quinta-feira, novembro 29, 2012

É preciso saber crescer - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 29/11


COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO


Depois de dez cortes seguidos nos juros, o Banco Central manteve a Selic em 7,25%. Deve deixar a taxa nesse patamar por um tempo, mesmo que a inflação não volte ao centro da meta. Isso vai estimular os bancos a concederem empréstimos e os consumidores a fazerem dívidas. Mas ainda não se sabe se vai destravar os investimentos. As projeções para o PIB de 2012 e de 2013 estão em queda.

A Serasa Experian contabilizou que 16 milhões de brasileiros deixaram a lista de maus pagadores de janeiro a outubro. Essa informação foi levantada a pedido da coluna e publicada na terça-feira. Perguntamos, agora, quantas pessoas entraram na lista, e o número foi surpreendente: 21,5 milhões. Ou seja, o saldo no ano é negativo, 5,5 milhões de brasileiros ficaram com o nome sujo na praça até outubro.

O economista da Serasa, Luiz Rabi, faz revelações importantes. Primeiro, há alguns sinais de melhora. No mesmo período de 2011, o saldo desse cadastro foi negativo em 5,9 milhões; houve inclusão de 19,6 milhões de pessoas e saída de 13,7 milhões. Então, em 2012, o quadro é um pouco melhor.

- O ano de 2012 está menos ruim do que 2011. O crescimento da lista de maus pagadores foi de 9,5%, mas o número de pessoas que limparam o nome cresceu 16,3% - afirma.

Segundo, que a melhora está ocorrendo, mas em ritmo lento, e que a sua continuidade depende de crescimento econômico "com qualidade". Rabi diz que grande parte do que acontece no mercado de crédito hoje é resultado do PIB de 2010, que disparou 7,5%. Houve muito estímulo a dívidas, principalmente para compra de carro e de bens duráveis:

- A inadimplência subiu muito nesses segmentos. Então, para que o mercado de crédito volte ao normal é fundamental que a economia cresça agora por outro caminho, que é o dos investimentos.

É aí que mora o perigo. Os economistas não estão seguros de que os investimentos vão subir. Amanhã, o IBGE divulgará o resultado do PIB do terceiro trimestre. A taxa deve ser a mais alta em mais de um ano. Ainda assim, os investimentos devem cair pelo quinto trimestre seguido.

Juros não garantem investimentos
A taxa de juros ficou estável ontem, mas caiu 5,25 pontos desde setembro de 2011. Ainda assim, os investimentos não deslancharam. O economista José Júlio Senna, da MCM Consultores, explica que os juros são apenas um dos fatores que estimulam os empresários a investir. Há outros que também pesam, mas eles têm jogado contra.

- O governo tem feito muitas interferências em setores, dado benefício a uns e a outros, não. Ao mesmo tempo, bancos e elétricas foram pressionados - disse.

Senna lembra que os países ricos estão com juros reais negativos há vários anos e nem por isso os investimentos dispararam. Não se pode esquecer também que os grandes empresários aqui no Brasil já convivem há muito tempo com juros mais baixos, porque têm um banco de fomento só para eles, o BNDES. O efeito da queda da Selic sobre o apetite por investimentos pode ser menor do que se imagina.

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