terça-feira, agosto 21, 2012

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA DA TV


11h - Volta da Espanha, ciclismo, ESPN

13h - Spartak Moscou x Fenerbahce, Liga dos Campeões, ESPN e ESPN +

15h30 - B. M'Gladbach x Dínamo de Kiev, Liga dos Campeões, ESPN Brasil

15h30 - Copenhague x Lille, Liga dos Campeões, ESPN e ESPN +

17h30 - Troféu José Finkel, natação, SporTV 2

19h15 - Jaraguá x Carlos Barbosa, Liga Futsal, ESPN Brasil

20h - Philadelphia Phillies x Cincinnati Reds, beisebol, ESPN +

21h - São Paulo x Bahia, Sul-Americana, Fox Sports

21h - Criciúma x Avaí, Série B, SporTV

23h15 - Universidad S. Martin (PER) x Emelec (EQU), Sul-Americana, Fox Sports

O futuro das campanhas - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE S.PAULO - 21/08


SÃO PAULO - Começa hoje o "soi-disant" horário eleitoral gratuito, que de gratuito não tem nada. As emissoras de rádio e TV, que são obrigadas a exibir os programas, recebem uma compensação tributária que, segundo estudo da Receita, custará neste ano aos contribuintes a bagatela de R$ 600 milhões.
Apesar do preço salgado, há uma consideração teórica que poderia justificar o gasto: ele dá a partidos e candidatos que não gozem dos favores do poder econômico a oportunidade de levar suas ideias e propostas à massa de eleitores -uma posição decididamente democrática.
Embora eu não goste de nada que signifique uma tutela do poder público sobre o cidadão, admito que, no caso das eleições majoritárias, o horário eleitoral é uma fonte importante de informações e que parece ter impacto decisivo sobre o voto.
O problema com essa prática é que ela está com os dias contados. O sistema funciona porque é monopolístico -ou o sujeito assiste à programação eleitoral, ou desliga seu aparelho. Ocorre que, com a popularização dos smartphones, tablets e a chamada convergência tecnológica, ficarão cada vez menos nítidas as fronteiras entre TV aberta, a cabo, programas "on demand" e a própria internet, com seus canais de vídeo.
Num ambiente desses, o horário eleitoral, se não se torna uma inutilidade, tende a ficar bem menos eficaz. Dificilmente justificaria um gasto da ordem de meio bilhão de reais.
É importante, assim, começar a pensar desde já qual será o futuro das campanhas políticas. As alternativas vão desde o financiamento público exclusivo até o "laissez-faire" completo (com dinheiro privado). Cada "solução" traz sua própria coleção de problemas. O financiamento público é estupidamente caro e não evita doações irregulares. A privatização total das campanhas favorece em demasia os amigos do capital. De certeza, só tenho uma: é preciso acabar com a obrigatoriedade do voto.

Lula x Eduardo Campos - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 21/08

O governador Eduardo Campos (PSB) e o ex-presidente Lula (PT) vão medir forças em Recife. Eles têm avaliação positiva equivalente, e sobreposta, no eleitorado. O socialista deseja uma participação discreta de Lula. Já o ex-presidente está determinado a derrotar o aliado. Lula está furioso com a reconciliação de Campos com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB).

Doce veneno

O relatório das licitações e da contratação da empresa (DNA Propaganda) do publicitário mineiro Marcos Valério pela Câmara dos Deputados, na gestão de João Paulo Cunha (PT-SP), foi feito por um assessor do então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Funcionários que participaram das licitações comentam que Severino estava no olho do furacão na época, respondendo por nepotismo e pelo mensalinho, e mandou turbinar o documento contra João Paulo. Foi esse relatório que embasou boa parte do voto do ministro Joaquim Barbosa no STF. A ação de Severino não evitou que ele deixasse a presidência da Casa.

Tucanos querem os votos verdes

O PSDB recifense está apostando todas as suas fichas no ex-verde Daniel Coelho para a prefeitura. Ele aparece com 10% no Ibope. Os tucanos têm como meta a votação de Marina Silva, que em 2010 obteve na cidade 36%.

Evolução das espécies

Adversários se divertem com a defesa do programa de concessões feita pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Lembram que nos anos 90 ela era contra a concessão da rodovia estadual de Florianópolis a Canasvieiras (SC).

Muito prazer, meu nome é...

Os líderes aliados na Câmara foram convidados para reunião esta manhã no Planalto para conhecer o todo-poderoso das concessões e futuro presidente da Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo. O governo quer aprovar a MP que cria a estatal e evitar novo constrangimento a Figueiredo. No início do ano, sua recondução à ANTT foi vetada no Senado.

Incentivo à criação de aeroportos privados

O governo Dilma vai incentivar empresários a construírem pequenos aeroportos próximos às grandes cidades para jatos executivos, no pacote de concessões que será lançado em setembro.

O desfecho do barraco

Depois de tomar uma dura da Petrobras por usar indevidamente foto com a presidente da estatal, Graça Foster, o candidato a prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PT) tirou rapidinho o retrato do seu site. A foto sumiu sexta-feira à noite.

ROMARIA DE MINISTROS ao gabinete da presidente Dilma até dia 31. Estão indo chorar por mais recursos nos seus orçamentos para 2013.

Um artigo apócrifo por mim mesmo - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 21/08



Toda semana surge um novo artigo apócrifo, com meu nome... Toda hora um idiota me copia e joga na rede. Há vários; em geral sobre mulheres e amor. Um deles diz coisas como: "a mulher tem um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um lugarzinho em nosso ombro."

E outro: "adoro celulite... qual é essa de bundinhas duras? Bunda mole é bonito". No dia seguinte, na rua, fui abordado por uma senhora fina que me declarou arquejante de orgulho: "Eu tenho bunda mole!" E saiu andando, em doce euforia.

Sou amado pelo que não escrevi. Há um site em que contei 23 artigos falsos, com meu nome. Não há como escapar; o ladrão tem vielas para fugir com a galinha, mas da internet você não se livra.

Por isso, resolvi escrever um artigo apócrifo de mim mesmo. Se puserem na web, eu direi que não é meu. Vamos a isso.

A mulher precisa do homem impalpável, impossível. Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois elas sabem que a sinceridade é volúvel. Um sorriso de descrédito baila nas lindas bocas quando lhes fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque querem ser amadas, muito mais que 'desejadas'. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras. E todas querem casar.

O termômetro das mulheres é: "estou sendo amada ou não? Será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, para de nos amar. Nelson Rodrigues me contou: "Uma mulher me disse: quando um homem me diz 'eu te amo', perco o interesse na hora".

Elas estão sempre um pouco fora da vida social, mesmo quando estão dentro. Podem ser executivas brilhantes , mas seu corpo lateja sob o terninho.

As mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: convencer o canalha que ele a ama, mas não sabe... Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de amar instantaneamente um sujeito devoto. Se você for realmente mau, saiba que isso é bom e lhe faz respeitado de forma oblíqua: "Meu marido é um canalha!" - geme a mulher para as amigas, com um tênue sorriso de orgulho. E as amigas suspiram, invejando-a pelo adorável canalha que a maltrata. Como são amados os malandros... O fiel não tem graça. É tedioso, está ali para sempre, enjoado, sem drama. O canalha é aventureiro, malvado, encarna um sonho intangível para a mulher. Todo galã é impalpável.

Por outro lado, é preciso muita atenção para saber se a mulher te ama mesmo. Outra vez, o Nelson, que fez um teste infalível: "Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada, não há amor possível."

Nada mais terrível que a mulher que cessa de te amar. Você vira uma espécie de 'mulher abandonada'. O homem abandonado se efeminiza em lágrimas vãs. A mulher instila medo no coração do homem. Mesmo com as carinhosas, há perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos, que ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curiosamente, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma vingadora, até suicida. Mas nunca corna. O homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O homem só vira homem quando é corneado. A mulher não vira nada nunca. Como no homossexualismo: a lésbica não é veado. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens.

O maior mistério do mundo é a diferença entre os sexos. Por mais que queiramos, nunca chegaremos lá: o mistério de ter ou não ter pau, o mistério gozoso de dar, o mistério de ver o mundo de dentro de um útero. Há alguns exploradores, os travestis, escafandros que tentam mergulhar fundo neste mar e que voltam de mãos vazias. Nunca saberemos quem é o outro, aquele ser com seios, vagina, aquele ser ali, maternal, bom, terrível quando contrariado; e elas nunca saberão o que é um falo pendurado, um bigodão, um jogo de porrinha, um puteiro visitado.

Se o amor como resposta deixa a desejar, é porque ele aspira secretamente a matar o outro. O amor aspira a abolir a diferença. Se o amor se contentasse com pouco, ele não deixaria tanto a desejar. O amor é uma patética falta de recursos.

Daí, o ódio que os primitivos cultivam contra as mulheres; daí, os boçais assassinos do Islã apedrejando-as até a morte.

