado de José Wilker. Substitui a colega Patrícia Pillar, que, segundo a organização, foi chamada para uma gravação na Globo.

REENCARNAÇÃO
A escola de samba Acadêmicos do Cubango, do grupo de acesso do Rio, quer Paulo Betti em seu desfile de 2012.
O enredo homenageará o Barão de Mauá, que o ator já interpretou no cinema. Ele ainda não deu resposta.

CURTO-CIRCUITO
Domingos Meirelles toma posse hoje na cadeira nº 2 do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, no Rio.

Jacqueline Terpins realiza hoje, no Pacaembu, brunch de lançamento de linhas de mobiliário.

Dominique Moïsi faz palestra hoje, às 10h, na Faap, com o tema "Estamos caminhando para um mundo pós-ocidental? Uma visão da Europa".

O evento "Cantores do Bem", em benefício da Associação Aquarela, acontece no dia 16, no Trivento, com jantar e sorteios.

O cardiologista Daniel Magnoni faz hoje a palestra "Obesidade Zero", no Congresso Brasileiro de Nutrição, em Curitiba.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

JOSÉ SIMÃO - Buemba! USPiratas do Caribe 5!


Buemba! USPiratas do Caribe 5!
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 08/11/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do País da piada pronta: "Escola é invadida pelo bando de matemático". E mais um predestinado!
Sabe como se chama o primeiro ministro da Líbia? Abdel AL-KIB! Frito ou Al-Kib Cru? E sua primeira declaração ao povo líbio: "Ou vocês se comportam ou vão sentar no KIB". Rarará!
Outro predestinado: nome mais cotado para primeiro ministro da Grécia: Lucas PAPADEMOS! Rarará! E a USP? USPiratas do Caribe! Moletom com capuz e óculos Ray-Ban! Vai ter show do Eminem?
E olha o que um cara escreveu no meu Twitter: se a PM quer tanto entrar na USP, por que não presta vestibular? E sabe por que os rebeldes não conseguem se comunicar com o reitor? Porque ele não entende sinais de fumaça!
E adorei o nome do reitor da USP: RODAS! E o reitor da USP devia ser o FHC! Maconheiro por maconheiro. Rarará! E sabe qual o único efeito da maconha? Quando a PM chega! USP, moletom e capuz. A volta da Pakalolo!
E estou escrevendo essa coluna sem saber o que está dando na USP. Só espero que não tenha dado merda.
Pois como disse aquela comentarista da Globo News: uma mistura que nunca deu certo foi estudante com polícia. Ainda bem que eu só ia na USP pra passear com o meu cachorro!
E as Farc? Um bando de predestinados. Primeiro morreu o Tiro e agora morreu o Cano! Entraram pelo cano.
Morre baleado o líder guerrilheiro: Cano! Os líderes estão morrendo. Primeiro morreu o líder número um: TIROfijo! Que teve um infarto. O Tiro morreu do coração! Isso é morte pra guerrilheiro? Morte burguesa.
Guerrilheiro tem que morrer baleado ou capturado. E agora morreu o Cano! As Farc ficaram sem tiro e sem cano! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
E adorei esse bar em Santa Cruz, Rio Grande do Norte: Bar da OPIÇÃO! Oba! Mais uma opção pra se escrever opição! No Brasil, não tem "p" mudo. Pneu devia ser peneu! E essa: "Proibido Estacionar! Embaixo do toldo é lugar do pipoqueiro".
E eu sou do tempo em que periguete entrava no restaurante e pedia camarão com arroz à grega! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

VLADIMIR SAFATLE - A verdadeira crise


A verdadeira crise
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 08/11/11

E se, para além da crise econômica, política e ambiental que parece atualmente ser um fantasma a assombrar as sociedades capitalistas, outra crise estivesse à espreita?
Uma crise ainda mais brutal, dotada da força de abalar os fundamentos da normatividade existente. Lembremos como Max Weber mostrou que o advento do capitalismo trazia, necessariamente, a constituição de uma forma de vida marcada por um modo específico de relação aos desejos e ao trabalho.
Tal forma de vida, cuja face mais visível era a ética protestante do trabalho, baseava-se em um modo de articular autonomia como autogoverno, unidade coerente das condutas e da liberdade como capacidade de afastar-se dos impulsos naturais. Ou seja, ela trazia no seu bojo a criação da noção moderna de indivíduo.
Mas, e se estivéssemos hoje às voltas com uma profunda crise psicológica advinda do colapso dessa noção tão central para as sociedades capitalistas modernas?
Uma crise psicológica significa aumento insuportável do sofrimento psíquico devido à desestruturação de nossas categorias de ação e de orientação do desejo.
O sociólogo Alain Ehrenberg havia cunhado uma articulação consistente entre a atual epidemia de depressão e um certo "cansaço de ser si mesmo".
Por sua vez, boa parte dos transtornos psíquicos mais comuns (como os transtornos de personalidade narcísica e de personalidade borderline) são, na verdade, as marcas da impossibilidade dos limites da personalidade individual darem conta de nossas expectativas de experiência.
É possível que, longe de serem meros desvios patológicos, estes sejam alguns exemplos de uma crise em nossos modelos de conduta que crescerá cada vez mais.
Conhecemos um momento histórico no qual uma crise psicológica dessa natureza ocorreu. Momento marcado pela retomada do ceticismo e de um desespero tão bem retratado nos quadros do pintor Hieronymus Bosch.
Ele só foi superado por processos históricos, fundamentais para o aparecimento da individualidade moderna, nomeados, não por acaso, de Renascimento e de Reforma.
Tais palavras nos lembram que algo estava irremediavelmente morto e desgastado. Algo precisava renascer e ser reformado.
Talvez estejamos entrando em uma outra longa era de crise psicológica onde veremos nossos ideais de individualidade e de identidade morrerem ou, ao menos, algo fundamental de tais ideais morrer.
O problema é que, algumas vezes, a morte dura muito tempo. Algumas vezes, precisamos de acontecimentos que ocorrem duas vezes para, enfim, terminarmos de morrer.

