terça-feira, junho 15, 2010

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Vamo roncá a vuvuzela!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/06/10


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo! HEXA É NOSSA!
É HOJE! Que eu processo o Dunga. Por tentativa de homicídio. Ele quer nos matar do coração!
E eu já disse: Galvão e vuvuzela! Tecla mute. Ops, TECLA MATE! Rarará! E o Galvão, o Hexagerado? O Galvão acha que sabe tudo. Até a idade da Glória Maria!
E sabe como se fala Dunga em africano? DUNGABURO! Rarará!
Brasil contra Coreia do Norte! A terra do ditador Kim Jong. E o Eramos6 revela o time da Coreia do Norte: Kim Jong Fui, Kim Jong Tô, Kim Jong Vai, Kim Jong Já, Kim Jong BUM, Kim Jong Cu, Kim Jong Zé e Kim Jong Né! O ataque atômico! Vamos bombá esse ataque!
E aquela bichinha de língua plesa fã do Messi: "Messeu com o Messi, messeu comigo". Rarará!
E o frango do goleiro inglês? Engoliu um McChicken! Ele vai mudar pro Grupo F! F DE FRANGO! Que ironia: a África cheia de bichos selvagens, e o mais perigoso e o mais temido é o frango. O frango é mais perigoso que o leão!
E a Holanda joga de van: Van der Wiel, Van Bronckhorst, Van der Vaart, Van Bommel. E o técnico, Van Marwijk. Faltou um van: o VAMPETA! Rarará!
E hoje eu faço qualquer coisa pelo Brasil, menos vestir aquela peruca verde e amarela de ráfia da rua 25 de Março. E eu vou grudar um chiclete na peruca da minha vizinha! É verdade. Quando ela entrar no elevador com aquela peruca de ráfia verde e amarela, eu grudo um chiclete! Rarará!
E eu quero um CD de vuvuzelas. Com aquele som de enxame de abelhas assassinas.
E Japão e Camarões? Terminou em sushi! Aliás, sabe qual é a diferença entre um sushi e uma perereca? O arroz!
E a seleção dos peladeiros! Continuam chegando sugestões de leitores de seleções melhores que a do Dunga. Time da comunidade judaica da Razit, de São Paulo: Azeitona, General Bunda Suja, Thor do Martelo Mole e Carlo Come Caca, Voz de Megafone, Capivara do Irã, Spider Man e Raul Bate Falta!
E com Kaká, Robinho e Luis Fabiano no ataque, um conselho: "Coreano, abre teu, COREANO!". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E força na vuvuzela!

GOSTOSA

BRASIL S/A

Fôlego no limite

Antônio Machado
Correio Braziliense - 15/06/2010
 
Exaustão dos fundos públicos como alavanca do investimento privado desenha as ênfases para 2011

Questão controversa no debate político, a ingerência do Estado na economia não mereceu atenção especial nos discursos de José Serra e de Dilma Rousseff nas convenções em que o PSDB e PT formalizaram as suas candidaturas presidenciais. A fala dos dois candidatos foi insossa, pouco revelando sobre suas intenções, ideias e certezas. 

No capitalismo brasileiro, em que o financiamento de longo prazo tradicionalmente é impelido por fundos públicos, o Estado não é um dado secundário, dependente da afinidade ideológica do presidente. 

No Brasil, o Estado é peça relevante na engrenagem da economia de mercado. Tal protagonismo exibe sinais de exaustão sem que estejam maduros os canais complementares do crédito privado de longo prazo e do mercado de capitais. É questão de tempo, mas pode demorar sem incentivos ao funding privado nacional para apoiar o investimento. 

É essa questão que preocupa Dilma, Serra, parte dos empresários e economistas pragmáticos, não o embate entre Estado versus mercado. 

Mas há espaço para discussão entre o modelo dirigista, que induz as ações privadas, e o do Estado empreendedor, que cria ou assume o controle de empresas e as opera em situação de monopólio, o caso da Petrobras, ou de oligopólio privilegiado, como o previsto para a renascida Telebras nas conexões em banda larga de internet. 

O primeiro modelo sempre existiu no país com intensidade maior ou menor. É desejado pelos empresários até como seguro para negócios em que a amortização do investimento é lenta. Crédito subsidiado e proteção tarifária são os atrativos do modelo dirigista — comum na Ásia, mas não ausente nos EUA, o QG ideológico do capitalismo. 

O segundo teve o seu auge durante a fase de crescimento econômico acelerado nos governos militares, justificado como a resposta para o desinteresse ou falta de capacidade financeira do setor privado por atividades essenciais. A insolvência do Estado, como resultado da estatização desregrada e o que veio a seguir, levou às “décadas perdidas”, como a fase de ajustes ficou conhecida, à privatização parcial do Estado empresário e ao sucateamento da infraestrutura.

Entre um momento e o seguinte, destacam-se o ajuste final nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, quando surge a modelagem da gestão macroeconômica que vem até hoje, e a volta do crescimento impelido pelo investimento, sobretudo no segundo mandato de Lula.
Diploma de carências
É a continuidade do investimento, função da origem e da oferta do financiamento, que define o potencial do crescimento econômico, e, portanto, da renda e do emprego. Essa é a discussão que importa. A ampliação do parque industrial e da infraestrutura pública, porém, continua um problema à procura da resposta. O PAC, neste contexto, é mais um diploma das necessidades prementes de energia, estradas, portos, saneamento, hospitais, que um projeto acabado. Ele indica ao capital onde há carências, mas é vago sobre como financiá-las.
O estresse do Estado
O estresse dos recursos públicos fica visível quando o BNDES, que concentra os fundos de longo prazo que financiam os investimentos industriais e as obras de infraestrutura, recorre ao Tesouro para manter girando a sua carteira de projetos. Tal recurso é limitado.

É duplamente visível quando à falta de poupança nacional a ainda efêmera retomada do crescimento deságua em deficits externos, que correspondem, abatidas importações supérfluas e remessas de lucro, ao investimento bancado pelo capital estrangeiro — a tal “poupança externa” falada pelos economistas. Essas escolhas deixam sequelas.
O dirigista dirigido
O PAC, visto como contrapartida da infraestrutura requerida pelo crescimento, e o investimento privado até aqui foram apoiados por fundos públicos e estrangeiros. Para frente, ambos vão apresentar limitações. Nos bancos federais, por depender de capitalização — o que, em última instância, é suprido por fundos privados, mesmo se o financiamento for público. Idem com estatais, como a Petrobras.