As mulheres são sempre várias. Isso não as faz traidoras; nós é que nos achamos "unos". Só os autoconfiantes são traídos. Esta é uma das razões do sucesso das putas. O que buscamos nelas? Os homens pagam para que elas não existam. O amor exige coragem. E o homem é mais covarde.

Elas ventam, chovem, sangram, elas têm inverno, verão, "t.p.m."s, raiam com a manhã ou brilham à noite, elas derrubam homens com terremotos, elas nos fazem apaixonados porque nelas buscamos um sentido que não chega jamais. Elas querem ser decifradas por nós, mas nunca acertamos no alvo, pois não há alvo, nem mosca.

A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para se conhecer. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe. O masculino é o certo; o feminino é insolúvel. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. A mulher deseja o impossível - esta é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude, mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado, um lindo abajur ou o perfeito funcionamento do lar.

Vejam o resultado. Muitas mulheres adoram os artigos que 'não' escrevi. Mas, aposto que este será chamado de machismo politicamente incorreto. Cartas para a redação.

Sem sadomasoquismo - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 21/08


Aumentam as críticas de várias tendências de que a receita germânica para a crise global, imposta pelo governo da chanceler Angela Merkel, longe de trazer uma solução, agrava insuportavelmente a situação. Daí a necessidade de outra saída: elevar despesas públicas.

Antes de avançar, alguns conceitos. O que vem sendo normalmente entendido como "receita germânica" é um programa de austeridade orçamentária conjugado com reformas que desbloqueiem a atividade econômica e reduzam os custos do setor produtivo de uma economia.

As principais críticas a essa política podem ser resumidas a duas: (1) por exigir enormes sacrifícios em renda e em postos de trabalho, é proposta de difícil execução política e impõe alto risco para a democracia; e, (2) em vez de ativar o crescimento econômico, reduz a arrecadação, impede a expansão das despesas públicas e afunda a economia na estagnação.

Estas também são as críticas feitas "ao sistema prevalecente" no Manifesto dos Economistas Aterrorizados, da Associação Francesa de Economia Política, que vem alcançando alguma notoriedade.

O problema dessas avaliações é que não apontam solução politicamente viável. A questão mais grave a reverter é a fragilidade dos fundamentos do euro, que impede a unificação orçamentária e as transferências. Em suma, cada país-membro tem seu próprio sistema tributário, seu orçamento e seu sistema previdenciário e, até agora, não se permitiram os passos necessários para a unificação política, que daria um país para o euro.

Independentemente disso, um bom número de países do bloco está prostrado por dívidas enormes e rombos orçamentários que tendem a aumentar essas dívidas. Por isso, Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha e, até certo ponto, Itália não vêm encontrando financiamento para seus déficits a custos compatíveis com a sustentação das dívidas. Por medo do calote, os investidores mantêm enorme distância desses títulos.

A afirmação de que os bancos é que são covardes e que se recusam a dar crédito é apenas um dedo da verdade. Os próprios governos da área exigem que os bancos só apliquem recursos em títulos de risco se tiverem capital em volume correspondente. Além disso, são os próprios cidadãos do euro (não só os banqueiros), na condição de cotistas de fundos de investimento e de pensão e correntistas de cadernetas, que fornecem os recursos que, em última análise, financiam os governos.

Não há como garantir a expansão ilimitada das despesas públicas tal qual querem esses críticos. Como até agora nenhum país se atreveu a sair do euro, porque imagina que a volta à moeda nacional provocaria um desastre maior do que os problemas hoje vividos, o que se discute é a proposta de que o Banco Central Europeu emita moeda e, com ela, compre títulos de dívida do bloco do euro, que sofrem hoje rejeição do mercado (casos de Portugal, Espanha e Itália). Mais cedo ou mais tarde essa proposta deverá prevalecer, desde que respeitados certos limites. Isso, no entanto, nada tem a ver nem com keynesianismo, nem com neoliberalismo, nem com sadomasoquismo financeiro. Tem a ver com arrumar cobertura para o atual rombo fiscal que tem prostrado um punhado de países da área do euro.

A solução final - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 21/08


RIO DE JANEIRO - Bem antes da era dos transplantes, Jonathan Swift (1667-1745) fez seu herói encontrar, num dos países imaginários que conheceu, um cientista que resolvera a questão fundamental da sociedade. Ao separar cidadãos e povos, a política, a Justiça e a gramática levam a confusões que terminam em crises e guerras.

O tal cientista pegava os cidadãos, dividia-os de acordo com o tamanho do cérebro, calculava a massa encefálica de cada um. Num ato cirúrgico só possível na ficção, ele fazia um "blended" de cérebros, obtendo um denominador comum que era repartido proporcionalmente a cada caixa craniana. Com isso, todos pensavam da mesma maneira, tinham as mesmas ideias, lutavam pelas mesmas causas. No STF, os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski teriam a mesma ideia sobre o mensalão.

Suspeito que a técnica dos transplantes ainda não chegou a esse ponto salutar. Mas, no tempo de Swift, seria impensável o transplante de um rim ou de um coração.

Ainda chegaremos lá.

A sociedade devia tomar providências para apressar esse dia. Teríamos, assim, um governo com as mesmas ideias e prioridades exigidas pela oposição, da mesma forma que a oposição teria o seu programa executado pelo governo. Paz aos homens, mesmo os de má vontade.

Não sei se faço bem ao lembrar a solução encontrada pelo personagem de Swift. Um "blended" de cérebros, um mix de neurônios sabiamente homogeneizados, colocaria os homens no mesmo patamar das formigas e abelhas, que, segundo os entendidos, adotam a melhor forma de convivência social.

Swift foi o escritor que, ao lado de Sterne, maior influência exerceu em Machado de Assis e em muitos outros. A humanidade que ele previu seria mais justa, embora menos divertida.

O sujo e o mal-lavado - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 21/08


BRASÍLIA - Nessa velocidade, o julgamento do mensalão vai atravessar agosto e trafegar em setembro lado a lado com a CPI do Cachoeira e a campanha municipal, que entra num novo ritmo hoje, com o início da propaganda na TV.

Os três tendem a se chocar em outubro, com a reta final do julgamento, a eleição no dia 7 e o relatório da CPI entre o primeiro e o segundo turnos. Não será necessariamente um desastre. Dos escombros, pode surgir um país melhor.

No STF, o relator Joaquim Barbosa já condenou o petista João Paulo Cunha, o ex-diretor do BB Henrique Pizzolato e o publicitário Marcos Valério. Mostrou a que veio.

Na CPI, o relator Odair Cunha (PT) vai apresentar o seu voto entre o primeiro e o segundo turno das eleições, que tende a ser entre o tucano José Serra e o petista Fernando Haddad, em São Paulo. E, se o mensalão expõe os podres do PT, da campanha e do governo Lula, o troco pode vir da CPI, mostrando que os do PSDB não são diferentes.

O principal alvo político da CPI e, portanto, do relatório de Cunha, é o governador tucano Marconi Perillo (GO). O petista Agnelo Queiroz (DF)? Nem se fala mais nisso. A Delta nacional? Fica para uma outra CPI, se houver.

No mínimo, requentar e jogar na roda eleitoral tudo o que se atribui a Perillo na CPI servirá para calar os candidatos do PSDB que ousem recorrer ao mensalão na campanha, fingindo que o mensalão tucano de Minas não existiu. Se não calar, pode maneirar o tom da oposição.

Com o julgamento do mensalão fragilizando o PT, e a CPI constrangendo o PSDB, a interrogação é como e se os dois, digamos, "acidentes de percurso" serão usados contra os adversários nos palanques e na TV. Os tucanos vão usar o julgamento contra os petistas? E os petistas vão usar a CPI contra os tucanos?

É improvável, mas não faltam sujos falando de mal-lavados.

Serra e cerveja - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 21/08

Há algo de novo em Petrópolis: uma cervejaria velha.

Ninguém se assuste. Estou apenas brincando com as palavras. É um direito de quem há muito tempo sofre com elas - e também se diverte. O que pode ser culpa exclusiva de quem se lança à aventura de dar o seu recado a leitores ainda pacientes.

O jogo com as palavras tem explicação simples: a cidade, que nasceu de colonização alemã, foi por isso mesmo sede da Bohemia, talvez a mais antiga cervejaria brasileira. Há pouco tempo, novos donos tiveram a bela ideia de transformar suas instalações, simultaneamente, numa fábrica moderna e num museu da cerveja. Com direito a guias bem bonitinhas e instruídas para mostrar como se fazia cerveja antigamente e como ela é produzida atualmente. Ou seja, a satisfazer dois tipos de sede - a de conhecimento e a outra, da nossa goela.

Petrópolis merece. Não lhe faltavam antes, é bom lembrar, motivos para ser visitada. Fica perto do Rio - uma hora e meia de carro - e a viagem serra acima é uma beleza, mesmo com a quantidade de caminhões no caminho. Durante muitos anos, foi o refúgio de famílias razoavelmente abastadas durante o verão. Mulheres e crianças fugiam do calor carioca por dois meses ou mais, e os maridos, coitados, ficavam no Rio trabalhando. E também, em casos certamente muito raros, gozando alguns prazeres proibidos na capital.

