domingo, maio 17, 2009

FERNANDO CALAZANS

Poupar,  não poupar

O GLOBO - 17/05/09

Enquanto a Copa do Brasil e a Copa Libertadores não acabarem, não há possibilidade de o Campeonato Brasileiro engrenar, nem mesmo com os clássicos interessantes que já tivemos na rodada de abertura. 
O início do Campeonato Brasileiro coincide com as finais de uma Copa e de outra, de forma que os times envolvidos nestas últimas não querem saber de outra coisa no momento.
Para usar uma expressão em voga, estão se lixando para os jogos do Brasileiro. E começam e se desenvolvem e se multiplicam os casos de poupar jogadores aqui, ali e acolá. Nem a imprensa e muito menos os torcedores ficam sabendo, com firmeza, que jogadores de que times vão entrar.
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Na rodada de hoje, por exemplo, os dois jogos de times do Rio têm desfalques anunciados — e não são desfalques quaisquer.
No jogo com o Barueri, o Fluminense da Copa do Brasil vai poupar Fred. No jogo com o Botafogo, o Corinthians vai poupar Ronaldo. É claro: justamente Corinthians e Fluminense se enfrentarão quarta-feira em jogo decisivo da Copa do Brasil. Um dos dois sairá da competição.

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O grande clássico do domingo é naturalmente este Inter x Palmeiras, entre dois dos aspirantes ao título. Com uma gostosa folguinha na Libertadores, o Palmeiras — dizem — vai com todos os titulares possíveis. Que bom!
E o Inter? O Inter, ninguém sabe. Ou então sabe que ele vai poupar este ou aquele. O Inter não enfrenta o Corinthians nem o Fluminense no meio da semana — mas enfrenta o Flamengo pela mesma Copa do Brasil. Pronto. Está aberto o mistério. E o clássico pode deixar de ser “O Clássico”.
Sem contar que esse dilema — poupar ou não poupar — tem sido utilizado como recurso dos professores doutores para tentar ludibriar o professor doutor do outro lado. “Escalação só no último segundo”. 
Porque poupar (ou não) virou estratégia, nesse futebol em que, aos poucos, todos os recursos do dia a dia, quer dizer, da vida, vão virando recursos do jogo. Bons ou maus, legais ou ilegais. 

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Enquanto isso, o Campeonato Brasileiro espera para decolar. Quando será isso? Quando terminarem as duas Copas. Mas não apenas isso. Quando terminar também aquela famosa janela de transferências para os clubes do exterior. 
Aí, sim, quem gosta do Campeonato Brasileiro poderá erguer as mãos para o céu: “Ah!!! Vai começar o Campeonato Brasileiro!”
Ou pelo menos outro Campeonato Brasileiro, diferente deste que estamos vendo hoje.

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Na última quinta-feira, 14 de maio, a seção “Há 50 anos”, no Globo, recordou o dia de 1959 em que Brasil e Inglaterra se enfrentaram no Maracanã, e a torcida carioca recebeu o grande ponta-direita Julinho, logo em sua entrada em campo, com uma das maiores vaias da história do estádio, pelo motivo de que ele deixara o ídolo Garrincha no banco. Júlio Botelho, o Julinho, só não tem toda a celebridade que merece, porque brasileiro não liga muito para sua própria história e porque foi contemporâneo de Garrincha. Mas os dois eram da mesma estirpe superior do futebol.


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Diga-se por justiça que o torcedor carioca sempre apreciou os belos espetáculos. E, ali pelos cinco minutos, já aplaudia entusiasticamente Julinho, que tinha marcado um gol no início e ainda daria o passe para Henrique marcar o segundo — numa das maiores atuações individuais também da história do estádio. Julinho deixou o campo em meio à consagração do mesmo público que o vaiara na entrada.

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No ano anterior, da Copa de 58, a primeira conquistada pelo Brasil, Julinho, então ídolo na Fiorentina e na Itália, recusara o chamado para integrar a seleção, porque achava que a então CBD devia dar prioridade a quem atuasse no Brasil. E abriu as portas para a convocação de Joel, 
reserva de Garrincha. Eram, sim, outros tempos, como vocês veem. 

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