sábado, agosto 01, 2009

O VENDEDOR DE SENTENÇAS



O canalha acima, é o juiz que censurou o JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO-ESTADÃO
A fotografia explica, como nós temos juízes canalhas. Come na mão dos poderosos.
Esse é um vendedor de sentenças.

Obs: Foi funcionário do Senado. Quer mais?
O nome dele é Dácio Vieira, O FACILITADOR

MORIBUNDOS DE FOGO


BRINCANDO NO PARQUE DE DIVERSÕES


MERVAL PEREIRA

Entendendo a opinião pública


O Globo - 01/08/2009

A crise no Senado tem produzido como efeito colateral uma discussão que já se tornou recorrente no governo Lula sobre o papel da mídia e sua repercussão na opinião pública. O presidente do Senado, José Sarney, se proclama vítima de uma perseguição dos grandes meios de comunicação, assim como fez o senador Renan Calheiros quando coube a ele enfrentar uma série de acusações que o tiraram da presidência do Senado. Quando o deputado Sérgio Moraes disse que estava “se lixando” para a opinião pública, repetia a postura de um outro deputado, Roberto Brant, que, para se livrar da cassação pela participação no mensalão, fez um discurso de defesa na tribuna da Câmara onde advertiu seus pares para que tivessem cuidado “com o monstro da opinião pública”.

Pediu que pensassem “apenas no povo”, no pressuposto, muito em voga no atual governo, de que a “opinião pública” representa apenas uma parcela de elite da sociedade, e não os cidadãos de maneira geral.

A tese tem respaldo no comportamento do próprio presidente Lula, que se orgulha de ter um canal direto com o povo que dispensaria a intermediação das elites, políticas ou intelectuais.

Essa posição é uma distorção da própria gênese da “opinião pública”, ligada ao surgimento do Estado moderno, onde as forças da sociedade ganham espaço para suas reivindicações contra o absolutismo do reinado. A popularidade de Lula hoje lhe dá essa sensação de poder absoluto.

Daí a desqualificar a grande imprensa e querer influenciar diretamente o eleitorado, sobretudo o das regiões mais pobres do país, através dos programas assistencialistas, e a tentativa de controle da mídia regional através de verbas de publicidade, é um passo.

A tese de que as novas tecnologias, como a internet, o twitter e as redes sociais de comunicação, seriam elementos de neutralização da grande imprensa é contestada por especialistas e por pesquisas.

O jornal “The New York Times” publicou recentemente uma pesquisa, realizada por especialistas das universidades de Cornell e Stanford, que afirma que uma notícia tornase tema de um jornal impresso duas horas e meia antes de se tornar assunto dos blogs na internet, o que confirmaria a tese de que a internet é a “caixa de ressonância” da grande imprensa, de quem precisa para se suprir de informação.

O jornalista Carlos Castilho, especialista em novas tecnologias, escreveu sobre essa pesquisa no Observatório da Imprensa, mas registrou uma outra, do jornalista Bill Wasik, editor sênior da revista “Harpers”, que lançou na semana passada o livro “And Then There’s This” (E então isto aconteceu, em tradução livre) onde afirma que uma notícia circula com mais velocidade na internet quando “pode ser usada para reforçar a artilharia verbal de grupos em confronto”.

Parece haver um consenso entre os estudiosos, como Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas, especialista em novas mídias: “Não é uma coisa ou outra, mas uma coisa e outra”, diz ele, acrescentando que “a criação dessa grande praça pública onde as pessoas conversam e são ouvidas não significa que a mídia tradicional vá desaparecer.

O sistema de mídia da era industrial está se adaptando ao sistema da era digital, que é um ecossistema mais horizontal, ao contrário da verticalidade da outra época”.

Ele lembra que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que levou para a campanha presidencial todos os novos instrumentos de comunicação de massa, abriu um precedente importante quando deu espaço para repórteres de blogs fazerem perguntas pela primeira vez nas entrevistas coletivas. “Mas a mídia tradicional tem precedência sempre que ele quer tratar de assuntos de interesse imediato”, ressalta Rosental.

Aqui no Brasil, o próprio Lula, que se vangloria de ter um contato direto com o povo sem depender da intermediação dos grandes meios de comunicação, resolveu escrever uma coluna “O Presidente Responde” justamente para jornais.

O cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do best-seller “A Cabeça do Brasileiro”, acha que o que tem acontecido é que a mídia nacional tem pautado a internet mais lida. Ele considera “um caso à parte” o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, “que atinge todo mundo”.

“Esse processo de transição não acontece do dia para a noite, e no momento que vivemos no Brasil a imprensa tem sido fundamental”, diz Almeida.

Ele faz uma distinção: “A repercussão das denúncias atinge a elite política e uma parcela do eleitorado da classe média e das cidades maiores. O grosso do eleitorado tem acesso às informações através da mídia popular, onde as notícias politicas têm peso relativo menor”.

