FOLHA DE SP - 03/06
BRASÍLIA - A manchete da Folha desta segunda (2), informando que seis em cada dez alunos da USP poderiam pagar mensalidade, é muito importante e duplamente oportuna.
Primeiro, por causa da crise da melhor universidade brasileira, que acaba de perder o primeiro lugar da América Latina para a PUC do Chile. Segundo, porque a campanha eleitoral já está escancarada.
Campanhas e eleições são para exposição e confronto de ideias, de forma que o eleitor possa optar pelos candidatos que melhor traduzam suas posições, suas aspirações, suas crenças. Mas não é isso que ocorre. Há uma pasteurização.
Petistas e tucanos correm atrás de Maluf e, como liberais e conservadores, gregos e troianos, viram papagaios repetindo o mesmo discurso sobre os temas mais polêmicos e que, portanto, deveriam justamente diferenciá-los diante da sociedade.
Quem não se lembra do contorcionismo de Dilma e de Serra ao falar sobre aborto em 2010? Eles diziam a mesma coisa --o oposto do que ambos acreditam. Em vez de expor corajosamente suas ideias ao escrutínio do eleitor, decoraram um discurso enviesado ditado pelos marqueteiros com base nas pesquisas e no oportunismo eleitoral.
Agora, em 2014, quem terá coragem de remar contra a corrente e falar o que pensa e o que planeja de fato? Dilma, Aécio, Eduardo Campos? Nenhum deles. Nem suas campanhas deixam nem eles mesmo se arriscariam. Seria "ingenuidade".
Em sendo assim, o país perderá uma grande chance (mais uma) de debater para valer: 1) sistema misto de bolsas e cobrança no ensino superior; 2) o direito ao aborto; 3) a descriminalização da maconha; 4) a redução da maioridade penal. Muito menos (5) como tratar as tarifas públicas para o bem de todos.
E é assim que o estudante pobre vai continuar pagando universidades privadas ruins e caras, enquanto o rico estuda nas públicas boas e gratuitas. Mas é proibido falar disso.
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