Esse tempo acabou, por razões que os cientistas sociais ainda não decifraram. Petrópolis e seus arredores ainda têm sua população de veranistas, mas as famílias sobem e descem em bloco. A fidelidade conjugal fica preservada - ou encontrou outras formas de ser driblada.

Petrópolis nada perdeu. Continua a ser um refúgio. E a cidade também cresceu: não parece sentir falta dos veranistas, uma expressão que ninguém mais usa. Não perdeu seus encantos. A quantidade de hotéis de médio porte é prova disso. Andar a pé no centro continua a ser um exercício tão bom para as pernas quanto para os olhos. A tudo isso soma-se agora o museu da cerveja - que inclui um simpático bar ao ar livre. Nem tudo é perfeito, obviamente. A ocupação das encostas, tanto por pequenas favelas como por casas mais sofisticadas, ainda não parece ser controlada como necessário - como provam as chuvas pesadas que são comuns na região. Mas, em matéria de cervejaria, Petrópolis vai muito bem.

Devagar com a louça - JOSÉ PAULO KUPFER


O Estado de S.Paulo - 21/08


O indicador do Banco Central que antecipa o comportamento da economia, conhecido pela sigla IBC-Br, referente a junho, agitou corações e mentes econômicas. Com uma alta "inesperada" de 0,75% sobre maio, provocou análises e levou a conclusões com ampla dispersão entre os extremos.

Costuma ser assim mesmo nos momentos de transição, quando a economia começa a fechar um ciclo de baixa e a entrar num de alta - e vice-versa. O curioso é que, nesses períodos, nos quais movimentos de alta ou de baixa ainda não se disseminaram pelos setores econômicos, avaliações normalmente situadas em campos opostos acabam convergindo.

Não há diferença entre comemorar a decolagem da economia, como fizeram representantes do governo, e alertar para os riscos de um novo bote inflacionário, como se ouviu de críticos severos da atual política econômica. São ambas avaliações de que a economia reencontrou o rumo de uma expansão forte.

Melhor, porém, ir mais devagar com a louça. Se há, no curto prazo, evidências de que o fundo do vale ficou para trás, nada garante que a economia acumulou fôlego para escalar o pico da montanha. Períodos de transição pedem avaliações muito mais prudentes.

O fato relevante é que, no momento, a economia se move nos espaços hoje estreitos que se abrem, apenas por força de ajustes conjunturais. A inadimplência, por exemplo, estancou. Mas isso, tudo indica, não passa de uma acomodação, que se deveu a fatores restritivos não estruturais.

De um lado, ocorreu uma redução da oferta de crédito e, de outro, perda de capacidade de contrair financiamentos, pelo comprometimento excessivo da renda - não só com as dívidas propriamente ditas, mas com os gastos vinculados ao uso dos bens financiados. Essa acomodação foi suficiente para abrir uma nova ruela de consumo, numa hora em que também houve um repique positivo na abertura de novos postos de trabalho, que ajudou a impulsionar o comércio varejista em junho - e surpreender os analistas com uma alta forte.

Existem sinais de que a recuperação indicada pelo IBC-Br de junho pode se estender aos próximos meses. A expectativa é de uma progressão favorável no segundo semestre, mas numa ascensão suave. Sim, é possível, mesmo a partir de movimentos apenas de acomodação, expandir a atividade econômica. Mas nunca se deve esperar que, nessas circunstâncias, o ritmo de crescimento se apresente sustentadamente robusto.

Um exercício de projeção simples, daqui até o fim do ano, sanciona essa impressão. Caso o IBGE confirme, no fim do mês, os índices antecipados do IBC-Br, o crescimento, no segundo trimestre do ano, terá sido de 0,4% sobre o trimestre anterior.

Esses números mostram evolução semestral de 0,6%. Para crescer em 2012 o tanto que o mercado sinaliza - 1,75%, conforme o Boletim Focus de ontem -, a expansão média, no terceiro e no quarto trimestres do ano, não passaria de 0,6% em cada um deles. Não seria nem a sombra de uma evolução forte - e isso se o resultado final não for ainda menor.

Se, como alardeia o governo - e o mercado, com algum desconto, corrobora -, o crescimento no último trimestre apontará para um ritmo anualizado entre 3,5% e 4% - o que significa expansão de 0,9% a 1% no período -, é aconselhável baixar as expectativas neste terceiro trimestre. Ou, então, se preparar para ver acontecer, com os números de junho deste ano, uma réplica do ocorrido em novembro do ano passado.

Naquele mês, o IBC-Br indicou alta de 1,15% sobre o mês anterior, mas o resultado medido pelo IBGE no trimestre registrou expansão de apenas 0,3%, mostrando que aquele se tratava apenas de um ponto fora da curva. Não custa também colocar no visor a hipótese de um crescimento mais lento do que o até agora previsto, no fim do ano.

A perspectiva relativamente sólida de crescimento moderado no curto prazo permite supor que os temores com relação a um repique da inflação não se encaixam bem no horizonte evolutivo mais provável. E que as chances de extensão do ciclo de cortes nas taxas básicas de juros continuam razoáveis, assim como é possível apostar fichas na prorrogação - e quem sabe até na ampliação - dos estímulos fiscais vigentes.

Renovar para quem? - FRANKLIN MOREIRA GONÇALVES


O GLOBO - 21/08

Uma das principais razões de a Federação Nacional dos Urbanitários ter defendido desde o início que o governo Dilma deveria optar pela renovação das concessões de parte do setor elétrico que está por vencer é que 93% da energia produzida pelas empresas desse grupo estão sob o controle estatal.

Enxergamos na possibilidade de renovação dessa parcela de concessões uma maneira de barrar novas privatizações.

Mais que isso: uma forma de fortalecer o papel estratégico e a função social do setor, nos serviços de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.

O governo já sinalizou que uma das consequências positivas dessa renovação será a queda das tarifas de energia elétrica.

Ao que tudo indica, o governo pretende adotar, para a totalidade do setor elétrico, uma proposta que apresentamos quando a presidente Dilma ainda era ministra da Casa Civil.

Em nosso entendimento, é preciso rediscutir certos encargos setoriais.

Ainda sobre essa questão, é importante garantir que a redução das tarifas beneficie diretamente os consumidores residenciais, que sempre pagaram proporcionalmente mais que os grandes grupos de consumo intensivo de energia. Contribuiria, dessa forma, para os subsídios de que se beneficia, em especial, a indústria. E que os beneficie também indiretamente, via queda nos preços dos produtos para o consumidor final. Porém, para assegurar o caráter estratégico do setor e o efeito positivo sobre as tarifas e a qualidade dos serviços é necessário que o processo de renovação das concessões de energia garanta às empresas do setor a sua capacidade de investimento.

E, principalmente, que observem a melhoria das condições de trabalho e acabem com as terceirizações, que têm resultado em graves acidentes e mortes de trabalhadores do setor.

Segundo dados da Fundação Comitê de Gestão Empresarial a taxa de mortalidade dos trabalhadores terceirizados em 2010 foi 8,8 vezes maior que a taxa calculada para os trabalhadores do quadro próprio das empresas do setor.

Permitir a terceirização em todas as atividades do setor elétrico através da lei de concessões foi mais um golpe das políticas neoliberais contra os trabalhadores eletricitários.

Esperamos que a renovação das concessões mude esse quadro, pois, sem emprego e investimento de qualidade, não se pode atingir um novo patamar de desenvolvimento do nosso país.

Logo, entendemos que o atual processo de renovação das concessões no setor elétrico precisa ser democrático e transparente, com a ampla participação de todos os atores (governo federal, sindicatos, empresários e consumidores) no debate que definirá suas regras e condições. Isso devido à importância estratégica do setor. E, tambem, em função dos graves problemas causados por decisões meramente tecnocráticas que foram tomadas no período das privatizações.

CLAUDIO HUMBERTO

“O mensalão estava no coração do poder com o chefe da Casa Civil”
Deputado Rubens Bueno (PPS-PR)sobre o esquema do mensalão no governo Lula


PSDB TERÁ VOTO EM SEPARADO NA CPI DO CACHOEIRA

Certos de que o relator da CPI mista do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), deverá pedir o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), os tucanos já estão preparando voto em separado, com acusações contra os contratos firmados entre o governo federal e a Delta Construções, ligada ao bicheiro. A ordem do partido aos membros da CPI é centrar fogo na Delta a partir desta semana. 

CPI DA DELTA

O PSDB também concentra esforços no cruzamento de dados a fim de tentar descobrir vínculos da Delta com o governo federal.

PIOR QUE ESTÁ, FICA

O PSDB pediu a convocação de Íris Rezende, mas nem toca em Sérgio Cabral. Sem força na CPI, não quer comprar briga com o PMDB.

