VALOR ECONÔMICO - 04/11
Intrigante como já se passou quase um ano de exercício do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, num governo claudicante, ameaçado de impeachment sem ter tido, na verdade, a oportunidade sequer de começar, e ainda não apareceu um sucessor bem situado e com perspectiva de se colocar na disputa de uma forma segura. Os três anos que faltam para a campanha formal são um tempo longo demais para deixar candidatos na rua, expostos às intempéries, mas se o governo continuar neste funcionamento vazio, uma engrenagem que só faz ratear, será inevitável que a escolha do próximo presidente da República tome conta do espaço político do país e nem a crise econômica mobilizará eleitos e eleitores.
Isso só não aconteceu, ainda, porque não há um nome em nenhum partido com o seu destino ligado a esta cadeira. As legendas, também, como o governo, soluçam, e não conseguem informações precisas sobre quem e o quê quer o eleitorado.
As pesquisas de opinião mais recentes mostraram o cenário oco do momento, em que todos os possíveis candidatos, do governo ou da oposição, estão mais ou menos situados no mesmo patamar de intenção de voto e de rejeição.
O cientista político e sociólogo Antonio Lavareda desestimula, nos seus estudos, que se considere, nas vastas listas submetidas ao eleitorado nesses levantamentos, os nomes que não participaram da última eleição. "Os que não foram candidatos, independentemente de a pesquisa dizer que o eleitor o conhece bem, não são conhecidos", afirma. Na maioria das vezes, submetem-se ao eleitor os nomes em lista estimulada, e em seguida pergunta-se se conhece aquelas figuras. Ora, quem respondeu à intenção de voto estimulada acabou de conhecer, não fazem nem três minutos, aquele candidato, portanto é uma resposta inócua para referência.
No caso das pesquisas deste fim de ano, seria necessário então, por esse princípio, separar o senador José Serra e o governador Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Foram citados pelo nível de conhecimento mas já vai longe o ano em que foram candidatos a presidente.
Restaria considerar, no grupo do governo, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, e no da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede). A única constatação, óbvia, que as pesquisas permitem fazer, é que os dados apurados mostram que a candidatura do ex-presidente Lula é inviável, hoje, e o PT bem faria se começasse a testar outros nomes, de preferência escolhendo-os entre os seus filiados que não participaram da cúpula partidária, nos últimos anos, por razões evidentes por si.
Por que a candidatura Lula se mostra inviável? O ex-presidente está com uma rejeição inédita, até mesmo no Nordeste, seu reduto mais fiel. Hoje, 55% do eleitorado diz que não votaria em Lula de jeito nenhum. Esse percentual era de 33% em maio do ano passado, uma queda vertiginosa para alguém carismático que cultiva a fama de pai dos pobres, que se vitimiza ainda com sucesso a qualquer obstáculo com que se depara na sua carreira política.
Só a rejeição, porém, não é tudo. Lula aparece nas respostas de 67% dos eleitores como tendo responsabilidade nos fatos criminosos em investigação na operação Lava-Jato.
São, então, 55% de rejeição, 67% que o responsabilizam pelo maior escândalo que sangrou a maior estatal brasileira. Um veredicto que torna inviável sua candidatura, hoje. A Lava-Jato, bem como agora a Operação Zelotes, no caso do Lula, constituem o fato político, jurídico, policial mais importante dessa conjuntura que vai empurrar o país até a sucessão e sobre ela exercer uma influência decisiva. As duas taxas combinadas são mortais para Lula, mas não o tirarão da campanha que se desenvolve hoje até que possa trabalhar por alguém. Vai ficar reservando lugar até o fim. Quem sabe não fica? Tudo depende.
Há, na cúpula do PT, com todas as ressalvas de que esse quadro pode mudar a partir do ano que vem, se houver recuperação econômica do país, quem defenda que, se o PT quiser ter a chance de manter o poder federal, melhor faria se encontrasse um nome, ou alguns nomes para serem testados desde já. Alguém, inclusive, a ser adotado pelo ex-presidente num grupo de petistas insuspeitos, fora da máquina partidária e do governo.
Da oposição são dois os candidatos que participaram da eleição do ano passado, e as pesquisas têm respostas diferentes para Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede).
Aécio teve 33,55% dos votos válidos no primeiro turno e 48,36% dos votos válidos, no segundo turno. Houve um crescimento substantivo do primeiro para o segundo turno. As pesquisas deste mês, contudo, mostram o senador Aécio Neves reduzido à votação do primeiro turno que, de resto, é a votação padrão do PSDB em eleições presidenciais, seja quem for o candidato.
Na pesquisa MDA/CNT, Aécio aparece com 32% das intenções de voto, provando que tudo o que agregou em outubro de 2014, cerca de 15 pontos percentuais, ele não conseguiu reter.
É fato que na disputa do segundo turno o candidato recebe parte da votação do terceiro lugar e a adesão de quem não vota no seu adversário de jeito nenhum. Mas não conseguir agregar um votinho desses, conquistados fora do eleitorado do PSDB, é um fenômeno altamente negativo, cujas causas é preciso procurar. O senador Aécio Neves, que quase venceu a eleição presidencial, teve mais de 51 milhões de votos, e num espaço de um ano não conseguiu construir uma relação com esse eleitorado.
Marina Silva, outra candidata de 2014 no campo da oposição, terceiro lugar no primeiro turno, não está bem, mas em melhor situação que seus adversários, por enquanto na pesquisa, não se sabe se na eleição. Talvez até pelo silêncio que se impôs (ganhou com isso), só quebrado para revelar posições inaceitáveis para os eleitores, como condenar o impeachment (perdeu com isso), tornou-se incompreensível e no lusco fusco manteve-se em equilíbrio. No primeiro turno de 2014 teve 21,32% dos votos, e na pesquisa de agora 21,3% das intenções de voto.
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