Foi animador ouvir a presidente reeleita Dilma Rousseff reafirmar em entrevista na tevê, no dia seguinte à vitória nas eleições, seu "primeiro compromisso" com o diálogo com empresários, investidores e, em especial, com agentes do mercado financeiro. Mas ela precisa agir rápido. Naquele mesmo dia, o mercado havia mandado o recado - por meio das cotações em baixa das ações da Petrobras e do índice geral da bolsa de valores - de que continua intranquilo.
A presidente reforçou a disposição de recuperar a confiança dos empresários, que, conforme os indicadores insuspeitos da Fundação Getulio Vargas, está em baixa há meses, refletindo a certeza quanto à necessidade de mudanças na condução e nos rumos da política econômica. Pior ainda é a elevada incerteza quanto à real capacidade de a nova equipe econômica realizar essas mudanças.
Por enquanto, não há mais nada que se possa fazer para trazer a inflação de volta para o centro da meta (4,5%) nos próximos dois meses nem para evitar que 2014 tenha crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) próximo de zero. O que ainda incomoda é o suspense em relação à criatividade da administração pública para fechar o balanço fiscal.
É tido como certo que o governo terá de enfrentar o constrangimento de enviar proximamente ao Congresso Nacional uma proposta de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), rebaixando a meta do superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública). Isso porque os gastos não foram contidos e as receitas sofreram o impacto da estagnação da atividade econômica. A meta será rebaixada de 1,9% para 0,94% do PIB, desconforto menor do que ter de confessar o descumprimento dessa obrigação com as contas públicas.
Esse é, no momento, o mais agudo dos pontos negativos do primeiro mandato de Dilma Rousseff, porque disso depende, em boa parte, a manutenção ou a perda do grau de investimento, conforme a nota de risco de crédito a ser atribuída pelas agências internacionais de rating.
Se tudo isso é o resultado de erros na condução da política econômica no primeiro mandato, o primeiro ato do segundo governo Dilma deve ser reconhecê-los e, em seguida, buscar corrigi-los. E como a economia e os mercados costumam reagir a sinais convincentes de mudanças, urge emiti-los o quanto antes.
Reconhecer a perda de credibilidade da atual equipe econômica e anunciar a escalação do novo time é, portanto, um dos sinais inadiáveis, dependendo, é claro, do perfil dos indicados. Empresários e agentes financeiros podem mudar rapidamente de atitude depois desse anúncio, pois é da índole do mercado tentar antecipar-se às medidas que vierem a ser tomadas.
E que essas medidas não se resumam a novo pacote do tipo "mais do mesmo", conjunto de bondades tópicas, inclusive no plano fiscal, que têm se mostrado incapazes de reanimar a economia. Mais convincente será a adoção de políticas horizontais em lugar do improviso, a persistência no combate à inflação, a transparência nas contas públicas, a previsibilidade quanto à política econômica e a abertura para o comércio externo, com negociações objetivas com países ou blocos que realmente contam. Frustrar essas expectativas pode custar caro demais ao país.
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