É o que complica a ideia corrente em setores do governo Lula e da assessoria de Dilma de ampliar o Estado empresário. Não há margem para tanto. O financiamento, no fim da linha, viria do mercado — e em situação conflituosa com a necessidade do setor privado. E qual a consequência? O governo dirigista seria dirigido pelo mercado.
Sem atalhos para 2011
Aos extremos não se chegará, já que a nenhum dos candidatos parece faltar a razão sobre os constrangimentos do financiamento estatal.

Como a geração de poupança pública é solução ainda mais complexa, já que implica cortar gastos, o funding do ciclo de investimentos, que mal começou e hoje é maciçamente suprido pelo BNDES e capitais externos, será partilhado com a banca e o mercado de capitais.

Tais canais vão fluir com maior eficiência quanto menos o Tesouro apelar aos depósitos bancários para girar a dívida. Essa também é a providência imediata para aliviar os juros praticados pelo Banco Central — o grande obstáculo à afluência do mercado de capitais.

Juros menores dispensam metas obesas de superavit primário, o que desafoga o orçamento fiscal, se o governo não canalizar essa folga para novos gastos correntes e de custeio. Tudo está ligado, e pode desandar ao menor risco de barbeiragem. O mapa para 2011 é esse, e não há atalhos. Ou se vai por aí ou não se irá a lugar algum.

ARNALDO JABOR

De novo, a pátria está de chuteiras
ARNALDO JABOR

O GLOBO - 15/06/10

Hoje temos Brasil X Coreia do Norte. Acho que daremos um baile naqueles pobres diabos, peões de uma ditadura repelente. Mas também recomeça mais uma campanha de reafirmação nacional. O pentacampeonato nos trouxe um orgulho que os antigos vira-latas não tinham, mas, de novo, a pátria calça chuteiras para esquecer as frustrações de um povo pobre e sacrificado.
Pessoalmente, carrego uma grande frustração: não entendo de futebol. Tudo se deve ao trauma de frangos que engoli na infância do colégio, eu goleiro do A-3. Sem habilidade para dribles estonteantes, fui várias vezes barrado e humilhado, o que me fez virar as costas ao nobre esporte bretão.
Hoje me arrependo. Queria ser como Sérgio Augusto, Rui Solberg, José Miguel Wisnick, Dan Stulbach e outros que sabem tudo e gozam de uma cultura alegre, lúdica, que eu não tenho. No filme que acabo de montar, há várias referências a futebol, todas fornecidas por entendidos.
Perguntei ao Rui Solberg, por exemplo, qual o time do América em 1951. Ele desfilou ali na bucha: "Osny, Joel e Osmar, Rubens, Oswaldinho e Godofredo...". Sérgio Augusto eu testei: "Quem fez os gols do Botafogo em 57, na vitória do campeonato?" Na hora: "Cinco gols de Paulinho Valentim...".
Lamento não ter essa cultura linda e brasileira. Minha lembranças são esparsas e doloridas.
Não me levaram ao Brasil X Uruguai em 50 - eu era muito pequenininho. Mas me lembro de meu avô, chorando e dizendo: "Só se ouvia o som dos pés das pessoas descendo as rampas. Ninguém falava. Só se ouviam os sapatos". Era o silêncio dos sapatos.

Por isso, sempre me lembro de Paulo Perdigão, filósofo e boleiro que afirmava que a vitória em 50 teria sido essencial para o progresso nacional. Perdigão já morreu, mas desenvolveu uma teoria em seu livro "Anatomia de uma Derrota": o Brasil seria outro país se tivéssemos ganhado "aquela" Copa "naquele" ano. Talvez não tivesse havido a morte de Getúlio nem a ditadura militar. Talvez ele tivesse razão.
A vitória em 50 teria sido essencial. "Foi uma derrota atribuída ao atraso do país e que reavivou o tradicional pessimismo da ideologia nacional: éramos inferiores por um destino ingrato. Tal certeza acarretou nos brasileiros a angústia de sentir que a nação tinha morrido no gramado do Maracanã...". E aí ele escreveu a frase rasgada de dor: "Nunca mais seremos campeões do mundo de 1950!".
A partir desse dia, associei futebol e país, numa "tabelinha" histórica. As taças de 58 e 62 marcaram um momento de abertura econômica e de progresso cultural jamais vistos: JK, Brasília, Bossa Nova, cinema, teatro, reformas populares em um país novo.
Mas a esperança seria arrebentada em 64, pelo golpe. A Copa de 70 teve um sabor amargo e doce, sob o sinistro sorriso do ditador Médici. Eu imaginava torturadores e torturados no "pau-de-arara", todos torcendo pelo Brasil em 70.
Depois, vieram: a derrota das eleições diretas, a morte de Tancredo, que teve o mesmo gosto de fracasso de Brasil X Uruguai; depois, os anos Sarney, quando parecia que o Brasil nunca mais sairia do buraco, com a inflação a mil por cento ao ano, com a falência do Estado e a descoberta de que a "democracia real" não existia verdadeiramente dentro das instituições brasileiras.
O impeachment contra Collor (que renunciou e hoje beija o Lula...) e os caras-pintadas foram o "trailer" da vitória de 94, com o governo FHC raiando com "novas palavras". Quase no mesmo mês, derrotamos a inflação e viramos tetracampeões. Um novo tempo estava começando! Foi lindo!
Em 2006 perdemos porque não éramos a pátria de chuteiras; éramos chuteiras sem pátria. Nossos jogadores eram ricos e famosos, com brinquinhos na orelha, comendo louras vertiginosas. Para eles, o Brasil era a vaga lembrança de uma infância pobre, humilhada. Neles estava ausente a fome nacional querendo se salvar. Em 2006, nossos craques não perderam quase nada; tiveram apenas um mau momento entre milhões de dólares e chuteiras douradas pela Nike.
Faltava neles a lição profunda do grande Nenen Prancha do Botafogo: "Vocês têm de ir na bola como num prato de comida!...".
E, quanto mais o óbvio da fragilidade da seleção se repetia, mais o técnico Parreira se obstinava em sua lívida teimosia... Por quê? Porque o técnico é sempre contra a opinião geral, como fez nosso Dunga, rejeitando Ganso e Neimar e não dando nem um banco ao Ronaldinho Gaúcho.
Em 2006, Parreira também disse a frase suicida: "Não estávamos preparados para perder!...".

