segunda-feira, abril 07, 2014

Questão de sobrevivência - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 07/04

A Petrobras espera aumentar este ano sua produção de petróleo em cerca de 7,5%. É uma meta factível devido à entrada em operação de novas unidades de produção no mar, especialmente nos blocos onde se explora a camada do pré-sal. Lá os poços vêm se mostrando muito produtivos. Na entanto, a atividade petrolífera chega a 300 quilômetros da costa, em condições adversas, o que faz da operação desses campos um enorme desafio tecnológico e de logística.

Superar esse desafio se tornou uma questão crucial para a companhia. Somente com o considerável aumento de produção previsto até 2020 (com um volume que corresponderá a mais que o dobro do extraído atualmente), a estatal alcançará o patamar de faturamento que a capacitará a reverter o elevado endividamento acumulado nos últimos anos.

Há dez anos, a Petrobras estava em situação financeira confortável. A partir de então, foi transformada em instrumento de execução de vários programas políticos do governo. Abriu frentes em demasia sem ter estrutura adequada para tal. Adversários até acusaram o governo de fazer isso propositadamente, para facilitar um aparelhamento da companhia.

O fato é que os projetos foram encarecendo, ao mesmo tempo que a produção entrou em uma trajetória preocupante, de estagnação. Para agravar o problema, o governo “congelou” os preços de alguns combustíveis, causando enorme perda de receita à empresa. Sem geração de caixa compatível para arcar com os investimentos em andamento, a Petrobras passou a se endividar.

Diante desse mau desempenho econômico e financeiro, as ações da Petrobras se depreciaram significativamente. Mesmo com a recuperação ocorrida agora no mês de março, os preços das ações sequer atingiram as cotações em que se encontravam quando o governo resolveu capitalizar a empresa, em uma transação que envolveu a subscrição de novas ações pelo mercado e a cessão de campos de petróleo na camada do pré-sal, frustrando a maioria dos investidores.

Antes que a companhia — responsável por parcela relevante do investimento na economia brasileira — sucumbisse, o próprio governo Dilma resolveu corrigir os rumos. Em 2013, os preços da gasolina e do óleo diesel foram reajustados (mas não a ponto de se equipararem às cotações internacionais) e a diretoria, capitaneada pela presidente Graça Forster, foi autorizada a tomar iniciativas para a companhia se tornar mais eficiente. Ainda assim, muitos passos terão de ser dados para que a Petrobras se recupere do aparelhamento sofrido. A diretoria reconhece que somente em 2015 conseguirá tocar os negócios sem recorrer a mais endividamento. E promete apresentar números mais saudáveis no ano que vem, em decorrência do controle da dívida.

O mercado passou a dar um crédito de confiança a Graça nessa tarefa. Realmente, é uma questão de sobrevivência da companhia.

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