sexta-feira, julho 12, 2013

Repensar o Mercosul - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 12/07

Cúpula do bloco, que tem agenda política delicada, precisa dar atenção aos problemas que têm travado acordos comerciais


Recentes como são, as denúncias de espionagem norte-americana e a interdição do espaço aéreo imposta por países europeus ao avião do presidente da Bolívia decerto terão lugar garantido na reunião de cúpula do Mercosul.

Será um desperdício, no entanto, se esses temas dominarem o encontro que ocorre no Uruguai, ofuscando a discussão de aspectos mais pertinentes ao bloco.

O assunto mais urgente talvez seja a volta do Paraguai, afastado de forma abusiva há cerca de um ano, após impeachment do então presidente Fernando Lugo. Em seguida, Assunção ainda viu a inclusão casuística da Venezuela no bloco, à revelia de seu consentimento.

A reintegração deve ocorrer a partir de 15 de agosto, quando toma posse Horacio Cartes, presidente eleito. Embora essa seja a tendência, ainda há arestas desnecessárias, como a pressão para o Senado paraguaio aprovar simbolicamente a entrada da Venezuela.

A cúpula é também uma oportunidade para avançar em negociações comerciais. Poderiam ser rediscutidas, por exemplo, as barreiras burocráticas levantadas pela Argentina contra diversos produtos brasileiros.

O mais provável, contudo, é que a presidente Dilma Rousseff ouça justamente o contrário de sua colega Cristina Kirchner. Com as reservas cambiais em queda contínua, a Argentina deve recrudescer seu conhecido protecionismo --e o Brasil, como se tornou praxe, deve ser um dos mais prejudicados.

Com tantos percalços, já será uma boa notícia se evoluírem os entendimentos para acelerar acordos de redução de tarifas com países associados ao bloco, como Peru, Colômbia e Chile.

Tal iniciativa seria uma resposta do Mercosul, dominado por governos esquerdistas e protecionistas, à Aliança para o Pacífico, que reúne os três países acima citados, além do México, e tem propostas mais ousadas de livre-comércio.

O Mercosul, no entanto, precisa de mecanismos mais eficientes de negociação com as economias de peso. Hoje, os acordos de livre-comércio do bloco se resumem a Israel, Palestina e Egito.

A insistência na união aduaneira é outro tema a ser repensado. O modelo, baseado em uma tarifa externa comum, teria o benefício de aumentar o poder de barganha da aliança regional.

Desde 1995, porém, a proposta foi desfigurada. Interesses nacionais ensejaram um sem número de exceções à unificação tarifária, e o propósito inicial foi em muito perdido.

Sem que possa contar plenamente com as vantagens da união, o Brasil se vê preso a limites estreitos demais para negociar acordos por conta própria. Uma zona livre de comércio, nesse sentido, parece mais realista e condizente com a atual situação do bloco.

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