Isso é a morte súbita, isso é a guilhotina. Sem medo, ninguém ganha.
Só o pavor ancestral cria uma tropa de javalis profissionais para a revanche, só o pânico nos faz rezar e vencer.
E agora? Bem, se em 50 achávamos que a taça Jules Rimet nos salvaria da mediocridade, hoje temos uma seleção sem fantasias nem arte, como se o improviso fosse um pecado.
Dunga fala como se fosse um comandante militar na guerra; em vez de estimular a liberdade, o improviso, Dunga quer que o imponderável caiba em sua estratégia.
Além disso, os jogadores de hoje carregam outro peso: o Lula chamou-os num beija-mão semelhante ao que Médici fez em 70, pois não ia perder essa chance de propaganda.
Agora, os jogadores são portadores de uma "utopia realizada", pois segundo Lula-Brasil, "nunca antes" o país foi "melhor". Hoje, eles têm de carregar nas costas uma retomada da ansiedade de 60 anos atrás, só que agora para coroar uma fantasia narcisista e populista. Se Dunga perder, duvido que Lula os receba.
Mas é claro que tudo que desejo é vê-los de taça na mão, enfileirados diante do Nosso Guia, triunfante como um técnico transcendental.
No entanto, em toda Copa, eu sempre tremo ao ouvir a voz de Paulo Perdigão, com medo de que ele tenha sentenciado nosso destino: "Nunca mais seremos campeões do mundo de 1950!".

GOSTOSA

TUTTY VASQUES

Torcedor não tem mais voz!


TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/06/10
O pior das vuvuzelas nem é o som que elas produzem. É o que elas não te deixam ouvir: o grito, o batuque, o canto das torcidas. Pela primeira vez numa Copa do Mundo as arquibancadas não têm voz. Não se distingue, pelo som, um sotaque do outro, vaias de aplausos, palavrão de saudação, a língua inglesa do dialeto zulu. O vuvuzelaço nos estádios não permite identificar sequer para quem torce quem assopra. O zumbido atravessa, monocórdio, os 90 minutos de jogo.
Já há quem diga que o melhor da Copa até agora, afora o Messi e a Alemanha, foram os momentos de execução dos hinos nacionais - quando, milagrosamente, calam-se as vuvuzelas. Com a bola rolando, não é possível ouvir o baque da bola na veia, os ritmos africanos, a vibração da galera, o apito do juiz, o grito de gol... A sonoplastia do futebol não é mais aquela. 
Ruim para quem assiste, pior para quem joga: o técnico não se faz ouvir em campo, a barreira não escuta a armação do goleiro, o zagueiro não entende a advertência do juiz. Futebol virou conversa de surdos. Para quem está em casa, resta sempre a opção de dar um mute na TV para tirar o som das vuvuzelas, mas não há recurso eletrônico que recupere o que elas não te deixam ouvir. Pela proibição, já!
Metáfora lusitana
Cristiano Ronaldo tem razão: "Gols são como ketchup: quando vêm, vem tudo junto!" O que já teve de lambança em matéria de gols nesta Copa, nem em cachorro-quente completo se vê nada igual. Afora os frangos, o gol contra da Dinamarca, ontem, foi uma pintura.
Off-África
Ronaldinho Gaúcho está feliz da vida de férias na Bahia. Cada noite com uma vuvuzela diferente para soprar!
Vice-chatice
A troca de provocações entre Maradona e Pelé já é a segunda coisa mais desagradável de se ouvir nesta Copa. Só perde para as vuvuzelas!
Mal comparando
A torcida de Camarões saiu do estádio após a derrota para o Japão cantando que "Obina é melhor que o Eto"o".
Escondido é mais gostoso
O que mais preocupa Dunga na estreia do Brasil é que vai ter gente, incluindo jornalistas - ô, raça! -, assistindo no estádio. Se dependesse do técnico, o jogo seria secreto. A Coreia do Norte, decerto, topa!
Otimismo global
Outra coisa que preocupa o Dunga é a ansiedade da Glenda Kozlowski. A apresentadora da TV Globo vibra na cobertura até de treino fechado!
Menas, doutor!
É progressivo o pessimismo de Sócrates. A essa altura do campeonato, o "doutor" já deve estar temendo que o Brasil tome uma goleada da Coreia do Norte.
Esporte radical
Felipe Massa acabou o GP do Canadá em 15.º, logo atrás de Rubinho Barrichello. Dessa vez, pelo menos, ninguém se machucou! 

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O criador e a criatura
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 15/06/10

Dilma Rousseff, estabeleceu o presidente Lula, será apenas um nome para preencher o que chamou de "vazio" na cédula eletrônica de 3 de outubro. "Eu mudei de nome e vou colocar a Dilma lá", discursou ele na convenção do PT que homologou a candidatura da ex-ministra. Que outro governante, a não ser ele, teria a caradura de reduzir à absoluta insignificância a fiel seguidora a quem escolheu solitariamente para lhe suceder? Só mesmo um político que ama a si mesmo sobre todas as coisas e se tosta ao sol de uma superlativa popularidade poderia dizer com desprevenida franqueza o que desde sempre era óbvio a todos quantos acompanham a operação eleitoral lulista: a sua decisão de disputar, por interposta pessoa, o terceiro mandato que a lei lhe veda.

Lula não se pejou de humilhar a sua criatura, cuja incapacidade de respirar politicamente por si rivaliza com uma falta de apelo e carisma que resiste aos esforços dos melhores marqueteiros. Nem os 1.800 convencionais petistas reunidos domingo em Brasília tiveram algum momento de genuína empolgação ao longo do seu discurso de 50 minutos - salvo quando ela se desmanchava em louvações ao patrono, o que fazia com patética insistência. Mas, para ele, a dignidade da candidata, para não falar em autonomia, é o que menos importa. Já se sabe que, tão logo termine a Copa do Mundo, Lula mergulhará ainda mais fundo do que até aqui na operação de sair pedindo votos para si sob outro nome.

O teatro começou na própria convenção, concebida para exaltar a condição feminina de Dilma. Nas pesquisas, como se sabe, a maioria das mulheres prefere o adversário José Serra. O artificialismo da montagem ao menos foi coerente com o confronto postiço armado por Lula entre "nós e eles, pão, pão, queijo, queijo", como se os aspirantes ao Planalto fossem de fato ele e o antecessor Fernando Henrique. À candidata em carne e osso resta falar em "seguir mudando", mas "com alma e coração de mulher". Pode-se contar, durante a campanha, com uma proliferação de platitudes do gênero, testando a paciência daquela parcela do eleitorado que ainda acredita que os candidatos devem lhe oferecer "pão, pão, queijo, queijo", como sinônimo de propostas e prioridades.