ACORDÃO

Em reação, o PMDB ameaça convocar governador Simão Jatene (PA), do PSDB, mas quer mesmo é colocar panos quentes na discussão.

FALTA DO QUE FAZER

Dilma sancionou “O Dia Nacional da Estrela do Oriente”, na próxima sexta. Quando haverá o “Dia do Ócio dos Legisladores do Brasil”?

ESTATAL DE FERROVIAS DESAPRENDEU A FAZER LICITAÇÕES

Paralisada desde a troca de diretoria, em outubro, a estatal Valec, que constrói ferrovias, desaprendeu até mesmo a fazer licitações públicas. Não prosperou qualquer das quatro concorrências que abriu em 2012, ora por suspeitas de direcionamento, ora pelas inúmeras impugnações. Apenas uma das licitações, a de nº 002/2012, já foi alterada dez vezes desde fevereiro. A concorrência 003/2012 sofreu sete mudanças. 

INCAPACIDADE

A paralisia da Valec, provocada pela incapacidade dos seus gestores, fez a presidenta Dilma transferir suas atribuições ao setor privado.

JOGO DE COMPADRES

O atual presidente da Valec, José Eduardo Castelo Branco, é protegido do secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Miguel Masella. 

PAROU GERAL

Castello Branco e Miguel Masella têm em comum, além da amizade, a paralisia: o Ministério dos Transportes também já não faz rodovias.

PASSA BEM

O vice-presidente Michel Temer, que passou por cirurgia na mão direita na sexta (17), mal teve alta e já andou sondando a equipe para voltar ao trabalho. A expectativa é que ele retome as atividades ainda hoje. 

DIFÍCIL DE ENTENDER

O Ibope precisa explicar melhor suas pesquisas: apontou queda de três pontos do candidato do PT a prefeito do Recife, Humberto Costa, mas registra queda expressiva em sua rejeição, alta nas referências espontâneas e disparada nos comparativos para o segundo turno.

VASSOURA VOADORA

A Controladoria-Geral da União sugeriu justa causa para demissão de dois assessores alto nível, um gerente e dois superintendentes da Infraero por supostos contratos sem licitação. A surpresa foi geral.

SUPREMA CORRIDA

Além dos gaúchos Humberto Ávila e Luiz Edson Fachin, a pernambucana Mary Elbe Queiroz, também está na disputa por uma das vagas no STF. Estava na lista de Dilma Rousseff em dezembro de 2011. 

TRABALHADORES DO BRASIL

O PT agora tem concorrente: registrado na Justiça Eleitoral, o Partido Alternativo dos Trabalhadores, criado por motoristas de transporte alternativo e fundado por um ex-tucano, presidente do sindicato. 

AGORA CAI?

O TSE julgará em breve a cassação do governador de Roraima, José de Anchieta Jr. (PSDB). Acusado de abuso de poder, ele continua no cargo graças a liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski.

CASOS DE FAMÍLIA

Diplomata brasileiro em Roterdã, Alexandre Motta Barboza nem sequer foi citado pela coluna, mas aceitou a carapuça para negar que a ex- mulher está “sem tostão” e tenha câncer, e sim “distúrbio emocional”. Sem elogio à ex, ainda intriga o cônsul-geral em Frankfurt.

ALÔ, ANATEL

Alteraram há duas semanas a numeração dos celulares de São Paulo, agora com nove dígitos, mas quem acrescenta o 9 em celular da Vivo, nada feito. O aplicativo não funciona, precisa digitar todos os números.

PENSANDO BEM...

...para os réus, o mensalão não passa de um “caixa 2 do B”. 

PODER SEM PUDOR
ROLANDO O LERO 

Interventor de Pernambuco, Agamenon Magalhães sabia do vazio entre as orelhas de um jovem parente, que faria vestibular na Faculdade de Direito. A seu pedido, o professor responsável lhe fez uma pergunta idiota:

- Qual é o rio que banha o Uruguai e cujo nome batizou o país?

O rapaz não soube responder e o professor resolveu ajudar ainda mais:

- Vou lhe dar uma dica: é o Rio U-ru...

- Urubu! - respondeu o triunfante tolo.

O professor não se conteve:

- Vou aprová-lo por causa do dr. Agamenon, mas urubu é a mãe!...

TERÇA NOS JORNAIS


Globo: A hora do mensalão – Relator vê desvio de verba pública em dois momentos
Folha: Relator conclui que verba pública irrigou mensalão
Estadão: Relator aponta desvio de verba pública no mensalão
Correio: Da greve à guerra
Valor: Agência vai reduzir teto tarifário das ferrovias
Estado de Minas: Beber até morrer
Jornal do Commercio: Demissões em Suape
Zero Hora: Após trimestre fraco, economia começa a dar sinais de retomada

segunda-feira, agosto 20, 2012

Chacina olímpica - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


No festiva de bizarrices em que consiste uma Olimpíada, a bizarrice maior estava reservada para o último dia — a prova do pentatlo moderno. Os brasileiros tiveram sua atenção despertada para essa modalidade por causa da medalha de bronze obtida por Yane Marques, uma graciosa sargenta (sim, sargenta) natural da cidade pernambucana que porta o belo e trágico nome de Afogados da Ingazeira. Parabéns, Yane. E obrigado, Yane. Ao nos revelar o pentatlo moderno, ela nos ajudou a entender a natureza profunda do festival quadrienal a que se dá o nome de Olimpíada.

O pentatlo moderno consiste numa sequência de provas de esgrima, natação, equitação, tiro e corrida. Nada mais sem pé nem cabeça, à primeira vista. E nada mais difícil de o público acompanhar e torcer, tanto pela necessidade de enfronhar-se nas regras de diferentes esportes, na maioria obscuros ao entendimento comum, quanto de manter os olhos nos diferentes palcos em que se travam as disputas. O pentatlo moderno é estapafúrdio como seria, para uma pessoa, exibir simultaneamente as habilidades de dançarino e de orador, de torneiro mecânico, de observador de pássaros e de economista. Mas começa a soar lógico quando se conhecem sua origem e seus propósitos.

A prova foi inventada pelo próprio barão de Coubertin, o fundador dos modernos Jogos Olímpicos. Segundo se aprende nas enciclopédias, é a única inventada expressamente para figurar nos Jogos. A primeira disputa ocorreu em 1912, na Olimpíada de Estocolmo, e em quinto lugar ficou um jovem soldado americano de nome George Patton, mais tarde consagrado como um dos generais que conduziram à vitória de seu país na II Guerra Mundial. Da sargenta Yane ao general Patton — o leitor captou a conexão? Se ainda não, vamos em frente. Na Grécia antiga, o pentatlo era composto de provas de corrida, luta, salto, lançamento de dardo e lançamento de disco. O propósito da série salta mais à vista do que na versão moderna: são habilidades que conformavam o soldado ideal. Além das habilidades básicas de correr e saltar, o atleta/soldado era testado no manejo de armas, como eram na época o dardo e outros objetos passíveis de ser atirados contra o inimigo, e na luta corporal.

Com o pentatlo moderno, Coubertin quis atualizar o teste do bom soldado. Hoje tal atualização soa ultrapassada: o soldado que Coubertin tinha em mente era o do século XIX. Mas permanece o caráter militar do esporte — daí Patton, daí nossa Yane, treinada por um major do Exército, e ela própria feita sargenta. E daí também a base a partir da qual nos é permitido ir além na decifração da natureza profunda das Olimpíadas. O pentatlo, junto com a maratona, que celebra a proeza do soldado grego Feidípedes, escancara, no último dia da competição, o segredo tão bem encoberto nos dias precedentes pela cantilena de paz, concórdia e espírito olímpico: Olimpíadas são guerras. E guerras pavorosas, de todos contra todos, como no pesadelo de Hobbes. Centenas de países se digladiando, cada um por si contra centenas de outros.

Sendo guerra, a Olimpíada de Londres só podia terminar, nos tempos que correm, como terminou: com a vitória massacrante das potências nucleares. As quatro principais — EUA, China, Grã-Bretanha e Rússia — ocuparam os quatro primeiros lugares, nessa ordem. Juntas, somaram 137 medalhas de ouro. Se a esse total se adicionam as onze obtidas pela França, o quinto membro do original e imbatível clube nuclear, classificada em sétimo lugar, temos 148 medalhas de ouro — só três a menos do que a metade das 302 em jogo. É uma devastação. No day after, o que temos é paisagem lunar, poeira atômica na atmosfera, cadáveres empilhados, mortos-vivos a perambular entre ruínas.

O Brasil foi tratado como um dos mortos-vivos. Os comentaristas lamentaram o que, tudo considerado, teria sido um resultado acachapante. Bem pesadas as coisas, no entanto, tem-se que o 22° lugar obtido pelo país é bem melhor do que outros indicadores de sua posição no mundo — o 84° lugar (entre 187) no IDH, ou o 57° lugar (entre 65) no Pisa, o índice internacional de avaliação de estudantes. Na guerra de Londres, o Brasil até conseguiu refugiar-se num canto do qual lhe foi possível disparar alguns tirinhos, enquanto se esquivava do pior do contágio atômico. Um problema do país, se isso é problema, é que cinco das dezessete medalhas foram obtidas em jogos de bola (vôlei e futebol) e bola não é nem nunca foi arma. É brinquedo. Só serve para entreter soldado de folga.