Isso acontece, segundo sua interpretação, pelo peso que o cidadão dá aos acontecimentos.

“No Nordeste, como o cidadão é mais pobre na média, dá menos peso à crise do Senado, por exemplo, na avaliação dele do governo. Nas cidades mais dinâmicas, o eleitor já está mais atento a certos valores morais e éticos.

Uma soma de mensalão e denúncias da imprensa mais o Bolsa Família mudou o perfil eleitoral do Lula”, analisa.

Já Miguel Darcy de Oliveira, que trabalha com redes de ONGs em comunidades carentes, não crê que se possa falar num contraste rígido entre “uma opinião pública minoritária e uma maioria de desinformados e deseducados”.

De alguma maneira, diz ele, a informação alcança um grande número, e exemplifica com a votação de Gabeira para prefeito do Rio que foi “muito além das faixas bem informadas da população”.

Da mesma forma, diz ele, “os altíssimos índices de aprovação de Lula tampouco podem ser atribuídos à falta de informação da população”.

Miguel Darcy de Oliveira acha que “o desafio é entender como a informação chega aos deseducados e é por eles processada”. (Continua amanhã)

CÃO SEM DONO


DORA KRAMER

Sétimo sentido


O Estado de S. Paulo - 01/08/2009

O sexto sentido, desta vez, deixou o presidente Luiz Inácio da Silva na mão. Mesmo insistentemente aconselhado a guardar certa distância da crise do Senado, Lula resolveu prosseguir na defesa cada vez mais apaixonada do presidente da Casa, José Sarney.

Certamente deve ter achado que as críticas em relação a ele ficavam restritas à oposição e à imprensa, dois setores que Lula aprendeu a desprezar depois de ter sido reeleito apesar dos vários escândalos de corrupção que permearam o primeiro mandato.

Não levou em conta um dado fundamental: em se tratando de José Sarney, há todo um passivo desfavorável. São poucos os que valorizam o papel de Sarney na transição democrática. Por ironia, boa parte deles trabalha na imprensa ou milita na oposição.

A maioria das pessoas lembra de Sarney como o presidente que afundou o Plano Cruzado por causa de uma eleição e deixou o País com 80% de inflação ao mês. Embora tenha sido a principal figura da Nova República, com a morte de Tancredo Neves, Sarney acabou se transformando em símbolo do que há de mais retrógrado na República.

Quando à fama se juntaram os fatos divulgados nos últimos meses, o que poderia ser má impressão consolidou-se como rejeição. Isso a intuição de Lula não foi capaz de detectar.

Abandonado pelo sexto sentido, o presidente recorreu aos préstimos de um sétimo e, pragmaticamente, mudou o discurso. "Não é problema meu", disse Lula na quinta-feira sobre o destino de José Sarney na presidência do Senado.

A declaração foi imediatamente interpretada como a senha para o desembarque, atribuído a pesquisas que indicariam malefícios para a popularidade do presidente, decorrentes do apoio entusiasmado a Sarney.

Pode ser e pode não ser. Com o presidente Lula nunca se sabe direito o que representa realmente sua posição ou o que é apenas mais uma manifestação de sua falta de compromisso com a palavra dita.

Logo no início da crise Lula falou a mesma coisa, que o Senado era um outro Poder e que a ele caberia resolver seus problemas. Isso depois de ter mobilizado o governo em prol da eleição de Sarney para a presidência do Senado e minutos antes de abrir a temporada de defesa explícita e de intervir diretamente na posição da bancada do PT, majoritariamente favorável ao afastamento.

Se a declaração for mesmo o que pareceu à primeira vista, é de se concluir que, na visão do presidente, Sarney é insustentável no cargo. Nesse caso, o recuo de Lula cumpriria dois objetivos: minorar os efeitos do distanciamento entre suas ações e a opinião do público e tentar evitar que a derrota presumida de Sarney seja vista como um fracasso pessoal do presidente. Que tanto fez e nada conseguiu em prol do protegido.

O conselheiro

O ex-prefeito César Maia elaborou uma espécie de manual com "50 conselhos para os políticos". Eis a maioria deles.

. Nunca mude de personagem.

. Há uma diferença entre buscar recursos para fazer política e buscar a política para fazer recursos.

. Atire sempre na pessoa jurídica do seu adversário, nunca na pessoa física.

. Fique bravo por fora, mas tranquilo por dentro.

. Sempre haverá um bêbado numa reunião. Dê a palavra a ele.

. Só polemize se souber o que vai dizer na quinta jogada.

. Seu adversário sabe tudo de você. Você só precisa saber uma coisa dele.

. Os âncoras da TV têm mais credibilidade que você. Nunca os desminta.

. É na pré-campanha que se fixa a imagem no celuloide. Na campanha se revela.

. Escolha a biografia de no mínimo dois políticos e as conheça bem.

. Os números quebrados impressionam mais.

. O voto se pede, mas não se suplica.

