terça-feira, junho 11, 2013

Dólar volta para casa - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 11/06

A tendência de valorização do dólar é mundial, mas há causas específicas da economia brasileira que intensificam a perda da nossa moeda: PIB fraco, inflação alta, menor saldo comercial. Lá fora, a economia americana tem sido melhor avaliada e isso pode levar à redução de estímulos e alta dos juros. Expectativa de rentabilidade maior dos papéis do governo leva de volta para os EUA dólares espalhados pelo mundo.

Para o Brasil, essa virada mundial no câmbio acontece em um momento ruim, quando a inflação está alta e o déficit em conta corrente, elevado, em 3% do PIB. Dólar mais caro pressiona a inflação e, para entender melhor isso, basta olhar para um produto muito vendido no país: o pão francês. Metade do trigo consumido no Brasil é importado. Se o dólar sobe, o preço do trigo, em algum momento, também aumenta. Nos últimos 12 meses, o pão francês já subiu 16,18%, até maio; e o macarrão, 12,73%.

É esse tipo de repasse que explica as intervenções no câmbio feitas pelo Banco Central. Se o real se desvalorizar muito, a inflação, que já está no limite da meta, em 6,5%, pode subir ainda mais. No cálculo do INPC, o índice que mede a inflação das pessoas com menor renda, o peso dos alimentos é maior. Em 12 meses, o INPC já está acima da meta, em 6,95%. Ou seja, dólar mais forte não é bom para os preços.

O economista-chefe do Santander Asset Management, Hugo Penteado, explicou que, no mundo, o dólar se fortalece quando há aumento de aversão ao risco, por alguma crise, e quando se acredita que a economia americana está passando por uma recuperação. Esse é o caso atual. Ele cita uma série de indicadores que vieram mais fortes nos últimos meses:
— A confiança do consumidor americano está no nível mais alto em seis anos, a criação de empregos tem melhorado, o setor de imóveis está em recuperação há 12 meses, com demanda elevada e oferta fraca. O crédito a empresas e consumidores acelerou e este ano há um dado importante: não haverá férias coletivas na indústria automobilística — disse.

Apesar da melhora no ânimo, é sempre bom lembrar que desde 2008 a economia mundial tem mudado de humor com frequência e que o motor americano já decepcionou em outras ocasiões. 

Calote sobe no mês, cai no ano
A inadimplência voltou a subir em maio, 1,8%, depois de quatro meses de queda, de acordo com indicador do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) antecipado pela coluna. Segundo o economista Flávio Calife, da Boa Vista Serviços, empresa que administra o SCPC, apesar do aumento no mês, a tendência ainda é de redução no ano, embora em ritmo lento.

— Em 12 meses, já chegou a subir 23% e agora cai 0,9%. Achamos que termina 2013 com essa queda. O ano será de leve melhora em relação a 2012, mas o ritmo está mais lento do que prevíamos — afirmou.

O PIB desacelerou, os juros estão em alta, a inflação continua elevada. Isso não estava no radar no início do ano. Calife explica que o mercado de crédito ainda recebe cerca de 300 mil a 400 mil novas pessoas por mês. São clientes que nunca fizeram empréstimos e não estão acostumados a gerenciar dívidas.

No varejo, o quadro ainda é de piora, tanto no mês quanto no ano. A inadimplência do setor subiu 6,8% em maio, em relação a abril, com alta de 3% de janeiro a maio. Ao lado da inflação, esse é um dos motivos da desaceleração do comércio

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