FOLHA DE SP - 25/05
Chegou a minha hora de voltar ao Brasil; despeço-me hoje desta coluna na Folha
Vivi quatro anos na Ásia, a região mais dinâmica e populosa do planeta. Um caleidoscópio de civilizações milenares, países descolonizados há menos de 80 anos e cidades-estado muito ricas. A palavra-chave, que sintetiza o continente, é multiplicidade: étnica, religiosa, linguística, cultural, social, política e econômica.
Uma região que incorporou com sucesso as grandes conquistas do Ocidente: direitos de propriedade, cumprimento de leis, competição, educação, medicina, segurança.
Uma área hiperpopulosa com deficiência crescente de recursos naturais. Um continente com disputas fronteiriças e étnicas, mas onde as ruas são muito mais seguras do que na América Latina, pois a punição aos transgressores é cultural e exemplar.
Sabe-se pouco no Brasil sobre a história e a geografia da Ásia. Nascemos em um mundo dominado pela cultura e pelos valores ocidentais. Mas nossos filhos e netos crescerão num mundo onde a Ásia volta a ocupar uma posição central, ao recuperar 20 pontos percentuais do PIB mundial desde 1990, perdidos para o Ocidente a partir do século 19.
O maior indício da retomada do mundo asiocêntrico é a primeira guerra hegemônica do século 21, em que os EUA questionam as bases do novo poder comercial e tecnológico da China. Mas, além da China, temos o crescimento acelerado das nações do Sul e do Sudeste Asiático, além do Oriente Médio. Mais à frente, Índia e África.
Aos que querem sair do Brasil por algum tempo, recomendo fortemente que pensem seriamente na Ásia como destino e no mandarim como segunda língua após o inglês, apesar do grande desafio que é aprendê-lo. Já tivemos os séculos do Mediterrâneo e do Atlântico. Agora estamos no século do Índico e do Pacífico, que cercam os lugares do mundo onde o desenvolvimento ocorre a olhos vistos, de forma acelerada.
Para quem pensa em viver na Ásia, recomendo especialmente Singapura, “joia rara” que oferece organização, segurança, beleza (“the city in a Garden”), infraestrutura, tecnologia e eficiência público-privada. Trata-se da cidade que hoje abriga a mais rica confluência de diferentes povos do Ocidente e do Oriente (“the Ocean in a drop”).
Em quatro anos, escrevi cerca de uma centena de colunas para a Folha sobre essa região e o Brasil. Nesses textos, enfatizei principalmente as oportunidades e os desafios do agronegócio, o setor mais internacionalizado da nossa economia e com crescente dependência pela Ásia e China.
Trata-se de um casamento inevitável, sem opção de divórcio, cujas bases ainda estão atrapalhadas por dificuldades de distância, cultura, comunicação e modos de se relacionar e fazer negócios.
Chegou a minha hora de voltar ao Brasil e restituir uma parte do que aprendi para as novas gerações. No total, foram dez anos entre Europa, Estados Unidos e Ásia, sempre trabalhando com temas internacionais do agronegócio.
Assumi neste mês a posição de professor sênior de agronegócio global no Insper, com planos para criar um centro de estudos estratégicos e capacitação sobre esse tema nessa jovem e dinâmica instituição. Assumi também o ciclo 2019 da Cátedra Luiz de Queiróz em sistemas agropecuários integrados da Esalq-USP.
Despeço-me hoje desta coluna na Despeço-me hoje desta coluna na Folha. Agradeço ao jornal por abrir essa janela de opinião e debate a partir do exterior, como parte da louvável política de manter um grupo diverso e competente de articulistas que sempre escreveram com total liberdade e estímulo.
Agradeço também à atenção e aos retornos que recebi dos leitores desta coluna. Certamente continuarei escrevendo artigos ocasionais para a Folha e outros veículos.
Marcos Sawaya Jank
É professor sênior de agronegócio global do Insper e titular da Cátedra Luiz de Queiroz da Esalq-USP em 2019
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