segunda-feira, outubro 10, 2016

Por que Crivella deverá vencer - RICARDO NOBLAT

O Globo - 10/10

Marcelo Freixo (PSOL) sabe que remotamente ganhará a prefeitura do Rio. Sabe que o melhor para ele seria perdê-la, pela segunda vez. Por isso, hesita em enfrentar Marcelo Crivella (PRB) com a garra e o gosto de sangue na boca, marcas de um candidato disposto a vencer. Freixo quer conservar-se como a maior referência da esquerda no Rio para disputar o governo do estado, em 2018. E talvez esteja certo.


QUEM, DE FATO, venceu a eleição do Rio no primeiro turno foi a soma de abstenção com brancos e nulos, que chegou a 42,54%. Os 25% dos eleitores que votaram em Crivella representaram algo como 25% do total apto a votar. Freixo beneficiou-se do racha da direita. Juntos, Pedro Paulo (PMDB), Flávio Bolsonaro (PSC), Indio da Costa (PSD) e Carlos Osorio (PSDB) tiveram quase 48% dos votos.

ELEITO DEPUTADO estadual em 2006, com 13.574 votos, e reeleito com 177.253, Freixo alcançou quase 30% dos votos válidos (914.082) ao disputar a prefeitura do Rio em 2012. Perdeu para Eduardo Paes (PMDB). Na época, foi o segundo mais votado entre oito candidatos. Dispensou aliança com outros partidos. Quase não teve tempo de propaganda no rádio e na televisão. Fez a campanha mais barata.

VALEU-SE DA MESMA receita este ano. Com uma diferença, como ele observa: passou para o segundo turno. E terá, no rádio e na televisão, o mesmo tempo de propaganda do seu adversário. Em 2008, apoiado pelo PSDB e o PPS, o jornalista Fernando Gabeira (PV), candidato a prefeito do Rio, acabou derrotado no segundo turno por uma diferença de apenas 1,66% dos votos para Paes.

TEMPO DE propaganda igual pode fazer diferença, sim, mas não impede que no segundo turno alguém vença e alguém perca. Em 2006, por exemplo, Geraldo Alckmin (PSDB), autor, este ano, do feito notável de eleger um poste prefeito de São Paulo no primeiro turno, bateu-se com Lula no segundo turno da eleição presidencial. Teve menos votos do que no primeiro. Um prodígio.

FREIXO NÃO DÁ a impressão de que possa ou esteja empenhado em reverter a derrota por ora desenhada. Ganhou de graça o apoio do PCdoB, do PT, da Rede e do PSB. A candidata do PCdoB atraiu menos de 4% dos votos. O PT não teve candidato próprio. O da Rede não passou de 1,5% dos votos. E no PSB do Rio, quem tem voto (o senador Romário) desfila com Crivella por aí.

FREIXO APRESSOU-SE a dizer que Lula e Marina Silva não terão lugar no seu palanque. Candidato interessado em vencer comporta-se assim? Freixo e Crivella disseram descartar o apoio do PMDB. Mas Crivella mentiu. Freixo parece que não. Crivella suou para arrancar o apoio de Indio e de Osorio. Freixo apenas conversou com os dois. Indio apoiará Crivella nesta quarta-feira. Osorio já apoia.

NO PRIMEIRO TURNO, a vantagem de Crivella sobre Freixo foi de 9,52% dos votos válidos. A primeira pesquisa de segundo turno divulgada pelo Datafolha conferiu a Crivella uma vantagem de 17 pontos percentuais. A única notícia boa que a pesquisa trouxe para Freixo é que ele vence Crivella entre os eleitores que ganham mais de dez salários mínimos. Que ironia para um candidato de esquerda!

O QUE NÃO QUER dizer que os ricos estejam errados quando enxergam nele o melhor nome para governar a cidade. Nem que os pobres estejam certos ao preferir Crivella. Na verdade, o tamanho do não voto é que será a melhor indicação do que pensa dos dois candidatos boa parte dos eleitores do Rio.

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