. Em plenário, responda concordando e prossiga... discordando.

. Não é você que é bonito, mas o poder que você tem. Dura apenas o seu mandato.

. A retórica pomposa ridiculariza.

. Nunca desminta a imprensa; faça uma nova afirmação.

. Cada aperto de mão é uma pesquisa qualitativa.

. A eleição de hoje não é a última da história.

. Nunca minta. Fale o necessário.

. Prometa só o possível.

. Não fale mais do adversário na frente da família. Ela não entenderá quando ele for seu parceiro.

. Nunca tranque as portas. No máximo, as feche.

. Ideologia não é tudo na política. Política sem ideologia é nada.

. Case com uma mulher mais velha. (no caso das mulheres políticas) Case com um homem muito mais velho.

. As pesquisas tratam do que você deve fazer e não do que você já fez.

. Enxugue o suor antes de oferecer a mão para o aperto.

. Seu publicitário sabe muito menos que você sobre política.

. Aprenda a sorrir como o Blair (Tony, ex-primeiro ministro da Inglaterra) e faça assim na TV e nos velórios.

. A internet não substitui a imprensa.

. A imprensa continua importante.

. A imprensa não é fundamental.

. A notícia de hoje desaparece duas horas depois.

. Cuidado quando as notícias forem em série.

. Conheça umas quatro piadas sobre políticos. Curtas. E as use.

AVIÃO


CAINDO

PANORAMA

REVISTA VEJA
Panorama

Holofote


Felipe Patury


Os números da oposição

Alan Marques/ Folha


Uma pesquisa encomendada pelo PSDB ao Instituto Análise indica que a intenção de votos na candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, caiu, em junho, de 5 a 8 pontos porcentuais. Essa variação ocorre quando se substitui a lista de seus possíveis adversários. A perda de votos de Dilma, que equivale ao eleitorado que ela havia conquistado em maio, foi causada por sua menor exposição na imprensa e pelo desgaste sofrido pelo governo por apoiar o presidente do Senado, José Sarney. Foi esse o motivo também da redução em 3 pontos porcentuais na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os números do Planalto

Thiago Teixeira/ Folha


Os levantamentos eleitorais do Palácio do Planalto também preocupam os partidários da ministra Dilma Rousseff. Eles mostram que a campanha da petista está estagnada. É essa a razão principal para que o presidente Lula insista na candidatura do cariri Ciro Gomes, do PSB, ao governo de São Paulo. Suas pesquisas sinalizam que 60% do eleitorado de Ciro migraria para Dilma caso ele deixasse de lado a corrida presidencial para tentar o Palácio dos Bandeirantes. Seria essa a forma mais fácil de elevar a petista à casa dos 30% das intenções de voto, aproximando-a, assim, do tucano José Serra, líder nas pesquisas.

O mercado da Copa

Edu Lopes


O Pão de Açúcar será o novo patrocinador da Seleção Brasileira. O acordo deve ser anunciado nesta semana. Estima-se que a rede de supermercados de Abilio Diniz pagará 4 milhões de dólares por ano, até 2014, para expor sua marca nos amistosos da seleção e usar imagens do time e o emblema da CBF em propagandas. Nike, AmBev, Vivo e Itaú-Unibanco têm direitos semelhantes. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, contratou a Koch Tavares para arranjar um sexto patrocinador para o time.

O "não" dos pecuaristas

Valter Campanato/ ABR


É uma situação inédita no mundo da pecuária: 1 550 fornecedores do frigorífico Independência no Centro Oeste rejeitaram o plano de recuperação judicial que a empresa apresentou há dez dias. Miguel e João Russo, do Independência, propuseram pagar à vista quem tem até 80 000 reais a receber (10% dos credores) e parcelar o resto. Condicionavam essa oferta à obtenção de um empréstimo de 300 milhões de reais e ao compromisso de não ser processados em caso de calote. A negativa em massa foi arquitetada pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO).

No Maranhão é assim que funciona

Roberto Stuckert/
O Globo


Uma das primeiras providências da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão na gestão de Roseana Sarney foi contratar o advogado Arão Lobão por 1,5 milhão de reais por um ano. Piauiense, Lobão é desconhecido no Maranhão, não está registrado na OAB local e, por isso, só pode peticionar em cinco causas por ano no estado. É um generalista, que trabalha em todo tipo de processo. Ainda assim, foi contratado sem licitação por "notória especialização". Ele é parceiro de Marcus Vinicius Coelho, que advogou para Roseana na cassação do ex-governador Jackson Lago. Lobão diz que não houve tráfico de influência e que ganhou o contrato por puro senso de oportunidade.


