sábado, novembro 02, 2013

Consenso contra a violência e a favor da democracia - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 02/11

Reunião entre o ministro da Justiça e secretários estaduais, para coordenar as ações, marca o entendimento, afinal, de que o vandalismo tem de ser contido



Diante da perplexidade geral com a explosão de manifestações de junho, a partir de protestos autointitulados apartidários contra o aumento de tarifas de ônibus, grupos do PT chegaram a diagnosticar aquele movimento como de "direita". Afinal, pela primeira vez em pelo menos 10 anos, o partido e aliados — sindicalistas e organizações ditas sociais — perdiam o controle das ruas.

Com a extensão da agenda de protestos para aspectos de fato negativos da realidade do país — infraestrutura deficiente em geral, Saúde e Educação de baixa qualidade—, o governo Dilma e o partido caíram na defensiva. Logo depois, veio a manobra oportunista da tentativa de se aproveitar os protestos para viabilizar antigo projeto de uma reforma política feita à margem do Congresso, operação na linha da "democracia direta", marca registrada chavista. Não deu certo, como não poderia dar, por falta de base legal.

O aparecimento dos black blocs na linha de frente de manifestações de professores em greve, principalmente no Rio, chegou a iludir parte da esquerda e a atrair a simpatia de "famosos". O desfecho é conhecido: os de fato manifestantes desapareceram das ruas, na prática expulsos por bandos de depredadores, compostos de todo tipo de gente, incluindo pessoas com passagens anteriores pela polícia.

A explosão de violência em Jaçanã, periferia de São Paulo, é bem ilustrativa. Deflagrada alegadamente em protesto pelo assassinato de um jovem por um PM, nela foram identificadas impressões digitais do PCC, quadrilha que comanda o crime organizado no estado a partir de penitenciárias. O fechamento de uma estrada federal importante, a Fernão Dias, de São Paulo a Belo Horizonte, deve ter alertado o governo federal, até então imobilizado pela conhecida palavra de ordem de certos petistas graduados: "não se pode criminalizar as manifestações". Em reunião na quinta-feira em Brasília, entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e os secretários de Segurança dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, José Mariano Beltrame e Fernando Grella, estabeleceu-se o óbvio: que a Polícia Federal e da segurança pública dos dois estados trabalharão de forma articulada para investigar e conter os grupos que agem de forma violenta nas manifestações.

O ex-presidente Lula já havia criticado os black blocs, lembrando que ele, os sindicalistas e o PT nunca precisaram cobrir o rosto, nem quebrar qualquer coisa nas incontáveis manifestações de que participaram. A presidente Dilma segue o mesmo tom e ontem, na Bahia, em entrevista a rádios, pregou mais uma vez o repúdio à violência que tachou de “fascista”, ao concordar com o adjetivo, dito por um repórter.

Felizmente, constrói-se o consenso de que, não importa a origem, ações de vandalismo contra o que for — pessoas, patrimônio público e privado — são um ataque à democracia e ao estado de direito. Criminaliza-se quem deve ser criminalizado, como determina a lei.

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