Para Serra, trata-se de um desafio. Não, evidentemente, porque lhe faltem uma coisa ou outra. Mas porque, nesta campanha que o lulismo fará tudo para manter engessada no molde plebiscitário, será pouco para o ex-governador contrapor o noviciado de sua oponente com a sua indesmentível experiência, como tornou a assinalar no sábado, em Salvador, na convenção do PSDB que ratificou a sua indicação. "Não comecei ontem e não caí de paraquedas", disse então. Ele terá de se haver com o presidente que não se cansará de dizer que estará na cédula com outro nome. Até a convenção, Serra parecia pensar duas vezes antes de não criticá-lo. Chegou a afirmar, numa espécie de fuga para a frente, que Lula "está acima do bem e do mal".

Bem diverso foi o seu tom na festa tucana. Dessa vez, atacou a presidência imperial de Lula, a sua convivência com a corrupção, o aparelhamento do Estado, as afinidades do presidente com ditadores. Duas passagens de sua fala foram especialmente pontudas. Na primeira, lembrou que "o tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou para trás há mais de 300 anos", para emendar: "Luís XIV achava o que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim." Na segunda, pregou "o repúdio da sociedade" a quem "justifica deslizes morais dizendo que está fazendo o mesmo que outros fizeram ou que foi levado a isso pelas circunstâncias". Estes "são os neocorruptos".

Serra teria decepcionado os 8 mil militantes presentes no evento que abre a temporada eleitoral propriamente dita se não fizesse as suas críticas mais pertinentes a Lula e ao lulismo - ainda mais sob o impacto da revelação de que arapongas aparentemente a serviço da campanha de Dilma quebraram o sigilo fiscal do vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

Mas, perante o eleitorado, Serra não poderá transformar o incensado Lula em alvo nem fingir que ele não existe.

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

Senhor Consultor 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 15/06/2010

Milú Villela, do banco Itaú e presidente do MAM (Museu de Arte Moderna), está dando de "presente" à TV Cultura uma consultoria para ajudar o novo presidente da emissora, João Sayad, a reformular a televisão. A escolhida para a missão é a Galeazzi & Associados, do executivo Cláudio Galeazzi. Entre outras, ele já deu consultoria a empresas que passavam por crise de imagem ou de resultados, como Daslu e Pão de Açúcar.
Elo
Galeazzi é um velho conhecido de Milú. Há alguns anos, ele a ajudou a reformular o MAM. O superintendente do museu era Ronaldo Bianchi -que depois foi trabalhar com Sayad na Secretaria da Cultura e hoje está com ele na TV Cultura.
Na Ponta do Lápis
Quando Galeazzi presidiu o Pão de Açúcar, entre 2007 e 2009, a empresa demitiu mais de 300 funcionários.
Cara Nova
A "nova Cultura" será apresentada ao conselho da Fundação Padre Anchieta, que controla a emissora, em outubro, conforme Sayad informou ao colegiado. Antes disso, ele promoverá mudanças pontuais, inclusive contratando novos apresentadores para a TV.
Cofrinho Verde
E depois da socióloga Maria Alice (Neca) Setubal, outra herdeira do banco Itaú aderiu à campanha de Marina Silva à Presidência. Ana Lucia de Mattos Barretto Villela, sobrinha de Milú e presidente do Instituto Alana, ONG que estuda o consumo infantil, também vai apoiar a candidata do Partido Verde.
Por Um Fio
Amanhã, deve ser ouvida a última testemunha do mensalão que a Justiça conseguiu localizar, no Nordeste. A fase de oitivas deveria então ser encerrada, não fosse por um problema: testemunha de um dos réus, de Brasília, tomou chá de sumiço. O ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal), terá que decidir se dá andamento ao processo mesmo sem esse depoimento ou se insiste em achar a pessoa.
Carrinho de Bebê
O ex-piloto Emerson Fittipaldi, 63, vai ser pai novamente. A mulher dele, Rossana, 31, está grávida.

Será o sétimo filho do bicampeão da Fórmula 1.
Marteladas
Nem as entradas exclusivas para promotores e juízes, no Fórum João Mendes, escaparam dos protestos dos grevistas do Judiciário paulista. Mesmo depois da desocupação do prédio pelos manifestantes, quem chegava para trabalhar, ontem, era recebido por um "corredor polonês" com vaias e matracas.
Pedala!
O ciclista Lance Armstrong, heptacampeão da Volta da França, foi convidado para o Tour do Rio, prova de 783 km que atravessará o território fluminense, em julho. Ainda não respondeu.
Personagem
Depois de notificar extrajudicialmente o Twitter, a atriz Bete Coelho conseguiu tirar do ar um perfil falso que usava seu nome e foto no microblog. Com mais de 1.400 seguidores, a "clone" parabenizava outros atores por prêmios e chegou a dizer que queria trabalhar na Globo. Bete é contratada da Record.
Tapete Vermelho
O cineasta Hector Babenco será o homenageado da próxima edição do Festival Paulínia de Cinema, que começa no dia 15 de julho.
Lucilia No País das Maravilhas
"Se eu não tocar essa música, a Lucilia [Diniz] me deserda", brinca o cantor Latino antes de entoar "Deixa Molhar", canção que compôs em homenagem à empresária. Ele foi uma das atrações da festa que Lucilia fez na sexta em sua mansão, no Jardim Europa, para comemorar o Dia dos Namorados.

Na entrada, flores cenográficas gigantes, de tecido, imitando as do filme "Alice no País das Maravilhas", ornavam o caminho até os jardins onde a festa rolava. A piscina, coberta, virou pista de dança. Sofás vermelhos em formato de boca, do designer francês Philippe Starck, acomodavam os convidados, os "apaixonados pela vida", como definiu Lucilia no convite. Os garçons usavam máscaras inspiradas em "O Fantasma da Ópera". Oito trapezistas se revezavam em pequenas apresentações. Faziam piruetas e desciam até a altura dos convidados, servindo champanhe Veuve Clicquot.

Na saída, a anfitriã distribuiu ventiladores portáteis e DVDs de Latino. "Pode pegar, gente! Não precisa ter vergonha", dizia o cantor. Além do repertório próprio, ele cantou "Ilariê", de Xuxa, e "Na Base do Beijo", da cantora Ivete Sangalo.
Curto-circuito
A cantora Juliana Kehl faz show hoje, às 22h30, no Bourbon Street. Classificação etária: 18 anos.

