Em 6 estados ocorreram 83% das mortes, mas desgoverno pode espalhar a epidemia
A epidemia do coronavírus tem diferenças continentais no Brasil. Seis estados contam 83% das mortes brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Amazonas e Pará. Nesse país da Covid feroz, há 130 mortes para cada milhão de habitantes.
No conjunto dos outros estados, 22 mortes por milhão.
O motivo das diferenças dá o que pensar. O efeito dessa discrepância, também. Embora a ruína econômica seja disseminada, a percepção da doença pode ser diferente.
Tal disparidade pode influenciar a opinião que brasileiros de diferentes estados têm das atitudes de Jair Bolsonaro.
Em algumas pesquisas de opinião, cerca de metade dos entrevistados aprova o desgoverno federal da doença. Mais de 115 milhões de pessoas moram naquele Brasil bem menos devastado pela pandemia, em termos de mortes. No país da Covid feroz, vivem os outros 95 milhões.
A pandemia quase não existe no Centro-Oeste e no Sul, embora não seja difícil promover uma desgraça.
Mas o morticínio não é bem questão regional, noutras partes do país.
A Bahia, por exemplo, tem 19 mortes por milhão de habitantes. Pernambuco, 162 por milhão. O Ceará, 145. No Sudeste, Minas Gerais tem 7 por milhão. O Rio de Janeiro, 141 por milhão. São Paulo, 98. O estado com a maior taxa de morte é o Amazonas, com 321 por milhão.
O fato de alguns estados serem centro de conexões de viagens de negócios e turismo parece ter algum efeito na taxa de morte. Mas por que o Rio seria tão diferente de São Paulo? A Bahia, de Pernambuco?
Diferenças de renda, desigualdade ou indicadores sociais em geral não parecem explicar nada.
O morticínio está concentrado em grandes regiões metropolitanas. A administração da epidemia nessas cidades e, talvez, a cultura de contatos sociais e o tipo de vida urbana podem ser uma explicação
No entanto, “cultura”, sem mais, é um saco onde cabem muitos gatos pardos.
Além de concentrarem o morticínio, cinco daqueles seis estados da Covid feroz têm também as maiores taxas de crescimento da doença na última semana, afora São Paulo, onde há uma desaceleração notável.
No conjunto do Brasil, até fins de abril a taxa de crescimento do número de mortes perdia força, desacelerava. Durante quase duas semanas, essa despiora parou, na média nacional. A explosão da doença em alguns estados do Norte e do Nordeste e a alta velocidade da doença no Rio explicam a estagnação fúnebre.
Enquanto boa parte do mundo desacelera, desde o início de maio o Brasil vai se tornando uma aberração.
Desgovernado ou sob o governo da morte, do golpeamento institucional, da perversidade lunática e da cafajestada facinorosa, há risco de o país piorar. O distanciamento funciona, mas tem sido avacalhado em geral e sabotado por Bolsonaro e colaboracionistas.
Quanto mais avacalhadas as medidas de contenção, mais o morticínio vai durar. Quanto mais durar, maior deverá ser a propensão individual a abandonar o distanciamento, por desespero material ou psicológico. Quanto maior essa bola de neve, mais duradoura a destruição da economia. O desmanche do distanciamento não vai reativar a produção nem o desejo de consumir.
A epidemia pode então transbordar lá onde já ferve baixo. Pode se espalhar também para estados bem menos afetados pelo coronavírus. Mas existe ainda alguma chance de evitar essa aberração brasileira que seria a longa duração da primeira fase da pandemia: chance de achatar a curva, de segurar o vírus.
No entanto,Jair Bolsonaro está solto.
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