sábado, outubro 19, 2013

A partilha de Libra - MIRIAM LEITÃO

O Globo - 19/10

Muito estará em jogo na segunda-feira, nos 30 minutos estimados para o leilão de Libra, o maior campo de petróleo no pré-sal brasileiro. O Ministério da Fazenda está de olho nos R$ 15 bilhões de bônus de assinatura para melhorar o superávit primário. A China, com três estatais, poderá estar em consórcios diferentes porque uma das empresas, a Sinopec, associou-se à Repsol.

O Exército foi chamado para conter manifestantes. Os petroleiros, militantes históricos do PT, estão com a campanha na rua — "o que é isso companheira Dilma?" — lembrando que ela prometeu não privatizar o pré-sal. E uma greve está parando a Petrobras.

Magda Chambriard, diretora-geral da ANP, responde a essa crítica:

— Escolhemos, numa discussão intensa no Congresso Nacional, que somos um país que quer competição. O modelo na maior parte da plataforma marítima é o de concessão. No pré-sal, será o modelo de partilha. Existe ainda um grupo monopolista (a favor do monopólio), mas é minoritário.

Haverá menos competição do que se esperava. A própria Magda havia falado que 40 grupos se habilitariam. Foram 11, e dois não depositaram garantia. Desses nove, três são estatais chinesas. A lei brasileira proíbe que o mesmo controlador esteja em consórcios diferentes. Segundo Magda, as chinesas CNOOC e a CNPC terão de estar juntas, mas a Sinopec poderá ficar em outro consórcio.

Numa entrevista na Globonews, eu perguntei a Chambriard de que forma o Brasil protegeria sua tecnologia de exploração de águas profundas já que a China tem fama de copiar tecnologia e depois ir embora.

— O Brasil é líder em águas profundas no mundo, detém 25% de toda a exploração em águas profundas, ninguém vai competir com o Brasil — disse.

Argumentei que o perigo é exatamente esse: temos o que esconder e
a Petrobras será a sócia do grupo que for vencedor:

— A Petrobras será a operadora e isso enseja um privilégio de atuação. Essa é a garantia que nós temos.

Quis saber o motivo de haver outra estatal, com voto e direito de veto, encostada na Petrobras. Se isso não demonstra falta de confiança na empresa. Ela disse que todos confiam na Petrobras e que a PP SA não será um encosto

— a expressão usada pelo ex-ministro Delfim Netto — na Petrobras.

"O futuro dirá" disse ela.

O Brasil tinha 341 mil kin2 de campos em exploração em 2009, mas caiu para 97,6 mil Km2, uma queda de 66,7% porque os leilões foram suspensos. Magda discorda que o Brasil errou ao suspender as licitações. Elas foram retomadas este ano no mesmo formato de concessão, para a área que não é pré-sal. Ela disse que a descoberta do pré-sal levou à rediscussão do modelo e do percentual dos royalties.

O fato é que em 2007 o Brasil parecia ser a última fronteira e agora é apenas mais uma. Há novos campos na África, o México abre seu setor de petróleo e começou a ser explorado o shale gás (gás de folhelho ou gás de rocha) nos Estados Unidos:

— Não acho que erramos, o que colhemos foi um interesse gigantesco na 11ª rodada, disputada por 64 empresas.

Segundo Magda, o campo de Libra vai exigir R$ 130 bilhões de investimento só para o desenvolvimento da área. Terão que ser instaladas de 12 a 18 plataformas em dez anos. No quinto ano, já haverá produção. O pico será 1,4 milhão de barris/dia:

— Por isso, sugerimos que o próximo leilão seja oferecido só daqui a dois ou três anos.

Logo depois de Libra será feita a 12ª rodada do petróleo e gás fora do pré-sal, e nela o governo oferecerá campos de shale gás que ficam abaixo do Aqüífero Guarani. Há um enorme risco de contaminação. Magda disse que haverá um mês de consulta pública para se debater esses riscos.

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