As retransmissoras de Hélio Costa

Marcelo Casal Jr/ABR


Desde 2005, quando o ministro Hélio Costa assumiu a pasta das Comunicações, o governo emitiu 2 500 outorgas a emissoras de rádio e TV, uma média de duas por dia. A responsável pelo prodígio é a secretária de Serviços de Comunicação Eletrônica, Zilda Beatriz Abreu, prima do ministro. Ambos têm uma predileção por Minas Gerais quando distribuem concessões de rádios comunitárias. O estado foi agraciado com 605 das 3 754 autorizações para essas emissoras – uma centena a mais que São Paulo, o segundo colocado no ranking. Em 2010, Hélio Costa concorrerá ao governo mineiro pelo PMDB.

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
J.R. Guzzo

Um mundo correto

"Trata-se de um mundo cada vez mais correto,
no papel – e cada vez mais chato, na vida real."

O cidadão que trabalha, paga impostos e trata, basicamente, da sua vida não faz ideia da quantidade de leis e regulamentos a que tem de obedecer hoje em dia para viver bem. Também não sabe a quantidade de coisas que está proibido de ler, ver e ouvir – mais uma vez, para o seu próprio bem. Ele mesmo, naturalmente, não sabe como cuidar de si, nem definir a sua qualidade de vida; é preciso, assim, que o poder público pense e decida em seu lugar, escolhendo o que é melhor para todos e para cada um, e isso desde a primeiríssima infância. A maior parte dos brasileiros não sabe, mas é proibido por lei, por exemplo, fazer publicidade de mamadeiras, chupetas e bicos para mamar, "em qualquer meio de comunicação" – e, para não ficar nenhuma dúvida, também são vetados "promoções, cupons de desconto, sorteios e brindes" envolvendo esses produtos. A ideia superior das autoridades, no caso, é promover a amamentação no seio materno. Para sorte dos bebês que não gostam de se alimentar assim (e das mães que não têm a quantidade de leite desejada pelo governo), continua permitida a fabricação, venda e uso de mamadeiras – mas é ilegal falar que elas existem. Não está claro qual o problema que foi resolvido com essa lei, mas se alguém perguntar a respeito aos peritos em saúde pública infantil provavelmente ouvirá que o Brasil tem uma das políticas de aleitamento "mais avançadas" do mundo.

A situação até que seria razoável se esse tipo de coisa ficasse mais ou menos por aí. Mas não fica. Rolam no Congresso Nacional, no momento, mais de 200 diferentes projetos de lei destinados, na visão de seus autores, a fazer o bem; todos eles estabelecem algum tipo de proibição ou de limitação à publicidade de produtos ou serviços. Fora do Congresso, a única instância autorizada pela Constituição a legislar sobre o tema, autoridades estaduais têm as mesmas ambições de criar regras sobre o que pode e o que não pode ser dito. O estado do Paraná, por exemplo, acaba de proibir que seja exposta em seu território qualquer peça de propaganda com palavras em idioma estrangeiro, a menos que esteja acompanhada de tradução. A decisão, desde logo, causa algumas sérias dificuldades de ordem prática. Como faz, por exemplo, um comerciante de computadores que precisa utilizar a palavra software num cartaz a ser colocado em sua vitrine? O texto da lei não apresenta nenhuma sugestão a respeito do procedimento a seguir.

O bonito, no caso, é que a própria lei que cria a proibição utiliza, logo no seu artigo 1º, uma palavra em idioma estrangeiro, caput, e não faz tradução nenhuma, o que, tecnicamente, deveria sujeitar o governo estadual a uma multa de 5 000 reais – ou até 10 000, talvez, se for considerado que o caso é de reincidência. É para lá de esquisita, também, a sintaxe utilizada na redação da lei. "A tradução", escreve-se ali, "deve ser do mesmo tamanho que as palavras em outro idioma expostas na propaganda" – ou seja, o governo do Paraná, tão preocupado com as línguas estrangeiras, não notou que seu principal problema, por enquanto, é mesmo com a língua portuguesa.

Tudo isso fica menos cômico quando se considera que a cada medida desse tipo a autoridade pública não apenas vem encher a paciência do brasileiro com mais uma interferência inútil em seu cotidiano; comete, igualmente, uma agressão contra a liberdade de expressão. É inevitável. Todas as vezes que se escreve alguma lei sobre questões nas quais a liberdade de expressão está envolvida, o cidadão fica menos livre para se exprimir; não se conhece, na experiência humana, nenhum episódio em que tenha acontecido o contrário. Outra consequência dessas tentativas de regular cada vez mais coisas é a criação de uma teia de obrigações na qual já não basta que o indivíduo obedeça à lei comum e respeite os direitos dos outros – ele precisa, também, levar uma vida considerada virtuosa e ser protegido de si próprio. Deve consumir alimentos com a quantidade correta de nutrientes e, de preferência, orgânicos. Não deve andar de automóvel. Deve considerar que vegetais como uma árvore, por exemplo, são titulares de direitos. Não deve tomar banhos com duração superior a três minutos, para não esgotar as reservas de água doce do planeta. Deve beber com moderação. Não deve assistir a programas de televisão (ou ler livros, ver filmes, ouvir músicas) que visem à obtenção de lucros comerciais. Deve, ao fim da linha, morrer no peso ideal.

