quinta-feira, maio 09, 2013

Transplantes de amor e esperança - ALEX MEDEIROS

PORTALNOAR


Uma história de solidariedade humana e amor numa família marcada por gestos.
albimar_annie

Albimar Morais é um desses caras imunes às inimizades. Poucos têm sua capacidade de fazer amigos e preservá-los ao longo do tempo. Do seu irmão, Carlos Morais, herdou alguns amigos da imprensa que cultiva até hoje, como eu e Rubens Lemos Filho.

Devemos, eu e Rubinho, uma considerável parte dos nossos acervos de raridades futebolísticas aos gestos generosos de Albimar, incansável nas suas viagens em garimpar nos sebos as velharias que compõem o nosso patrimônio material e lúdico.

Gestos e atos de bondade e solidariedade fazem parte do histórico familiar desse amigo. E é sobre dois incríveis momentos da vida de Albimar o motivo principal da minha crônica dessa quarta-feira, 8/5, uma data inesquecível para ele e todos os seus parentes.

Logo mais no começo da noite, ele estará reunido com seus entes queridos num jantar para marcar a data de hoje, aniversário de um ano de uma cirurgia de transplante de rim que lhe devolveu a saúde, debilitada por anos desde que uma pressão baixa o atacou.

Mas, para contar sobre os dois instantes incríveis da sua vida é preciso voltar ao ano de 1983, período em que o Brasil começava a se acostumar com a democracia e a ensaiar a volta das eleições diretas e o combate à inflação monstruosa que destruía a economia.

Naquele ano de aperto financeiro para muitas famílias, a de Albimar foi surpreendida pelo agravamento da saúde da sua irmã, que desde tenra idade sofria de diabete. Gleide, mulher de outro amigo (Humberto do restaurante Xique-Xique) urgia um transplante.

Na desesperada corrida pela vida que ocorre nas filas hospitalares por um rim saudável, Albimar mandou para escanteio a horrorosa burocracia e correu para salvar sua irmã, prontificando-se a arrancar um dos seus rins, que logo foi transplantado para ela.

A saúde retornou ao patamar regular da vida de Gleide, que durante 12 longos e agradáveis anos voltou a conviver em paz com seus familiares, só vindo a falecer por uma isquemia repentina e traiçoeira, que invariavelmente surpreende nossas vidas.

Foi seis anos depois da morte da irmã que Albimar Morais adquiriu pressão alta, essa moléstia que aos poucos vai minando a saúde como um torturador invisível. Daí para outros problemas é um trajeto biológico que dificilmente os remédios invertem.

Com o passar dos anos e com a chegada da tal meia-idade, a saúde do meu amigo foi agravando e o jogou nas penosas sessões de hemodiálise. Passou a viver uma vida pela metade, com as horas de lazer interrompidas por remédios e visitas aos médicos.

Foi então que aquela tradição familiar dos bons gestos aconteceu, de novo, mas dessa vez em favor dele e não de algum parente que ele decidiu ajudar. Na sua interpretação, um anjo lhe apareceu com todas as características humanas de uma querida sobrinha.

Ele estava almoçando no restaurante Cassol, em Petrópolis, quando ela chegou à sua mesa: “Tio, o senhor está fazendo hemodiálise e precisa de um transplante de rim? Pois eu estou indo fazer os exames necessários para doar um para você”, disse a garota.

Era Annie, filha de ninguém menos que Gleide, a irmã que ele salvou quase três décadas antes. Era a história humana se repetindo bem diferente da tese de Karl Marx, no caso dele em dois momentos exatamente iguais em bondade, amor e esperança.

A filha de Albimar também fez os exames de compatibilidade, mas foi a sobrinha a escolhida e classificada pelos médicos, por ser mais velha. E aí, em 8 de maio de 2012, a vida voltou ao normal para ele através do gesto amoroso da filha da saudosa mana.

Desde que ouvi essa história, entre arrepios e emoção, fiquei com vontade de contá-la, até que no último encontro com Albimar ele me autorizou a compartilhar com os leitores. No jantar de hoje com a família, ele desejaria muito a presença de mais gente.

Como a equipe de Ricardo Lagreca no Hospital das Clínicas, responsável pelo exitoso transplante; também o cirurgião Paulo Medeiros e a nefrologista Kellen Costa; os profissionais da clínica de Berilo de Castro e José Euber, os enfermeiros dos dias de hemodiálise.

Um comentário:

Anônimo disse...

Murilo, que linda história vc postou.
Agradeço por tê-la dividido conosco.
Bom dia !!!
Ana Lúcia