quinta-feira, fevereiro 28, 2013

O Brasil na ONU e Yoani Sánchez - FÁBIO FELDMANN

BRASIL ECONÔMICO - 28/02

A viagem da blogueira Yoani Sánchez ao Brasil evidenciou claramente que muita gente ainda vive no século passado marcado pela Guerra Fria: um mundo bipolar.

Esta visita me lembrou uma reunião que tive com Marco Antônio Mroz, atual presidente do PV, durante a Assembleia Nacional Constituinte, com uma delegação cubana que visitava o Congresso Nacional.O assunto era energia nuclear, monocultura, enfim, Cuba.

Como a maior parte dos presentes era formada pela "esquerda" do Congresso, nossos comentários acerca da monocultura da cana e do uso nuclear na ilha geraram enorme desconforto. Esses temas, nos países capitalistas, seriam motivo de censura. Mas está última não se aplicaria no mundo socialista...

Parte desta esquerda sempre se aliou a sua equivalente na direita, possuindo como fio condutor a intransigente defesa da soberania nacional, sob cujo manto se defendia o projeto da bomba atômica brasileira, a ocupação a qualquer preço da Amazônia e o endosso à tese conspiratória de que interesses estrangeiros estariam por detrás dos ambientalistas e dos direitos indígenas.

Aí se identificam os discursos de Aldo Rebelo e de Kátia Abreu. E na Assembleia Nacional Constituinte, a defesa do PC do B do direito do Brasil construir sua bomba atômica.

O combate à violação dos direito humanos e a tortura, onde quer que seja, a defesa intransigente da liberdade de expressão, o pacifismo e a luta pela sustentabilidade planetária são bandeiras que devem ser desfraldadas, sem hesitação, por todos.

Lembrando que não admitem esforços de relativização sob quaisquer circunstâncias. A condenação à violação dos direitos humanos em Cuba não significa desqualificar avanços obtidos pelo regime cubano em relação à saúde e educação. Muito pelo contrário.

Algumas de suas experiências bem-sucedidas devem servir de exemplo para outros países. Nem tampouco devemos deixar de criticar severamente o embargo norte-americano, exigindo do presidente Obama a decretação do fim deste resquício ilegítimo da Guerra Fria.

Yoani representa, nesse contexto, a possibilidade real de uso das novas tecnologias na defesa dessas bandeiras. Assim como na China o artista plástico Ai Weiwei representa a resistência ao autoritarismo do governo chinês, que defende que os direitos humanos no país devem ser diferentes dos demais.

O importante é que se mantenha o esforço permanente de respeito aos direitos humanos e que esta bandeira seja item obrigatório da política externa dos países.

Nesse sentido, o Brasil, que acabou de voltar a integrar o Conselho de Direitos Humanos da ONU, tem um papel relevante, sendo que todos os partidos políticos deveriam apoiar uma posição firme da diplomacia brasileira.

Ou será que aqueles que foram torturados na ditadura, como a Presidente Dilma, devem se curvar às circunstâncias geopolíticas?

Enfim, a presença de Yoani Sánchez trouxe à baila a timidez da diplomacia brasileira em relação à ditadura cubana. Mais do que isso, há necessidade de reafirmarmos que o respeito aos direitos humanos faz parte da construção desta cidadania planetária, que hoje engaja cidadãos, governos e até mesmo empresas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Yoani Sánchez esteve em são paulo e participou de uma entrevista na rede de TV Band. Yoani Sánchez foi entrevistada pelos jornalistas Fábio Pannunzio, Fernando Mitre e Fernando Gabeira. A entrevista contou com a tradução simultânea da Millennium do espanhol pro português e vice-versa. Voce pode ver a entrevista aqui: http://canallivre.band.uol.com.br/?id=14300255