Bye, bye, Londres - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/08

Londres não foi a primeira cidade a perder turista com as Olimpíadas, provavelmente gente querendo ficar longe da muvuca.
Segundo o consultor Mario Petrocchi, autor de cinco livros sobre gestão de turismo, houve queda de 3,1% de turistas na China em 2008 e 4,7% na Grécia em 2004.

Só que...

Presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Sílvia Bastos Marques lembra que os Jogos de Londres ocorreram na alta temporada turística na Europa:
— Já no Rio será em agosto de 2016, um mês naturalmente de baixa temporada.

Aliás...
Os Jogos Olímpicos de Verão de 2016, este é seu nome oficial, serão realizados aqui em pleno... inverno.

Calma, gente
Desabafo do ministro Carlos Ayres Britto, sábado, para um amigo:
— É lamentável constatar-se que o homem, que não pode ser jovem para sempre, pode ser imaturo até a velhice.

Segue...

O presidente do Supremo Tribunal Federal está se referindo, é claro, aos desentendimentos entre os ministros da Corte e às críticas que vem recebendo, especialmente de Marco Aurélio Mello.

Piano e violino

O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão, é um homem musical. Toca piano e violino desde os 16 anos.
Outra coisa: a música, assim como a pesca, é um bom remédio para quem anda um pouco nervoso. Com todo respeito.

AQUELE ABRAÇO
Já dizia Caetano, “o nosso amor é um coração colossal de grafite nos flancos de um trem de metrô”. Pois seu parceiro Gilberto Gil, autor de ““Aquele abraço”, ode ao meu, ao seu, ao nosso Rio, virou mural pop no Centro, com a assinatura do grafiteiro Ozi Duarte, um dos pioneiros da arte em São Paulo. O painel, de 8m de altura por 6m de largura, fica num respiradouro da Estação Cinelândia do metrô. O trabalho fez parte da exposição “Mural Itália-Brasil”, que esteve em cartaz na Caixa Cultural, com curadoria de Marco Antonio Teobaldo. A arte foi um presente para o metrô, que, acredite, chegou a pensar em mandar remover tudo. Mas, que bom, parece ter recuado da decisão. A companhia garante que “os murais do respiradouro da Cinelândia não serão retirados”. Viva Gil, viva a arte urbana! •

Eu apoio

A ONG Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) transformou aquela espera chata no telefone em serviço de utilidade pública. Quem liga escuta:
— Atenção: estamos em período eleitoral e de seca prolongada. Não troque seu voto por água. Quem pede votos em troca de água não merece sua confiança.

A turma da grana

Antonio Adolfo, 65 anos, o grande pianista que passa uma temporada na Flórida, EUA, onde mantém escola de música, é outro impressionado com o avanço dos brasileiros no mercado imobiliário de luxo por lá:
— Chegam a comprar prédios inteiros ou muitos apartamentos em edifícios sofisticados, como o Saint Regis, em Bal Harbour, bairro elegante.

Coração menos valente
A Casa da Palavra comprou os direitos de publicação no Brasil de "O rebelde’,’ de Jack Whyte ("Os templários”), que conta a história do herói escocês William Wallace, eternizado por Mel Gibson no filme "Coração valente”
No livro, Whyte, escocês radicado no Canadá, desmistifica a saga de Wallace, que não seria tão herói assim.

'Voteio-o!'
David Pinheiro, o Sambarilove da "Escolinha” de Chico Anysio, é candidato a vereador no Rio. Sugestão de um gaiato sobre sua fala na TV:
— Por que votar?... Por que não votar?... Por que votar?... Por que não votar?... Voteio-o!!!

Francisco do Pagode
Tuchinha, ex-chefão do tráfico de drogas na Mangueira, em liberdade, investe em sua carreira de sambista.
Assina como Francisco do Pagode (com os parceiros Aníbal, Silvão, Dr. Paulo Reza e L. Caxias) o samba n° 5 da disputa no Paraíso do Tuiuti.

A volta de Ednardo

Ednardo, 67 anos, autor de "Pavão misterioso’^ meio sumido, estará na Sala Funarte, no Rio, quarta.
Vai cantar no show em que Mona Gadelha lançará o CD "Praia lírica” com clássicos de cearenses dos anos 1970, como ele, Belchior e Fagner.

Direito Rio
A FGV Direito Rio ocupa o 1° lugar no 7° Exame da OAB, entre todas as universidades do país.

O outro lado
Isidor Weiss, proprietário de uma comporta em Teresópolis que, segundo o Inea, foi construída sem autorização para controlar a vazão do Rio Príncipe, diz que ela não serve para regular o fluxo de água do rio:
"As 'comportas' foram planejadas na forma de 'dobradiças,' para impedir a passagem de pessoas e animais de porte’!

Há testemunhas
Terça, às 17h, na loja Tocatta, especializada em gordinhas, na Tijuca, no Rio, uma magra entrou por engano e foi enxotada pelas clientes.
— Está cheio de lojas para você lá fora! Esta aqui é nossa! — bradou uma delas.

Plantão extra - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/08


O TST (Tribunal Superior do Trabalho) decidiu que o trabalhador que fica à disposição do empregador por meio do celular tem direito a remuneração extra pelas horas em que fica de sobreaviso. É um precedente: a corte já tinha editado até súmula afirmando que portar um telefone da empresa não era suficiente para caracterizar o plantão.

CELA

No caso específico, o chefe de almoxarifado de uma empresa gaúcha disse que portava o celular diuturnamente. Era alcançado nos finais de semana e feriados para supervisionar o estoque. O TST concluiu que suas folgas foram cerceadas pois, mesmo em casa, poderia ser chamado a qualquer momento.

DE VOLTA

E em setembro o TST deverá rediscutir a súmula do celular, já contrariada com essa decisão. Ela diz que portar bipes, pagers ou telefones do empregador não caracteriza que o funcionário está de sobreaviso "porque o empregado não permanece em sua residência aguardando a convocação para o serviço", como na era do telefone fixo.

ROMARIA

O vazamento de gás que esvaziou ruas do centro de São Paulo, na semana passada, também afetou a Câmara Municipal.

Vereadores e assessores desciam as escadas às pressas. A Eletropaulo chegou a avisar que desligaria a energia do prédio, o que acabou não acontecendo.

DO GRAJAÚ PRO MUNDO

O rapper Criolo fechou contrato com a Windish, agência de Chicago que tem entre seus artistas James Blake, Bebel Gilberto, Lee Fields and The Expressions, Tortoise e Toro Y Moi.

VERBO DIVINO

A Sociedade Bíblica do Brasil, que atende principalmente ao público evangélico, prevê distribuição recorde em 2012: 8 milhões de Bíblias, contra 6,8 milhões em 2011. E investe na expansão das "e-Bíblias": programa 21 lançamentos digitais no segundo semestre.

MEU IRMÃO CAMARADA

Mariana Ximenes já deu entrevista a Guilherme Fiuza para a biografia de Reynaldo Gianecchini.

Os dois ficaram amigos durante as gravações da novela "Passione" (2010).

NO ESCURINHO

Luis Fernando Verissimo terá um texto seu adaptado para o cinema. Paulo Halm ("A Casa da Mãe Joana") roteirizou a crônica "No Motel", sobre clientes que ficam trancados no lugar.

TODOS JUNTOS

O CCBB de São Paulo já tem agendada nova exposição para outubro, quando a do impressionismo, com obras do Museu D'Orsay, de Paris, acabar.

"Planos de Fuga" será uma mostra coletiva com obras "site specific" (feitas especialmente para o lugar) de Cildo Meireles, Gabriel Sierra, Carla Zaccagnini e Renata Lucas, entre outros.

COSTUREIRO DE PRÉDIO

O estilista Ricardo Almeida projetou ele mesmo a loja que abrirá em um mês na rua Bela Cintra, onde funcionou até o começo do ano a butique Giorgio Armani. "Contei com ajuda e consultoria, mas fiz eu", disse à coluna.

AS ROUPAS DO NEY

Trinta figurinos de palco de Ney Matogrosso compõem a mostra "Cápsula do Tempo", que abriu na sexta, no centro universitário Senac, em Santo Amaro. A atriz Rosi Campos e a apresentadora Marina Person foram ver as roupas do cantor. A coordenadora do curso de moda da faculdade, Tatiana Putti, também passou pela exposição.

CHÁ NA COXIA

A comédia francesa "Chá com Limão", com Gorete Milagres, estreou no teatro Geo nesse fim de semana. Marília Gabriela foi assistir ao filho Theodoro Cochrane, que faz parte do elenco. A cantora Patrícia Coelho também estava na plateia.

