domingo, novembro 05, 2017

Salve-se quem puder! - ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 05/11

Com ministros num tiroteio, Temer se refugia no Jaburu e Meirelles se lança para 2018


Convalescendo de uma cirurgia e de duas denúncias da PGR, o presidente Michel Temer estava até ontem cego, surdo e principalmente mudo, enquanto seu Ministério parece mais fora de controle do que a PM do Rio de Janeiro. Afora os ex-ministros que foram presos e os atuais, que estão na mira da Lava Jato, há os que falam demais, os que pedem demais, os que sonham demais. E cada um diz e faz o que quer.

Torquato Jardim não deve à Justiça, a nenhum partido, não tem papas na língua e, cá entre nós, não revela nenhuma novidade quando diz que o governador Pezão não tem controle sobre a PM do Rio, que a PM tem relações para lá de perigosas com o crime organizado e que, se há luz no fim do túnel, é com um novo presidente e um novo governador.

Nada que ninguém já não soubesse, mas atraiu a fúria de todas as forças políticas do Rio contra o ministro da Justiça: o governador, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o presidente da Assembleia, Jorge Picciani (PMDB), toda a área de segurança, esquerda, centro e direita. Só faltaram Sérgio Cabral e Fernandinho Beira-Mar. Cabral, deprimido pela perda de uma cinemateca tão bacana. Beira-Mar, ocupado com o controle do Comando Vermelho a partir das penitenciárias.

O problema de Torquato Jardim não é ter falado uma mentira, mas verdades que ministros não podem dizer. Mexeu com os brios das autoridades do Rio, que entraram com uma interpelação judicial para emparedar o boquirroto: se ele não prova o que disse, cai em injúria, calúnia e difamação; se provar, cai em prevaricação, por não ter feito nada para combater o que sabia. Para alívio do ministro, a Justiça brasileira é lenta. Isso pode demorar um, dois, mil anos. Até lá, Inês é morta, Temer já passou a faixa e o Rio vai continuar com seus problemas.

Para Luislinda Valois, “a emenda é pior do que o soneto”. Temer precisava de uma mulher, de um negro e de alguém do meio jurídico para a pasta dos Direitos Humanos. Solícito, o PSDB providenciou Valois, que é três em um e tem outra vantagem: nunca abre a boca numa reunião. Mas, flagrada tentando driblar o teto salarial do funcionalismo, desandou a falar o quanto adora roupas, maquiagens e perfumes!

Aloysio Nunes Ferreira estava quieto no canto dele, a política externa, quando a procuradora Raquel Dodge pediu ao Supremo, em pleno feriado de Finados, para continuar as investigações sobre suas relações com a Odebrecht. Culpado ou inocente, bom não é ter um chanceler que, fora do País, defende o Brasil; dentro, se defende na Justiça. E ele é só um tucano a mais no ninho dos bicudos do PMDB.

Para encerrar a semana, o rebuliço do governo foi com a entrevista em que o ministro Henrique Meirelles admite que é “presidenciável”. Como no caso de Torquato Jardim, não há nenhuma surpresa nisso. Mas, entre todo mundo saber e o ministro dizer, vai uma enorme diferença. Até porque o jardim do Torquato só tem espinhos – crime organizado, combate à corrupção, penitenciárias em chamas... –, mas o de Meirelles distribui flores – juros e inflação caem, PIB e empregos sobem. Cuidado com o vespeiro, ministro!

Com tanta bala perdida, Temer refugiou-se no Jaburu, de costas para Jardim, Valois, Nunes Ferreira e Meirelles, sonhando com a reforma da Previdência. Aliás, o mais surpreendente nas contas da ministra dos Direitos Humanos não é ela querer receber o salário de R$ 30.934,70, mas já embolsar R$ 30.471,10 como desembargadora aposentada. O teto de aposentadoria do INSS é de... R$ 5.578! Mas como votar a reforma e corrigir esses privilégios, se o governo troca tiros, o Congresso só planeja o próximo feriado e o ministro da Fazenda se lança para 2018? Se ele já está nessa, imaginem os deputados e senadores...

2 comentários:

AHT disse...

O Brasil é o que é pelo que nós, o Povo, somos.

Nós somos o que somos por nossas próprias ações e omissões.

Somos o que somos porque, em geral, votamos focados em nossa própria comOdidade e não pela nossa comUnidade - e, muito menos ainda, focados e assumindo o nosso compromisso com a Saúde, Desenvolvimento e Soberania da nossa Nação.

Em consequência, não temos o Direito de expressarmos surpresa quando um Grande Ladrão e Traidor e milhares de outros ladrões e traidores são eleitos e indicados para cargos no Governo. Somos cúmplices de todos esses.

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PS: Poderes Executivo e Legislativo, unhas e dedos numa mesma repartição do Balaio Nacional. Na outra repartição desse balaio, anéis com uma balança estampada.

Se não existissem "corruptos" no Executivo e no Legislativo, teríamos a certeza que não existiria um só “corrupto” no Judiciário.

Ora, se votamos, existimos e somos "QSP" no Balaio Nacional, DONDE SE CONCLUI QUE SOMOS UM FELIZ POVO DUAL FLEX: CÚMPLICES "DELES" E VÍTIMAS DE "NÓS MESMOS".

AHT disse...

Enquanto na Arábia Saudita o príncipe herdeiro decidiu agir e dar uma freada nos poderosos que bandearam para a corrupção, por acá, em Pindorama...

o Presente assim está encaminhando a Nação para o Futuro:


Pindorama, de gota em gota,
De internacional chacota
à humilhante e definitiva bancarrota,
bastará para a Presidência da República
reprisarmos essa patota:

1. Sarney
2. Collor
3. FHC (2 vezes!)
4. Lula (2 vezes!)
5. Dilma (2 vezes!)
6. Temer

Ah... para completar a destruição de Pindorama:

Vitaliciedade para os atuais ocupantes do Congresso Nacional e dos Superiores Tribunais - e, em caso de morte desses bravos patriotas,
as vagas deverão ser, obrigatoriamente, ocupadas e obedecendo-se a seguinte hierarquia:

1º) Filho(a) ou neto(a) indicado(a) pelos demais membros da família;
2º) Na falta de filhos e netos, pelo cônjuge;
3º) Na falta de familiares, então a vaga poderá ser ocupada pela(o) amante que comprovar ser a(o) mais antiga(o);
4º) Na falta de familiares e amantes, então as indicações para a vaga e a escolha do novo ocupante da vaga será feita pelos demais membros, em plenário e, à cada evento dessa natureza, respeitando-se regras combinadas previamente entre os líderes de facções, digo, bancadas.


E no Congresso, na hora do cafezinho a conversa estava animada, bem doidona...

- É, pois é...
- Pó pô pó?
- Pó pô.
- Falô mano!