O GLOBO - 29/10
Caso Dilma, reeleita, se convença de que é grave a situação de uma economia semiestagnada e com inflação alta, ela tem à disposição várias alternativas de reformas
No fictício mundo da racionalidade, imune a ideologias, tão logo fosse constatada, por graníticas provas, a falência da política econômica do primeiro governo Dilma, as mudanças mais óbvias e consensuais seriam feitas, para o país e a presidente trafegarem os próximos quatro anos sem enfrentar dificuldades hoje previsíveis. Mas, na vida real, não costuma ser assim. Se, porém, a recém-reeleita presidente compreender que é grave a situação de uma economia semiestagnada em meio a uma inflação elevada, e resolver de fato fazer aperfeiçoamentos e ajustes, propostas não faltam.
Ela não pode é levar a sério o ministro da Fazenda, Guido Mantega — de quem, na campanha, anunciou a demissão para 31 de dezembro, a fim de acalmar os mercados —, quando ele diz que a vitória eleitoral reflete o apoio da “população” à condução da economia. Esqueceu-se que a presidente perdeu onde é gerada a maior parte do PIB brasileiro.
Entre as críticas e sugestões publicadas, ganham realce as feitas, em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, por José Alexandre Scheinkman. Hoje na Universidade de Columbia, com passagens pelas também universidades americanas de Chicago e Princeton, da qual é professor emérito, Scheinkman não se mantém distante do Brasil. Na campanha de 2002, chegou a assessorar o candidato Ciro Gomes, derrotado por José Serra na disputa para se saber quem iria decidir a eleição com Lula no segundo turno.
Uma política fiscal mais transparente e equilibrada é defendida por ele, como outros economistas. Como cortes de gastos são necessários, Scheinkman defende a redução de despesas de custeio e subsídios — estes, volumosos e nada explícitos no Orçamento. O “desmonte” de subsídios setoriais e do controle de preços — combustíveis, por exemplo — injeta mais eficiência na economia. Uma diretoria “adequada” no Banco Central, afirma, evitaria, por sua vez, o uso desse controle para debelar a inflação.
O economista a entende que é preciso criar uma agenda para impulsionar a baixa produtividade brasileira. Hoje, diz, comparados aos índices americanos, a produtividade do trabalhador brasileiro está abaixo do nível de 1980. E, para enfrentar a questão, além da Educação, requer-se uma série de reformas microeconômicas, como a racionalização e simplificação do sistema tributário.
Ao mesmo tempo, deve-se integrar o Brasil à economia mundial, fazendo retroceder as reservas de mercado que têm sido estabelecidas. O assunto remete à questão do desenvolvimento tecnológico, em geral débil.
E quanto ao Bolsa Família, o sucesso do programa deve ser medido pela quantidade de famílias que se tornam independentes dele. Simples.
Nada há de pirotécnico nestas e outras propostas do gênero para recolocar o país no prumo. Mas como ideologias contam muito nessa hora, a racionalidade das críticas e sugestões de mudanças ficam em segundo plano, infelizmente.
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