segunda-feira, junho 17, 2013

Mudar o mundo - LYA LUFT

REVISTA VEJA


Quando jovens, cultivávamos a utopia de um mundo melhor. Tenho refletido sobre isso. Tenho lido e pesquisado sobre a história do nosso comportamento através dos séculos. Parece que, apesar de toda a violência atual, fomos ficando menos violentos. Difícil acreditar, eu sei. mas basta pensar nos antigos povos escravizados. mulheres brutalizadas e crianças maltratadas sem nenhuma defesa, impérios cruéis e perseguições terríveis aplaudidas, como Cruzadas e Inquisição, para ver que melhoramos.

Talvez em nosso DNA não sejamos predadores ferozes. Quem sabe compaixão e solidariedade tenham nascido com essa nossa estranha espécie. os humanos que andam eretos e, para complicar tudo. pensam. Quem sabe esse ídolo de dupla face, prazer e poder, com a economia como lema primeiro, não seja inato em nós. mas invenção de uma humanidade que pode ser mais sofisticada, mas ainda é destrutiva demais.

Seria possível mudar o mundo, mudando por pouco que seja os princípios e valores de cada um de nós? Ou é um velho ideal ultrapassado, e juvenil? Talvez haja um modo de transformar nossa louca futilidade e desvairada busca de poder, estimulando o que em nós já existe: o desejo do bem do outro, e uma convivência menos truculenta?

Se o primeiro objetivo de todos os governos fosse o bem das pessoas, a deusa Economia e seu parceiro, o Poder, perderiam um pouco da força. E teríamos outros ideais, modelos, ambições. Haveríamos de nos respeitar mais. também. Reavaliar nossos desejos, consumir menos ou melhor. se fosse preciso trocar a manicure e o cabeleireiro por comida decente para as crianças e quem sabe, a prestação de uma casinha própria. Mudar o sonho do carrão importado or mais harmonia, mudar o conceito do que é "moderno", que não é inconsequente e delirante. Recuperar a compostura perdida quando fazemos proselitismo com cartazes e material de televisão dizendo que alguém é uma prostituta feliz, ou "sou feliz porque sou prostituta". O material foi recolhido pela insanidade, mas alguém, num cargo importante em um dos muitos ministérios, teve essa genial ideia. Respeitar não significa elogiar, nem apresentar como modelo.

Quem sabe começamos tendo um pouco mais de bom-senso e pudor. Quem sabe começamos querendo ser úteis, produtivos e compassivos dentro do nosso círculo de família, trabalho. comunidade. O ideal não seria criar nossos filhos para ser milionários ou as meninas para ser modelos de beleza e sensualidade, mas para ser pessoas decentes, que acreditam em algum tipo de felicidade tranquila, que vão construir sua vida, produzir no seu trabalho, conviver bem com sua família, enfim, ser transformadores do mundo, dessa maneira mínima que pode parecer tola. mas é essencial.

Abrir o jornal e ver o noticioso, todos nós sabemos, é entrar numa série policial violenta, receber uma bofetada de falta de ética, roubalheira, indignidades várias e muitos absurdos consagrados. 

Médicos ganhando pouco e exaustos pelo excesso de trabalho atendendo dezenas de pacientes nas emergências às vezes mal aparelhadas pelo país afora. Professores recebendo salários vergonhosos, submetidos à violência por parte de alunos e às vezes de pais de alunos, jovens que dentro da sala de aula e no pátio se engalfinham como bandidos, gente inocente que morre queimada porque não tinha mais que alguns reais no bolso ou no banco, acidentes de trânsito totalmente evitáveis, obras públicas ruindo quando mal ficam prontas, falta de bons engenheiros, de seriedade no uso de material. de se levar em conta as vidas humanas que ali hão de correr riscos sérios. Isso tudo sem falar nas guerras fora de nosso alcance, mas dentro de/ nossa casa pelos meios de comunicação.

A gente podia mudar: se cada um mudasse um pouquinho, exigisse muito mais dos líderes em todos os setores, e aspirasse a algo muito melhor. Talvez digam que é apenas utopia minha. resquícios de um idealismo juvenil: mas amadurecer não precisa ser renunciar a todas as nossas crenças.

6 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito das colocações da Lya, acho que reproduziu muito bem esse momento que estamos vivendo.


Um abraço

Miriam

Unknown disse...

Gostei muito das colocações da Lya, acho que ela reproduziu muito bem esse momento que estamos vivendo.

Um abraço

Miriam

Unknown disse...

Gostei muito das colocações da Lya, acho que reproduziu muito bem esse momento que estamos vivendo.


Um abraço

Miriam

Anônimo disse...

Sou fã “de carteirinha” da genial Lya Luft. Nas semanas em que ela estampa sua crônica na Veja, sinto como se recebesse a revista embrulhada para presente. Acompanhada de uma flor. Pincelada por cores especiais, posso dizer. Ao deparar-me com “Mudar o mundo”, li palavras em verde e amarelo. Vi uma andorinha branca, clamando por paz. Se cada brasileiro cumprisse melhor seu papel de cidadão, teríamos milhares de andorinhas tentando apagar o fogo da injustiça, da violência, da corrupção e de tantos males que assolam nosso país. Talvez muitos digam mesmo que se trata de mera utopia, de um sonho pueril ou de ”resquícios de um idealismo juvenil”. Ainda que o digam, continuarei lembrando das palavras da Grande Lya: “amadurecer não precisa ser renunciar a todas as nossas crenças”.

Anônimo disse...

Procurei pelo blog, pelo face da escritora Lya Luft e não obtive sucesso...seguinte: Lya Luft é tradutora para o portugues do livro " Memórias de uma gueixa", só pode pois não acredito haver duas escritoras Lya Luft...mas ela não me respondeu, pois fico pensando: os artigos dela na Veja fala de questõões filosofico-cultural e no entanto ela traduziu um livro acerca de prostituição fina! e no wikipédia não consta que ela tenha traduzido tal livro...auguem pode me ajudar entender? Obrigado





























Anônimo disse...

Lya Luft é ela mesma....tradutora do livro "Memórias de uma gueixa"..no wikipedia não consta...!!!