Curto-circuito

O Salão de Arte de SP abre hoje sua 19ª edição, no clube A Hebraica.

Paulo Barros recebe hoje e amanhã o chef Luca Collami, às 20h. Celebram um ano do restaurante Italy, na Oscar Freire.

O pianista Alvaro Siviero toca hoje com a Orquestra Acadêmica de Madrid, no Theatro Municipal.

O maestro chileno Roberto Bravo e a pianista russa Victoria Foust se apresentam hoje no Memorial da América Latina.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, CHICO FELITTI e LÍGIA MESQUITA

Planos em série - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 20/08


Os políticos são seres esquisitos. Não conseguem viver um dia de cada vez. Estão sempre olhando para o futuro como a hora da vingança, da virada, de tomar conta de espaços de poder. Alguns investem tanto tempo nisso que se esquecem de trabalhar o presente. Os planos traçados pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu no passado e para o futuro são prova disso. No início do governo Lula, em 2003, a ânsia de conquistar espaços, aliados e sufocar adversários foi tal que, mesmo partindo do pressuposto que não seja verdade a existência do mensalão, não há como negar que o partido trocou os pés pelas mãos no caminho à hegemonia. Talvez, Dirceu agora esteja agora repetindo a dose.

No ninho das águias petistas que enxergam tudo do alto, há quem não tire os olhos da movimentação de Dirceu. Essa história de voltar a presidir o PT, por exemplo, dificilmente se materializará da noite para o dia. Primeiro, o julgamento mal começou. Em segundo lugar, se tem uma coisa que não fica vazio em política é espaço de poder. Por mais que se diga que o presidente do PT, Rui Falcão, não tem todo o borogodó político que a turma de Dirceu gostaria, o espaço está ocupado e a “fila” petista segue caminhando.

Obviamente, Dirceu tem influência no partido. Sua capacidade política é sedutora. Não por acaso recebia autoridades ilustres no hotel onde se hospedava em Brasília — inclusive José Sérgio Gabrielli que, coincidência ou não, pouco depois perderia a Presidência da Petrobras. Mas partir da premissa que ele se for absolvido, volta com força total, é precipitado.

Dentro do PT, há quem esteja certo de que Dirceu, para voltar a ter o mesmo prestígio de antes, precisaria ocupar um espaço tão grande como aquele em que estava no governo Lula, ou seja, a Casa Civil. E nada indica que Dilma Rousseff ou mesmo Lula, estariam hoje dispostos a dar esse lugar ao ex-ministro. Até porque, o poço de mágoas que ele carrega por conta desse julgamento no Supremo Tribunal Federal pode comprometer o desempenho, ao ponto de turvar a visão fria que um cargo dessa envergadura requer. O mesmo vale para o comando partidário.

Diante dessas premissas, está cada dia mais claro que, se Dirceu faz planos de retorno à ribalta, dentro do próprio partido há gente torcendo para que não consiga.

Por falar em ribalta...

Lá vem o horário eleitoral gratuito de rádio e tevê, nesta terça-feira. Será a hora de se conferirem várias teses:

1) Lula tem prestígio a ponto de levantar vários nomes do partido pelo país afora?
2) A propaganda dos candidatos virá logo depois de os telejornais da noite nas diversas emissoras apresentarem as últimas notícias do julgamento da Ação Penal 470. Isso influirá na escolha do eleitor? A resposta só teremos em outubro.

Por falar em respostas...

O que está mais perto de se ver respondido na política é o futuro da CPI do Cachoeira, que parece desinteressada em investigar o laranjal do contraventor que recebia as repasses da construtora Delta. Se continuar assim, será preciso fazer a CPI da CPI. Esta semana é decisiva. Vamos aguardar.

José Dirceu faz planos de retorno à ribalta no caso de absolvição, mas dentro do próprio partido as mudanças estão em curso e há grupos torcendo para ele que não consiga.

Disque P para pilhar - MURILO RAMOS

REVISTA ÉPOCA

Nem a Anatel escapa das cobranças indevidas na conta do telefone. Só que, ao contrário de você, a agência reguladora tem Ricarlos - o funcionário que flagra os malfeitos das operadoras


O técnico em eletrônica Ricarlos de Moraes é o herói desconhecido dos 100 milhões de brasileiros que usam telefone. Há sete anos, desde que virou funcionário da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ricarlos se dedica, tal qual um Quixote 2.0, a desfazer os agravos cometidos pelas empresas de telefonia brasileiras. Seu Rocinante é um simples computador de mesa; sua Dulcineia, os cofres públicos. Seu chuço não é um iPhone. É um programa de computador criado por ele assim que entrou na Anatel, por um concurso de nível médio, quando tinha 27 anos. Chama-se ADT, ou Atesto de Despesas telefônicas. Com o tal ADT, Ricarlos, trabalhando numa salinha no subsolo da Anatel, em Brasília, consegue verificar se as empresas de telefonia que têm contratos com a agência cobram corretamente pelos serviços que prestam. Claro que elas cobram (bem) mais do que deveriam - até da instituição responsável por fiscalizá-las. Quando Ricarlos flagra os malfeitos das telefônicas com a Anatel, não tem essa de "0800", de "aguarde na linha, por favor, que vamos estar resolvendo seu problema". Ricarlos fala grosso, a Anatel glosa as faturas irregulares -eas empresas telefônicas aceitam a decisão sem abrir chamado nem dar número de protocolo. Ricarlos, infelizmente, trabalha em dedicação exclusiva à Anatel. Você não pode contratá-lo.

Ricarlos recebe, mensalmente, R$ 7.600, salário modesto se comparado ao dos principais engravatados da Anatel. Foi do próprio Ricarlos que partiu a iniciativa de criar o ADT, em 2005. Ele queria criar um sistema capaz de fiscalizar as ligações telefônicas originadas da Anatel e dos celulares em posse de servidores. O objetivo era identificar quais chamadas eram a serviço e quais eram particulares, de modo a reduzir os custos da Anatel com telefone e a cobrar dos funcionários gaiatos que usavam a agência como orelhão para falar com tias e namoradas. Um segundo objetivo tornou-se inevitável: comparar as informações obtidas por meio de sua invenção com as faturas entregues pelas operadoras telefônicas, aquelas contratadas pela Anatel para oferecer os serviços de telefonia fixa e celular. Ricarlos precisou de pouco tempo para confirmar que Claro, Oi e Embratel tungavam sistematicamente a agência. (A Embratel não tem mais contrato com a Anatel.)

As irregularidades identificadas por Ricarlos são idênticas às encontradas por muitos brasileiros em suas faturas mensais. Ricarlos descobriu três tipos de cobranças indevidas: cobranças que somavam mais do que o preço combinado, cobranças por serviços que nunca existiram e cobranças por serviços não previstos em contrato. Sempre a mais, nunca a menos. Parece familiar? Entre julho de 2010 e junho de 2011, o programa de Ricarlos detectou cobranças indevidas à Anatel no valor de R$ 211 mil - dentro de faturas que alcançaram R$ 771 mil. Juntas, portanto, as operadoras apresentaram valores 27% mais altos do que deveriam nesse intervalo de tempo. Exemplo: em janeiro de2011, a Claro cobrou R$ 14.229,65 da Anatel pela conta dos celulares, quando deveria ter cobrado apenas R$ 7.479,13. O que mais contribuiu para a diferença foi a assinatura básica. A Claro apresentou fatura de R$ 2.261,88 para esse item. O valor aferido pelo ADT, contudo, foi de R$ 1.552,08. O segundo fator mais importante para a diferença foi o adicional por deslocamento. O valor correto, checado pelo ADT, seria de R$ 289,32.

A quantia cobrada pela Claro foi de R$ 572,24. Com base nas informações do ADT, a Anatel pôde glosar quase metade do valor dessa conta. E deixou de pagar os valores indevidos cobrados a mais pela Claro. Em nota a Época, a Claro afirmou que a relação da empresa com a Anatel é satisfatória, "tanto que o contrato foi renovado quatro vezes consecutivas". A Oi afirmou que corrige os valores das contas quando o cliente tem razão. A Embratel informou que não comenta contratos de clientes. Nenhuma empresa respondeu, portanto, sobre os valores cobrados a mais da Anatel.

O grau de confiabilidade do sistema ADT é tamanho que a Anatel passou a usá-lo para justificar o bloqueio de qualquer valor diferente do obtido pelo sistema. Ricarlos e outros nove colegas da Anatel até ganharam um prêmio da agência, que qualificou a invenção de "revolucionária". Estranho, portanto, que a Anatel seja incapaz de lançar mão dessa ferramenta para punir as operadoras que a lesaram. Ao contrário. Mesmo tungando a Anatel, seus contratos foram prorrogados com a agência reguladora - prova de que a leniência da Anatel com as empresas fiscalizadas começa em casa. Segundo funcionários da Anatel, o sistema ADT poderia ser usado em larga escala, de forma que o consumidor não precisasse de um Ricarlos. Por que a Anatel não faz isso? E por que não pune as empresas que a tungaram?

