ESTADÃO - 18/04
Impossível fugir à obviedade adjetiva para definir o tamanho da derrota do governo no plenário da Câmara: esmagadora e incontestável. Durante a votação, a proporção entre os votos a favor e contra esteve à razão de três para um em prol do impedimento. Resultado significativo o suficiente para sinalizar a decisão do Senado.
A vantagem, porém, não muda a realidade: a presidente Dilma Rousseff amanhece nesta segunda-feira totalmente desprovida de sustentação política, mas continua na legal e legítima posse do cargo. Além de seguir moradora do Palácio da Alvorada, até a manifestação do Senado ela continua dona da caneta presidencial e da cadeira no Palácio do Planalto.
Significa dizer que a vitória de ontem não dá aos vencedores ocasionais a prerrogativa de tripudiar nem de se comportarem como detentores do poder. Parece um detalhe, mas como é nos detalhes que reside o diabo, convém alertar para a necessidade urgente e imprescindível que a oposição em geral, vice-presidente Michel Temer em particular, a todo o estoque de cautela e habilidade política de que forem capazes. O mesmo utilizado por eles para chegar aonde chegaram, se contrapondo com profissionalismo ao amadorismo do PT.
O Brasil, agora como em outras ocasiões cruciais (transição democrática, mais que o caso Collor) vai precisar que a racionalidade, o espírito público e a visão estratégica sejam capazes de contornar os obstáculos que o poder formalmente constituído tentará criar à conclusão do processo.
Para isso, recorrerão a qualquer expediente estando ainda na posse do poder.
Vai que cola. Entre sábado e domingo, deputados próximos ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, consultaram partidos oposicionistas sobre a possibilidade de 200 deputados entregarem o resultado da votação de ontem ao presidente do Senado, Renan Calheiros.
A proposta foi rejeitada de imediato. Por dois motivos: para não rechear com azeitonas a empada de Cunha e para não dar aos senadores a impressão de pressão indevida.
Receita de família. O ex-ministro Nelson Jobim deu a Michel Temer um programa mínimo para, se for o caso, assumir o governo com chance de sucesso. Primeira providência, montar um Ministério irretocável. Em segundo lugar, não cair na tentação de promover perseguições aos adversários nem de proteger aliados. Ou seja, completo distanciamento das investigações em curso.
Seria necessário também que Temer assentasse a disposição de não concorrer a eleições futuras e que não procurasse influir nas decisões dos partidos aliados vista aos pleitos municipais deste ano ou ao presidencial de 2018. Em especial, que não tentasse se envolver nas rusgas do PSDB de São Paulo.
Por último, mas não menos importante que, se vier a assumir o Planalto, Temer não favoreça o PMDB na composição da equipe.
Muro abaixo. Nem se pode dizer que o PSDB esteja preso em seu labirinto. Em relação ao que fazer se houver troca de governo, o partido é o próprio labirinto. Precisa tomar uma decisão. No entanto, cresce o sentimento de que essa não pode atender aos interesses de José Serra, Aécio Neves ou Geraldo Alckmin, francos pretendentes à candidatura presidencial.
O ex-senador Tasso Jereissati, ativo articulador dessas conversas, defende que os tucanos divulguem ainda nesta semana documento explicitando os critérios que nortearão a definição do partido. Deputados lembram que o PSDB acertou quando não participou do governo Fernando Collor, acertou de novo ao integrar a equipe de Itamar Franco e agora não pode errar.
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