domingo, junho 16, 2013

A burrice está solta nas ruas - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 16/06

Pobreza intelectual, polícia violenta e jovens autoritários e sem imaginação fazem o junho de 2013 em SP


"A IMAGINAÇÃO NO PODER" foi um slogan do maio de 1968 na França. A imaginação jamais chegará ao poder, pois a frase é uma espécie de oximoro. Mais deprimente é que a imaginação morreu até nos protestos, como esses do Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo.

Como em tantos movimentos de protesto das últimas três décadas, por aí, as táticas do MPL parecem uma cópia e colagem ingênua e anacrônica de passeatas contra a ditadura brasileira de 1964 e dos motins de maio de 1968, por sua vez inspirados nas barricadas das revoluções operárias sérias da França de 1848 e de 1871.

O MPL não é decrépito pelo fato de a rebeldia para valer estar fora de moda, infelizmente, ou apenas porque suas ideias sejam versões pobrezinhas de pensamentos caducos. O MPL é velho ou regressivo até no seu amadorismo.

Movimentos revolucionários ou mesmo de reforma liberal séria velhos de 60 anos (ou até de 150 anos) eram mais criativos, articulados e capazes de usar recursos, tecnologias de comunicação e táticas políticas no estado da arte de suas épocas, por assim dizer (de revoltas operárias na Europa a movimentos pelos direitos civis nos EUA, por exemplo).

Tocado por jovens, o MPL não sabe nem usar direito as tecnologias da hora, internet e os celulares de que tanto gostam, não sabem projetar sua imagem nas ditas mídias sociais, não sabem organizar manifestações de modo a conquistar apoios sociais, não têm comitês de advogados, conexões políticas. Não tem inteligência teórica ou estratégica e, portanto, capacidade política: de convencer, de ganhar apoio, de crescer, de fazer uma boa causa vencer.

Em vez da passeata convencional ou do tumulto violento e, pois, em última análise, autoritário, por que o pessoal do MPL não se deita nas ruas, imóvel, agitando bandeirinhas brancas? Não é piada.

Primeiro, para defensores da "mobilidade urbana", seria uma metáfora irônica. Segundo, daria imagens que correriam mundo. Terceiro, desmoralizaria a violência estatal. Se a PM quisesse remover o pessoal, teria de carregar milhares de manifestantes, um por um. Caso a polícia ainda partisse para a ignorância, imagine o vexame: "Polícia espanca jovens deitados, com bandeiras brancas". Quarto, ganhariam simpatia; a violência de agora, além de tudo, é contraproducente.

Sim, é óbvio que a polícia tem sido bárbara, antidemocrática e profissionalmente imperita. Geraldo Alckmin é o responsável quase direto pelas cacetadas e tiros. Pode não ter mandado "prender e arrebentar" (cortesia do ditador-general João Batista Figueiredo, 1979-1985), mas tem dado o tom da coisa.

Desde seu primeiro governo deixou a polícia à vontade com a ideia macho de "a gente não leva desaforo para casa": bate e atira. Mas polícia deve ser atividade técnica, serviço público, e não briga de rua ou milícia de guerra. Claro, policiais também não devem ser vítimas de pedrada, tiro e menos ainda morrer no trabalho (sim, é apenas um trabalho).

A falta de educação profissional da polícia, a porteira aberta por Alckmin para a meganha e a pobreza intelectual (além da violência autoritária) do MPL provocaram esse tumulto sem sentido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante, só fala da policia de Sao Paulo, porque não da petista de Brasilia que desceu o sarrafo em manifestantes desarmados ? Porque não da pemedebista do cabral que desceu o saarrafo nos cariocas ?
C. Machado