Trata-se de um mundo cada vez mais correto, no papel – e cada vez mais chato, na vida real.

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Não votei no Sarney, não é problema meu
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Eu não votei. E você? Quem votou em José Sarney para senador pelo Amapá? Quem colocou Sarney na presidência do Senado? Quem reabilitou Renan Calheiros, que sonha em ficar invisível para nada respingar no terno dele? Não fui eu. Nem você. O apoio do PMDB é essencial para quem? Não é para mim ou para você. Nem para o PT, hoje um partido quase amotinado, na tentativa de não desmilinguir. O PT já foi a cara de Lula e vice-versa. E hoje?

Hoje, o PT não consegue convencer o presidente a apoiar seus candidatos nas eleições locais. Restam as convicções, onde está o ideário, a coerência, a única tábua de salvação para um partido político que se preze? Neste chuvoso e movimentado recesso parlamentar, fatos e personagens insistiram em emergir dos bueiros com a apuração da imprensa e atropelaram as férias dos senadores.

O namorado-aspone da bela neta de Sarney, Henrique Dias Bernardes, de 27 anos, formado em física, com pós-graduação em economia e contabilidade, deveria ter sido vetado como servidor do Senado. Suas qualificações nada têm a ver com sua função de recepcionista: atende telefone, recebe senadores e emite recibos. O que faz ali um rapaz que, no Orkut, é membro das comunidades Galera Vip de Brasília e Estilo Cachorro (macho) e, nas muitas horas vagas, esquia e pratica kitesurf no exterior? Henrique deve ser um alienígena entre seus colegas recepcionistas. Mas a neta pediu, e eram R$ 2.700 por meio expediente – sabe como é? –, meio expediente no Senado. Além disso, os atos secretos servem para essas boquinhas. Que avô negaria?

Como Sarney não é uma “pessoa comum” e tem uma biografia que deve ser levada em conta em qualquer investigação do Ministério Público sobre falta de decoro ou tráfico de influência, a nomeação do namorado da neta não é nada mesmo. Em público (só em público), Sarney acaba de perder seu principal aliado. Entre a primeira declaração de Lula no exterior – “não há crise no Senado; apenas divergências” – e a última em São Paulo – “somente o Senado, que elegeu Sarney, pode dizer se ele vai ficar ou não” –, o país testemunhou toda sorte de tentativas de Lula para blindar um político que um dia ele chamou de “ladrão”. O Legislativo sentiu a mão de Lula tentando enquadrar o PT e dirigir o rumo das investigações e das notícias. Com o mal-estar crescente, seu discurso mudou: “Não votei no Sarney, não é problema meu”. É problema seu sim, presidente.

É problema, sim, presidente, quando o senhor se afoga
em popularidade sem ouvir seus conselheiros

É problema quando um presidente diz e desdiz e se afoga na popularidade sem ouvir conselheiros. É problema nos assuntos mais corriqueiros. Na quarta-feira, Lula ignorou seu ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e sancionou a lei que regulamenta a profissão de mototaxista. Não adiantou Temporão alertar para os 19 mortos diários em acidentes de moto. Médicos e especialistas acham que essa lei está “na contramão da vida”. A vantagem da regulamentação seria criar exigências e normas de segurança. Mas a violência do trânsito brasileiro e o despreparo de mototaxistas e passageiros sugerem que o número de mortes em motos pode duplicar. Uma campanha de educação nacional deveria preceder a lei.

“Todo mundo faz” virou bordão em Brasília. O jornal O Estado de S. Paulo revelou que 70% dos membros do Conselho de Ética do Senado enfrentam problemas constrangedores. E nenhum lulista lembra que o PT era a promessa de uma política ética, sem corrupção, compadrio e aparelhamento.

O bordão “todo mundo faz” não é privilégio dos políticos. O jornal O Globo lançou a campanha Ilegal. Eu?, que obriga o brasileiro a se olhar no espelho. Fotos flagram todo tipo de falta de educação. Na semana passada, um funcionário da Vigilância Sanitária urinava numa árvore no bairro carioca do Leblon depois de parar o carro oficial irregularmente. Executivos e senhoras bem-vestidas jogavam no chão copos de plástico, guardanapos, embalagem de biscoito – são 260 toneladas de lixo recolhidas pelos garis diariamente nas ruas da cidade do Rio.

Todo mundo faz. O lixo dos cidadãos enche os caminhões. O lixo dos políticos é varrido para debaixo do tapetão. É problema nosso.

