FOLHA DE SP - 03/04
IPCC divulga relatório mais comedido sobre impactos do aquecimento global; mesmo com incerteza, países precisam planejar adaptação
Uma seca como a que assola a Grande São Paulo -além do Nordeste, da Austrália e da Califórnia- e esvazia seus reservatórios é precisamente o tipo de fenômeno climático extremo previsto entre os impactos do aquecimento global.
Embora seja prematuro estabelecer uma relação de causa e efeito entre isso e aquilo, parece certo que a mensagem sobre riscos da mudança do clima encontra terreno mais fértil na proximidade de tais eventos. Nesse sentido, veio em momento oportuno o novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) divulgado domingo, no Japão.
Trata-se da segunda parte do AR5, o quinto relatório de avaliação do painel criado em 1988 pela ONU e pela Organização Meteorológica Mundial (o anterior, AR4, saiu em 2007). A primeira parte, anunciada em setembro, concentrara-se nos aspectos científicos da mudança climática; a atual focaliza os impactos socioeconômicos.
O novo volume do AR5 assinala um número maior de efeitos adversos em várias partes do mundo, muitos já em curso. Nota-se, porém, um rebaixamento geral dos níveis de certeza atribuídos às asserções e previsões do IPCC.
Isso se deve ao fato de o órgão ter adotado critérios mais exigentes para incluir projeções no relatório. O IPCC, afinal, sofreu considerável erosão de prestígio quando se verificou que em 2007 assimilara previsões alarmistas, sem base científica robusta, sobre o desaparecimento de geleiras do Himalaia.
Pelos novos padrões do painel, o grau de certeza atribuído a suas afirmações depende, entre outros fatores, do número de estudos científicos publicados que as corroboram. Isso fez aumentar, talvez artificialmente, a incerteza associada às consequências em países de menor renda, pois há muito menos pesquisas em andamento neles do que nas nações mais ricas.
Um exemplo que afeta o Brasil: no AR5 se atribui um nível de confiança menor ao risco de "savanização" da floresta amazônica, ou seja, de que o aquecimento global promova sua substituição paulatina por matas mais semelhantes ao cerrado (um tipo de savana).
Decerto esse rebaixamento não é motivo para cruzar os braços. Ninguém espera por sinais inequívocos de que um desastre vá ocorrer para contratar um seguro.
O AR5 ainda prediz coisas preocupantes, ainda que um pouco mais incertas, como um aumento da média de temperatura na América do Sul de 1,7°C a 6,7°C até o ano 2100 e uma redução de 22% das chuvas no Nordeste. O país precisa de mais iniciativas de adaptação, como desenvolver cultivares agrícolas mais resistentes à seca.
O mundo ainda não se pôs de acordo quanto a políticas conjuntas para reduzir as emissões de gases que realimentam o efeito estufa -e talvez nunca venha a fazê-lo.
Individualmente, contudo, os governos têm obrigação de preparar-se para os riscos que a mudança climática possa acarretar para a segurança alimentar e hídrica de suas populações.
Embora seja prematuro estabelecer uma relação de causa e efeito entre isso e aquilo, parece certo que a mensagem sobre riscos da mudança do clima encontra terreno mais fértil na proximidade de tais eventos. Nesse sentido, veio em momento oportuno o novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) divulgado domingo, no Japão.
Trata-se da segunda parte do AR5, o quinto relatório de avaliação do painel criado em 1988 pela ONU e pela Organização Meteorológica Mundial (o anterior, AR4, saiu em 2007). A primeira parte, anunciada em setembro, concentrara-se nos aspectos científicos da mudança climática; a atual focaliza os impactos socioeconômicos.
O novo volume do AR5 assinala um número maior de efeitos adversos em várias partes do mundo, muitos já em curso. Nota-se, porém, um rebaixamento geral dos níveis de certeza atribuídos às asserções e previsões do IPCC.
Isso se deve ao fato de o órgão ter adotado critérios mais exigentes para incluir projeções no relatório. O IPCC, afinal, sofreu considerável erosão de prestígio quando se verificou que em 2007 assimilara previsões alarmistas, sem base científica robusta, sobre o desaparecimento de geleiras do Himalaia.
Pelos novos padrões do painel, o grau de certeza atribuído a suas afirmações depende, entre outros fatores, do número de estudos científicos publicados que as corroboram. Isso fez aumentar, talvez artificialmente, a incerteza associada às consequências em países de menor renda, pois há muito menos pesquisas em andamento neles do que nas nações mais ricas.
Um exemplo que afeta o Brasil: no AR5 se atribui um nível de confiança menor ao risco de "savanização" da floresta amazônica, ou seja, de que o aquecimento global promova sua substituição paulatina por matas mais semelhantes ao cerrado (um tipo de savana).
Decerto esse rebaixamento não é motivo para cruzar os braços. Ninguém espera por sinais inequívocos de que um desastre vá ocorrer para contratar um seguro.
O AR5 ainda prediz coisas preocupantes, ainda que um pouco mais incertas, como um aumento da média de temperatura na América do Sul de 1,7°C a 6,7°C até o ano 2100 e uma redução de 22% das chuvas no Nordeste. O país precisa de mais iniciativas de adaptação, como desenvolver cultivares agrícolas mais resistentes à seca.
O mundo ainda não se pôs de acordo quanto a políticas conjuntas para reduzir as emissões de gases que realimentam o efeito estufa -e talvez nunca venha a fazê-lo.
Individualmente, contudo, os governos têm obrigação de preparar-se para os riscos que a mudança climática possa acarretar para a segurança alimentar e hídrica de suas populações.
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