quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Luz e calor - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 13/02
A rainha popstar Madonna não é loura, o ídolo argentino Carlos Gardel nasceu no país vizinho, e a cabeça do palito de fósforo não tem... fósforo. Mitos são, portanto, mais fortes que a realidade. Nos tempos atuais, de abundância de mídias e intenso tráfego de informações instantâneas, omissões e versões torcidas quase sempre são desmascaradas ou questionadas na hora, sem, contudo, acabar com a fantasia em torno de fatos.
Nessa torrente de interpretações e de opiniões colocadas na roda com tanta facilidade, a democracia, a liberdade e os direitos individuais deveriam ser os maiores beneficiados. Em tese, as grandes manifestações que acordaram o gigante Brasil deveriam deixar políticos mais atentos aos anseios da população, sobretudo na carência de serviços públicos. O esperado era que a demonstração de mais consciência cívica indicasse renovação para melhor dos detentores de mandato. Vamos ver.

Mas a preocupação que inquieta a todos hoje é se toda a agitação civil guiada pelas redes sociais está sendo capaz de nos levar aonde todos possam se sentir cidadãos plenos. O terrorismo de uma minoria infiltrada em qualquer novo protesto de rua desmoraliza boas intenções, e as reações dos governantes estão longe de dar segurança e fortalecer o consenso.
Entre as sanguinolentas balas de borracha e os rojões assassinos, precisaria abrir-se caminho reformista em favor daquilo que é o mais importante para o país desde o começo: o fortalecimento das instituições democráticas. Um Estado respeitado e decente, que propicia bem-estar e justiça universalmente.

O caos só interessa aos inimigos da convivência solidária na sociedade, aos que querem iniciar longa e sofrida guerra entre "nós" e "eles". Um mestre meu do jornalismo dizia que nosso papel como trabalhadores da imprensa é oferecer mais luz que calor na divulgação dos acontecimentos. Em outras palavras: mais esclarecer como e por que as coisas são o que são, com todas as contradições presentes, do que escandalizar e incitar sentimentos primitivos às massas, apontando alvos para justiceiros ou opressores de farda.

O noticiário dos últimos dias está escandaloso o suficiente com tanta morte de inocente e a temperatura tem subido tanto no termômetro quanto no calendário da Copa e das eleições. Chegou o momento de acender a luz da razão e pedir às autoridades que tratem os problemas como eles realmente são, sem perder a paciência com as verdades expostas pela imprensa nacional e estrangeira, sobretudo a francesa.

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