quarta-feira, janeiro 02, 2013

Europa sem Grã-Bretanha? - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 02/01


N o dia 1º de janeiro de 1973, há exatos 40 anos, o primeiro-ministro britânico, Edward Heath, anunciava que a Grã-Bretanha decidira aderir à União Europeia. Naquele dia, Heath exclamou: "É o dia mais lindo da minha vida!" Na época, a Comunidade Europeia ainda não tinha as dimensões de hoje.

Compreendia apenas seis países (hoje são 27). Neste 1º de janeiro de 2013, será que Londres lembra do entusiasmo que invadiu o povo britânico ao saber que a Grã-Bretanha se unia àquela Europa, à qual o general de Gaulle recusara por tanto tempo o ingresso? Ela aderiu, mas não totalmente. Como a terrível (e extremamente anti europeia) Margaret Thatcher, por 40 anos todos os primeiros-ministros britânicos (salvo Tony Blair) esforçaram-se, por distender as relações entre a Grã-Bretanha e Bruxelas. E com certo sucesso! Evidentemente, a Grã-Bretanha faz parte da União Europeia, mas recusou-se a entrar na zona do euro. Portanto, conservou a libra e não adotou o euro. Está fora do Espaço Schengen, etc.

Todas as vezes em que Bruxelas propõe novas medidas comuns, a Grã-Bretanha protesta veementemente. Foi o que aconteceu recentemente quando Bruxelas expressou o desejo de que os bancos do Velho Continente fossem controlados pelo Banco Central Europeu, BCE.

Hoje, a Grã-Bretanha envia cada vez mais indicações de que poderá se separar completamente da organização europeia e recuperar sua liberdade. O primeiro-ministro conservador David Cameron, depois de grandes hesitações, parece decidido a dar o grande passo.

Num primeiro tempo, ele começaria devolvendo a Londres poderes que a GB cedeu, como todos os outros membros da UE, a Bruxelas. Em seguida, convocaria um referendo, provavelmente em 2015, perguntando aos britânicos se estariam dispostos a se divorciar de Bruxelas. As pesquisas de opinião afirmam que 56% deles votariam pela saída da UE.

O contra-ataque dos europeus é geral. Os economistas ressaltam que Londres se beneficia com a UE. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, lembra aos financistas de Londres que "a Grã-Bretanha, enquanto membro da União Europeia, se beneficia com o maior mercado único do mundo".

Schauble põe o dedo na ferida. É verdade que, se a GB deixar de ter livre acesso aos compradores europeus se ressentirá. Do mesmo modo, a City, o maior mercado financeiro mundial, beneficia-se da rede europeia. Ocorre que o sonho secreto dos britânico é o seguinte: "Não ter mais de suportar as decisões burocráticas e perigosas de Bruxelas, mas conservar seu ingresso no imenso mercado único da União Europeia".

Duas ambições divergentes e incompatíveis.

O grande Winston Churchill, já havia prevenido desde o fim da Segunda Guerra Mundial: "Estamos na Europa, mas não somos parte dela".

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