GOSTOSA


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INFORME JB

Vai sobrar um no PT do Rio

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 01/08/09

Dois nomes do PT do Rio vivem programando o futuro sem a certeza otimista dos que se glorificam nas urnas. Enquanto se poupam, Benedita da Silva (D) e Lindberg Farias (E) traçam futuros incertos. Ambos querem a vaga do Senado na chapa PT–PMDB, que deve sair ano que vem. Deve? Sim. É a verticalização funcionando, pelo menos entre petistas. É o que quer o presidente Lula e a candidata à sucessão Dilma Rousseff (C). Lindberg voltou de Brasília com um recado de Dilma: "O PT não deve nada a Sérgio Cabral". Na prática, a ministra precisa do governador e do PMDB para ganhar no Rio. Lindberg quer fechar chapa com o deputado Jorge Picciani (PMDB) para o Senado. Benedita, atual secretária de Cabral, idem. Um deles vai sobrar, avalia a cúpula petista.

Novembro Racha

A eleição para o comando do PT no Rio em novembro pode decidir quem vai para a chapa de Cabral. As correntes dentro do partido já lutam por seus nomes.

Benedita (D) é da corrente Construindo um Novo Brasil (Zé Dirceu, Lula), cujo candidato a presidente do PT no Rio é o deputado Luiz Sérgio. Lindberg (E), da Socialismo é Luta, aposta no racha dos adversários: lançou Lourival Casula – ligado à Novo Brasil no plano nacional.

Turma do Tarso

O vereador carioca Adilson Pires pode ser o candidato da corrente Mensagem ao Partido (Tarso Genro, entre outros ministros)

Agenda

O vice-presidente José Alencar recebeu ontem à tarde, no Sírio-Libanês, em São Paulo, um telefonema do ministro Marcio Fortes (Cidades), convidando-o para visitar Minas. "Se Deus quiser", disse Alencar.

Esperança

Esperantina (PI) foi destaque há sete anos quando promoveu seminário sobre o orgasmo – pesquisa mostrou que 78% das mulheres estavam insatisfeitas. Ontem, Dia Mundial do Orgasmo, a situação já era outra, dizem.

Xô, fumaça

O governador paulista José Serra (PSDB) comemorou ontem, na internet: "Contagem regressiva: no dia 7, lei antifumo em vigor".

Na mão

Por falar em rede web, Serra, inveterado internauta, lançou o portal do governo de São Paulo para telefone móvel.

Sarados

Dilma Rousseff (C) reforçou a malhação para aguentar o pique da campanha do ano que vem. Ontem, mulheres presentes a eventos oficiais em Belo Horizonte repararam que Aécio Neves também anda malhando.

Hermanos

O governo do Paraguai vai sancionar o acordo que regulariza situação de 350 mil brasiguaios. A notícia foi dada ontem a deputados pelo embaixador brasileiro, Eduardo Santos.

Ética

Lula nomeou o ministro Humberto Gomes de Barros, ex-presidente do STJ, para integrar a Comissão de Ética Pública.

Academia e letras

Ganhou maior importância no meio acadêmico o livro de Sérgio Aguinaga, da Academia Nacional de Medicina, no que concerne à história da entidade.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

Um mundo correto

"Eu tenho um imenso respeito pelos ratos venezianos.
Um respeito que beira a vassalagem. Eles, por sua vez,
me tratam com certa soberba. Eu entendo. Os ratos venezianos
pertencem a uma estirpe nobre"

Veneza está infestada de ratos. Quatro ratos para cada habitante. Um total de 200 000 ratos. Perambulo todas as noites à procura deles. Olha o rato saindo do tubo do esgoto! Olha o rato atravessando o canal a nado! Olha o rato morto com um fiozinho de sangue escorrendo pelo canto da boca!

Eu tenho um imenso respeito pelos ratos venezianos. Um respeito que beira a vassalagem. Eles, por sua vez, me tratam com certa soberba. Eu entendo. Os ratos venezianos pertencem a uma estirpe nobre. O impacto que seus antepassados –rattus rattus – tiveram no desenvolvimento das artes foi incomensuravelmente maior do que o de todos nós – brasileiros brasileiros – em mais de 500 anos de história.

A igreja do Redentor é obra dos ratos venezianos. Melhor dizendo: a igreja do Redentor é obra de Andrea Palladio, um dos mais importantes arquitetos de seu tempo, mas ela só foi erguida para comemorar o fim de uma epidemia de peste, em 1576. Quem propagou a epidemia? Os ratos venezianos e suas pulgas. Eles voltaram a disseminar a peste em 1630, matando outras dezenas de milhares de pessoas. O resultado foi melhor ainda: para comemorar o fim da epidemia, Baldassare Longhena projetou a igreja de Santa Maria della Salute.

Nos períodos de epidemia, os navios com pestilentos a bordo tinham de permanecer ancorados ao largo de Veneza, em quarentena, com uma bandeira amarela no mastro. Alguns dias atrás, a imagem se repetiu, quando passageiros e tripulantes de um navio proveniente da Turquia foram impedidos pela guarda costeira de desembarcar na cidade, porque as autoridades temiam que eles fossem portadores de gripe suína. As barreiras sanitárias erguidas pelos italianos funcionaram até agora. Ninguém morreu de gripe suína na Itália. É o contrário do que ocorre no Brasil. Nós já conquistamos uma primazia nesse campo: de acordo com as estatísticas da Organização Mundial de Saúde, temos a segunda maior taxa de mortalidade por gripe suína do mundo. Atrás apenas deles – os argentinos nos argentinos.

