domingo, agosto 18, 2013

Barbosa deve desculpas a Lewandowski - ELIO GASPARI

O GLOBO - 18/08

NA QUARTA o ministro Joaquim Barbosa deveria pedir desculpas ao seu colega Ricardo Lewandowski, diante das câmeras, na corte. Todo mundo ganhará com isso, sobretudo ele e sua posição, que é a de mandar alguns mensaleiros a regimes carcerários fechados. Barbosa desqualificou como "chicana" uma posição de Lewandowski e, instado a se desculpar, encerrou a sessão, como o jogador que leva a bola para casa. Ao perder uma votação, já disse que "cada país tem o modelo e tipo de Justiça que merece", como se fora um biólogo ucraniano. Já acusara Lewandowski de alimentar "um jogo de intrigas". Já chamou de "palhaço" um jornalista que lhe fizera uma pergunta, mandando-o "chafurdar no lixo", e, há poucas semanas, retomou a melodia, chamando-o de "personagem menor". Meteu-se num debate com o ministro Dias Toffoli condenando o que supunha ser o voto do colega com um argumento dos oniscientes: "Eu sei onde quer chegar". Não sabia. Toffoli, lembrou-lhe que não tinha "capacidade premonitória" e provou: votava com ele.

Barbosa poderá vir a ser candidato a presidente da República. Mesmo que decida não entrar nessa briga, como presidente do Supremo deve respeitar o dissenso, evitando desqualificar as posições alheias, com adjetivos despiciendos. Fazendo como faz, embaraça até mesmo quem o admira.

Há ministros que se detestam, mas todos procuram manter o nível do debate. As interpelações de Barbosa baixam-no, envenenando o ambiente. Seriam coisas da vida, mas pode-se remediá-las. Na Suprema Corte americana, antes que comecem os debates (fechados) o presidente John Roberts vai para a porta da sala e começa uma sessão de gentilezas, na qual todos os juízes se cumprimentam. Na saída, ele se apressa, volta ao lugar e recomeça o ritual. Boa ideia. Evitaria a cena de salão de sinuca ocorrida depois da sessão de quinta-feira.


ÁGUA NO FEIJÃO

O ministro Antonio Patriota e o comissariado diplomático do Planalto não deveriam botar água no feijão da visita da doutora Dilma a Washington, em outubro.

Falta-lhe substância, paciência, mas quando Patriota diz que a inscrição de algumas centenas de brasileiros no programa "Global Entry" do governo americano é um primeiro passo para a abolição dos vistos de entrada nos dois países, sabe que isso é uma nota de três dólares.

O "Global Entry" facilita a entrada do cidadão que já tem o visto e aceita ser devidamente investigado e cadastrado. Livra-o apenas da fila e do mau humor da imigração local. Com seu passaporte, ele passa direto, atendido num quiosque eletrônico. Quem não tem visto não embarca e, caso desembarque, vai em cana e é devolvido.

Uma coisa nada tem a ver com a outra.

EL CID GASTADOR

Deve-se ao deputado Heitor Férrer uma espiadela nas contas do governador cearense Cid Gomes. Torrou R$ 3,4 milhões abastecendo suas dispensas e salões com taças de cristal, orquídeas, caviar, salmão e crepes de lagosta.

A Bolsa Gomes é das melhores do mundo. O doutor Cid já levou a sogra à Europa em jatinho fretado (R$ 388 mil). Em 2011 poupou a Viúva e voou nas asas da Grendene, que doou R$ 1,2 milhão para sua campanha e recebe incentivos fiscais do Estado. Contratou por R$ 650 mil um show de inauguração para hospital que não funcionava. Neste ano, quando diziam que ele fora à Coreia negociar investimentos, estava na Europa, com direito a um cruzeiro da costa croata.

NOVIDADE REAL

Se Cressida Bonas tiver sorte, casa com o príncipe Harry da Inglaterra e pelas próximas décadas o mundo terá duas mulheres lindas e chiques no plantel das celebridades coroadas: ela e a companheira Kate Middleton, duquesa de Cambridge.

Cressida tem 24 anos, nome de peça de Shakespeare, foi modelo e é rica herdeira. Ao contrário de Kate, que descende de operários, vem da linhagem onde esteve Lord Curzon, vice-rei da Índia e paradigma do aristocrata inglês do final do século 19. Sua mãe Mary-Gaye Curzon foi uma beldade dos anos 60 e ainda merece o adjetivo. Ela passou por quatro casamentos.

TRISTE SINA

Depois da estudantada de 2012, quando o Brasil ajudou a enxotar o Paraguai do Mercosul para incluir a Venezuela, os çábios do Planalto estão lambuzando o novo presidente, Horacio Cartes, para trazê-lo de volta.

Inventaram um problema onde ele não existia e abriram o caminho para o governo americano, que ficou longe da estudantada e melhorou sua posição junto aos paraguaios.

PAPA FRANCISCO

Quem conhece as fumaças do Vaticano acredita que até o fim do ano o papa Francisco mexerá no seu time. A nomeação de novos cardeais, com D. Orani Tempesta na lista, é coisa certa. Algumas mudanças na Cúria, também. Novidade mesmo poderia ser um remanejamento de cardeais brasileiros.

AVISO

Está acabando a paciência da opinião pública com manifestações de duzentas ou trezentas pessoas que bloqueiam o trânsito, prejudicando milhares de outras.


CABRAL DEFENDE O FORMIGUEIRO-DO-LITORAL

Em tese, todo dono de fazenda é desmatador e todo dono de terreno é especulador. A esses julgamentos fáceis deve-se acrescentar um terceiro: muitos parques ambientais são piruetas marqueteiras.

Tome-se o caso do Parque Estadual da Costa do Sol, na região dos lagos fluminenses. Tem cem quilômetros quadrados e estende-se por sete municípios. Foi criado em 2011 pelo governador Sérgio Cabral. Ele não achava boa ideia, mas o secretário do Meio Ambiente, Carlos Minc, já havia marcado um evento para o dia seguinte, convocando a imprensa. Resultado: Cabral canetou a desapropriação da área. Deveria ter depositado 80% do valor da terra, coisa de alguns bilhões de reais. Não o fez. Passados dois anos, parque não há, nem placas.

A iniciativa tinha diversos defensores, entre eles a organização BirdLife, sediada em Cambridge e presidida pela princesa Takamado, da casa imperial japonesa. Pretende-se, entre outras coisas, garantir a existência do passarinho formigueiro-do-litoral, um bichinho que só existe por lá, ameaçado de extinção.

A pirueta congelou qualquer construção, apesar de existirem na área diversos condomínios. Bloqueou um empreendimento hoteleiro do Copacabana Palace na praia da Ferradura, em Búzios. Ele criaria centenas de empregos.

Uma lei da Assembleia poderia revogar o decreto. A que preço? O das convicções dos deputados. Pode-se esperar até 2016, pois se até lá o governo não tiver indenizado os donos das terras, o decreto caduca.

O evento e a publicidade conseguida em 2011 custarão cinco anos de atraso em investimentos privados na área. Se o governo falasse sério, negociaria o valor das terras desapropriadas e depositaria o ervanário devido. Poderia até pedir algum à princesa Takamado. Preservaria o formigueiro-do-litoral e trataria os Homo sapiens com o respeito que lhes deve.

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