Época tentou por dez dias obter respostas a essas perguntas. É mais fácil, porém, conseguir sinal de celular num elevador que arrancar explicações da Anatel. Há duas semanas, a reportagem pediu explicações por e-mail. Depois cobrou por telefone. Pediu de novo na segunda-feira. Pediu na terça-feira. Pediu na quarta-feira da semana passada. Na quinta-feira, Época foi à sede da Anatel em busca de respostas. Não passou da portaria. Não abriram nenhum chamado - e nem deram número de protocolo. Que falta faz um Ricarlos.

Etanol a reboque - JOSÉ ANÍBAL

Brasil Econômico - 20/08/


A política de preços do governo acabou por criar um jogo de soma zero entre a gasolina e o etanol, sobrepondo os dois mercados

O anúncio de que o governo federal pretende aumentar a mistura de etanol na gasolina dos atuais 20% para 25%, a partir de 2013, deveria servir de alento para um setor tão escanteado pela atual política energética. Na falta de uma estratégia de longo prazo, de políticas setoriais específicas, metas de expansão e de produtividade, além de adequações regulatórias, resta a velha prática de assegurar demanda como forma de oferecer um mínimo de previsibilidade e segurança a quem produz.

O problema, obviamente, não é a medida em si, mas o que ela reitera: a política sistemática de colocar o etanol a reboque das conveniências do mercado de combustíveis fósseis e, mais especificamente, dos resultados da Petrobras. Praticada desde 2003, a política do governo de manter o preço da gasolina artificialmente rebaixado, além de imune às variações do mercado internacional, apresenta agora sua fatura.

Por um lado, a competitividade do etanol caiu, o que diminuiu a procura, retraiu a oferta, derrubou a produtividade e congelou investimentos em renovação de canaviais e novas usinas, fazendo disparar a importação do combustível. Por outro, o aquecimento do mercado de combustíveis automotivos e a subutilização do etanol, somados à queda na produtividade da Petrobras e ao esgotamento da capacidade de refino, fizeram a importação de gasolina crescer 370% em relação ao mesmo período de 2011. O prejuízo da estatal na área de abastecimento chega a R$ 7 bilhões.

Como resultado, a participação dos combustíveis fósseis e nossa dependência aos mercados internacionais cresceram, há uma forte pressão inflacionária represada, a Petrobras está no vermelho e o setor de etanol deprimido, com investimentos declinantes e canaviais envelhecidos, sem condições de responder imediatamente às urgências tanto do mercado interno quanto da demanda externa - que volta a dar sinais de aquecimento.

Em suma, a política de preços do governo acabou por criar um inusitado jogo de soma zero entre gasolina e etanol. Agora que a gasolina virou "problema", recorre-se ao marginalizado etanol como uma espécie de remendo: aumentando a mistura do etanol na gasolina, alivia-se a pressão sobre a Petrobras e sobre a balança de pagamentos. Cabe somente ao governo responder por que os dois mercados precisam se sobrepor.

No mais, não se fala em definições sobre o papel do etanol na matriz energética, em planejamento de longo prazo, regras claras ou políticas públicas que deem segurança aos investidores.

Manobras táticas imediatistas voltadas ao socorro em situações desfavoráveis vão contribuir muito pouco para desatar os nós do abastecimento e para enfrentar de vez a instabilidade crônica a que o setor vem sendo submetido.

Vale lembrar: a indústria sucroenergética responde por 2% do PIB nacional, é o carro-chefe do nosso desenvolvimento de bioenergias e dela deriva toda uma complexa e sensível cadeia de pesquisa tecnológica e inovação competitiva. Noutras palavras, ela não pode se fiar em conjunturas momentâneas e incentivos circunstanciais.

Novo rumo para a política econômica - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Valor Econômico - 20/08


Com a ajuda que o conhecimento do passado trás ao analista, tenho hoje uma ideia bem clara dos limites da política econômica que a presidente Dilma herdou de seu antecessor. Vou mais longe ainda; sabemos que uma parte relevante do sucesso dos anos Lula na economia resultou de ajustes conjunturais importantes em função do aumento da confiança dos agentes econômicos, depois que ficou clara a decisão do governo do PT de respeitar marcos da política macro econômica do governo FHC. O aparecimento da China, como economia complementar à do Brasil, consolidou o cenário de entusiasmo e confiança na economia brasileira que se estabeleceu. As principais forças de aceleração do crescimento em função desses ajustes conjunturais e de expectativas foram, ao longo de tempo, as seguintes:

- queda rápida da inflação em função principalmente da valorização do real no mercado de câmbio;

- a acomodação da inflação permitiu a redução acelerada dos juros pelo Banco Central;

- a política de aumentos reais do salário mínimo, que em um ambiente de redução da inflação levou a um crescimento expressivo dos salários reais;

- em um ambiente de maior confiança, o sistema bancário passou a expandir de forma agressiva o crédito que, em poucos anos, passou de 22% do PIB para mais de 45% em 2010;

- com os salários reais crescendo e uma maior disponibilidade de crédito, viveu-se um período de expansão no comércio, com taxas de crescimento anuais superiores a 18% ao ano nas regiões mais pobres do Brasil;

- a resposta do setor privado a esse cenário de crescimento do consumo foi uma expansão importante dos investimentos para capturar essa nova dimensão do consumo das famílias no Brasil;

- finalmente, a partir de 2006, o aumento das importações de produtos industriais funcionou como uma fonte adicional de oferta de produtos em um momento de excitação da demanda evitando que um aumento da inflação interrompesse a política de queda de juros do BC.

Uma agenda que enfrente os desafios que temos pela frente terá que ser mais ambiciosa e de difícil venda no PT

É preciso citar ainda que, nesse período, o aumento das importações não chegou a afetar as vendas da indústria brasileira seja porque havia demanda para todos, seja porque as cadeias de importação ainda estavam sendo montadas;

Em resumo, o choque de otimismo criado a partir de 2004 permitiu que ocupássemos, ao longo dos anos seguintes, espaços ociosos que existiam em nossa estrutura produtiva - e uso aqui seu conceito mais abrangente - sem a necessidade de novos investimentos. Prevaleceu então, por vários anos, a doce ilusão de que poderíamos crescer a taxas mais elevadas simplesmente surfando indefinidamente a onda da continuidade da política econômica de Lula.

Mas nos dois últimos anos - principalmente agora em 2012 - ocorreu um choque de realidade para a sociedade e, principalmente, para o governo da presidente Dilma. A política de estimular o consumo via medidas pontuais, seja na área do crédito público e via isenções fiscais em mercados de consumo não consegue mais manter as taxas de crescimento do passado à medida que as forças de ajustes conjunturais dos anos Lula se esgotam. Mais do que isso, algumas delas inverteram o sinal e passaram a funcionar como limitadores de crescimento. É o caso, por exemplo, das taxas muito baixas de desemprego e do nível de endividamento elevado de alguns segmentos sociais.

Para se encontrar novamente o caminho de um crescimento econômico mais forte será necessário eleger o aumento da oferta de bens e serviços, principalmente via mobilização de investimentos maciços em setores da infra estrutura econômica, como nova prioridade do governo. Mas só essa mudança de prioridades - investimentos versus consumo - não basta. O amadurecimento e fortalecimento da economia brasileira ao longo dos últimos anos, principalmente nas relações com o exterior, revelaram uma série de problemas estruturais graves no sistema produtivo do país.

Mascarados por várias décadas, em função principalmente do isolamento que vivemos em relação à competição externa, eles hoje estão escancarados e à vista de todos. A partir de 2003, com uma moeda fortalecida em função de nossas contas externas e com a expansão da demanda interna, as importações crescentes revelaram o absurdo da nossa estrutura de custos de produção. Um sistema tributário caótico, impostos e taxas que oneram de forma irracional os custos de uma cesta importante de insumos de produção e uma logística ineficiente e cara fazem com que os custos de produção no Brasil sejam um ponto fora da curva no universo das nações emergentes.

Felizmente o governo federal vem emitindo sinais claros de que está tomando consciência da encruzilhada em que se encontra a economia brasileira. Pelo menos dois itens de uma nova agenda de ações estão sendo considerados seriamente: a necessidade de se aprofundar e tornar mais eficiente o programa de concessões de serviços públicos e uma política de redução dos custos de produção, começando pela indústria manufatureira.

Mas só essa mudança de sinal na ação do governo não será suficiente. Uma nova agenda que enfrente os desafios que temos daqui para frente terá que ser muito mais ambiciosa e de difícil venda dentro do PT em função de uma teia de interesses corporativos. Mas como dizem os chineses, uma marcha de 50 km começa necessariamente com o primeiro passo. E este já está sendo dado pela presidente Dilma.