Michel de Montaigne passou por Veneza em 1580, quatro anos depois da epidemia que inspirou a igreja do Redentor. Ele associou a peste ao mau cheiro dos canais venezianos, ignorando o papel dos ratos no contágio. Nos Ensaios, ele filosofou que filosofar é aprender a aceitar a própria morte. Nisso ninguém supera os brasileiros. Nós morremos pacatamente, resignadamente, bovinamente, sem atribuir responsabilidades pelas epidemias, sem protestar contra o ministro da Saúde, sem jogar tomates no presidente da República. No Brasil, falta um Andrea Palladio, falta um Baldassare Longhena. Falta também Tamiflu. Por outro lado, morremos melhor do que os outros. Morremos como Montaigne.

EVOLUÇÃO DO HOMEM


MÍRIAM LEITÃO

Juros e juros

O GLOBO - 01/08/09

Os juros bancários podem continuar caindo mesmo que a Selic não caia. Por vários motivos: eles permanecem altíssimos; caíram proporcionalmente menos do que a Selic; a inadimplência começará a cair; a estabilização da Selic em nível mais baixo dará aos tomadores uma noção melhor do custo do dinheiro. Os bancos públicos poderiam incentivar a competição se tivessem custos menores.

Os juros bancários caíram em todas as modalidades em junho, mas há quedas e quedas. As taxas cobradas pelos bancos são tão altas que quando caem é como sair do vigésimo para o décimo nono andar. É alto do mesmo jeito.

Perguntei ao chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, esta semana, se os juros bancários poderiam cair mais. Ele registrou um ponto que já esclarece tudo: na taxa média anual do crédito da pessoa física, que em junho foi de 45,6%, o spread representava 35,7 pontos percentuais. Essa diferença entre o custo de captação e o de empréstimo é enorme.

Juros de 45,6%, que seriam considerados inaceitáveis em qualquer país do mundo, aqui são o segundo melhor número da série que começou em julho de 1994, ou seja, no mês do real. O melhor número foi dezembro de 2007 (veja abaixo o gráfico que compara a queda do custo de captação, dos empréstimos e do spread). A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) faz a conta de forma diferente. O diretor setorial de Economia da entidade, Tomás Málaga, disse que os juros da pessoa física caíram dez pontos e os da Selic cinco pontos. Mas mais importante não é a queda em pontos, mas sim a queda proporcional ao tamanho da taxa.

Os juros básicos em 8,75% são os mais baixos da história, e altos para qualquer país. O Copom avisou esta semana, pelas entrelinhas da ata, que eles não devem cair mais por enquanto. O diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Andrew Storfer, aposta que a manutenção da Selic nesse patamar vai aumentar a pressão da sociedade sobre os bancos para que ocorra redução das taxas tanto para pessoas físicas quanto jurídicas:

- Esta será a primeira vez que a taxa de juros ficará num mesmo patamar, baixo, durante um longo período. Isso vai provocar um efeito semelhante ao que ocorreu durante a estabilização do real, quando a inflação foi controlada. As pessoas passaram a ter noção do preço dos produtos, e agora passarão a ter noção do custo do dinheiro. Isso vai aumentar a pressão da sociedade como um todo sobre os bancos.

Altamir Lopes acha que os spreads podem cair mais porque a inadimplência tende a ficar menor nos próximos meses (veja no gráfico):

- O atraso de 90 dias está estabilizado, mas quando se olha o atraso de 15 dias a 90 dias, se vê que está havendo queda. Isso sugere que a inadimplência tende a cair.

A Febraban admite que os spreads são elevados, mas tem várias explicações.

- Os spreads são elevados por vários motivos. A inadimplência e o risco de mercado são parte desses. Os depósitos compulsórios sobre depósito à vista são 47%, quando a média da America Latina é 14%. Isso reduz os recursos que os bancos podem emprestar. Existem impostos que encarecem a intermediação financeira, encarecendo o crédito. Estes impostos podem ser fáceis de arrecadar, porém, têm efeitos em cascata importantes, reduzindo as oportunidades de negócios na economia - diz Málaga.

Alguns componentes do spread estão mais favoráveis de outubro para cá: houve liberação de R$100 bilhões de compulsório - que na prática aumenta a competição entre os bancos e a oferta de dinheiro; a inflação está em queda; a Selic foi reduzida; o crédito internacional está voltando.

