terça-feira, junho 03, 2014

Projeções: do PIB para a Copa - ILAN GOLDFAJN

O ESTADÃO - 03/06

Melhor escrever sobre as previsões para a Copa do Mundo do que sobre o PIB. É mais divertido. Nem sempre foi assim. Em 2010, o resultado da Copa decepcionou, com a eliminação do Brasil nas quartas de final frente à Holanda, mas o PIB cresceu impressionantes 7,5%. O país parecia ter decolado, como ilustrado pela imagem do Cristo Redentor na capa da revista “The Economist” na época. Passaram-se quatro anos, e tudo mudou. A média de crescimento do PIB de 2011 a 2014 deve ter sido de apenas 1,8%, abaixo das previsões mais pessimistas. Dizem que não há entusiasmo pela Copa do Mundo, mas só se fala nisso nestes últimos dias. Quais as chances da seleção brasileira e das outras seleções?

Antes da diversão, a obrigação. A divulgação do PIB nessa sexta foi um balde de água fria. O PIB cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre de 2014. A indústria está em recessão. O investimento tem caído, e pela primeira vez o consumo também mostrou um crescimento negativo. A agropecuária tem sido o único destaque positivo do PIB.

O que preocupa, no momento, é a perspectiva para o crescimento do PIB no segundo trimestre deste ano. O sinal é inequívoco. Um conjunto amplo de indicadores coincidentes para o segundo trimestre — incluindo, entre outros, indicadores para a produção industrial, a atividade do setor de serviços, a demanda por crédito e a confiança de empresários e consumidores — aponta para uma retração da atividade econômica: projetamos queda de 0,2%.

A consequência é uma perspectiva de crescimento fraco para o ano de 2014. Com o resultado mais fraco do PIB no primeiro trimestre, aliado à perspectiva de queda do PIB para o segundo trimestre, dentro do contexto dos atuais fundamentos econômicos, acreditamos que a economia dificilmente conseguirá crescer acima de 1% em 2014.

As previsões para o resultado da Copa são mais animadoras, pelo menos para os que torcem pelo Brasil. Usando as mesmas técnicas econométricas que empregamos para projeções econômicas (temperadas com alguma dose de cultura futebolística), encontramos indicadores que ajudam a prever os resultados da Copa. São dados que estatisticamente ajudaram a prever a probabilidade de uma seleção avançar nas Copas do Mundo desde 1994 (vejam estudo “Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014: quem tem mais chances?”, no aplicativo Itaú Análises Econômicas). Os resultados passam no teste do bom senso: encontramos que, na semifinal, classificam-se Alemanha, Espanha, Argentina e Brasil.

Há três fatores que saltam aos olhos quando analisamos os resultados na Copa: a qualidade da equipe no momento, a tradição e o apoio da torcida. Uma variável objetiva de qualidade, o ranking da Fifa, que tende a resumir o desempenho recente da seleção, resulta correlacionada ao desempenho das equipes em Copas passadas. Duas variáveis de tradição se mostraram significativas para prever o desempenho das seleções na Copa: 1) o número de títulos mundiais conquistados; e 2) se o país é europeu ou latino-americano. Finalmente, as equipes que jogam em casa tendem a levar vantagem. Os resultados mostram que a tendência é esta. Basta lembrar a histórica campanha da Coreia do Sul em 2002. De fato, em seis ocasiões o país organizador venceu o torneio. Suécia e Inglaterra só conseguiram chegar à final quando sediaram o evento.

Claro que há o imponderável. Além das variáveis objetivas, vale o uso de um grau maior de subjetividade. Desde a Copa de 1990 na Itália, sempre houve uma seleção africana alcançando pelo menos as oitavas de final (Camarões, Senegal, Gana, Nigéria) e, em quase todas, uma seleção asiática (Japão, Coreia). Impusemos ao modelo que uma seleção africana e uma asiática se classificarão para as oitavas de final do torneio. Examinando o desempenho das eliminatórias nessas regiões e fazendo uma análise qualitativa dos grupos e dos times, concluímos que a Costa do Marfim e o Irã são os que têm mais chances de avançar para a fase seguinte.

Os resultados são interessantes. Na primeira fase, os grandes favoritos avançam, com exceção da Inglaterra, que sucumbe aos tradicionais Itália e Uruguai no chamado “grupo da morte”. Nas oitavas, nomes mais fortes, como Colômbia, México e Rússia, vão ficando pelo meio do caminho. Um embate apertado acontece nas quartas de final entre Itália e Espanha. A Itália, tetracampeã mundial, é uma das seleções mais tradicionais da Copa, mas, se estivermos certos, a Itália cai nas quartas de final do torneio. Prevemos que Brasil, Espanha, Argentina e Alemanha cheguem às semifinais, com seus 11 títulos mundiais e grandes rivalidades históricas.

O estudo original para na semifinal, mas, usando os dados um pouco mais além, o Brasil aparece como campeão. Tomara!

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