GOSTOSA


O que perdemos com as greves - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 20/08


Quando não são vítimas diretas do mau funcionamento de serviços essenciais decorrente das greves no setor público, os brasileiros tomados como reféns pelos funcionários - que querem arrancar do governo federal a promessa de aumentos salariais que o País não tem condições de pagar - são obrigados a assistir às cenas de confusão e grandes congestionamentos nos aeroportos e estradas. Longas esperas, irritação, perda de compromissos têm sido o preço pago pelos cidadãos que os grevistas vêm utilizando para tentar obter vantagens financeiras à custa dos contribuintes.

Da chantagem sindical praticada pelos servidores em greve, porém, há outras consequências tão graves quanto essas - e talvez de efeitos negativos muito mais duradouros -, mas não tão visíveis. Há pouco, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) mostrou que a paralisação dos serviços públicos na área aduaneira impõe perdas financeiras imediatas e pesadas às empresas de comércio exterior e que o enorme atraso na liberação de produtos importados e dos destinados aos mercados externos poderá comprometer os negócios futuros do setor.

Com a constatação de que, em decorrência da greve dos funcionários federais de diversas áreas, em certos dias havia cerca de 150 navios parados nos portos, aguardando liberação para carregar ou descarregar mercadorias, a AEB estimou em até US$ 12 milhões a perda financeira diária das empresas apenas com armazenagem da mercadoria, com base no custo de US$ 30 mil a US$ 80 mil por navio.

Esta é uma perda tangível e imediata. Mas há outras, menos óbvias e que podem ter efeitos de longo prazo. Uma delas é o atraso na liberação e o encarecimento das mercadorias destinadas ao mercado externo, o que torna menos competitivo o produto brasileiro num momento em que, por causa da crise, é cada vez mais difícil exportar.

O atraso no embarque da mercadoria, por sua vez, pode causar multa e até cancelamento do contrato. Algumas exportações, como lembrou o presidente da AEB, José Augusto de Castro, utilizam carta de crédito, que tem prazo de validade. "Se eu não consigo embarcar dentro do prazo, perco a garantia. Ou seja, deixo de ter a garantia de pagamento e o importador vai pagar se quiser", exemplificou.

Outra consequência é a deterioração da imagem do exportador brasileiro e do próprio País no exterior, que passam a ser vistos como não cumpridores de contratos. Mercados conquistados duramente numa longa disputa com concorrentes externos podem ser perdidos em pouco tempo. Isso pode prejudicar ainda mais o desempenho das exportações brasileiras, já afetadas pela crise mundial.

Do lado das importações, o atraso na liberação das mercadorias por causa da greve dos servidores da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode prejudicar o fornecimento de componentes e matérias-primas para a indústria, o que afeta a produção industrial. Além disso, eleva os custos de armazenagem e o custo da produção interna, com reflexos nos preços dos produtos finais. Em alguns casos, pode ocorrer perda de produtos por deterioração.

O que mais espanta nas conclusões da AEB sobre as perdas para o País causadas pela greve dos funcionários que atuam no comércio exterior é a frequência com que esses servidores recorrem às paralisações para extorquir vantagens do governo. De 2005 até a terça-feira, 14/8, quando a AEB apresentou seu estudo sobre os efeitos nocivos das greves no setor público, o total de dias parados acumulados pelos funcionários federais designados para a área aduaneira - do Ministério da Agricultura, da Receita Federal, da Anvisa e do Ibama - alcançou 659.

É como se, de pouco mais de sete anos e meio, praticamente dois tivessem sido de greve de alguma ou algumas das categorias de servidores que atuam no comércio exterior, com os efeitos imagináveis sobre as exportações, as importações e, portanto, a atividade econômica.

Além de frequentes (apenas em 2011 não se registrou greve de servidor da área aduaneira), as paralisações são de longa duração e de alto custo para o País.

Senso e contrassenso - ROBERTO LUIS TROSTER

O Estado de S. Paulo - 20/08


O ônus da tributação no Brasil é um problema que é agravado em razão da má qualidade de sua estrutura. É uma colcha de retalhos que vem sendo remendada desde a década de 1960. São dezenas de impostos e contribuições, com milhares de alíquotas diferentes. Comparações internacionais apontam que o Brasil é o país onde mais horas são gastas por empresa para satisfazer as exigências da arrecadação.

Além da manutenção de uma multidão de contadores, advogados e despachantes, existem dois custos adicionais. O primeiro é composto pelas contingências tributárias, que aparecem em razão da complexidade das normas. É um dispêndio adicional de gente, tanto do lado das empresas como do governo, para resolver divergências.

O segundo é o custo da guerra fiscal entre municípios, que usam sua autonomia para fixar tributos para atrair empresas. O usufruto dessas reduções de alíquotas exige toda uma documentação extra para provar que é verdadeira a mudança de domicílio, e uma fiscalização adicional dos governos subnacionais para penalizar os que forjam uma transferência para sonegar a tributação local.

O ponto é que esses recursos, gastos em atender à burocracia e na fiscalização de sua observância, não trazem benefícios ao País. É um desperdício de energia humana sem sentido. O pior é que o problema se está agravando em razão da tecnologia, que permite operações à distância e o comércio eletrônico. Atualmente é possível, a partir de uma única localidade, prestar serviços aos mais de 5 mil municípios, o que origina inúmeras indefinições sobre a tributação.

No setor financeiro, a complexidade é bizantina. Algumas operações, como arrendamento mercantil e assessoria, são tributadas com o Imposto Sobre Serviços (ISS), que tem alíquotas diferenciadas dependendo do município. Na intermediação também incidem o IOF, o IRF e o PIS/Cofins, gerando mais distorções e limitando seu potencial de contribuição.

Essa estrutura é regressiva: as pequenas operações pagam proporcionalmente mais tributos que as de maior valor. A razão é que, como têm custos unitários proporcionalmente maiores, pagam taxas mais altas, em que há uma incidência maior do PIS/Cofins. Tira-se mais de quem pode menos.

Outro defeito é o impacto do IOF nas operações de financiamento, que aumenta com a queda da taxa básica. O tributo incide sobre o principal, portanto, mesmo que o custo de captação fosse reduzido a zero, ele deve ser arrecadado, e a cunha fiscal no crédito continuaria positiva. Seu efeito é proporcionalmente maior quanto menor for a taxa cobrada. Uma aberração.

Uma distorção adicional do IOF é que, nas renegociações de operações, dependendo do prazo, volume e instituição, há uma nova tributação. Apesar de ser pago pelo tomador, ele é financiado e pago ao Fisco pelo banco. Portanto, no caso de não pagamento, é uma perda adicional para a instituição, o que desestimula rearranjos. Num quadro de inadimplência alta e juros baixos, como o atual, é mais um problema.

A tributação da intermediação financeira é um contrassenso, onera o crédito, emperra renegociações de dívidas, afeta mais as operações de menor valor e não estimula a poupança de prazos mais longos. Há uma solução que poderia manter o nível de arrecadação para o governo, simplificar o cumprimento da exigência para as instituições, melhorar a eficiência da intermediação financeira e, o que é fundamental, ter um efeito positivo na oferta de crédito.

A sugestão é substituir o IOF, IRF, PIS, Cofins e ISS de operações financeiras por um único imposto de valor agregado, que seria devido apenas sobre os rendimentos financeiros líquidos recebidos. Seriam tributados a uma alíquota única e compensados com o Imposto de Renda na declaração anual. O Brasil tem um conhecimento sofisticado da arrecadação com impostos de valor adicionado, em razão de sua experiência. Portanto, o Tesouro Nacional tem capacidade de implantar o tributo rapidamente e, para as instituições financeiras, seria uma tributação mais simples.

A fixação da alíquota seria calibrada de forma a que o nível de arrecadação tributária se mantenha e seria ajustada todos os anos de forma a atuar como um estabilizador ao longo do ciclo econômico. A incidência seria para quem recebe rendimentos apenas, portanto mais justa, e com a alíquota única se acabaria com a guerra fiscal entre prefeituras, que seriam compensadas com um repasse.

Há benefícios com a mudança. O mais importante é desonerar o crédito, proporcionalmente mais de operações menores. Haveria um incentivo para reestruturar dívidas, menos custos de observância com a arrecadação do imposto, mais justiça na tributação e um efeito positivo na demanda e na oferta de financiamentos e, com isso, mais arrecadação de todos os demais tributos.

Há mais deformidades na intermediação financeira, algumas que poderiam e deveriam ser corrigidas pelo governo e outras, pelos próprios bancos. É uma questão de bom senso começar a eliminar distorções. Com isso, ganha o País, e a intermediação financeira adquire mais legitimidade. Obviamente, há mais aprimoramentos que podem ser feitos na economia. Mas insiste-se em ignorar os problemas e procurar culpados.

Atribui-se a responsabilidade da queda nas projeções de crescimento do Brasil à crise mundial.

Todavia, a redução na taxa de expansão do PIB aqui é maior que a de outros países, inclusive da Europa, apontando que a responsabilidade da queda se deve mais a fatores internos, que urge consertar. Os indicadores conjunturais também sinalizam o começo de uma retomada, que poderá ser mais forte e duradoura, dependendo das correções que forem feitas. E uma questão de bom senso.