Nelson Barbosa, professor titular da Escola de Economia da FGV de São Paulo, participante da equipe econômica do período do petismo e último ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, escreveu artigo criticando a interpretação de André Lara Resende sobre o tema dos elevados juros reais brasileiros. O texto de Nelson apareceu no caderno de fim de semana do jornal "Valor Econômico" que circulou na sexta-feira de Carnaval, 24 de fevereiro.
Discordando do diagnóstico de André e defendendo que no Brasil o modelo ortodoxo funciona –os juros causam a inflação, e não o inverso–, Nelson escreveu: "As principais ações para reduzir a taxa real de juro são a estabilização do endividamento público, a redução relativa do volume de crédito direcionado e o aumento da produtividade da economia".
Esse diagnóstico claramente ortodoxo, vindo de um economista com um histórico de influência na formulação de política econômica dos governos petistas, deixa-nos com dúvida sobre o que esperar de um possível retorno de Lula à Presidência a partir de 2019.
O diagnóstico de Nelson, por um lado, parece ir na direção contrária de algumas das ações do período petista:
- O repasse de R$ 400 bilhões para o BNDES emprestar a juros muito subsidiados;
- A política de destruição do superavit primário –de um saldo primário recorrente de 3% do PIB em 2008 para um deficit de 1,5% em 2014–, que está na raiz da mencionada elevação do endividamento público;
- As iniciativas que visavam elevar a produtividade da economia brasileira, mas com resultado contrário ao pretendido, como o novo marco regulatório do petróleo, o programa Inovar-Auto, a reconstrução da indústria naval, o elevadíssimo requerimento de conteúdo nacional e a alteração do plano de negócios da Petrobras, entre tantas outras medidas.
Ou seja, o texto de Nelson Barbosa sugere uma visão que, caso adotada por um eventual governo Lula, resgataria um modelo mais próximo da política econômica inicial do ex-presidente, no período em que Antonio Palocci estava no Ministério da Fazenda, do que do desvio heterodoxo posterior.
Por outro lado, a movimentação para a construção da candidatura de Lula acelera-se como nunca. Além do bom posicionamento do ex-presidente nas pesquisas, dos manifestos "volta, Lula" de artistas e do imaginário em torno do retorno de Getúlio Vargas nos braços do povo em 1950, há a demanda de toda uma gente que saiu do governo e precisa se recolocar. A pressão pela volta de Lula é imensa. Ele tentará com certeza.
Diante da real possibilidade de vitória de Lula, o que importa para o analista é saber qual Lula voltará: o Lula pragmático de Antonio Palocci ou o ideológico do período posterior?
Pelo tom dos textos preparatórios ao 6º Congresso do partido, deverá prevalecer versão extremada do PT ideológico. Parece que o PT abandonou de vez a social-democracia e lutará com o PSOL pelo espaço da extrema-esquerda.
Pelo artigo de Nelson, temos uma visão que parece mais próxima do pragmatismo palocciano.
Muitas dúvidas. Se Lula conseguir se candidatar e ganhar em 2018, saberemos em 2019 qual reencarnação ele assumirá.
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