terça-feira, dezembro 18, 2012

Olhos abertos, mãos fechadas - LUIZ GARCIA


O Globo - 18/12


Devemos a dois professores a constatação, através de um estudo minucioso, com dados oficiais, de um problema que nada tem de recente. Provavelmente, desembarcou na colônia na mesma nau que nos trouxe Dom João VI, sua real família e todos os membros da burocracia lisboeta que conseguiram escapar de Napoleão e suas tropas.

O problema é curioso: os professores Maurício Bugarin, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, e Fernando Meneguin, de um departamento de pesquisas do Senado, estudaram o comportamento de dois tipos de funcionários públicos: os que servem à máquina do Estado em cargos de carreira, e aqueles que são nomeados por critério político - ou seja, a turma do pistolão.

O pessoal de carreira, segundo os professores, é mais honesto, mas também pouco eficiente. Deles raramente partem soluções criativas e eficientes para os problemas da máquina do Estado.

Já os funcionários nomeados graças a pistolões políticos são mais ativos, o que, pelo visto, tem duas consequências simultâneas: alguma eficiência no serviço público e episódios de corrupção.

É como se a turma mais preguiçosa não se desse nem ao trabalho de roubar - o que, como se sabe, às vezes dá um trabalhão danado. E o pessoal do outro grupo seria mais ativo e mais produtivo, lamentavelmente, tanto em benefício do Estado como de seus próprios bolsos.

Os professores que chegaram a essas duas curiosas constatações não oferecem soluções. Talvez porque elas não existam: seria impossível obrigar os preguiçosos a arregaçarem as mangas e, ao mesmo tempo, forçar os ativos a fecharem os bolsos.

A turma da arquibancada talvez possa sugerir um caminho, aparentemente óbvio: a criação de um sistema de vigilância e controle que exija mais trabalho dos preguiçosos e mais vergonha na cara da turma de dedos leves.

Com o cuidado, é claro, de fazer o sistema funcionar com pessoal de mãos pesadas e disposição suficiente para transformar a máquina estatal em algo que trabalhe com eficiência e honestidade em benefício da população e do Estado. Com olhos abertos e mãos fechadas.

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