Divulgado nesta terça-feira (28), o relatório trimestral de inflação, principal documento de comunicação do Banco Central, era aguardado com especial interesse. Não se sabia ao certo de que maneira a nova diretoria da entidade pretendia conduzir a política monetária nos próximos meses.
Havia basicamente dois caminhos: adiar para 2018 o compromisso de levar a inflação ao centro da meta (4,5%), a fim de muito em breve reduzir a taxa básica de juros, ou postergar os cortes na Selic, com vistas a obter a convergência dos preços já no ano que vem.
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, optou pela segunda via —em suas palavras, um objetivo ambicioso, porém crível.
Mirar o centro da meta será fundamental para rebaixar as expectativas de inflação e viabilizar juros menores e sustentáveis no médio prazo. Há na atitude do BC uma tentativa de restaurar a credibilidade, erodida nos últimos anos por promessas não cumpridas e subserviência ao populismo do governo.
De fato, à luz das informações atuais, a escolha do BC é ousada. Nos últimos meses, houve surpresas altistas nos preços, a despeito do aprofundamento da recessão. As projeções para o IPCA em 2016 apontam alta de cerca de 7%.
Essas condições tendem a influenciar também as estimativas para 2017, dado um efeito inercial particularmente forte no Brasil –um choque leva muito tempo para se dissipar, em decorrência da indexação generalizada de preços e salários. Por isso, os modelos do BC ainda sugerem inflação acima da meta no ano que vem.
Goldfajn indicou que o cenário melhorará se houver uma gestão mais austera do Orçamento. O aumento da confiança na estabilidade da dívida pública reduziria o risco de fuga de ativos brasileiros e de desvalorização do real, favorecendo o controle da inflação.
O alinhamento com a Fazenda, portanto, é crucial. Melhorias na administração das contas públicas precisam ser confirmadas para que os juros possam cair com responsabilidade.
Tudo somado, o mais provável é que a Selic comece a ser reduzida mais para o final do ano, como é necessário. Apesar dos riscos, ensaia-se uma conjunção de fatores que, com alguma sorte, pode levar os juros a um dígito no médio prazo, de forma sustentável. Seria uma mudança expressiva no funcionamento da economia.
Como reforço a esse cenário, seria desejável que o Conselho Monetário Nacional, que se reúne no dia 30, sinalizasse para a sociedade o compromisso do governo —e não apenas do BC— com a redução estrutural da inflação, adotando uma meta menor, de 4,25%, para 2018.
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