quarta-feira, fevereiro 12, 2014

O preço do nacionalismo - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 12/02

Sem a pujança econômica de outrora, a Europa registra nos últimos tempos o fortalecimento de pressões xenófobas e anti-imigração.

Após a crise global, iniciada em 2008, e o consequente aumento dos índices de desemprego no continente, grupos de extrema-direita conquistaram níveis inéditos de participação nos Parlamentos nacionais da Suécia e da Grécia.

Não satisfeitos em exercer a representação política, tais agremiações têm protagonizado lamentáveis episódios de agressão às minorias de outras nacionalidades.

No Reino Unido, o governo do conservador David Cameron recentemente reforçou o controle sobre imigrantes do leste europeu. Decerto pesou em sua decisão o crescente apoio ao outrora nanico Ukip (Partido da Independência do Reino Unido), que cativa habituais eleitores de sua legenda.

Verifica-se, agora, o fortalecimento de políticas nacionalistas na Suíça. No domingo, a população local aprovou em plebiscito uma proposta que restringe a imigração de cidadãos dos 28 membros da União Europeia --hoje, 23% da população do país é estrangeira.

Aprovada por ínfima margem (50,3% dos votos), a limitação ao fluxo de imigrantes foi sugerida pelo Partido do Povo Suíço, conhecida agremiação de extrema-direita.

O governo nacional e a comunidade de negócios foram críticos da proposta, que também diminuirá o acesso ao serviço social nacional e o direito de os estrangeiros levarem suas famílias ao país.

Se foi derrotada durante o debate prévio, a racionalidade econômica agora cobrará sua fatura.

Não apenas ignorou-se que a Suíça tem as mais baixas taxas de desemprego da Europa (inferiores a 4%) como não foram considerados os efeitos da restrição ao livre fluxo de pessoas oriundas da União Europeia --bloco do qual o país não faz parte, mas com o qual tem grande nível de integração.

Ao violar os termos do Acordo de Schengen, que elimina o controle de imigração em 26 países do continente, a Suíça põe em risco tratados comerciais com a União Europeia, sua principal parceira econômica. Hoje, cerca de 60% de suas exportações têm como destino esse mercado comum.

Representantes da UE já deixaram claro que acordos bilaterais precisarão ser revistos. Na opinião de analistas suíços, o país perderá em investimentos externos, exportações e crescimento econômico.

Questões como essa afetam todos os países da região: em maio, haverá eleições para o Parlamento Europeu, e prevê-se a ascensão de partidos de extrema-direita. Essa escolha tem se tornado comum, mas o exemplo suíço mostra que, para além dos imperativos éticos, tal caminho cobra um alto preço.

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