O GLOBO - 18/04
Várias coisas nos trouxeram a este domingo sem honra, mas uma das principais talvez tenha sido a falta de tolerância do governo
Há uma guerra de decibéis lá fora, na Esplanada dos Ministérios, onde estou nessa tarde de domingo. Dois caminhões de som, um em frente ao outro, mas cada qual do seu lado do muro, berram slogans e provocações, decididos, um e outro, a ganhar no grito. São uma metáfora perfeita para um país dividido, em que, até ontem, o governo, que deveria ser para todos, esmerava- se no “nós e eles”.
Hoje, porém, em pleno fervor do impeachment, o Palácio do Planalto resolveu mudar de tom, e estreou, na internet, uma campanha fofinha, em que clama por tolerância com a hashtag # respeitobasta. A imagem que acompanha o texto mostra uma borracha apagando o muro que, lá fora, divide o gramado, permitindo que as pessoas de um lado e do outro se misturem num carnaval de cores. Mas quem construiu o muro?! O cinismo da campanha é tão absurdo que vai além do reles insulto.
Várias coisas nos trouxeram a este domingo sem honra, mas uma das principais talvez tenha sido, justamente, a falta de tolerância do governo, e o seu total desrespeito pelos eleitores que preferiram outros partidos e candidatos. Ao longo dos últimos 13 anos, esses eleitores foram obrigados a ouvir, das autoridades máximas do país, que eram verdadeiros monstros, gente que não suportava ver pobres viajando de avião ou filhos de empregados frequentando a universidade.
No sábado, esse retrato odioso, que retira dos oposicionistas até a sua humanidade mais elementar, foi repetido, no plenário, por todos os deputados petistas, sem exceção. E, ainda na semana passada, recebendo mulheres no Planalto, a presidente posou ao lado de uma estudante negra segurando um cartaz onde se lia “A casa grande pira quando a senzala vira médica”. É difícil até começar a explicar o grau de desrespeito que uma frase dessas encerra. A presidente de todos os brasileiros jamais poderia concordar com uma ofensa assim dirigida àqueles que apenas não foram seus eleitores.
Por mais que se negue isso, um impeachment é um ato essencialmente político. Apesar das fraudes fiscais que cometeu, e apesar da sua política sempre equivocada, é bem provável que Dilma não chegasse a este ponto melancólico se tivesse governado, indistintamente, para todos os brasileiros, e não apenas para os que votaram nela e no Temer. # respeitobasta
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