O escritor e jornalista peruano Juan Villanueva Chang participa da oficina literária da Flip, em Paraty, de 5 a 7 de agosto. Inscrições pelo e-mail: oficinaliteraria@flip.org.br.

O espetáculo de dança "Cravo & Cardamomo" tem apresentação no domingo, às 12h, no teatro do clube A Hebraica. Classificação: livre.

Patricia Calmon abre amanhã, às 19h, a mostra "Macrocosmo e Microcosmo", na galeria Lugar Pantemporâneo.

O promotor Roberto Livianu foi eleito, no sábado, para presidir o Movimento do Ministério Público Democrático pela terceira vez.

XICO GRAZIANO

Triste peleja
XICO GRAZIANO 
O Estado de S.Paulo - 15/06/10

Nada positiva essa encrenca sobre o Código Florestal. A opinião pública anda confusa, até assustada. Argumentos esdrúxulos partem de ambos os lados, tanto dos ambientalistas quanto dos ruralistas. Virou um besteirol rurambiental.

Embora contenha defeitos, não é verdade que o relatório Aldo Rebelo escancare as portas da destruição florestal. Tampouco é aceitável acusar, como fez o deputado, as ONGs ambientalistas de servirem ao capital internacional. Agricultor não é sem-vergonha nem ecologista serve à maldade. A radicalização só atrapalha a superação desse sério impasse sobre a legislação florestal do País.

Bandidos contra mocinhos funciona bem no cinema, não na roça. Nessa matéria, que importa ao futuro da sociedade, não pode haver vencedores nem vencidos. Será imperdoável votar uma proposta de modificação do Código Florestal que derrote o ambientalismo, por mais estranhas que sejam certas posições dentro dele. Por outro lado, se o ruralismo perder para a ingenuidade verde, melhor seria decretar o fim da agricultura. Ninguém sabe, assim procedendo, como viveriam os seres humanos.

O dilema entre produzir e preservar não comporta pensamento obscurantista nem simplista. Ao contrário, somente a luz do conhecimento poderá encontrar saídas que levem ao novo, e imprescindível, modelo civilizatório. O mundo alimenta, hoje, 6,5 bilhões de habitantes, seguindo há séculos, no campo e nas cidades, uma trajetória de confronto com a natureza. Até 2050 a população talvez se estabilize em 9 bilhões de pessoas. Vai piorar a pegada ecológica.

Querer praticar a agricultura predatória dos antepassados será burrice incomensurável. Por outro lado, defender a regressão agrícola soa insano. Conclusão: somente a tecnologia agropecuária resolve esse impasse, fundamentando uma proposta conciliadora entre a produção e a preservação. Uma saída negociada que unifique as posições em disputa. Nem tanto a Deus nem tanto ao diabo. O caminho do meio.

A agricultura sustentável deve fazer parte da solução, não do problema ambiental. Um roteiro de consenso para a reformulação do Código Florestal deve começar por expor seus porquês. Vamos lá. Quatro fortes razões justificam alterar a lei elaborada em 1965:

1) Existe dificuldade em conceituar a reserva florestal legal nas propriedades abertas antes da vigência da lei. Áreas de agricultura consolidada exigem tratamento distinto de locais ainda cobertos com vegetação nativa.

2) Certas áreas chamadas de preservação permanente, como várzeas, encostas e topos de morro, servem há décadas à agricultura de arroz, uva, café, entre outras, exigindo sua legalização produtiva.

3) Agricultores que, na Amazônia Legal, abriram terras antes de 1995, quando a reserva obrigatória era de 50% da área da fazenda, não podem ser criminalizados pela posterior elevação dessa proteção ambiental para 80%. Raciocínio semelhante vale para o cerrado.

4) A legislação precisa auxiliar o agricultor a resgatar seu passivo ambiental, favorecendo a recuperação especialmente das matas ciliares, aquelas que protegem rios e nascentes. Corredores ecológicos mais valem que pedaços de reserva isolados no território.

Existem várias possibilidades para avançar nesses quatro pontos básicos, adequando o Código Florestal à realidade presente, sem punir os agricultores de bem. Sendo assim, é aceitável:

1) Permitir a utilização de sistemas agroflorestais que misturem culturas com espécies arbóreas, inclusive exóticas, para facilitar a recuperação de áreas degradadas.

2) Realizar a compensação de passivo ambiental noutro local, fora da propriedade, mesmo ultrapassando o território do Estado quando houver identidade de bioma, na mesma bacia hidrográfica.

3) Incluir a área de preservação permanente (APP) no cômputo da reserva legal (RL), desde que o agricultor firme compromisso de recuperação ambiental com prazo máximo de dez anos.

4) Oferecer aos Estados maior capacidade de normatização e execução prática da lei florestal, estimulando o fortalecimento dos órgãos estaduais e municipais de meio ambiente.

Mas existem limites que não podem ser ultrapassados. É, portanto, inaceitável que o Congresso Nacional:

1) Anistie os fazendeiros que desmataram recentemente suas reservas florestais, afrontando conscientemente a legislação, particularmente após 2001, data da última alteração do Código Florestal.

2) Facilite novos desmatamentos, em qualquer bioma e para qualquer tamanho de propriedade; ao contrário, deve estabelecer uma moratória mínima de cinco anos na supressão de florestas nativas em todo o País.

3) Diminua o tamanho da reserva legal obrigatória, uma instituição genuinamente brasileira.

Decididamente, há espaço para compor uma boa posição entre o ambientalismo e o ruralismo, valorizando ambos. Para tanto, porém, é preciso superar o argumento polarizado. O raciocínio dualista, predominante na tradição ocidental, sempre opõe o bem contra o mal, o certo e o errado, santo contra pecador. Poderosa na religião, tal lógica costuma prejudicar a evolução das ideias e a solução dos problemas da sociedade. Assim acontece agora com a reformulação do Código Florestal.

Será necessário substituir esta briga atual, em que todos saem perdendo, por um jogo de vencedores, bom para o meio ambiente, bom para a agricultura. Acontece que nenhum jogo de futebol da Copa do Mundo chegaria ao final sem arbitragem. A grande culpa por essa encrenca recai sobre o governo Lula, que parece se divertir assistindo à triste peleja entre os agricultores e os ambientalistas.

Um descaso contra a galinha dos ovos de ouro do País.

AGRÔNOMO, É SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.

