sexta-feira, agosto 08, 2014

Política comercial agrava crise da indústria - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 08/08


Começam a ficar nítidos os prejuízos de uma política externa de alianças com latino-americanos populistas e terceiro-mundistas, ideologias vindas do lixo da História



As montadoras são afetadas de forma direta por duas das causas da retração do setor industrial: o desaquecimento do consumo e dificuldades para encontrar alternativas de mercado no exterior. Em junho, a produção da indústria como um todo retrocedeu pelo quarto mês consecutivo — 6,9%, em comparação com o mesmo mês de 2013, tombo, nos últimos anos, só superado pelo de 7,4% em setembro de 2009.

O retrocesso se dissemina: dos 26 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE, 21 apresentaram queda. E o impacto nas montadoras de veículos é expressivo, com um retrocesso na produção, em julho, de espantosos 20,6% sobre julho de 2013, embora, com relação a junho, tenha havido recuperação de 17%. Mesmo deduzidos os efeitos da Copa do Mundo, são dados bastante negativos.

No caso da indústria automobilística, além do endividamento das famílias , há a crise, em fase de agravamento, da Argentina, maior importador de veículos brasileiros, bem como de produtos manufaturados em geral. A dependência crônica ao Mercosul, por opção ideológica, começa a cobrar seu preço. Bem como o erro de ressuscitar o protecionismo das décadas de 70 e 80.

O resultado tem sido manter o Brasil fora de cadeias globais de produção. Com isso, mesmo que se queira agredir outros mercados, não se tem produtos de última tecnologia, capazes de atender às exigências desses mercados. Acertos feitos para trazer montadoras, sem dar-lhes maior liberdade no uso de componentes importados, estreitam a margem de manobra da política de exportações, neste momento de retração interna e crise no maior parceiro do Mercosul.

Também começa a cobrar seu preço a falta de acordos comerciais bilaterais, em grande parte devido à subordinação, contrária aos efetivos interesses nacionais, da política externa ao viés protecionista de um Mercosul cada vez mais bolivariano. Note-se que os dez anos de negociação ainda não foram suficientes para o Mercosul e a União Europeia assinarem um acordo comercial. Que não deve mesmo ser fechado, agora que a Bolívia de Evo Morales passa a fazer parte do bloco comercial. Junta-se à Venezuela de Maduro, etc.

Torna ainda mais turvo o futuro do comércio exterior brasileiro — em queda, nas exportações e importações — o fracasso, nesta semana, do acordo que Roberto Azevêdo, o brasileiro da Organização Mundial do Comércio, conseguira costurar em Bali para ampliar o comércio internacional. A Índia, aliada estratégica do Brasil no Brics, o bombardeou.

Assim, a Rodada de Doha deve ser sepultada de vez, e o mundo, empurrado mais ainda para acordos bilaterais, em que o Brasil acumula enorme atraso. Para não se dizer que o Mercosul não assinou acordos, há dois: com Israel e Egito. Risível. Começam a ficar mais nítidos os prejuízos decorrentes da diplomacia de aliança cega com latino-americanos populistas e terceiro-mundistas, algo que há tempos faz parte do lixo da História.

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