quinta-feira, agosto 14, 2014

Eduardo Campos e o futuro da eleição - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 14/08


A morte do candidato interrompe uma carreira em ascensão e lança incertezas sobre a chapa que ele construiu para concorrer ao Planalto



A repentina e trágica morte do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB), em acidente aéreo ocorrido na manhã de ontem, no Litoral paulista, encerrou precocemente a carreira do herdeiro político de um ícone da política nacional, seu avô Miguel Arraes – ambos, coincidentemente, faleceram em um dia 13 de agosto. A morte do candidato também lança diversas incertezas a respeito da disputa presidencial em curso, tanto pelo potencial eleitoral que tinha – Campos figurava em terceiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto – quanto pelo nome que vai sucedê-lo à frente da chapa liderada pelo Partido Socialista Brasileiro.

Campos iniciou a carreira política como deputado estadual em Pernambuco, eleito em 1990. Foi deputado federal por três mandatos consecutivos, mas passou o primeiro deles trabalhando como secretário de Governo e de Fazenda em Pernambuco. Despontou para o cenário nacional como ministro de Ciência e Tecnologia, cargo que ocupou por um ano e seis meses no primeiro mandato do ex-presidente Lula. Em 2006, foi eleito, no segundo turno, governador de Pernambuco, e conquistou a reeleição em 2010 com 82,84% dos votos válidos.

Tanto o PSB quanto Campos fizeram parte da base aliada durante a maior parte dos 12 anos de governo petista, mas ultimamente havia ocorrido um distanciamento: em 2012, PT e PSB já tinham se enfrentado pela prefeitura do Recife (Geraldo Júlio, candidato de Campos, venceu no primeiro turno), e em 2013 os políticos do PSB entregaram todos os cargos no governo federal. Campos passou a criticar a presidente Dilma Rousseff e o PT, principalmente por suas alianças com figuras nada respeitáveis da política brasileira, como o senador Renan Calheiros (PMDB). Na entrevista que deu ao Jornal Nacional, na véspera da sua morte, Campos ainda afirmou que “esse governo é o único governo que vai entregar o Brasil pior do que recebeu”.

Com a morte de Campos, a chapa encabeçada por ele fica sem candidato à Presidência da República. Sua vice, Marina Silva (também do PSB), desponta como a substituta natural do pernambucano, mas a troca não é automática: precisa ser referendada pelas executivas dos partidos que compõem a coligação montada em torno de Campos. Marina já foi candidata em 2010 e sua participação foi apontada como um dos fatores que levou ao segundo turno uma eleição que parecia ser favas contadas para Dilma Rousseff. O capital político que ela acumulou na ocasião fez de Marina a “noiva cobiçada” por vários partidos quando seu grupo, a Rede Sustentabilidade, não conseguiu registro na Justiça Eleitoral a tempo de lançá-la como candidata. No fim, ela escolheu o PSB de Campos, em uma relação que não é livre de turbulências: as divergências surgiram quase que de forma imediata, especialmente no que diz respeito ao agronegócio e a alianças que o PSB decidiu fazer em alguns estados e das quais o grupo de Marina discordava.

Ao lado de críticas pertinentes – à maneira como o PT vem administrando a Petrobras, à relutância governamental de admitir que há problemas na economia, às políticas de Dilma para a energia e a infraestrutura –, a campanha de Campos também trazia itens de viabilidade duvidosa, como a proposta de passe livre para todos os estudantes do país. Caso Marina realmente se torne a candidata, resta saber não apenas se o discurso de campanha de Campos será mantido ou radicalmente alterado, mas também se ela será capaz de manter o capital político de 2010, acrescentando-lhe o voto daqueles que tenderiam a escolher Campos na eleição presidencial.

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