CABARÉ FECHADO

PAINEL DA FOLHA

Raio em céu azul 
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/06/10


A notícia do apoio do PMDB ao DEM em Santa Catarina pegou de surpresa a campanha nacional petista, que dias atrás colocou o então pré-candidato Eduardo Pinho Moreira frente a frente com Dilma Rousseff e jura ter ouvido do peemedebista promessas de aliança. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, ligou para Michel Temer em busca de uma explicação. 

A cúpula do PMDB, que em uníssono protesta inocência, ameaça intervir no diretório estadual. O tema, prometeu Temer, será discutido em reunião da Executiva na próxima semana. Seu grupo tem ao menos 13 das 15 cadeiras. Mas é preciso ver se o caso irá a voto.
Por associação - Do candidato Raimundo Colombo sobre a ameaça de intervenção do PMDB nacional contra a aliança com o DEM: “Se intervir aqui terá de fazer igual em Mato Grosso do Sul, Pernambuco, São Paulo...” 
Combinado - Apesar do discurso de que Eduardo Pinho talvez se limite a indicar o vice, o DEM acredita que ele próprio ocupará esse posto. E que o PSDB estará na chapa com o deputado Paulo Bauer disputando o Senado, ao lado do ex-governador Luiz Henrique (PMDB). 
A ver - Não obstante a pressão de uma ala do PMDB para que Orlando Pessutti desista de concorrer à reeleição no Paraná, elevando as chances de um acordo com PT e PDT no Estado, aliados do governador tem dito que a proposta é vantajosa para todos, menos para ele. 
Brincadeirinha 1 - No longo papo com Lula enquanto Dilma discursava na convenção do PT, Temer cuidou de explicar por que havia declarado, na véspera, que o PMDB será “ator principal”, caso ela seja eleita. 
Brincadeirinha 2 - Disse o futuro vice da chapa que o objetivo era conquistar o público interno para a tese da aliança, derrotando a turma da candidatura própria. 
Veja bem - De Eliseu Padilha (PMDB-RS), sobre o mal estar na cúpula do partido pelo fato de a candidatura própria ter tido boa acolhida entre os delegados gaúchos: “O meu trabalho e as minhas posições nas convenções, desde 1996, são combinados com o Michel. Eu sou amigo do Michel, não dos cargos nem da influência dele”. 
Duracell - Para quem achou longo o discurso de 51 minutos proferido por Dilma na convenção do PT, uma lembrança: Lula, ao se lançar à reeleição em 2006, falou por uma hora e meia. 
Cabeção - Enquanto Lula inspecionava o gasoduto da Petrobras inaugurado em Queluzito, o candidato ao governo de Minas Hélio Costa (PMDB) lutava contra o capacete de segurança, que teimava em não caber em sua cabeça. O presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, tentou ajudá-lo, sem sucesso. 
N.D.A. - Lula deu tantas pistas contraditórias sobre o que fará a respeito do reajuste dos aposentados que a Casa Civil preparou cinco versões da decisão, para que ele escolha uma. A quinta prevê o veto e a edição de uma nova MP com o valor do novo reajuste em branco, para que na hora H o presidente coloque o valor que quiser. 
Castigo - O vereador paulistano Domingos Dissei pedirá a destituição do colega Carlos Apolinário, que decidiu apoiar Aloizio Mercadante (PT) ao governo estadual, da liderança da bancada do DEM. Solicitará também a sua expulsão do partido. 

Tiroteio
Quando Kassab era prefeito, Alckmin não o apoiou. Serra não escolheu um vice do DEM. Esses tucanos não levam o DEM a sério. 
DO VEREADOR CARLOS APOLINÁRIO (DEM), justificando o apoio à candidatura de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, à revelia de seu partido.

Contraponto

Bolão 
Durante apresentação de Celso Amorim na Câmara, Raul Jungmann (PPS-PE) e Duarte Nogueira (PSDB-SP) provocaram o chanceler citando a “goleada vergonhosa para o Brasil” no Conselho de Segurança da ONU, onde, por 12 a 2, foram aprovadas sanções ao Irã. 
- Vergonha foi a Argentina ganhar roubando de 6 a 0 do Peru em 1978! - disse Chico Alencar (PSOL-RJ). 
Percebendo o clima de Copa, Amorim concluiu: 
- Bom, se o importante é o placar, lembro que não perdemos de 12 a 2, e sim de 12 a... 2 e meio. Além de a Turquia ter votado conosco, o Líbano se absteve!

MÍRIAM LEITÃO

Erro repetido 
Miriam Leitão 
O Globo - 15/06/2010

Quando o governo americano foi apanhado mandando espionar o partido adversário eclodiu nos Estados Unidos uma crise política sem precedentes e o presidente Richard Nixon caiu por impeachment.

No Brasil, perdeu-se a noção de como é grave essa delinquência política. Não houve punição alguma quando o PT foi apanhado comprando dossiê no Hotel Ibis em São Paulo. Não haverá agora.

O ponto decisivo foi setembro de 2006, quando um grupo formado por dois graduados funcionários do comitê de campanha de reeleição do presidente Lula, um diretor do Banco do Brasil, o chefe de comunicação da campanha do então candidato do PT ao governo do estado de São Paulo, pessoas da copa e cozinha do presidente foram apanhados tentando comprar um dossiê contra adversários. Dois deles estavam com R$ 1,7 milhão na mão, em dinheiro vivo, sem origem comprovada.

Eles foram presos, depois soltos, o diretor do Banco do Brasil foi demitido com muitos elogios, o suposto chefe da operação é hoje próspero fazendeiro. A reação da ocasião foi tentar negar as óbvias ligações com a estrutura da campanha presidencial, o presidente Lula chamou-os de “meninos” e “aloprados”, e depois denunciou um suposto golpismo contra ele, Lula.

Os atuais indícios de que se pretendia espionar o candidato do PSDB ou que podem ter sido acessados dados sigilosos dentro da máquina da Receita Federal de um dos integrantes da direção do maior partido da oposição são a comprovação de que o que não é punido se repete. De novo, o presidente Lula usa o mesmo truque de tentar inverter a situação e colocar seu partido como vítima de uma armação.

Mais assustador do que um episódio isolado é o fato de que eles se repetem, numa clara indicação de que vão se tornando prática política no Brasil em período eleitoral.

Espionar o adversário político usando escutas ilegais, acessando dados informados exclusivamente ao Setor Público e que estão protegidos por sigilo é totalmente inaceitável.