DORA KRAMER - Visões distintas


Visões distintas

DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 08/11/11

A condução do debate sobre a reforma política vem sendo feita concomitantemente na Câmara e do Senado, embora deputados e senadores adotem métodos distintos de trabalho.

Estes optaram pela rapidez de uma proposta elaborada em 45 dias por uma comissão e aqueles preferiram a solidez de um projeto construído mediante a realização de seminários País afora e audiências públicas com figuras de destaque na política.

Em princípio, o caminho mais longo escolhido pela Câmara parece ser o mais acertado e com maior chance de êxito no que tange ao essencial: a inclusão dos interesses do público e a ampliação da discussão para além das conveniências dos partidos.

É cedo, contudo, para se afirmar que o roteiro dos deputados levará necessariamente ao resultado acima presumido, porque nem sempre o esboço de boas intenções se converte ao final nas melhores ações.

O Senado até agora se comportou nesse assunto como um clube de excelências interessadas em lustrar a própria imagem. Os senadores escolheram um elenco de propostas que eles mesmos avaliam que não têm chance de prosperar por causa da ausência do consenso mínimo necessário em torno de qualquer uma delas para se aprovar alterações na Constituição.

Na Câmara, por enquanto, os deputados fizeram algumas discussões internas, audiências públicas com entidades civis e, a partir desta semana, promovem seminários em todas as regiões do País a fim de recolher sugestões.

Uma boa ideia. Assim como o convite para que dois ex-presidentes da República, Fernando Henrique e Lula, os dois únicos sem mandato parlamentar, sejam ouvidos a respeito. As respectivas assessorias já informaram que ambos se prontificaram a comparecer e dizer o que pensam sobre as mudanças necessárias.

Há quem enxergue na lentidão da Câmara o risco de as novas regras não serem aprovadas a tempo de entrarem em vigor para as eleições de 2012.

Não parece ser o tempo a questão crucial, pois em face das inúmeras protelações o importante nessa altura é que a reforma seja finalmente feita.

O perigo mesmo é o de que a Câmara não tenha escolhido o caminho mais longo para chegar a um melhor resultado, mas para postergar ao infinito a solução do problema.

Tempo perdido. A aflição assola espíritos preocupados (todos dotados de bom senso e capacidade de fazer contas) com a infraestrutura necessária para a Copa do Mundo em 2014.

O atraso é visível a olho nu e escriturado em relatórios técnicos. Considerando que o Brasil foi escolhido como sede do campeonato em outubro 2007, há três anos e meio, há um atestado de inépcia a ser lavrado em nome do governo brasileiro, cujas prioridades eleitorais condicionam toda ação à obtenção de dividendos políticos de curto prazo.

Nesse período, o Planalto se ocupou da campanha presidencial de 2010 em detrimento de tudo o mais, tratando da Copa em 2014 e da Olimpíada de 2016 como fatos eleitoralmente rentáveis e nada mais.

As obras em si foram relegadas ao segundo plano, como se as celebrações tivessem por si o condão de fazerem acontecer condições objetivas necessárias à realização das duas maiores competições esportivas do mundo.

Lula faturou, mas o prejuízo - eventual vexame - será do País. Isso sem contar o custo propriamente dito que, devido à pressa, desnecessária caso o trabalho tivesse começado de imediato, será muito mais elevado: no tocante aos recursos despendidos e ao afrouxamento dos mecanismos de controle dos gastos públicos.

Incivil. Guardadas as proporções que distinguem o indispensável respeito à lei da necessária reverência aos bons costumes, Aécio Neves está para a recusa do teste do bafômetro como Lula esteve para o papel do bombom que certa feita desembrulhou e jogou no chão durante solenidade oficial.

Dois exemplos de desconsideração ao quesito "o exemplo vem de cima".