Contribuiria também para que o spread fosse reduzido se melhorasse a gestão dos bancos públicos, que detém 40% do mercado de crédito. Como eles possuem privilégios em relação aos bancos privados - como acesso a folha de pagamentos da União e depósitos judiciais - o spread poderia ser mais baixo se eles tivessem custos de operação menores. Como imposição do governo, como está sendo agora, é bem temerário.

Não é simples o tema dos juros no país. Mas uma coisa é certa: o Brasil já foi anormal em taxa de inflação. Hoje, continua anormal em taxa de juros.

CLAUDIO DE MOURA CASTRO

REVISTA VEJA
Cláudio de Moura Castro

O próximo passo

"Conseguir uma educação de qualidade
é possível, como demonstraram os muitos
países que deram esse salto"

Ilustração Atômica Studio

É preciso entender que em educação, como em outros setores, há etapas a ser vencidas. Enquanto faltam escolas, construí-las tem um impacto fulgurante nas estatísticas. Mas essas escolas são apenas caricaturas se lhes faltam livros, equipamentos e professores. Suprir essas lacunas resulta também num grande salto na matrícula e na qualidade. O passo seguinte é ter professores minimamente preparados, uma administração central operante, currículos claros e não estar em greve todos os meses (seja de quem for a culpa). Esses aperfeiçoamentos trazem ainda bons frutos na qualidade e na deserção. Mas, daí para a frente, os erros e deficiências vão se tornando menos óbvios, as correções mais sutis e o seu impacto resvaladiço. As mudanças fáceis já foram feitas, restam aquelas politicamente mais conflitantes. Ou seja, mais se avança, mais difíceis se tornam os avanços subsequentes.

Faz algumas décadas, estávamos vergonhosamente distantes de países como Chile, Argentina e Uruguai – os menos ruins da América Latina. Na verdade, as matrículas eram inferiores às da Bolívia e do Paraguai. A um ritmo espantosamente rápido, conseguimos nos aproximar do nível de matrícula do Chile, da Argentina e do Uruguai. Nenhum outro país latino-americano avançou tão depressa nas últimas décadas. Não é pouca coisa. De fato, a partir da década de 90, acelera-se a expansão do nosso ensino, com a clara liderança dos estados mais prósperos. Crescem Minas, Rio Grande do Sul e Paraná, mais do que os outros. Norte e Nordeste permanecem travados. Mais para o fim da década, começam a avançar os retardatários. Ao fim do milênio, a universalização da matrícula é obtida. O desafio maior passa a ser a qualidade. Não obstante, tanto na matrícula quanto na qualidade, começamos a patinar, avançamos pouco ou estagnamos. Depois que fizemos o fácil, os próximos passos são mais árduos e de impacto mais diáfano.

A última rodada do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostra que começamos a encontrar problemas para avançar. Estacionaram estados tradicionalmente com melhores resultados, como Minas, Rio Grande do Sul e São Paulo. Em contraste, só avançam os estados do Norte, os mais atrasados. Ou seja, progridem apenas aqueles em que o mais simples ainda estava por fazer. Travam aqueles cujas falhas não estão mais em erros grosseiros, mas em desvios menos óbvios. Conhecemos os problemas. Precisamos lidar com muitos professores que apenas parecem ensinar, porque aprenderam em arremedos de faculdade. De fato, os professores não aprendem a dar aulas. Nos primeiros anos, seus alunos são cobaias. Não há prêmios para quem faz certo ou puxões de orelha para os incompetentes e negligentes. A administração é perfeita no papel, mas capenga na implementação. O currículo é para gênios ou é ambíguo – ou ambos. Em muitas redes educativas, a politicagem ainda não foi expulsa da escola. O tempo de classe é insuficiente na regra formal e ainda menor depois que se descontam feriados, festas, greves, atrasos e perdas de tempo de todos os tipos. E por aí afora. Para resolver esses problemas, não teremos sucesso sem pisar nos calos dos que resistem às mudanças.

Em resumo, é relativamente fácil chegar a uma educação medíocre para todos ou quase todos (embora isso nos tenha consumido cinco séculos). O grande problema é que hoje os números mostram estagnação da matrícula, evasão elevada – sobretudo no ensino médio – e qualidade sem avanços substanciais. O desafio é conseguir uma educação de qualidade. Que é possível demonstraram os muitos países que deram esse salto. Alguns são até mais pobres do que o Brasil, e quase todos os ricos eram mais pobres quando deram esse salto.

O grande trunfo do país é a existência de uma avaliação escola por escola. Prova Brasil, Ideb eExame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostram exatamente onde estamos e quanto avançamos – que se calem os palpiteiros. Esperamos que essa avaliação indique os progressos a ser obtidos em um futuro próximo. Porque nunca houve tanta atenção e mobilização social em prol da nossa educação. Não podemos contar com reformas voluntaristas, frutos do idealismo e destemor de um ou outro. Somente uma exigência irrecusável da nossa sociedade será capaz de empurrar o sistema educativo para a frente e para enfrentar as mudanças politicamente penosas.