Acostumar-se a isso é começar a cavar a cova da própria democracia, que pressupõe que todos se submetam às leis e que os partidos que governam são administradores temporários e não donos da República. Usar a máquina pública para intimidar adversários políticos é um veneno letal às instituições.

Há várias formas de ameaçar a democracia. Da mais óbvia delas, o golpe de Estado, aprendemos a nos defender. Mas existem outras formas sutis de solapar a democracia, deformá-la até que ela fique irreconhecível.

O uso da máquina pública para fins partidários é uma delas. Outra, é a delinquência política reiterada e sem punição até que ela se torne parte dos usos e costumes do país.

O que torna o ambiente cada vez mais perigoso é que o Brasil não tem mais um presidente, tem um chefe político em campanha incessante. É isso que faz com que ele, em palanque, acuse a oposição de fazer “jogo rasteiro inventando um dossiê por dia”. A atitude correta do presidente deveria ser a de querer tudo esclarecido para se saber se foi realmente uma pessoa lateral na campanha da sua candidata que tomou uma atitude isolada ou parte de uma conspiração; se há funcionários públicos usando para fins políticos o acesso que têm a dados dos cidadãos.

Não há esperança alguma de que o presidente Lula se comporte como um chefe de um governo de todos. Ele é o flagrante mais explícito da mistura entre partido e governo. A última esperança de que agisse como estadista foi em 2006. À frente nas pesquisas, com claras chances de reeleição, ele poderia ter tomado uma atitude depuradora dos maus costumes políticos que estavam se instalando em seu próprio comitê de campanha.

Como a condenação ficou apenas no levíssimo epíteto de “aloprados”, tudo ficou por isso mesmo. O sistema político brasileiro foi avisado de que essa prática é aceitável, basta, se alguém for apanhado, romper um contrato de prestação de serviço, isolar temporariamente a pessoa contaminada.

O capítulo seguinte é fazer a transposição de papéis em que vítimas viram culpados, e os culpados, vítimas.

Ainda há 100 dias pela frente de campanha. Os candidatos estão lançados e agora começa oficialmente a campanha, que, na prática, o presidente Lula já começou há mais de ano. O balanço até agora é assustador. O presidente, mesmo punido cinco vezes pela Justiça Eleitoral, tem usado todos os atos públicos de governo para fazer propaganda partidária.

Um governo bem avaliado, um presidente com popularidade alta, num momento de crescimento econômico e otimismo não precisa de qualquer tipo de afronta à leis e aos bons costumes políticos para se manter no poder por mais um período. Se precisasse, não deveria fazê-lo por disciplina institucional. Basta confiar no seu legado, na candidata que escolheu e no contexto favorável.

Crime sem castigo tem carta branca para se repetir.

Há inquietantes sinais de que a tecnologia da espionagem está se consolidando.

Nunca mais se soube que um governo americano repetiu a tentativa de investigar o adversário político. O Watergate ficou como símbolo de que a delinquência política é punida exemplarmente.

Nós ficamos aqui sob risco de novas gerações de aloprados a cada eleição.

GOSTOSAS

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Clubes brasileiros devem faturar o dobro com patrocínio e publicidade até 2014 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 15/06/2010

As receitas dos clubes de futebol do Brasil com patrocínio e publicidade devem chegar a uma cifra entre R$ 492 milhões, em uma análise realista, e a R$ 700 milhões, em um cenário otimista, segundo levantamento da consultoria Crowe Horwath RCS.

Em 2009, esses recursos cresceram 29% e atingiram R$ 270 milhões.

Empresas percebem que patrocinar clubes dá bom resultado, diz Amir Somoggi, da Crowe.

"Nos próximos anos, deve ocorrer o alinhamento estratégico entre empresas e clubes na gestão de marketing. Na Europa, esse modelo já é bem avançado", afirma.

Apesar do aumento em 2009, a receita brasileira está longe do que ganha o Real Madrid, um dos clubes que mais faturam no mundo. "Apenas com marketing, o clube espanhol faturou 139 milhões [cerca de R$ 300 milhões] no ano passado."

O Corinthians foi o clube que mais lucrou com patrocínio e publicidade no ano passado, com R$ 49 milhões -aumento de 98% sobre 2008. "Resultado do "projeto Ronaldo", que atraiu novas marcas", diz Somoggi.

O segundo colocado é o São Paulo, com receita de R$ 31,3 milhões, afirma a Crowe.
"O clube já foi líder nesse segmento e tem potencial para faturar R$ 80 milhões."
Venda nos EUA
A Brain, associação criada por Anbima, BM&FBovespa e Febraban, irá desembarcar nos Estados Unidos na semana que vem com uma nova estratégia. Na quinta edição de um "road show", feito desde 2004, em vez de explicar sobre a economia brasileira, que já está bem conhecida, a comitiva vai "vender" seus produtos. O principal entrave para o estrangeiro é a burocracia no acesso ao mercado. "Isso não é controle ou regulamentação, é só custo", afirma Paulo Oliveira, presidente da Brain.
Sexto triunfo
Para que aplicações na Bolsa não fiquem de escanteio nos dias de jogo do Brasil, a corretora Link Investimentos não cobrará nada pelas seis primeiras ordens de compra do dia, em alusão ao sexto triunfo perseguido pela Seleção de Dunga. A promoção vale já para hoje, estreia do Brasil no Mundial e, se os canarinhos tiverem sorte, só termina quando a Seleção levantar o caneco.
Na carteiraUm mês após o lançamento, o fundo do Banco do Brasil Multimercado Global LP Private, só para investidores qualificados, já ultrapassou R$ 25 milhões de patrimônio líquido. O fundo também pode aplicar no exterior.
Mais trabalho nas obras
Os empregos na construção civil brasileira cresceram 7,87% com a contratação de 193.386 trabalhadores formais no acumulado do primeiro quadrimestre de 2010.

O resultado marca um novo recorde de 2,65 milhões de trabalhadores com carteira assinada na área, no país.

No mesmo intervalo de 2009, as contratações no setor cresceram somente 2,63% em função da crise econômica mundial, segundo Sérgio Watanabe, presidente do SindusCon-SP, que realizou o levantamento com a FGV.

Para este ano, porém, a entidade prevê crescimento de 9%. "Não há formação de bolha", afirma.

