quarta-feira, outubro 23, 2013

Para manter a vida - TASSO AZEVEDO

O GLOBO - 23/10

A cobertura florestal vem diminuindo de forma contínua. Até o fim do século teremos perdido quase um quarto das florestas



Estou na Indonésia para reunião de líderes das agências florestais dos países com maior área florestal do planeta, como Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos, China, Congo, Indonésia, Peru e Austrália. Juntos representam quase 70% da área florestal do planeta.

Os grandes maciços florestais têm importância crucial para manter a vida no planeta e principalmente regular o clima. São responsáveis por 2/3 da formação das nuvens que precipitam sobre os continentes e, portanto, provêem a maior parte de nossa água doce.

De todo carbono que emitimos para atmosfera, cerca de 28% são capturados pelas florestas, mais do que os oceanos (26%), que ocupam uma área 10 vezes maior.

O planeta tem cerca de 4 bilhões de hectares de floresta, sendo ¾ de florestas em zonas temperadas e ¼ em áreas tropicais, metade delas no Brasil.

A cobertura florestal vem diminuindo continuamente nos últimos séculos. Segundo dados da FAO, há uma perda anual líquida (áreas desmatadas x áreas reflorestadas ou recuperadas) da ordem de 0,2% da cobertura florestal por ano.

Neste ritmo, até o fim do século teremos perdido quase 1/4 das floretas remanescentes do planeta.

Uma perda desta magnitude resultaria em um colapso da disponibilidade de água para consumo humano, agricultura e geração de energia e um aumento de 10% na concentração de CO2 na atmosfera.

O grupo de líderes das agências florestais — não mais do que 20 pessoas — se reúne anualmente há oito anos com intuito de trocar experiências sobre os desafios que enfrentam, sendo o maior deles a sensibilidade das florestas às mudanças climáticas.

Se por um lado as florestas têm um papel crucial para sugar parte do carbono que estamos emitindo para a atmosfera, e este é seu lado heroico da história, por outro lado as florestas são vitimas das mudanças climáticas que têm aumentado de forma assustadora a intensidade, magnitude e frequência de pragas (como besouro do pinheiro) e de grandes incêndios florestais.

Estes fenômenos podem acelerar a perda da cobertura florestal e a efetividade de regulação climática das florestas.

Dependendo do cenário futuro de aumento de temperatura e concentração de carbono na atmosfera, as florestas reagirão de maneira diferente — e este é o dilema central dos gestores florestais que, por dever de oficio, têm que tomar decisões de manejo (plantar, colher, manejar, proteger...) que terão os resultados medidos décadas à frente, pelos seus sucessores.

Poucas profissões têm tão presente o sentido prático do cuidado com as futuras gerações.

Tasso Azevedo é engenheiro florestal

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