quarta-feira, dezembro 12, 2012

O alerta da revista 'The Economist' - RICARDO VÉLEZ RODRIGUEZ


O ESTADÃO - 12/12


Os brios nacionalistas saltaram à flor da pele da presidente Dilma Rousseff e da petralhada no poder ao ensejo do alerta da revista inglesa The Economist acerca da confiabilidade da economia brasileira, na sexta-feira, 7 de dezembro. A recomendação da revista para que a presidente demitisse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo fato de ele não saber gerir a economia brasileira, que foi qualificada de "moribunda", não foi propriamente uma ofensa à nossa dignidade nacional. Foi mais um alerta dos mercados internacionais quanto à capacidade do Brasil de atrair investimentos em épocas de turbulência global e vacas magras financeiras. Ora, o que os jornalistas da conceituada revista queriam destacar era, a meu ver, o significado do péssimo gerenciamento da nossa economia, entravada por um intervencionismo governamental asfixiante que tolhe investimentos, afugenta inversionistas e assinala que voltamos aos tempos da insegurança jurídica generalizada.

Nas condições em que se encontra a nossa "moribunda" economia, não vale a pena investir no Brasil. Além das razões apontadas, destaquemos estas outras, que, sem dúvida, devem ter sido levadas em consideração pelos observadores internacionais.

Em primeiro lugar, a corrupção generalizada desatada pelos "companheiros" no poder, tanto no episódio do mensalão quanto no mais recente affaire desvendado pela Operação Porto Seguro, que compromete de novo figuras da alta cúpula petista, a começar pelo ex-presidente Lula.

Em segundo lugar, deve ser lembrada a baixíssima competitividade com que o Brasil se apresenta perante as agências internacionais de classificação, em decorrência da elevadíssima carga tributária e da desindustrialização do País.

Em terceiro lugar, a situação precária da nossa infraestrutura aeroportuária, portuária e de rodovias.

Em quarto lugar, os baixíssimos índices de qualidade da nossa educação, com as consequências seriíssimas que daí decorrem para o desenvolvimento econômico.

Em quinto lugar, o péssimo gerenciamento da Petrobrás em face da política de preços dos combustíveis, que está descapitalizando a empresa (que caiu, nas mãos petistas, numa espécie de síndrome mexicana para pagar o populismo de plantão).

Em sexto lugar, o aparelhamento, pela petralhada, de outrora confiáveis agências de pesquisa, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que passaram a dizer o que o governo quer, não o que de fato acontece na realidade econômica brasileira. Essa mazela deve somar-se aos contínuos ataques do partido no poder contra a liberdade de imprensa, com militantes ameaçando com a estatização pura e simples do setor, numa maluca política de gerenciamento social da informação.

Em sétimo lugar, a desastrada mania intervencionista do governo - que está atrapalhando o funcionamento da iniciativa privada -, notadamente nos bancos e nas empresas de energia, que são "convidados" a vender serviços a preços abaixo do seu custo.

Por último, o desastre que é a nossa infraestrutura de saúde pública e de segurança, que afasta investidores e aumenta os gastos com internamentos hospitalares e mortes de cidadãos.

De nada valem os arroubos nacionalistas da chefe do Executivo para dar resposta a essa preocupação dos mercados. Contrariamente ao que o bom senso assinala, em lugar de escutar o alerta dos que conhecem a atual conjuntura econômica mundial, o governo prefere fazer eco à tresloucada reação dos populismos que o cercam - efetivamente, os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Cristina Kirchner, da Argentina, teriam dito, em termos de resposta à mídia, mais ou menos as mesmas palavras de Dilma. Não faremos nada do que os observadores internacionais aconselham. Em compensação, revitalizaremos os laços político-ideológicos do Mercosul, em torno de um populismo econômico que traz inflação e afugenta investidores.

Populistas da América Latina, uni-vos! - essa é a nova palavra de ordem revolucionária.

São tempos, no continente sul-americano, de populismo, que constitui a variante mais recente do patrimonialismo entre nós. Ora, este consiste na gestão do Estado como se fosse propriedade particular de quem governa. São favorecidos regularmente os membros do partido governante e os aliados, com benesses pagas com o dinheiro público. Essa é a essência do mensalão e das demais falcatruas que são desvendadas, dia após dia, pela imprensa.

Duas forças operacionais põem em funcionamento os donos do poder para nele se perpetuarem. Em primeiro lugar, a deformação das contratações de serviços prestados pelas empresas privadas ao Estado, mediante favorecimento às que se submeterem a pagar o "ganho" extorsivo dos que mandam, fixado no balcão de negócios das licitações. Em segundo, o prêmio pago pelo Executivo aos parlamentares que se acomodem à gestão patrimonialista da máquina pública, mediante emendas parlamentares. Duas práticas velhas, mas que o PT aprimorou e universalizou, espantando a má consciência e o remorso que antes acompanhavam as operações dos corruptos.

Lula e companhia simplesmente conseguiram ficar de cabeça erguida, mesmo quando mergulhada no lodo, gabando-se de que iluminarão com mais postes a escuridão brasileira. Tudo porque roubam em nome do povo. A política tornou-se guichê de corrupção, de lavagem de dinheiro, de roubalheira ao Tesouro da Nação. O PT conseguiu fazer a "revolução cultural" gramsciana, que consiste em erguer, como único ator válido, o Novo Príncipe, o Partido e a sua coorte de sátrapas e protegidos.

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