A região que apresentou a maior alta no período foi o Nordeste, com 11,42%. De acordo com Watanabe, há trabalho tanto para pedreiros como para engenheiros civis.
Mordida Latina
Depois de três anos de estudo de mercados, a fabricante de chocolates industriais Harald decidiu iniciar a internacionalização por México e Colômbia. Com investimentos de R$ 45 milhões, as novas unidades irão produzir, no início, apenas as linhas de produtos mais demandadas nas regiões. "Levamos em consideração a renda per capita e o potencial de crescimento desses países", diz Ernesto Neugebauer, presidente da Harald. O consumo per capita anual de chocolate no México é muito baixo, de 2 quilos, de acordo com o executivo. A empresa exporta para mais de 20 países e acaba de conquistar a Inglaterra como cliente. A expectativa é crescer em 20% as vendas para o exterior neste ano.

MERVAL PEREIRA

'Meu nome é Dilma' 
Merval Pereira 
O Globo - 15/06/2010

Os discursos nas convenções do PT e do PSDB, no fim de semana passado, revelam com clareza qual será o tom da campanha presidencial daqui para a frente, quando já temos candidatos oficiais e não simples pré-candidatos, como a esdrúxula legislação eleitoral definia até então. De um lado, a candidata oficial, Dilma Rousseff, transformada pelo próprio Lula em sua “laranja” eleitoral; de outro, o tucano José Serra atacando o PT, a falta de experiência da adversária, mas só se referindo a Lula de maneira indireta.

O presidente Lula vai explicitando sua estratégia à medida que a campanha vai chegando ao ponto crítico, que é a propaganda eleitoral de rádio e televisão.

Acho que não chegará a tanto, mas ele parece disposto a ir à televisão dizer ao eleitorado, qual um Enéas redivivo: “Meu nome é Dilma”.

É interessante como Lula se lamenta em público por não ter podido disputar um terceiro mandato consecutivo, e o grau de autoelogio que utiliza quando se refere a ele.

Ainda não chegou a se referir a ele mesmo na terceira pessoa, como faz Pelé, mas está perto: “Vai ser a primeira eleição, desde que voltou (sic) as eleições diretas para presidente, que o meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula. E, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula.

E aí as pessoas vão votar”.

É um raciocínio linear de quem está com a autoestima em alta, e por enquanto vai vendo ser cumprido à risca quase tudo o que pretendia.

Nesse raciocínio, a política não entra, o que talvez seja a sua grande falha.

Digo “quase tudo” porque, até o momento, o tucano Serra está conseguindo escapar da armadilha de transformar a eleição em um plebiscito entre os anos Lula e os de FH.

A eleição está polarizada entre PT e PSDB, e Lula é o centro da disputa, mas não em comparação ao super adversário FH, e, sim, ao seu vezo centralizador.

O candidato do PSDB, José Serra, subiu o tom contra o PT no discurso na convenção em que foi indicado candidato oficial dos tucanos, mas arriscou uma crítica indireta a Lula, até agora inatacável.

Na fase em que ainda tentava se ligar a Lula no imaginário do eleitor, Serra chegou a dizer que Lula está “acima do bem e do mal”, um exagero que nem mesmo o mais fanático de seus seguidores havia tido a coragem de assumir.

Mas esses foram outros tempos, quando ainda havia esperança entre os tucanos de que o eleitorado de Lula não embarcaria na candidatura de Dilma como está embarcando.

Serra, no sábado, decidiu avançar nas críticas: “Acredito que o Estado deve subordinarse à sociedade, e não ao governante da hora, ou a um partido. O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou para trás há mais de 300 anos.

Luís XIV achava que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para ‘Luíses’ assim”.

O nosso Luís não concorda, e continua falando como se o Estado fosse ele.

A luta da oposição parece estar centrada na tentativa de mostrar ao eleitorado que o Lula que não disputa a Presidência não é a mesma coisa que Dilma, apesar da garantia de Lula.

Até mesmo na convenção do PSDB paulista, que lançou Geraldo Alckmin a governador, o assunto apareceu.

Na análise dos principais líderes do PSDB, tanto lá, um estado “tucano”, quanto em Minas, um estado que ainda está em busca de uma definição partidária, a eleição deste ano está mais fácil para os tucanos do que em 2006, porque Lula não é candidato.

Alckmin, por exemplo, fez questão de reforçar em seu discurso: “Lula não é candidato, está certo? Ele não está na campanha este ano”.

Outra estratégia tucana ficou clara na convenção paulista, quando Alckmin atacou a falta de experiência de Dilma, chamada de “paraquedista” por Serra: “Quem pega carona e vai na garupa não guia, não breca, não acelera, não conduz. José Serra será nosso comandante”, afirmou.

Dizendo-se “soldado de Serra”, Alckmin tentou ainda desfazer a má impressão de que não está se empenhando o suficiente na campanha presidencial.

O ex-governador de Minas Aécio Neves, que comanda a campanha do PSDB mineiro na tentativa de eleger Antonio Anastasia seu sucessor em condições semelhantes às de Lula em relação a Dilma, esteve também presente na convenção tucana para mostrar a unidade do partido.

Ele também considera que a ausência de Lula facilita a possibilidade de vitória de Serra no estado, que deu duas vitórias seguidas a Lula nas eleições presidenciais de 2002 e 2006.

Certa vez, Aécio chegou a dizer que Lula era tão benquisto em Minas que, em certas regiões, os eleitores, se tivessem que escolher, poderiam deixar de votar nele para votar em Lula.

Este ano, o eleitorado mineiro vai ter, portanto, dois cabos eleitorais fortes a tentar induzir seu voto. Há indicações de que a imposição da candidatura de Hélio Costa, do PMDB, em detrimento do ex-prefeito Fernando Pimentel, não teve boa acolhida entre os eleitores petistas, o que pode prejudicar a campanha do partido em Minas.

O empate entre os dois candidatos demonstra que as questões regionais serão fundamentais na definição da vitória.

Por isso, até o final do mês, quando termina o prazo para as convenções regionais, as pressões serão grandes.

Um exemplo disso é o PP, partido que faz parte da base aliada do governo, mas tende a ficar neutro na disputa presidencial.

Há informações de que o governo está pressionando muito os setores regionais do partido que estão com a candidatura oficial para realizarem uma convenção, na tentativa de aprovar a formalização do apoio.

Mas as seções de Minas e as do Sul do país, que estão comprometidas com a candidatura de José Serra, estão trabalhando para adiar ao máximo a realização da convenção, para esfriar o ânimo dos “dilmistas”.

Mesmo sem estar na telinha da máquina de votar, Lula continua sendo o principal ator dessa campanha presidencial, para o bem e para o mal.